sábado, 25 de janeiro de 2020

Sumário do Blog

Pedro  09/08/2020

73 vacas  08/08/2020

Hiroshima 75 anos  06/08/2020

App da inclusão  01/08/2020

Educação vigiada   24/07/2020

Marguerite Duras  24/07/2020

Florestan  23/07/2020

Mumbuca  21/07/2020

Filmes parte 7  19/07/2020

Um de nós morrerá  16/07/2020

O desprezo  11/07/2020

Tudo acaba em barro  07/07/2020

INTOLERÂNCIA  03/O7/2020

Covid nas aldeias brasileiras  29/06/2020

Filmes a levar na mala  29/06/2020

O debate selvagem: ensino presencial ou EaD  27/06/2020

O ensino remoto, a pandemia, a alienação e o produtivismo  21/06/2020

O que é alienação em Marx  20/06/2020

Filmes - parte 6  19/06/2020

A economia pré e pós pandemia e seu reflexos no mundo do trabalho  15/06/2020

Poema para meu irmão branco  12/06/2020

AULA AO PÉ DO OUVIDO  06/06/2020

UFES (1954 - 2020) perdas e ganhos  30/05/2020

Tempos da peste  15/05/2020

Um virus entre duas crises  14/05/2020

O neoliberalismo e a pandemia  08/05/2020

A pandemia e o desmonte neoliberal no país  06/05/2020

 De frente para a tragédia na escola pública 04/05/2020

Filmes parte 5   02/05/2020

O ensino a distância na Educação Básica e a Invasão dos bárbaros  1/05/2020

Fordismo científico  27/04/2020

Uma república profanada    25/04/2020

Educação Básica no Brasil 2019  20/04/2020

Educação Superior no Brasil 2018  19/04/2020

A falsa cordialidade dos brasileiros  13/04/2020

'Desta terra nada vai sobrar a não ser o vento que sopra sobre ela'  11/04/2020

Filmes parte 4   06/04/2020

SÓ!  28/03/2020

Quem fará a ruptura no Brasil?  26/03/2020

Tatiana Leskova  23/03/2020

Austeridade é a maior aliada do coronavírus no Brasil  16/03/2020

MISSA DO GALO  04/03/2020

Filmes - parte 3  02/02/2020

Paraisópolis: a política do extermínio, 25/01/2020 

Monogamia, 13/01/2020 

A igreja branca, 10/01/2020 

GRETA, 17/11/2019

Universidade e negócios, 24/11/2019

Eliane Brum, 27/10/2019 

Ofensiva final contra os povos indígenas, 15/10/2019

Bacurau e o Brasil brutal, 07/10/2019 

Por que cortar gastos não é a solução para o Brasil, 24/09/2019

O Narciso de Caravaggio, 07/09/2019

Tupi, 29/08/2019                                                                                                              

ANGUSTIA de Graciliano, 16/08/2019                                                                      

Elzita, 05/08/2019                                                                                                          

Altamira e Belo Monte, 03/08/2019                                                                          

Filmes - parte 2, 30/07/2019


Ítala Nandi, 09/07/2019

Serra Pelada e o desastre ambiental, 07/07/2019

Moro, o justiceiro vingador e o PT, 05/07/2019

Canudos, 09/06/2019

Um Brasil Mad Max, 05/06/2019

Caravaggio Imortal, 10/05/2019

Abraço da serpente, 29/04/2019

LULA, 27/04/2019

Paulo Freire, 14/04/2019

Filmes, 06/04/2019

Ana Paula e a vida na senzala, 18/03/2019

Roma - o filme, 12/03/2019

O país sem alvará para funcionar, 13/02/2019

Brumadinho: crime anunciado, 28/01/2019

Sob velha direção, 01/01/2019

SALTEADORES DA TESSÁLIA, 28/12/2018

Sexo sem culpa, 21/12/2018

Yawanawás, 16/12/2018

O espelho, 12/12/2018

Mônica, 12/12/2018

Emilia Galindo, 28/11/2018

Virginie Despentes, 22/11/2018

Um casamento feliz, 18/11/2018

Sistema Internacional de Unidades: atualização, 16/11/2018

Escola sem partido, 06/11/2018

A guerrilha do recalque, 16/10/2018

Vidas Secas, 11/10/2018

Tratar um câncer transforma a vida, nem sempre para pior, 13/09/2018

Violência no Brasil, 25/08/2018

Porque escrevo (Ensaios de risco), 24/08/2018

Catástrofe a vista, 17/08/2018

A dor da existência, 10/08/2018

Nossas dores, 26/07/2018

Cão sem plumas, 16/07/2018

As minhas seleções, 14/07/2018

Três pinos, 23/06/2018

Deus salve o casamento, 22/05/2018

Sexo forte, 12/05/2018

Daniela Vega, 30/04/2018

Lou, 26/04/2018

Minha libido foi comprar cigarro, 21/04/2018

Queimada, 18/04/2018

