Diário de um cinéfilo
Uma mulher em guerra, 2018, Benedikt Erlingsson, Iceland (Islandia)
Hear the Silence (Escuta do silêncio), 2016, Ed Ehrenberg
Bacurau, 2019, Juliano Dornelles, Kleber Mendonça Filho
Parasita (Gisaengchung) 2019, Joon-ho Bong
The dead don't die (Os mortos não morrem), 2019, Jim Jarmusch
O gabinete do doutor Caligari, 1920, Robert Wiene
Boi neon, 2015, Gabriel Mascaro
Little Woods, 2018, Nia DaCosta
Paraiso perdido, 2018, Monique Gardenberg
Coringa, 2019, Todd Phillips
Lola Montes, 1955, Max Ophuls
O leopardo, 1963, Luchino Visconti
Era uma vez em...Hollywood, Once Upon a Time... in Hollywood, 2019, Quentin Tarantino
Nefta football Club, Nefta Futebol Clube, 2018, Yves Piat
O farol, 2019, Robert Eggers
02/08/2019
Uma mulher em guerra, 2018, Benedikt Erlingsson, Iceland (Islandia)
Desde a trilha sonora, que literalmente participa das cenas na forma de três músicos que interagem com Halla e quebram a quarta parede, até a passagem por diversos estilos (comédia, drama e uma parcela de musical), Uma Mulher em Guerra é um filme completo, e a melhor parte é que ele não aparenta querer atingir tal crédito. Por soar o mais natural possível dentro de suas situações apresentadas, algumas mais inusitadas que outras, a diversão é inevitável. E a aproximação com a protagonista é mais ainda.
A guerra solitária que Halla trava com a indústria local acaba tomando proporções enormes e, mesmo com os riscos iminentes, ela ainda não desiste de fazer o que acredita. Mas mesmo sob o codinome de "Mulher da Montanha" nas horas vagas, ela continua a trabalhar durante o dia como professora de música, atuando como mais uma cidadã comum da cidade islandesa. Ninguém parece notar o espírito ativista de Halla, mas tendo em vista quais pôsteres estão pendurados na sala de estar (estampando Mandela e Gandhi), não é como se ela estivesse o escondendo do mundo.
O forte tema do ativismo ambiental se une a um desejo pessoal de Halla, que é o de adotar. Em meio aos desafios relacionados à sua missão de ajudar o mundo, ela finalmente vê outro caminho de ajudar a sociedade: dando lar a uma criança que necessita. O roteiro apresenta este lado mais "comum" de Halla após conhecermos sua rebeldia, e a nuance dentro de sua personalidade é como se fosse o impulso final para que esta personagem se torne ainda mais forte. Quando se abre a explicação de que Halla está no fim de uma longa lista de espera de adoção, temos uma mulher em guerra de um lado e uma mulher em busca de paz do outro. Tal constraste a humaniza mais e serve como uma casca, que vai sendo retirada aos poucos.
Não há nenhuma indicação no início, mas Uma Mulher em Guerra é um filme de muito coração. A jornada de Halla vai ao encontro com a possibilidade de ganhar pessoas nas quais pode confiar, no senso de família e no dever de cuidar do nosso planeta. É, também, um lembrete sobre conflitos humanos e naturais e do quanto eles podem reagir negativamente. A mudança climática é só um dos ganchos da trama e entrega críticas com relação ao que estamos fazendo aqui. Tais críticas vão em direção à posição jornalística com relação ao meio ambiente e, por fim, chegam ao papel da adoção e de como ela pode ampliar nossa visão do mundo.
Halla começa como heroína, passa por mártir, "vilã" e finaliza como alguém muito humana. É emocionante e ao mesmo tempo cruel acompanhar o trajeto de alguém que tem tanto a dizer e tenta fazer o possível para mudar a realidade do próximo. A intensa cena final de Uma Mulher em Guerra traz uma parcela da paz que Halla tanto procurou, assim como uma parcela de calamidade que ela tanto avisou por meio de seus atos. Nem tudo está em suas mãos, mas a protagonista está disposta a agarrar o máximo que puder. (AdoroCinema)
Em tempo: impactante, obrigatório.
