Reproduzo aqui a coluna de Eliane Cantanhêde publicada na Folha de São Paulo em 05/07/2011.
Assim como cá, lá também a vida segue.
Repúblicas de bananas
BRASÍLIA - Um estrangeiro poderoso é acusado de estupro por uma mulher negra, jovem e bonita da Guiné, camareira num hotel de muitas estrelas na cidade mais cosmopolita do mundo.
A reação na potência onde tudo se passa e nos seus satélites, mais ou menos diretos, é de euforia: um homem tão importante sucumbe diante da acusação de uma simples camareira. Já no país do réu impera a incredulidade.
O homem alega que foi sexo consentido, mas acaba exibido ao mundo como troféu da democracia e da justiça: preso, obrigado a pagar fiança de US$ 6 milhões, humilhado com uma tornozeleira eletrônica e posto em prisão domiciliar. Mais euforia na potência, mais esperneio no país do réu.
E eis que, num estonteante cavalo de pau, o réu passa a vítima, e a vítima, a ré. Na nova direção desse bólido policial-jurídico-político, a camareira é uma mentirosa que recebe sacos de dólares de bandidos.
E agora? O percurso está sendo refeito: Dominique Strauss-Kahn tira a tornozeleira, sai da prisão domiciliar, recebe os milhões da fiança de volta e evolui de vítima a ídolo na França, onde era -volta a ser?- pré-candidato à Presidência.
Nunca vai se saber exatamente o que ocorreu dentro daquele quarto de hotel, mas já se sabe o quão frágil é o limite entre justiça e injustiça mesmo em duas das democracias mais consolidadas do mundo.
As reações oscilam com os interesses de pessoas, corporações e países, e o dinheiro corre solto em nome da "justiça" (a camareira reclama US$ 5 milhões de indenização...), enquanto os votos dos eleitores, tal as decisões políticas de cúpula, ficam ao sabor do vento.
Culpado ou não, Strauss-Kahn perdeu irrecuperavelmente a direção do FMI para Christine Lagarde, que assume o cargo hoje. Só não perdeu a resoluta solidariedade da própria mulher, a milionária Anne. Talvez seja ela o grande personagem desse rali na lama.
BRASÍLIA - Um estrangeiro poderoso é acusado de estupro por uma mulher negra, jovem e bonita da Guiné, camareira num hotel de muitas estrelas na cidade mais cosmopolita do mundo.
A reação na potência onde tudo se passa e nos seus satélites, mais ou menos diretos, é de euforia: um homem tão importante sucumbe diante da acusação de uma simples camareira. Já no país do réu impera a incredulidade.
O homem alega que foi sexo consentido, mas acaba exibido ao mundo como troféu da democracia e da justiça: preso, obrigado a pagar fiança de US$ 6 milhões, humilhado com uma tornozeleira eletrônica e posto em prisão domiciliar. Mais euforia na potência, mais esperneio no país do réu.
E eis que, num estonteante cavalo de pau, o réu passa a vítima, e a vítima, a ré. Na nova direção desse bólido policial-jurídico-político, a camareira é uma mentirosa que recebe sacos de dólares de bandidos.
E agora? O percurso está sendo refeito: Dominique Strauss-Kahn tira a tornozeleira, sai da prisão domiciliar, recebe os milhões da fiança de volta e evolui de vítima a ídolo na França, onde era -volta a ser?- pré-candidato à Presidência.
Nunca vai se saber exatamente o que ocorreu dentro daquele quarto de hotel, mas já se sabe o quão frágil é o limite entre justiça e injustiça mesmo em duas das democracias mais consolidadas do mundo.
As reações oscilam com os interesses de pessoas, corporações e países, e o dinheiro corre solto em nome da "justiça" (a camareira reclama US$ 5 milhões de indenização...), enquanto os votos dos eleitores, tal as decisões políticas de cúpula, ficam ao sabor do vento.
Culpado ou não, Strauss-Kahn perdeu irrecuperavelmente a direção do FMI para Christine Lagarde, que assume o cargo hoje. Só não perdeu a resoluta solidariedade da própria mulher, a milionária Anne. Talvez seja ela o grande personagem desse rali na lama.
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