John Huston: "Ele se esqueceu da humanidade", 11/04/2018

Lula, o humano, 09/04/2018

2001: uma odisseia no espaço, 02/04/2018

Juliette, 01/04/2018

Mabel, 27/03/2018

Marielle, 18/03/2018

Epifania, 16/03/2018

Oscar 2018 e o cinema, 07/03/2018

Carta para F., 02/03/2018

Para sempre fiel, 24/02/2018

Bondade cruel - Tuiuti, 21/02/2018

, 18/02/2018

C'est la vie, 22/01/2018

Loving Vicent - como pintar um filme, 07/12/2017

Como nossos pais - o filme, 24/11/2017

The Handmaid's Tale, 18/11/2017

Socialismo ou barbárie, 17/11/2017

A igreja do diabo, 03/11/2017

Puta que pariu, eu amo essa mulher, 22/10/2017

A Cartomante, 17/10/2017

Não me esqueça num canto qualquer, 23/09/2017

Aparência e Essência, 17/08/2017

Feliz dia dos pais, João, 16/08/2017

Família profana, 04/08/2017

Vontade de viver, 31/07/2017

Teamo, 25/07/2017

A coroa de orquídeas, 20/05/2017

PSA: a radiografia de um câncer, 28/04/2017

Ofélia, 17/02/2017

A casa-grande surta quando a senzala vira médica, 08/02/2017

Inventando mulheres, 02/01/2017

Um conto de Natal Brasileiro, 28/12/2016

Balanço das Eleições 2016 por Sakamoto, 31/10/2016

Chicago e a violência. E nóis?, 04/10/2016

O golpe parlamentar e empresarial, 11/09/2016

, 13/05/2016

O engodo dos arautos da casa - grande, 27/04/2016

Réquiem, 03/04/2016

IA e a barbárie, 30/03/2016

Elza, 07/12/2015

Super-ricos, 02/09/2015

Deixe os mortos enterrarem seus mortos, 08/08/2015

Boca do lixo, 22 de julho de 2015

Casmurro, 11 de abril de 2015

O nó górdio do século, 12/02/2015

O "alto" índice de criminalidade em Barretos, 08/01/2015

Terra inacabada 4: a agonia do rio Madeira, 13/11/ 2014

A ditadura não acabou, 06/11/2014

Lobo Solitário, 02/11/2014

Asfixia, 23 de outubro de 2014

YUKI, 13 de outubro de 2014

Clash by night, 16/09/2014

Acredite, caso queira, 15/08/ 2014

Tortura, 29/07/2014

O cinema versus IA, 14/07/2014

O nazi horror, 03/07/2014

Eleonora, 25/06/2014

Formação profissional em engenharia, 19/05/2014

Sou escorpião, minha filha, 04/05/2014

Lição de Anchieta, 28/04/2014

A erva generosa, 21/04/2014

Terra inacabada 3, 15/03/2014

A Copa do Cu do Mundo, 01/03/2014

Aberrações da Humanidade, 07/01/2014

Contra o silício, 06/01/2014

Insurgentes, 13/12/2013

Sempre juntos, eternamente separados, 01/12/ 2013

Ruthinéia, nossa Santa da Vida, 03/09/2013

Violência em alta, 26/07/2013

Onde estão os ex-fascistas?, 25/07/2013

Vândalos, 04/07/2013

Copa das Federações - Brasil, junho de 2013, 17/06/3013

Touradas, 06/06/2013

A questão das drogas no Brasil, 19/05/2013

Machado de Assis, 16/02/2013

O rabo da cachorra, 22/11/2012

A greve nas IFES, 14/09/2012

A era do écran, a internet e o vício, 20/08/2012

A morte, 24/07/2012

A greve, 14/07/2012

Mulher inacessível, 13/07/2012

Carlos Reichenbach: tradução cinema, 22/062012

Pai, 09/06/2012

Caravaggio, 30/05/2012

Meias, 22/05/2012

Terra inacabada 2, 25/03/2012

Metodologia científica, 02/03/2012

Internet e as controvérsias, 14/02/2012

Violência no Espirito Santo. Até quando?, 30/11/2011

Educação e telemática, 01/12/2011

Marcos não reclama da vida, 19/11/2011

Terra inacabada, 07/11/2011

Assédio sexual em metrô, 23/10/2011

Beatrix, 12/10/2011

Desvinculação amorosa, 06/10/2011

Finoca, 21/09/2011

O Estado privatizado, 08/09/2011

Resultados da crise de 2008: bancos ricos. E quem paga a conta?, 06/09/2011

Aprendizagens, 25/08/2011

Telma e Ricardo, 15/08/2011

Inácia, 8 de agosto de 2011

Dora, 11/07/2011

República de bananas, 06/07/2011

Parcerias ou promiscuidade público-privada?, 01/07/2011

Qualquer semelhança não é mera coincidência, 25/06/2011

Origens, 23/06/2011

Docência: uma profissão dividida, 19/06/2011

Palmas para os estudantes, 16/06/2011

Americanos, 13/06/2011

Os dinossauros, 06/06/2011

Flexal 2 e os dez mandamentos, 03/06/2011

Solidão clandestina, 01/06/2011

Os humanos não são animais, 27/05/2011

Mariana Librina: a tia-tetravó barretense, 24/05/2011

Loser, 23 de maio de 2011

