quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Beatrix

Deu na imprensa

Após pedir a suspensão de um comercial de lingerie com a modelo Gisele Bundchen por considerar a propaganda agressiva à mulher, a ministra da Secretaria de Políticas para as Mulheres, Iriny Lopes (PT), se envolveu em mais duas polêmicas. Ela enviou um ofício à TV Globo sugerindo que uma personagem violentada pelo marido na novela "Fina Estampa" procure o Serviço de Atendimento à Mulher (180), e que o agressor seja encaminhado aos centros de educação e de reabilitação para agressores, previstos na Lei Maria da Penha. Na quarta-feira, a pasta de Iriny enviou um ofício à emissora e ao autor da novela, Aguinaldo Silva, mostrando preocupação com o personagem Baltazar. Na trama, ele humilha e bate na mulher, Celeste. Em ofício enviado à emissora, a ministra Iriny Lopes sugere que Celeste, que resiste em denunciar o parceiro dizendo que o ama, procure a Rede de Atendimento à Mulher, por meio do telefone 180. Segundo a ministra, o alerta na telenovela, como em outras que já trataram do tema da violência à mulher, se faz importante em um país com um índice de quatro mulheres agredidas a cada dois minutos - 1,051milhão por ano (grifo do autor).



Em 2007, Beatrix era casada com Bento. Ela era uma mulher muito bonita e ele um ciumento doentio. Com um problema: ele era alcoólatra. Morava em Estrela Dalva, um dos 289 bairros de Cariacica, Espírito Santo. Ela era cabeleireira e ele pedreiro.

Durante a semana Bento era um anjo. Mas a partir da sexta o diabo entrava no corpo com força. Saía do serviço e começava beber todas. Onze da noite chegava em casa e reclamava de tudo. Da comida, da cama, da roupa. Beatrix vinha do serviço as dez e tinha que ouvir. Queria que ela ficasse em casa cuidando da casa e da filha Perla. Mas como não trabalhar fora? Só com o que ele ganhava não dava. E quando ela reclamava da situação o pau comia. Bento batia em Beatrix até cansar.

No sábado e domingo o drama para Beatrix se repetia. Sábado ela ficava no salão de beleza até às sete da noite. Bento chegava bravo e na presença de Perla o show se repetia. E toma surra de novo.

De uma amiga de Beatrix:

Amiga: porque você não denuncia teu marido na delegacia de defesa da mulher. Vai lá menina. Aqui perto, em Campo Grande, tem uma. É a lei Maria da Penha. 

Beatrix: sei não, amiga, fico sem coragem.  E depois? Aí que ele me arrebenta.

Amiga: e tem mais, além de te espancar sabia que sustenta outra com casa e tudo aqui no bairro?

Beatrix: filha da puta! Agora tá explicado.

A lei Maria da Penha, de que trata das punições das agressões contra a mulher, foi sancionada pelo Presidente da República em agosto de 2006.

Beatrix criou coragem para denunciar o marido. Numa sexta entrou num ônibus e foi até Campo Grande, e conversou com a delegada. Feito o registro a delegada disse que iria até Estrela Dalva intimar o marido.

Nem foi preciso a intimação. O destino reservou uma tragédia para Beatrix.

Bento apareceu furioso no sábado à noite. E bêbado, como sempre, disse:

Bento: olha aqui sua puta, hoje te vi conversando com um homem em frente ao salão. Cê tá pensando que sou trouxa?

Beatrix estava conversando sim, mas era com um amigo. O Escobar.

Beatrix: era um amigo, ô babaca. E você? Todo mundo sabe aqui no bairro que você sustenta uma vagabunda. Com casa e tudo. Você surra ela também?

Aí o diabo tomou conta de Bento. Primeiro golpe: um murro no nariz da mulher. Segundo golpe: um chute no estômago. Beatrix quase desmoronou com o chute. Com o nariz ensanguentado criou forças e já curvada viu um vergalhão de aço encostado na pia da cozinha. Criou coragem e numa fúria canina lascou o vergalhão na cabeça do marido. Bento desmoronou no chão já desmaiado. A fúria, agora sanguinária, aumentou. Beatrix pegou uma faca que estava na pia abaixou a calça do homem e decepou testículos e pênis de uma só vez. Ato contínuo jogou a tralha toda pela janela. Bento estrebuchou, mas Beatrix não satisfeita enterrou a faca no peito do moribundo. Duas vezes, até comprovar que estava morto. Um banho de sangue. E Beatrix, como uma besta, urrou de vingança e ciúmes. A filha, Perla, não presenciou a tragédia, felizmente. Foi passar a noite na casa de uma amiguinha.

Após o ocorrido, Beatrix desapareceu na escuridão da noite. Apresentou-se à polícia uma semana depois.

Foi a julgamento e condenada a 10 anos de prisão.

Na penitenciária Beatrix sempre teve o apoio do Escobar. Tornaram-se namorados e já com um ano de convívio ela se engravidou de Ezequiel.

Após quatro anos de prisão e bom comportamento, Beatrix está livre sob condicional.

Hoje, a família Beatrix, Escobar, Perla e Ezequiel vivem em Campo Grande, outro bairro de Cariacica. Ela tem um salão de beleza e ele é sargento da Polícia Militar.

Vivem bem, em harmonia e felizes como deve ser.



Edson Pereira Cardoso, outubro de 2011








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