quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

Mônica

'Achei que eu nunca fosse dar certo', diz Mônica Martelli

POR MARINA CARUSO

Duas relações minhas acabaram causa desse pano de fundo da mulher forte, que ofusca.
Para os nossos filhos será natural a mulher ganhar mais que o homem, ter mais destaque. Com a nossa geração e a anterior não foi assim. meus pais eram apaixonados, mas se separaram depois que minha mãe se elegeu vereadora. Foi a primeira mulher no cargo em Macaé, na primeira eleição pós-ditadura, em 1982. Não tinha banheiro feminino na Câmara Municipal. Então ela, começou a levar um penico nas plenárias até conseguir que fizessem um banheiro para as mulheres.

Mônica Martelli no Saia Justa - GNT


Um metro e 80 de altura. Sucesso profissional depois dos 35 anos. Primeira filha aos 41. Mônica Martelli — inclua-se aí a barriga sarada aos 50 — é uma mulher fora dos padrões. “Filha do meio problemática”, ela jurava que nunca daria certo. Mas viu o destino mudar quando escutou os conselhos da mãe e, em 2005, transformou os textos que escrevia sobre a própria solterice num fenômeno de bilheteria.

Nascia “Os homens são de Marte... É pra lá que eu vou”, monólogo que, em poucos meses, trocou o pequenino Cândido Mendes por palcos maiores no Rio, em São Paulo e até em Lisboa.O sucesso foi tanto que, em 2014, Mônica e a irmã, a diretora Susana Garcia, criaram “Minha vida em Marte”, atualmente em cartaz no teatro Procópio Ferreira, na capital paulista. “Me mudei para a cidade em agosto e estou amando”, diz a fluminense de Macaé. A história chegará aos cinemas em duas semanas, bem no dia do Natal. E, assim como a primeira, tem todos os ingredientes para se transformar em blockbuster. “Tomara”, diz Mônica. “Ainda hoje sou muito insegura”.No dia 25, estreia “Minha vida em Marte”. Está ansiosa?

Tenho medo que o filme não seja um sucesso tão grande quanto foi o primeiro (“Os homens são de marte... ” levou 2 milhões de pessoas ao cinema). Mas um medo saudável. Quanto mais sinto, melhor trabalho. Passei um ano escrevendo e quatro meses ensaiando oito horas por dia com a minha irmã (Susana Garcia). Tudo que está no filme tem motivo. Sou CDF. Touro com ascendente em virgem.
A Susana dirigiu suas peças, seu filmes e a série do GNT. Como é essa parceria?
Sem ela, não existo. Susana é inteligentíssima. Entrou em segundo lugar na Medicina da Uerj e dava aulas de medicina fetal, mas, como é casada com o Herson Capri (ator), convivia com a turma do teatro. Fez assistência de direção pro Edwin Luisi, ganhou prêmios e virou uma baita diretora. Eu escrevo, ela dirige. Ela, é a caçula, e o meu irmão mais velho, matemático. Sou a filha do meio, problemática (risos).

Essa mania de tirar sarro de si mesma é a chave do seu sucesso. Foi sempre assim?

O começo foi dificílimo. Achei que eu nunca fosse dar certo. Me formei em jornalismo e fui fazer teatro na Cal. Vivia de bicos. Em 2001, um produtor da Angélica me ligou: “Mônica tenho uma participação para você”. Era para fazer a cobra, a cobra!. Só que entra figurinista e fala: “A cobra caiu, vai virar tartaruga”. E aí, amor, vejo um casco de tartaruga gigantesco. Quando vesti a cabeça, minha orelha virou e eu não conseguia desvirar porque a pata de espuma não me permitia. Olhei pro meu amigo que fazia o pinguim e disse: “Vamos repensar a carreira”.

Como deslanchou?

Fiz oficina de atores da Globo e fui contratada para o “Chico total”, do Chico Anysio. Ganhava 800 reais, mas me sentia o máximo. Aí fiz a novela “Por amor”. Era secretária e passei oito meses falando “Dr. Arnaldo, dona Branca na linha C”. Só. Depois, desemprego.