Gerônimo: não basta abater o homem para anular o exemplo, 23/05/2011

Tô puta, 22/05/2011

Projeto: a banalização de um conceito, 21/05/2011

Alma salva Alba, 20/05/2011

Marlon, 20/05/2011

Paraisópolis: a política do extermínio

A economia política do extermínio: Paraisópolis e a próxima “tragédia”…

Será que conseguiremos confrontar o poder burguês no Brasil sem colocar no centro da agenda política o enfrentamento ao extermínio da população negra? Como colocar no centro da cena política a questão do extermínio?

Publicado em 13/01/2020

Por Jones Manoel.

Tenho uma foto do que era, na época, minha turma de segunda série. Eram dez alunos que estudavam nos fundos da Igreja Católica São Francisco de Assis na favela da Borborema, em Recife. Das dez crianças presentes na foto, apenas duas estão vivas. Eu e mais um. Fui o único a fazer curso superior. Os outros oito morreram. Todos de forma violenta, com tiros ou facadas. Seis deles eu vi os corpos estendidos na rua, esperando o carro do IML chegar. Nas favelas e morros do Brasil há uma estranha curiosidade mórbida por ficar olhando o corpo até ele ser recolhido. Minha mãe, na melhor das intenções, também tinha uma pedagogia um pouco macabra (costume comum a várias mães): levar o filho para ver o corpo e saber como termina quem “entra na vida errada” para tentar dissuadi-lo das “tentações do crime”.

Ampliando um pouco mais a memória, consigo lembrar rapidamente de quase trinta nomes de amigos e colegas com os quais convivi durante infância, adolescência e parte da vida adulta, que foram mortos de maneira violenta. Lembro com clareza de Rafael, que dava em cima da minha irmã, e foi morto com 16 anos em um bar porque um cara estava com ciúmes de sua namorada. Lembro de Juruna, meu colega de capoeira que foi morto com um tiro no olho por um policial. Lembro também de Neto, morto perto do Aeroporto do Recife, também em um bar, com mais de sete tiros etc.

Parando para pensar sociologicamente, eu tenho memórias de guerra. Conheço centenas de pessoas assassinadas. Vi muitos corpos e muito sangue espalhado na rua. Porém, teoricamente, eu não estive em uma guerra. Tudo isso aconteceu durante o período auge da linda e pujante democracia brasileira.
Acrescento outro registro de memória pessoal. Quando tinha onze anos de idade, meu pai foi assassinado. Desde muito cedo, aprendi com os filmes de Hollywood que toda polícia tem um departamento de investigação ultramoderno, cheio de técnicas e artifícios capazes de descobrir qualquer crime e, enfim, fazer justiça. Esperava que acontecesse o mesmo com a morte do meu pai. Não foi o que ocorreu. Mais de 80% dos homicídios no Brasil não são investigados ou solucionados. Sem falar na qualidade dos inquéritos e sentenças judiciais dos casos ditos “solucionados”. Meu pai Luis Manoel, ou Mané do Bode (como os amigos chamavam), foi só mais um, entre milhares, a ter a vida ceifada como se não fosse nada.

Esses registros pessoais de memória, depois que me tornei militante e professor, passaram a ser lidos dentro de um prisma sociológico. Note: no Brasil, há um complexo que articula aparatos do Estado e da mal chamada sociedade civil numa sinergia intensa de modo a reproduzir e legitimar uma política de extermínio de milhares de pessoas todos os anos – cerca de 60 mil. Ergue-se toda uma institucionalidade paralela ou um conjunto de leis oficiosas, que todo mundo  conhece muito bem, sem que isso implique qualquer contradição fundamental com a estrutura jurídico-política formal do Estado.

Exemplo básico disso. Desde os meus dez anos de idade, ando com o RG no bolso. Até hoje faço isso. Minha mãe me ensinou que não posso sair sem carteira de identificação na rua. A ideia implícita é que eu, garoto negro, pobre e favelado, poderia ser morto e o mínimo era identificar meu corpo. Minha mãe também me ensinou, ainda criança, que quando eu visse a polícia na rua deveria lembrar de nunca correr ou fazer qualquer movimento brusco, pra não correr o risco de provocar algum disparo por parte deles.

