sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

Sexo sem culpa

Cena 1

Joy: Não quero transar do mesmo jeito de sempre. Eu me recuso! 
Alan: Se transássemos do mesmo jeito de sempre, estaríamos, pelo menos, transando.
Joy: Por que não tentar algo diferente? Porque? Por que não vê isso como uma
oportunidade para tentar...
Alan: Ficarei feliz em tentar algo novo. Só não quero tentar algo idiota e completamente ridículo!

Cena 2

Alan: Joy, eu sinto muito, mas eu e Claire transamos. Eu sinto muito. Sinto muito, muito mesmo
Joy: Alan, bati uma pra um homem da minha hidroterapia.
Alan: O quê? Puta merda. Quando?
Joy: Hoje à tarde.
Alan: Mas como? Quem? Quem poderia...
Joy: Está nervoso e com raiva, e eu posso entender isso, mas será que podemos ao menos tentar...tentar reconhecer que nós dois temos culpa?
Alan: Certo. Está bem. Sinto muito.
Joy: Deve sentir mesmo. Trepou com a colega, drogado. Deve sentir muito.

Cena 3

Joy: Não gosto de transar com você. Acho que nos últimos...recentemente, nos últimos, não sei, dois, três, quatros anos...Não tenho curtido nossa vida sexual. Acho que paramos de nos divertir. Acho que, de alguma forma, nos tornamos extremamente chatos na cama. Não quero reinventar a roda toda vez que for transar. Mas, sabe, às vezes, eu quero fazer algo diferente, ou já quis fazer algo diferente.
Alan: Não sei se entendo onde quer chegar.
Joy: Quer transar com Claire de novo? Sim ou não? A única forma de isso acabar bem é se você responder honestamente.
Alan: Merda. Sim. Claro que eu transaria.
Joy: Eu veria Marvin de novo? O nome dele é Marvin.
Joy: Então por que não fazemos isso?

Estas cenas são da série (imperdível) Wanderlust, 2018 da Netflix

https://www.imdb.com/title/tt7608238/

Escrita para o teatro pelo dramaturgo-prodígio britânico Nick Payne quando ele tinha 26 anos, em 2010, a peça trata de um casal de meia idade, com três filhos, e entediado com sua vida sexual. Um acidente banal os faz repensar a situação.
Decididos a redescobrir o desejo, a terapeuta conjugal Joy (Toni Colette) e o professor Alan (Steven Mackintosh) decidem pelo sexo sem culpa. E a sair com outras pessoas e manter relacionamentos paralelos. Tudo transparente e sem traumas sobre infidelidade e traição.

https://www.youtube.com/watch?time_continue=46&v=3OCSo5kdnc4

Ver erodir o cotidiano matrimonial de Joy e Alan (que Mackintosh calibra com força suficiente para não ser engolido por Collette, sem, contudo, tentar competir) no primeiro episódio é uma experiência, na melhor das hipóteses, excruciante. São diálogos tão crus e carregados de neuroses e medos que é difícil não ser tocado por aquela rotina moribunda e imediatamente simpatizar com a ideia escapista da salvação, torcendo para que a relação sobreviva. (Luciana Coelho)

Joy e Alan são casados há 20 anos e têm duas filhas e um filho adolescentes. Dos três quando informados sobre a nova vida da mãe e pai reagem de forma diferente. E quem fica mais revoltado? O filho. Freud explica.

O casal viveu por um tempo o sexo sem culpa. Joy com Marvin (Willian Ash) depois Lawrence (Paul Kaye) etc. Allan com Claire (Zawe Ashton) com direito a paixão mútua.

Durou até Alan sair de casa, morar com Claire por um tempo (ele um cara muito chato com mania obsessiva de organização). Joy insaciável e frequentemente em terapia com sua supervisora Angela (Sophie Okonedo, brilhante como sempre).


Resumo da ópera

Alan volta para casa. Para a “sagrada família”. Joy parou, por enquanto, de inventar mulheres para si.

A cena final é de uma crueza estonteante. Joy acorda nua, vai para a janela, e a câmera no rosto de Joy. Ela olha para Alan dormindo na cama do casal. Primeiro sorriso amarelo e depois termina com esta expressão.

O traço do gesto (Arnaldo Antunes)



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