segunda-feira, 15 de abril de 2024

A ação como o princípio: Fausto, Bíblia e Vygotsky

O conceito "ação" no Fausto, na Bíblia e em Vygotsky

Fausto 

Escrito está: "Era no início o Verbo" (3)

Começo apenas, e já me exacerbo!

Como hei de ao verbo dar tão alto apreço?

De outra interpretação careço;

Se o espírito me deixa esclarecido,

Escrito está: No início era o Sentido!

Pesa a linha inicial com calma plena,

Não se apressure a tua pena!

É o sentido então, que tudo opera e cria?

Deverá opor! No início era a Energia!

Mas, já, enquanto assim o retifico,

Diz-me algo que tampouco nisso fico.

Do espírito me vale a direção,

E escrevo em paz: Era no início a Ação! (4) [1]

A Bíblia

Versão 1

No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por intermédio dele, e, sem ele, nada do que foi feito se fez. A vida estava nele e a vida era a luz dos homens. A luz resplandece nas trevas, e as trevas não prevaleceram contra ela. [2] 

Versão 2

No começo a Palavra já existia: a Palavra estava voltada para Deus, e a Palavra era Deus. Tudo foi feito por meio dela, e, de tudo o que existe, nada foi feito sem ela. Nela estava a vida, e a vida era a luz dos homens. Essa luz brilha nas trevas, e as trevas não conseguiram apaga-la. [3] 

Lev Vygotsky

Sobre as ações das crianças, diz-nos Buehler:

eram exatamente como as dos chimpanzés, de tal forma esta fase da vida das crianças poderia ser corretamente designada por idade chimpanzóide; na criança que estudamos correspondia aos décimo primeiro e décimo segundo meses. É na idade chimpanzóide que ocorrem as primeiras invenções da criança – invenções muito primitivas, é certo, mas extremamente importantes para o seu desenvolvimento.

O que sobremaneira importa do ponto de vista teórico, tanto nestas experiências, como nas dos chimpanzés, é a descoberta da independência entre as reações intelectuais rudimentares e a linguagem. Notando isto, Buehler comenta: 

Costumava-se dizer que a linguagem era o início da hominização (Menschwerden); talvez sim, mas antes da linguagem, há o pensamento implicado na utilização de utensílios, isto é, a compreensão das conexões mecânicas e a idealização de meios mecânicos com fins mecânicos, ou, para ser ainda mais breve, antes de surgir a linguagem, a ação torna-se subjetivamente significativa – por outras palavras, torna-se conscientemente finalista . 

Citações

[1] Goethe, Fausto I, p. 112, tradução de Jenny Klabin Segall, Editora 34, 3ª edição, 2017

Rodapé: (3) Fausto prepara-se para traduzir o Evangelho segundo São João. No original, a expressão grega logos (Verbum, na Vulgata) vem traduzida por Wort, "palavra", em consonância com a tradução de Lutero. Como se trata do que era no princípio, Fausto, após passar pelas alternativas "Sentido" e Energia", chega à palavra "Ação".

Rodapé: (4) Vale lembrar aqui que Karl Marx, leitor assíduo do Fausto, ilustra a sua análise da troca de mercadorias, no segundo capítulo do Capital, com uma referência a este verso. A citação tem como pano de fundo um momento inicial do processo de circulação e troca de produtos, quando a "mercadoria-dinheiro ainda não havia se constituido e, assim, cada indivíduo reivindicava para sua mercadoria, numa ação espontânea e irrefletida, o papel de "equivalente geral" de todas as outras: "Em seu desconcerto, os nossos proprietários de mercadorias pensam como Fausto. Era no início a ação. Por isso antes mesmo de pensar, eles já agiram".

[2] João 1:1-18 ARA aqui 

[3] Evangelho segundo São João, Bíblia Sagrada - Edição pastoral, p. 1353, Edição Paulus, 1990.