Nesses ensinamentos está contida uma sabedoria prática que retrata a realidade não inscrita nos códigos jurídicos ou na Constituição, mas que registra o funcionamento concreto do poder político no Brasil. Aprendi desde cedo formas de tentar tornar-me um pouco menos “matável” – embora ainda tenha que andar com o RG, pois, a despeito do que eu faça, eu continuo um ser matável. E essa realidade material de extermínio convive bem com o Judiciário, o Legislativo, o Executivo, os intelectuais, a universidade, as igrejas, o cinema, os partidos políticos etc.
O fato de termos pessoas que têm memórias e experiências de vida semelhantes ou piores que as de um iraquiano ou um sírio (pra citar países que, nos últimos anos, passaram por guerras brutais fruto de invasão neocolonial do imperialismo) não é uma questão central na política brasileira – mais do que isso: não é e não foi para nenhum presidente da República no chamado período democrático. Collor, Itamar, FHC, Lula, Dilma e Temer contêm poucas diferenças entre si nessa questão. A grande diferença é Bolsonaro, que consegue ser o pior de todos.

O único líder político no pós-ditadura empresarial militar que pode bater no peito e dizer fez ou tentou fazer algo para parar esse extermínio no Brasil chama-se Leonel de Moura Brizola (em sua gestão à frente do governo do estado do Rio de Janeiro). De resto, ou no discurso se coloca um pouco contra (mas mantém tudo na prática) ou reforça a legitimidade da política de extermínio no discurso. Essa legitimação tem ampla guarida inclusive na “esquerda”. Lula da Silva, em 2007, depois de a Polícia Militar matar dezenove pessoas no Rio de Janeiro, disse que “não se enfrenta bandidos com rosas”. A prova de que as dezenove pessoas mortas eram “bandidos” foi… a PM dizer que eles eram bandidos. Lula nunca foi devidamente cobrado por declarações como essas.

Em 2015, depois da Rondesp matar doze jovens negros, o governador petista da Bahia, Rui Costa, disse que os policiais são como artilheiros na hora de fazer um gol e que às vezes erram. Rui também nunca foi cobrado como se deve por atitudes como essa e é cotado para uma… candidatura presidencial.

Isso para não falar de como se fazem reflexões sobre Direito, sistema político, democracia, cultura, desigualdade, instituições e afins não incorporando esse dado básico da realidade brasileira: todos os anos mais de 60 mil pessoas são assassinadas. Talvez, e isso é apenas uma hipótese, o centro da questão esteja na economia política: o capital, a acumulação capitalista no Brasil, não sente falta dessa força de trabalho exterminada. Note um dado curioso: mesmo com mais de 60 mil assassinados por ano, formando 1 milhão de mortos em 17 anos, o capital não sente falta ou escassez de força de trabalho. Antes, talvez, o contrário: esse extermínio perene seja funcional ao controle do exército industrial de reserva, ou superpopulação relativa, sempre crescente e com níveis cada vez mais assustadores na periferia do sistema capitalista.

O brilhante sociólogo francês Loïc Wacquant demonstrou com substância a relação entre o neoliberalismo e a onda punitiva de encarceramento em massa. O sistema prisional dos Estados Unidos, por exemplo, chegou a superar os dois milhões de encarados a partir da contrarrevolução neoliberal comandada por Ronald Reagan. Ao sintetizar seus estudos, Wacquant fala de três formas fundamentais de controle da pobreza: a) socialização (por meio de políticas sociais); b) medicalização (por exemplo: internar pessoas em situação de rua, como se o alcoolismo e outros problemas se resumissem a fenômenos biomédicos); e c) encarceramento1. A tese de Wacquant a respeito da relação orgânica entre neoliberalismo e encarceramento se mostra corretíssima, guardadas suas particularidades, também para o Brasil, mas o pensador francês que já escreveu coisas bastante interessantes sobre o nosso país, não percebeu que aqui temos uma quarta estratégia central de controle: o extermínio.

O projeto neoliberal, ampliando o desemprego, o trabalho precário e informal e a chamada marginalidade, veio acompanhado, em nosso país, não só do encarceramento em massa, mas também do aumento sempre crescente da letalidade do Estado. Por isso nosso sistema prisional não pode ser encontrado nas páginas do Vigiar e Punir, de Michel Foucault: ele assemelha-se muito mais a um campo de concentração, com rodadas periódicas também de extermínio e mortes em decorrência de doenças como tuberculose.

A constatação desse dado básico das últimas décadas reforça a hipótese aqui levantada: o neoliberalismo tornou ainda mais funcional à reprodução da ordem capitalista no Brasil o extermínio permanente de milhares todos os anos. O sangue, majoritariamente negro, deve correr para manter o capital lubrificado. Agrego que se faz necessário incorporar um dado fundamental. É incorreto falar somente de extermínio no âmbito da violência direta. Disse certa vez Bertold Brecht,

“Há muitas maneiras de matar uma pessoa. Cravando um punhal, tirando o pão, não tratando sua doença, condenando à miséria, fazendo trabalhar até arrebentar, impelindo ao suicídio, enviando para a guerra etc. Só a primeira é proibida por nosso Estado”

Quantos não morrem todos os anos de fome, falta de atendimento médico, trabalho desumano, precariedade do transporte, ausência de remédios, péssimas condições nos hospitais, secas, grandes obras – como Belo Monte – e afins? Dois anos atrás um militante comunista e enfermeiro me garantiu, durante um debate sobre o tema do extermínio da população negra, que o Brasil não tem menos que 120 mil mortos todos os anos.