29/08/2019
Hear the Silence (Escuta do silêncio), 2016, Ed Ehrenberg
Em tempo: humano e insuspeito
Bacurau, 2019, Juliano Dornelles, Kleber Mendonça Filho
Em tempo: IMPERDÍVEL
05/09/2019
Parasita (Gisaengchung) 2019, Joon-ho Bong
“Um consenso entre a imprensa especializada é que no Brasil falta aquele tipo de produção considerado como “filme médio”, ou seja, a obra que não tem pretensões de ser o novo “Glauber Rocha”, nem se trata de uma comédia televisiva caça-níquel. Pois com a profissionalização do mercado nacional, aos poucos essa realidade tem se alterado – embora ainda sem o merecido reflexo nas bilheterias. Casa Grande (2014) e Que Horas Ela Volta? (2015) são exemplos recentes dessa safra, na qual se colhe também o ótimo Boi Neon. Com um pé no cinema de arte (o que se confirma, por exemplo, nos clipes impactantes da mulher que dança vestindo uma cabeça de cavalo – e que, sim, têm relação com a dramaturgia do filme), a nova produção de Gabriel Mascaro (Ventos de Agosto) - que assina também o roteiro - passa por um cinema, ao mesmo tempo, de fácil assimilação pelo grande público” (AdoroCinema)
05/10/2019
Little Woods, 2018, Nia DaCosta
Paraiso perdido, 2018, Monique Gardenberg
07/01/2020
A história de Lola Montès (Martine Carol), dançarina e cortesã célebre por seus romances escandalosos com figuras públicas, como o compositor Franz Liszt e o Rei Ludwig I da Baviera.
"Lola Montès", de Max Ophuls, é uma obra-prima!
... Max Ophuls (1902/1957), realizador globetrotter, e de raro brilhantismo e singularidade na história da chamada sétima arte, começa a fazer filmes na Alemanha na década de 30 e depois na Itália, Estados Unidos (onde fez uma obra-prima do intimismo cinematográfico de todos os tempos:Carta de uma desconhecida/Letter from an Unknown Woman, 1948, com Louis Jordan e Joan Fontaine), e França, quando, nos anos 50 realiza três preciosidades de sutileza, de finesse, de delicadeza no trato da alma feminina e na análise do meio social circundante com um apuro estético inexcedível: Conflitos de amor (La ronde, 1950), com Anton Walbrook, Simone Signoret,O prazer (Le plaisir, 1952), com Jean Gabin, Jean Servais, Daniel Gélin (que foi amante de Danusa Leão nesta época), Danielle Derrieux, Desejos proibidos (Madame de..., 1953), com Danielle Derrieux, Charles Boyer, e Vittorio De Sica.
Tomo emprestadas as palavras de Claude Beylie, ilustre ensaísta cinematográfico francês para situar melhor a importância de Lola Montès. Antes, porém, lembrar que François Truffaut, uma vez, escreveu o seguinte: "Quem nunca viu Lola Montès não pode entender de cinema". Mas vamos às palavras de Beylie: "Hoje, que as paixões se aplacaram, devemos reter Lola Montès. Antes de mais nada, uma rigorosa denúncia do sensacionalismo espetacular e da promoção da mídia. Ophuls que, a este respeito, estava vários passos à frente de sua época, ocultava suas intenções: "As perguntas que o público do circo faz a Lola me foram inspiradas pelos jogos radiofônicos de programas publicitários tremendamente impudicos. Acho apavorante esse vício de tudo saber, essa falta de respeito diante do mistério." No entanto, ao mesmo tempo e paradoxalmente, ele realiza o desejo wagneriano de um espetáculo total: o tratamento original da cor (na tradição de Jean Renoir e Vincente Minnelli), o uso de caches, que permitem modificar à vontade o formato da imagem em cinemascope (o que cria a impressão de uma tela variável, submetida a sutis mudanças de cenário na mesma tomada..."Além da já citada assombrosa agilidade da câmera. Ostravellings e as panorâmicas de Ophuls são, por assim dizer, coisa do outro mundo. É bem de ver o que disse Beylie: a cor é trabalhada com tal intensidade que se ajusta como uma luva ao tecido dramático, tornando-se um elemento de composição importante da mise-en-scène... (Setaros Blog)
09/01/2020
O leopardo, 1963, Luchino Visconti