[4] Pensamento e Linguagem, Lev Vygotsky, 4. As raízes genéticas do pensamento e da linguagem, item II. Aqui 

Sobre Lev Semenovich Vygotsky ver aqui 

Em particular (no site): Pensamento e linguagem --> As raízes genéticas do pensamento e da linguagem


sexta-feira, 12 de abril de 2024

Ailton Krenak

Krenak vezes 305

O autor indígena fez um discurso memorável na sua cerimônia de posse na ABL 

Ruy Castro, FSP, 11/04/2024

Na sexta-feira (6), Ailton Krenak tomou posse na cadeira nº 5 da Academia Brasileira de Letras. Seu discurso, de improviso e cheio de humor, foi memorável. Para quem não o escutou, alguns trechos.

"Um povo sem cultura não tem o que dizer." "Predar uns aos outros é uma vocação primitiva do [Homo] sapiens, de querer levar vantagem, ganhar tempo, ganhar alguma coisa." "O sapiens predador não é um dinossauro. Ele é um sujeito simpático, gentil, que vai à praia, gosta de sorvete, de açaí com granola. Mas não pode disfarçar sua vocação predatória."

"Mario de Andrade disse, ‘Eu sou 300’. É uma pretensão. Eu não sou mais que um, mas posso invocar os 305 povos indígenas que, nos últimos 30 anos, passaram a dizer: ‘Estou aqui. Sou guarani, sou xavante, sou kayapó, sou yanomami, sou terena’." "A República tinha a ideia de que os indígenas iriam ‘evoluir para brasileiros’. Era como querer produzir coalhada em casa — põe os lactobacilos na tigela, joga leite, deixa dormir e aquilo vira coalhada. Ela achou que a gente ia virar coalhada."

"Todo mundo que escreve livros incríveis escutou histórias de alguém que não escreveu livros. A literatura que produzimos nos últimos 3.000 anos deve ter pelo menos 10 mil anos em que ninguém escrevia, só contava histórias." "Somos herdeiros de tempos imemoriais, de 6.000, 8.000 anos. É bom pensar no tempo dessa maneira, porque ficamos sem pressa, sem ansiedade. Evita que eu chegue aqui e diga, ‘Desculpem, estou tomando o tempo de vocês’. Seria incabível. É impossível tomar o tempo do outro."

"A princesa Isabel aboliu a escravatura. Abolir a escravatura não é abolir a escravidão. Quem dera fosse." "O Estado brasileiro está sendo demandado a pedir perdão por ter tentado matar o povo indígena. Mas pedir perdão depois significa muito pouco. O Estado pode matar e fazer guerra à hora que quiser. Não tem como pedir perdão."

Ailton Krenak discursa em sua posse na ABL - Mauro Pimentel/AFP

domingo, 7 de abril de 2024

Brando, 100

Marlon Brando, 100 anos, muito além do ‘Poderoso Chefão’: o astro mais selvagem de Hollywood

Indomável, ator protagonizou clássicos nas telas do cinema e muitas polêmicas fora delas

Liz Batista e Edmundo Leite, O Estado, 03/04/2024

Imprevisível, impetuoso, incontrolável, rebelde, magnetizante, monumental, ímpar; a lenda do cinema, Marlon Brando [3/4/1924 - 1/7/20004], foi também uma incógnita para a Hollywood que produzia astros e estrelas enquadrados sob medida para agradar ao público e faturar alto nas bilheterias.

Estadão - 03/7/2004 Foto: Acervo/ Estadão

Dias após Brando receber seu primeiro Oscar de Melhor Ator em 1955, por Sindicato dos Ladrões (1954) de Elia Kazan, o Estadão publicou uma entrevista com o jovem ator em meteórica ascensão. Enquanto a entrevistadora buscava um vislumbre do astro, nem mesmo ele parecia conhecer seu enigma. ”Não sei o que se passa comigo”, declarou logo no início.

“(…) É possível que todos me achem esquisito pelo fato de eu fazer o que bem entendo(...) É possível, porém, que eu esteja apenas fazendo o que todos gostariam de fazer, mas não podem, ou não fazem por medo ou por outras razões. Durante toda a minha vida tenho feito o que desejo fazer e tenho dito o que quero dizer. Por que não? Que adianta fingir?(...) Quando sou Brando, digo o que penso...” Na mesma entrevista, o artista também falou sobre a relação com o público o respeito com seus fãs e sua fama ser anti-social e um temperamental difícil.