Liberais, conservadores, socialdemocratas, “socialistas democráticos” e até certos marxistas, em especial meus amigos trotskistas, adoram fazer contabilidade de corpos na URSS ou na China Popular. Mas que tal fazermos esse exercício aqui mesmo no Brasil?

Poderíamos aprofundar ainda mais a questão e pensar a história da formação social brasileira em longa duração histórica. O genial Darcy Ribeiro já falou do Brasil como um “moinho de gastar gente”, tratando dos ciclos de extermínio de indígenas, negros e afins2. Na história recente do Brasil, é difícil pensar em um momento de modernização desprovido de um grande massacre para coroar as transformações no padrão de dominação política e acumulação de capital: Canudos, Contestado, Caldeirão de Santa Cruz do Deserto, Carandiru etc.

Em suma, ontem, como hoje, somos um moinho de gastar gente. Uma fantástica fábrica de cadáveres que convive normalmente, com Estado de Direito, “com supremo, com tudo”. Trata-de um genocídio permanente, com sangue e corpos nas ruas todos os dias, com crianças sendo assassinadas com balas de fuzil atravessando seu corpo e nada acontece (um amigo de militância estudou Medicina em Cuba e teve dificuldade de explicar para os cubanos como tem tiroteio todo dia no Brasil e como é normal ver corpos na rua, sendo que não estamos em guerra civil).

Mas e Paraisópolis? Essa é a grande questão. O massacre de Paraisópolis foi o massacre do momento por uma semana. Já passou a repercussão. A família, alguns movimentos populares e juristas com compromisso popular é que ficam até o fim com compromisso com a verdade. O caso passa. A vida volta ao normal. Depois vem “outro caso”. Depois outro. E outro. E assim segue. Desde que me tornei militante, em 2010, não passou um mês sem um “grande caso” da polícia matando alguém. Cláudia, Amarildo, DG, 111 tiros no Costa Barros, Cabula, chacina de Fortaleza etc. etc. etc.
Aqui mora o centro da questão: esse extermínio é normal. E normal aqui no sentido sociológico da palavra, como conceito: uma série de práticas sociais e suas correspondentes ideologias de legitimação aceitas como parte constitutiva da sociedade em seu funcionamento cotidiano. É como a pobreza. Embora em discurso seja dito que ela é um problema e precisa ser combatida, não deixamos de comer, dormir, beber, estudar, se divertir ou sair toda semana na rua por causa da pobreza. Eu, você e todos nós saímos na rua, vemos pessoas na miséria, voltamos para nossa casa e segue a rotina.


O extermínio brasileiro não é uma anomia, nos termos colocados por Émile Durkheim.
Aconteceu Paraisópolis, e vai acontecer a próxima “tragédia”. E a próxima… Usar os “casos” para provar que a polícia é uma máquina no genocídio da população negra ou que existe racismo estrutural é um discurso que tem um impacto na hora, momentâneo, e depois volta tudo ao normal.
Numa coluna anterior aqui do Blog da Boitempo chamada “Duas teses sobre a questão racial no Brasil” eu apontei a importância do antirracismo revolucionário na estratégia da Revolução Brasileira. Será que conseguiremos confrontar o poder burguês no Brasil sem colocar no centro da agenda política o enfrentamento ao extermínio da população negra? Aliás, como podemos colocar no centro da cena política a questão do extermínio? Como tirar esse massacre cotidiano da normalidade, da naturalização, do “é isso mesmo”?

Essas são perguntas centrais para esse ano que se inicia. Para fazer com que massacres como o de Paraisópolis deixem de ser comuns. E não vou tentar, agora, fornecer as respostas. No decorrer do ano, voltaremos a esse tema no âmbito das nossas reflexões sobre o antirracismo revolucionário. O primeiro passo, porém, é entender o que disse a música:

“O pedido do secretário de segurança é especifico:
Soldados, atenção! Sem testemunha e feridos;
abatam pelo cabelo, pela roupa, pela cor.
Só cuidado com a laje, com cinegrafista amador.
Dá um vazio vê que ainda não fiz o escrito
com o poder de evitar os enterros coletivos;
impedir que os antigos vizinhos de rua
depois dos bum se tornem vizinhos de sepultura.

Eduardo Taddeo, “A era das chacinas”, A fantástica fábrica de cadáver.

NOTAS
1 Loïc Wacquant, Punir os pobres: a nova gestão da miséria nos Estados Unidos (3° edição). Editora Revan, Rio de Janeiro, 2007.
2 Darcy Ribeiro, O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil. Global editorial, São Paulo, 2017.