E aí?

Aí tive a ideia de montar uma dupla sertaneja: Tex & Ana, um fracasso retumbante. Abri o show do Fábio Jr. e só ouvia: “Saí daí, baranga!”. Fiquei ferrada. Tinha mais de 30, toda errada, escrevendo sobre minha solterice prolongada. Não sabia o que fazer com aquilo.Era insegura. Ainda hoje sou muito insegura.

Como venceu isso?

Um dia, minha mãe disse: “Pega um caixote, vai pra praça e fala seu texto”. Caiu minha ficha. Morava num quarto e sala na Gávea, com o Jerry, pai da minha filha Julia (de 9 anos). Nosso custo de vida era baixo, e ele me apoiou. Fiquei um ano e meio escrevendo. A família fez um livro de ouro e eu estreei no Candido Mendes. Uma semana depois, a Bárbara Heliodora fez uma crítica maravilhosa, e o teatro lotou.

Como alguém que é tão insegura faz tanto sucesso?

Isso faz a pessoa buscar o melhor e protege da arrogância. A insegurança não me paralisa. Outra coisa: só consigo escrever depois que a ferida está curada. A peça “Minha vida em Marte” saiu cinco anos depois do divórcio. Na hora da separação, era muita dor. Não só a dor do cara que saiu de casa, mas do projeto que ruiu.

Você está de namorado novo?

Sim, há dois meses, mas ele é megadiscreto. Trabalha no mercado financeiro. É carioca e mora em São Paulo. Está assustado comigo. Tô até querendo fazer terapia de casal, acredita? Depois de uma certa idade, a gente tem que usar todos os recursos para cuidar do que é bom: parceria, química, tesão… Falei pra ele: “Me meti numa fria e você também”. Eu sou roubada. Temos 50 anos e somos inteligentes, vamos ver no que dá.Tem medo de ofuscá-lo?
Duas relações minhas acabaram causa desse pano de fundo da mulher forte, que ofusca. Não quero ofuscar ninguém, quero que o outro tenha seu lugar, mas não admito que me travem. Não seria feliz só sendo esposa. A terapia pode ajudar o homem a entender que se ele deixar a mulher brilhar, vai tê-la pra sempre.

Será?

Para os nossos filhos será natural a mulher ganhar mais que o homem, ter mais destaque. Com a nossa geração e a anterior não foi assim. meus pais eram apaixonados, mas se separaram depois que minha mãe se elegeu vereadora. Foi a primeira mulher no cargo em Macaé, na primeira eleição pós-ditadura, em 1982. Não tinha banheiro feminino na Câmara Municipal. Então ela, começou a levar um penico nas plenárias até conseguir que fizessem um banheiro para as mulheres.

Seu nome de batismo é Mônica Garcia Assis. De onde vem o Martelli?

Da minha cabeça. Inventei. Chico Anysio me chamou: “Quem é Mônica Garcia?”. E eu disse: “Eu”. E ele: “Então você precisa trocar esse nome. ‘MoniCAGARcia’ lembra cagar”. Fui lá nos antepassados da família e achei alguns sobrenomes. Entre eles, Martelli.

A bagagem feminista da sua mãe a ajuda no “Saia justa”?O “Saia” é um marco na minha carreira. 

Entrei em contato com assuntos importantes. Me trouxe conteúdo, informação. Hoje, falo sobre tudo com mais segurança. Sou a Mônica ali, por isso estou no programa há seis anos. Quem faz personagem dura seis meses.

Em um dos programas, você disse que achava ter sido abusada na adolescência. O que houve?

Conforme fomos discutindo o conceito de assédio, fui tomando consciência de que perdi a virgindade num estupro. Eu tinha 15 anos, estava num luau, na praia e transei forçada.

O discurso do empoderamento feminino não te cansa?

Cansa porque está sendo falado à exaustão. Mas são séculos de desigualdade, temos que falar até cansar mesmo.

https://blogs.oglobo.globo.com/marina-caruso/post/achei-que-eu-nunca-fosse-dar-certo-diz-monica-martelli.html 12/12/2018

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