Estadão - 12/4/1955 Foto: Acervo/Estadão

Na época, ele já era apontado como o melhor intérprete dramático de sua geração, havia participado de produções como Uma Rua Chamada Pecado (1951), Viva Zapata! (1952), O Selvagem (1953) e Júlio César (1953), em todas teve sua talentosa atuação exaltada. Saído do famoso Actors Studio de Nova York, Brando mergulhou no método de atuação de Stanislavski para levar à telas um estilo cênico eletrizante que fascinava público e crítica.

Estadão - 03/7/2004 Foto: Acervo/ Estadão

Estadão - 03/7/2004 Foto: Acervo/ Estadão

Brando e o Oscar recusado

Foi indicado oito vezes ao Oscar, ganhou duas. O segundo prêmio veio em 1973, por sua interpretação no clássico de Francis Ford Coppola, O Poderoso Chefão (1972) . O ator boicotou a cerimônia e declinou o Oscar de Melhor Ator. Mandou em seu lugar a ativista pelo direitos dos povos nativo americanos, Sacheen Littlefeather, que usou o tempo reservado ao que deveria ser o discurso de agradecimento de Brando para falar de sua causa.

O Estado de S.Paulo - 29/3/1973 Foto: Acervo/Estadão

Estadão - 29/3/1973 Foto: Acervo/Estadão

Notícia sobre Marlon Brando no Estadão. Foto: Acervo Estadão

Último Tango

Censurado no Brasil desde o seu lançamento no exterior em 1972, o filme ‘O Último Tango em Paris’ chegou às telas brasileiras no final de 1979, quando o País vivia o período de abertura da ditadura militar e a censura afrouxava os seus critérios de liberação de obras antes consideradas subversivas ou imorais.

Estrelado por Marlon Brando e Maria Schneider e dirigido por Bernardo Bertolucci, o filme causou furor desde as suas primeiras exibições nos Estados Unidos e Europa, em 1972, e a estreia comercial, no ano seguinte. motivo eram as cenas de sexo entre o casal protagonista, que entrariam para a história do cinema. Anos depois, o filme voltaria a chocar com a revelação de Bertolucci que Maria Schneider não sabia previamente dos detalhes da cena e foi estuprada por Brando para dar mais realidade ao filme.

Notícia da liberação de 'O Último Tango em Paris' Foto: Acervo Estadão

Notícia da estreia de 'O Último Tango em Paris'. Foto: Acervo Estadão

Na véspera da estreia brasileira, o crítico Rubens Ewald Filho analisou o filme, o impacto da sua proibição e do tempo decorrido que fez com que já não fosse mais tão chocante quanto antes. Sob o título ‘Um mito, verdadeira obra de arte’, Rubens escreveu:

“Sete anos depois, o que o espectador brasileiro vai assistir não é um mero filme, mas um mito. E não haverá maneira de, diante de tamanha expectativa, se evitar o desapontamento. Não, “O Último Tango em Paris” não é um filme erótico, Ao contrário, não havia motivo para ele não ter sido liberado antes, já que mesmo suas duas famosas cenas de sexo: a sodomia com a manteiga e flagelação do personagem masculino com uma massagem na próstata, são na verdade cenas de violência, de sado-masoquismo (e devem, sem dúvida ter influenciado “O Porteiro da Noite”) (...)

(...) Muito mais chocante do que as cenas de sexo é o desnudamento psicológico dos protagonistas. ‘O Último Tango’ traz indiscutivelmente a melhor interpretação da carreira de Marlon Brando, na época com 48 anos. Sua entrega ao filme é total...”

Apocalipse Now

Mais uma vez dirigido por Francis Ford Coppola, o astro incorpora a insanidade da Guerra do Vietnã em um dos seus memoráveis personagens, o enlouquecido Coronel Kurtz no clássico Apocalipse Now, lançado em 1979, e considerado a sua última grande atuação no cinema.