Jones Manoel é pernambucano, filho da Dona Elza e comunista de carteirinha. Começou sua militância na favela onde nasceu e cresceu, a comunidade da Borborema, construindo um cursinho popular, o Novo Caminho, junto com seu amigo Julio Santos (ele, Julio e outro amigo, Felipe Bezerra, foram os primeiros jovens da história de Borborema a entrar em uma universidade pública). Depois de dois anos com o cursinho popular, passou a militar no movimento estudantil em paralelo ao seu curso de história na UFPE. Pouco tempo depois, ingressou nas fileiras da UJC (a juventude do PCB). Ativo no movimento estudantil até 2016, hoje atua no movimento sindical e na área da educação popular. Mestre em serviço social, atualmente é professor de história, mantém um canal no YouTube e participa do podcast Revolushow. Segue militante do PCB.

A VER
Sangue preto e sangue indígena como moeda de negociação

24/01/2020

segunda-feira, 13 de janeiro de 2020

Monogamia

Monogamia é cômoda e barata, mas absolutamente frágil, diz sexólogo

Para Manuel Lucas Matheu Bolsonaro e Trump exploram valores familiares nos quais ninguém realmente acredita


Sexólogo espanhol Manuel Lucas Matheu, 70, presidente da Sociedade Espanhola de Intervenção em Sexologia, bem como membro vitalício da Academia Internacional de Sexologia Médica - Reprodução/Universidad de Antioquia


A expertise do espanhol Manuel Lucas Matheu, 70, é sexo. Presidente da Sociedade Espanhola de Intervenção em Sexologia há quase duas décadas e membro da Academia Internacional de Sexologia Médica desde 2011, ele é frequentemente requisitado a falar sobre temas que aparecem cada vez mais no noticiário e na boca de governantes conservadores, como homossexualidade, poligamia e casamento. Sua visão sobre o assunto é liberal. Critica presidentes como Jair Bolsonaro e Donald Trump que, segundo ele, exploram pretensos valores familiares nos quais ninguém realmente acredita. Diz que estudos apoiam a teoria de que o medo, a ansiedade e a aversão que alguns heterossexuais sentem a gays e lésbicas podem crescer com a repressão de seus próprios desejos homossexuais.

"A sexualidade não é algo sujo. A sujeira está nas mentes que foram contaminadas com uma sexofobia patológica e doente, cheia de medos e insatisfações", afirma.

Afirma também que a monogamia estrita é quase um mito. "A monogamia não é uma lei universal e está mais ligada à pobreza que à riqueza. E, quando falo de riqueza, no caso dos humanos, não me refiro apenas à riqueza econômica, mas também à estética, intelectual, social etc."

O sexólogo diz que aqueles que fazem críticas a gays, como Bolsonaro, podem estar reprimindo seus próprios desejos homossexuais. "Pois que tomem nota o senhor Bolsonaro e os que têm o mesmo discurso homofóbico e se olhem no espelho." Segundo Matheu, "a sexualidade é um valor e uma capacidade de desenvolver, e não algo sujo."

Para ele, ações educativas são o único caminho para um futuro saudável nas camas do mundo todo. "Precisamos com urgência do fomento de atitudes de igualdade e equidade, seja qual for sua condição ou forma de viver sua sexualidade. Só assim as relações sexuais deixarão de ser genitalizadas e falocráticas."

Em uma entrevista à BBC, o senhor falou que só somos monogâmicos porque somos pobres. O senhor poderia explicar melhor esse pensamento?


Eu não disse exatamente isso. Disse que a monogamia está muito mais presente em toda a escala filogenética quando há escassez de recursos.

A monogamia só está presente em 3% dos mamíferos.

Ela tampouco é uma moda muito frequente entre nossos parentes mais próximos, os primatas. Em um estudo realizado por Ford e Beach em 185 sociedades humanas, menos de 16% restringiam seus membros à monogamia.

Em outro estudo sobre as 238 diferentes sociedades humanas em todo o planeta, Murdoch encontrou casamento monogâmico em apenas 43 delas.

Definitivamente, o verdadeiro título da minha entrevista, e não aquele que a imprensa divulgou, é que a monogamia não é uma lei universal, que as formas de relação sexual são muito diversas e que a monogamia real e efetiva está mais ligada à pobreza que à riqueza. E, quando falo de riqueza, no caso dos humanos, não me refiro apenas à riqueza econômica, mas também à estética, intelectual, social etc. Supondo que todos os seres acordassem ricos da noite para o dia.


O senhor acredita que as pessoas abandonariam imediatamente a monogamia?

A monogamia real e estrita é quase um mito. Está muito mais ligada à dificuldade de romper vínculos ou de acessar outros pares e é sustentada por fortes regras morais e religiosas. A monogamia é cômoda e barata, mas absolutamente frágil.

