domingo, 22 de maio de 2011

Tô puta

Meia noite, fim de semana. Alba Lívia não consegue dormir. A semana de trabalho foi atribulada e aí pintou de volta aquela convulsão mental. Convulsão, não confusão. Confusão é falta de ordem, tumulto. Convulsão é cataclismo mental.

Alba liga para Alfredo, o namorado.

− Alfredo, desculpe a hora, mas liguei porque não consigo dormir. Estou puta da vida. Fico andando prá lá e pra cá como um zumbi na madrugada.

Alfredo é um rapaz bonito, 1,8 metros de altura e bem humorado. A luz acendeu quando ouviu "estou puta...". Ficou imaginando coisas. Caso você me perguntar: Alfredo é um cafajeste? Sim ou não? Terei cá minhas dúvidas sobre a segunda alternativa.

− Espera aí, meu amor. Te encontro logo mais, pode ser?

− Sim, espero você, respondeu Alba.

Alfredo vestiu a camisa Richard mais nova, uma calça jeans, um sapato italiano e zarpou. Quando a porta do apartamento da namorada abriu ficou estupefato, sem acreditar no que via. Alba apareceu fulgurante. Um resplendor da santa natureza deslumbrante e bela.

Passo a descrever o que Alfredo viu.

Alba estava num vestido Dolce & Gabbana, 38, tubo, vermelho, com alça de 0,5 cm; bolsa preta Nancy Gonzales no ombro e uma sandália gladiadora Jimmy Choo, preta, salto 6. E combinando, um cabelo curto bem despojado e moderno. Alba gladiadora sim, mas não para acabar com as feras, para soltar as feras.

E lá foram balançar o corpo numa danceteria. Foram para a Jungle Box, uma boate da moda. Muitas garotas bonitas e garotos idem. Muita luz multicolorida e estroboscópica. Sentaram numa mesa e pediram a primeira marguerita. Dançaram madrugada adentro ao som de, entre muitas,
Scissor Sister (I don’t feel like dancing), The Killers (Somebady told me), Reflekt (Need your love),
David Guetta (Sex bitch), Madonna (Celebration), Lady Gaga (Bad romance), Robyn (Dancing on my own), Whitney Houston (I Didn’t Know My Own Strength) e DJ Mister Junior Project (Everybody Dance).

Depois de três margueritas e muita dança Alba estava como o diabo gosta. Três e meia da madrugada saíram da boate e foram para o apartamento de Alba.

A partir daí só Anaïs Nin pode explicar.

Alba ficou de pé no quarto e Alfredo a despiu. Segurou a cintura da namorada e explorou avidamente seu corpo com as mãos. Sentiu a vigorosa plenitude do quadril de Alba. Ao se deitarem na cama ela teve a sensação de que o cheiro, o toque de peles e a bestialidade de Alfredo estavam combinados. Deitou-se nas peles beijando os seios apalpando as pernas, o sexo e as nádigas da namorada. Depois se moveu para cima de Alba e colocou o pênis em sua boca. Ela sentiu os dentes pegando de raspão enquanto ele avançava para dentro e para fora. Alfredo gostou e ficou assistindo e acariciando a amada com as mãos por todo seu corpo. Com os dedos buscou tudo o que pudesse a conhecer completamente. A seguir colocou Alba de quatro e penetrou por trás com as mãos em concha sobre os seios acariciando e penetrando ao mesmo tempo. Estavam incansáveis numa excitação sem fim retardando o gozo final, pois queriam prolongar ao máximo aquele momento de prazer incomensurável. Num movimento rápido Alfredo ficou em cima de Alba e começou a penetrar com violência avançando para o crescente e selvagem ápice do orgasmo. Alba gritou e gozaram quase ao mesmo tempo. Caíram de costas entre as peles, aliviados. E terminaram com um beijo prolongado e carinhoso. Alfredo aplaudiu. Pelo que acabaram de fazer mereciam mesmo aplausos.

Manhã de domingo ensolarado. Alba acordou ao meio dia. Alfredo já não estava. Alba espreguiçou na cama refletindo o que fizera na madrugada. Pensou no significado de soltar as feras e se libertar das amarras. Pensou na mulher que às vezes se livra da asfixia da vida monótona e à ordem ruim do dia a dia. Existe ordem boa sem asfixia, pensou.

Alba levantou Alba, não levantou puta.

Feliz e leve como um beija-flor.


Edson Pereira Cardoso

Agosto de 2010

Um comentário:

  1. A convulsão é necessária desde que o remédio possa ao invés de contê-la, abrir alas e dar passagem...

    ResponderExcluir