Notícia sobre Marlon Brando no Estadão. Foto: Acervo Estadão

NB

100 ANOS DE MARLON BRANDO: Suas 10 Melhores Performances 

Marlon 

Queimada 

Ziraldo Alves Pinto (Caratinga, 24 de outubro de 1932 — Rio de Janeiro, 6 de abril de 2024)

Ziraldo, o carente mais bem-sucedido do Brasil, tinha a receita para um País mais feliz

O cartunista Ziraldo  morreu neste sábado, 6, aos 91 anos

Sérgio Augusto, O Estado, 06/04/2024

Ficamos 17 anos e três meses brigados. Mais precisamente, desde a minha saída do Pasquim ao enterro de Paulo Francis, em fevereiro de 1997. Quem brigou fui eu; quem providenciou as pazes foi o próprio Ziraldo - à beira do túmulo do Francis. Com um argumento irretorquível: “Estamos todos morrendo. Não podemos perder mais nenhum amigo.” Ziraldo morreu neste sábado, 6, aos 91 anos. https://www.estadao.com.br/cultura/literatura/ziraldo-cartunista-criador-de-o-menino-maluquinho-morre-aos-91-anos-nprec/

Fazer as pazes era uma especialidade, quase uma obsessão, do Ziraldo; coisa de gente carente - e Ziraldo foi uma das pessoas mais carentes que já conheci. Só saber que alguém não gostava dele ou lhe fazia sérias restrições (ok, nem precisavam ser sérias) era motivo bastante para que seu sistema neurovegetativo entrasse em pane. Também por isso e por ser Ziraldo de uma simpatia avassaladora, aceitei o cachimbo, fizemos as pazes, nunca mais brigamos.

Ziraldo e Millôr entraram ao mesmo tempo na minha vida, no início de 1963, na redação de O Cruzeiro. Millôr já (ou ainda) era a estrela maior da revista e Ziraldo acabara de trocar o cargo de relações-públicas pelo de diretor de arte, a convite de Odylo Costa, filho, que assumira O Cruzeiro para uma reforma em regra no decadente semanário. Ziraldo não fez por menos: mudou o logotipo e transformou o miolo num mix de Look e Paris-Match.

Muito inventivo, fazia então três anos que criara a primeira revista de quadrinhos brasileira de um só autor, A Turma do Pererê, laboratório para o seu mais ambicioso e venturoso salto imortal, Menino Maluquinho, lançado em 1980.


Ziraldo em 2004 Foto: Tasso Marcelo/Estadão

Fora de O Cruzeiro arriscou-se como desenhista de cartazes de cinema (Mulheres e Milhões, Os Fuzis etc), tomou conta de uma página dominical no Jornal do Brasil e bolou toda a programação visual do I Festival Internacional do Filme, em 1965, incluindo o design de seu troféu, a Gaivota de Ouro. Do festival saiu com o status de designer. E as ofertas de trabalho começaram a chover em sua horta.

A revista semanal Visão sonhava com uma nova aparência gráfica, e lá foi Ziraldo atender às suas necessidades. O Jornal dos Sports planejava mudar seu logotipo, abriu um concurso, Ziraldo se inscreveu e levou a melhor. A direção do jornal afinal preferiu adotar o logotipo que ficara em segundo lugar, mas ninguém tirou dele o prêmio de viagem aos Estados Unidos. Ainda bem, pois era justamente de um périplo pelo circuito Helena Rubinstein que ele estava precisando.

Em Nova York, vendeu desenhos para as revistas Esquire e Mad. Em Londres, conheceu Bob Guccione, dono da revista masculina Penthouse, que o convidou para viver na Inglaterra. Não topou. Nem em Paris quis ficar. Agradeceu o convite das revistas Planète e Pléxus (em cuja capa puseram-no ao lado de Picasso, Salvador Dali e Saul Steinberg, em fevereiro de 1967), e voltou para o Brasil como se tivesse tirado a espada Excalibur daquela rocha com o dedo mindinho.