A monogamia está de algum modo ligada à infelicidade?

A construção amorosa ocidental se baseia em um malabarismo quase impossível: o amor apaixonado. O amor apaixonado acaba quando o amor é consumado e tão logo se transforma em amor consumido, seja pela rotina ou pelo cumprimento de um contrato amoroso daquele tipo que ninguém lê as letrinhas pequenas antes de assinar. E é um contrato diabolicamente difícil de cumprir, porque é um contrato não apenas amoroso, mas econômico, sexual, de poder, de tarefas, recreativo, e, se há filhos, pedagógico.

Qual o segredo para que um relacionamento aberto funcione?

Ainda que eu não creia que a monogamia esteja necessariamente ligada à infelicidade, um amor maduro e relativamente feliz precisa de bons conhecimentos sobre como construí-lo, e isso ninguém ensina nem na escola nem na família. Conhecimentos para resolver os conflitos inerentes aos casais, para se comunicar, para se compreender. As conveniências sociais e econômicas e fortes repressões religiosas são capazes de manter muitos casais quando eles realmente não são felizes juntos. Ainda que, repito, não seja impossível ser feliz.

No Brasil, vivemos uma onda conservadora que diz agir em defesa da família e da moral. Por que o senhor acha que, de tempos em tempos, as pessoas retornam à ideia de que a forma correta de fazer sexo é com um marido/esposa?

Estou mais preocupado do que nunca. Já tivemos de tudo na Casa Branca, mas nunca um descerebrado machista, homofóbico, racista, provincianos rico, polígamos sequencial, mal-educado e sobretudo egocêntrico. Ao lado de Putin, Bolsonaro, Boris Johnson etc., Trump explora pretensos valores familiares nos quais ninguém realmente acredita.

O presidente do Brasil já se envolveu em situações que tinham o sexo como protagonista, como quando usou sua conta oficial no Twitter para perguntar o que é golden shower e pública fixação por criticar homossexuais. Uma pessoa falar de sexo sempre com uma conotação suja pode indicar algum distúrbio?

Elizabeth Badinter, discípula de Simone de Beauvoir, disse: "A homofobia contribui para reforçar a frágil heterossexualidade de muitos homens". Isso vem corroborar um estudo multicêntrico conduzido por uma equipe formada por investigadores da Universidade de Rochester, da Universidade de Essex, e da Universidade da Califórnia em Santa Bárbara que conclui que a homofobia se dá com mais assiduidade em indivíduos com uma atração não reconhecida pelo mesmo sexo.

As descobertas apoiam a teoria de que o medo, a ansiedade e a aversão que alguns heterossexuais sentem a gays e lésbicas podem crescer com a repressão de seus próprios desejos homossexuais. Pois que tomem nota o senhor Bolsonaro e os que têm o mesmo discurso homofóbico e se olhem no espelho.

A sexualidade é um valor e uma capacidade de desenvolver, e não algo sujo. A sujeira está nas suas mentes, que foram contaminadas com uma sexofobia patológica e doente, cheia de medos e insatisfações, de origem multifatorial, onde têm relação com fatores educativos, traumas infantis e graves problemas de apego.


As pessoas têm pensado mais em sexo e por isso a pornografia é tão popular ou as pessoas têm pensado mais em sexo porque a pornografia é tão popular?

A pornografia, como é produzida e comercializada, retrata claramente um modelo de relações sexuais reducionista, genitalizado, falocrático, masculinizado, produtivista, desportivo e marginalizador. E não só retrata este modelo como o consolida. Por isso é tão preocupante que este tipo de pornografia esteja disponível para todas as idades.

E, fora do ambiente virtual, as pessoas têm feito mais sexo no mundo?

As novas tecnologias têm um impacto importante na sexualidade humana. Uma das vantagens é que o acesso à informação sobre sexo fica mais democrático, bem como o acesso às terapias sexuais. O ponto negativo é a progressão de uma nova forma de solidão, a eletrônica.

Há pessoas que se fecham em si e na comodidade do seu rincão cibernético. Isso pode produzir problemas psicológicos, e, sobretudo, a amputação dos campos sensoriais em detrimento de um dos aspectos fundamentais da sexualidade: o contato corporal e a satisfação da sede de pele, que é tão intensa no ser humano.

 

Marcella Franco

SÃO PAULO, 13/01/2020

sexta-feira, 10 de janeiro de 2020

A igreja branca

A igreja branca tem que acabar

Dodô Azevedo, 9/01/2020

Lemos e ouvimos por aí um discurso arrogante, oportunista e preconceituoso que diz: “A esquerda precisa conversar com os evangélicos, chegar às periferias”. Oportunista porque se vale da ingenuidade dos que não conhecem a natureza diversa da periferia e o universo evangélico e crêem em qualquer um que escreva:: “Eu vim da periferia, vocês não sabem o que se passa lá. Eu sei, e vou contar para vocês.” Arrogante, porque se coloca como voz única do que é necessariamente polifônico. Preconceituoso porque parte do princípio que pobres e evangélicos têm a cabeça vazia, são espécie de teletubies que aderem ao primeiro discurso que a eles chegar, a quem se apresentar mais próximo.

Uma das belezas do projeto Quadro-negro, é a oportunidade convidar as muitas vozes que, juntas, apresentam uma visão mais honesta do que tem se tornado um produto feitichizado para ser consumido por brancos “entusiastas das periferias e dos pobres”. Ronilso Pacheco é teólogo e pastor de São Gonçalo e ativista colaborador de diversas organizações de direitos humanos no Brasil. Atualmente mestrando em Teologia pelo Union Theological Seminary, da Universidade de Columbia (EUA), o organizador do livro  “Jesus e os Direitos Humanos: porque o reino de Deus é justiça, paz e alegria”, publicado pelo Instituto Vladimir Herzog, em 2018, escreveu recentemente, em uma de suas redes sociais:
“A impressão é que, nas periferias, nos territórios empobrecidos, evangélicas e evangélicos formam um grupo inculto e obtuso, limitado politicamente, incapaz de pensar por si mesmo e criar suas próprias linhas de fuga e sobrevivência.”

E aqui ele escreve sua primeira colaboração para o Quadro-negro, publicado um dia após a censura ao trabalho do Porta dos Fundos, explicando que, para além disso, o que ele chama de  “cristianismo branco” em nada se parece com a igreja original, que surgiu após a passagem de Jesus Cristo pela terra.

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O Fim da Igreja branca é o fim de uma Igreja que não tolera a diversidade e a solidariedade – Por Rosilso Pacheco

Eu já escrevi que a bíblia é um livro negro de hermenêutica branca. Com “negro”, me refiro a toda diversidade que há na bíblia (de povos, culturas, tradições, religiosidade), e que foram violentamente deturpadas e invisibilizadas para prevalecer a forma europeia-colonial de lê-la e se projetar nela. A negação e a repressão desta diversidade nos afetou profundamente. E esta é uma das razões pelas quais a igreja branca precisa acabar. Ou ela vai nos destruir enquanto sociedade.

Mesmo não achando necessário, faço questão de dizer que quando falo da “igreja branca” não estou me referindo às pessoas “brancas” que estão na igreja (ao menos não de maneira direta). Indivíduos, brancos e brancas, não precisam se acharem tanto. Eu estou falando necessariamente de um modelo de igreja que foi construído com padrões determinados de teologia, de construção de referências de vida cristã, e de formas de conhecer a Bíblia, a Deus e a Fé.

O neocalvinismo, por exemplo, que está cada vez mais assentado no governo Bolsonaro (e cada vez mais o apoia) hoje, tem como seu principal articulador e formulador o teólogo e político Abraham Kuyper, um holandês, no século XIX. Kuyper, por sua vez desenvolveu uma ideia de “cosmovisão cristã” a partir da leitura da obra de James Orr, um escocês, e que foi influenciado por Wihelm Dilthey, um alemão. Uma construção teológica nasce em quintal branco, masculino e europeu, e isto é universalizado como genuína compreensão de Deus, da bíblia e “teologia de verdade”. Isto é a igreja branca.

Isto é um problema? Obviamente que sim. Neocalvinistas em torno do governo Bolsonaro estão comprometidos com uma visão de livre mercado, apoiam políticas hostis à imigrantes, negam o escravidão e os efeitos do racismo na sociedade brasileira, e rezam em uma cartilha neoliberal que moraliza e responsabiliza excessivamente o indivíduo, enquanto poupa e sacraliza a estrutura (por mais desigual, homofóbica, violenta e racista que a estrutura possa ser).
O que une pentecostais e neopentecostais, calvinistas e luteranos, batistas ou metodistas, em maior ou menor grau, em uma frente de conservadorismo que cada vez mais surpreende e assusta, com seu discurso de ódio nas relações, preconceituoso nas interações, violento na política e ganancioso na economia, é uma identidade branca da igreja que herdamos, ou a branquitude da identidade da mesma.

O que está sendo exposto são os limites de uma igreja estruturada no imaginário branco de ser igreja. De cara, este imaginário é racista. Mas ele também hostiliza os pobres, é violento, moralizador e punitivista (ou culpabilizador). Isto é a igreja branca, e ela precisa deixar de existir. Isto é um modelo de igreja que formou e dominou o Brasil na sua organização colonial, escravista, exploradora e que “batizou” a elite e seus privilégios.

Ronilso Pacheco é autor de “Ocupar, Resistir, Subverter: igreja e teologia em tempos de violência, racismo e opressão” (Ed. Novos Diálogos)


Ronilso Pacheco, colunista convidado da semana, é pastor e mestrando em Teologia na Universidade de Columbia, em Nova Iorque (Foto: Divulgação / Paulo Barros)