Quando se deu conta, já estava em 1969. Demorou um pouco a tomar consciência de que aquele seria o seu annus mirabilis. Na despedida da tumultuada década de 1960, Ziraldo criou a sua Capela Sistina: Flicts. Ganhou um prêmio em Caracas e o maior troféu do humor internacional (em Bruxelas); foi o primeiro artista gráfico sul-americano a desenhar o cartão de Natal da Unesco; e só não acabou diretor de uma revista em Nova York porque não quis. E ainda teve o Pasquim, lançado no meio do ano.

Especialmente perseguido pela ditadura militar, o legendário semanário humorístico carioca teve quase toda sua redação presa, sem explicações, durante os dois últimos meses do ano seguinte, na Vila Militar. Embora a embaixada americana lhe tivesse acenado com um green card, ao deixar a prisão Ziraldo preferiu ficar. “Ir embora agora é fugir do pau.” E foi ficando. O pau quebrou, parou de quebrar, e Ziraldo só fez ampliar seus domínios. Na imprensa, na televisão, na publicidade, no design, na literatura infantil—e até na educação.

Isto mesmo: educação. Ziraldo tornou-se o maior educador leigo do Brasil, uma espécie de ministro sem pasta (e itinerante) da Educação, cheio de ideias para melhorar a qualidade de nosso ensino e incentivar nas crianças o gosto pela leitura.

Além da volta do latim ao currículo médio, defendeu, obstinadamente, a primazia do ensino fundamental. Todo poder aos primeiros e formativos anos na escola, onde a criança se instrumentaliza para poder adquirir, fixar e acumular conhecimento. “Se o governo tiver, digamos, 100 mil reais para gastar com ensino, 60 mil deveriam ir para o ensino fundamental, 20 mil para o médio e 20 mil para o superior. Resolvido agora o problema do ensino fundamental, daqui a oito anos vai ser fácil resolver os problemas do ensino médio, e daqui a dez anos, os problemas do ensino superior, evitando que as universidades sejam invadidas por estudantes babacas e semiletrados, como hoje acontece”.

Para ele, foi um desastre acabar com os cursos primário e ginasial do seu tempo de estudante. “Sua substituição por oito anos sequenciais só trouxe desvantagens. Alegaram que era para acabar com a evasão de alunos, mas a evasão não só não acabou como a qualidade do ensino caiu a níveis lastimáveis. Hoje os alunos são aprovados automaticamente, como se escola fosse quartel, onde o sujeito entra cabo e sai general.”

Era esta a receita de Ziraldo para fazer o Brasil mais eficiente. E, sobretudo, mais feliz. Há tempos lhe disse que, se algum dia chegasse à presidência da República, ele seria meu ministro da Educação. A menos, é claro, que a gente estivesse brigado outra vez.

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Um 3X4 do Ziraldo

Trabalhar cercado de gente era, para Ziraldo, o suprassumo da solidão criativa

Por Sérgio Augusto, O Estadão, 14/04/2024

Quando conheci Ziraldo, ele, Vilma e Daniela (uma menina de 4 anos!) ainda moravam na Praça do Lido, em Copacabana. Acabamos vizinhos na Lagoa Rodrigo de Freitas, por mais de duas décadas. Da minha janela avistava a de seu ateliê, quase sempre acesa até altas horas.

Trabalhar cercado de gente – parentes, amigos, discípulos (dois deles, Caulos e Miguel Paiva, seus vizinhos de prédio por uns tempos) – era, para Ziraldo, o suprassumo da solidão criativa. Pilotando a prancheta e regendo a algaravia, ora com um lápis entre os dentes, ora a morder a ponta da língua no canto da boca como costumam fazer as crianças quando rabiscam alguma coisa a sério – eis a imagem mais marcante que do Zira operário do traço fixei na memória.

“Criança até hoje”, cheguei a comentar com outro habitué da casa (terá sido Antonio Pitanga ou Sérgio Ricardo?), ao notar o cacoete pela primeira vez. Na mesa da cozinha havia sempre café recém-coado e bolo para as visitas, uma open house mineira, com certeza. Por tudo isso, era sempre agradabilíssimo frequentar a casa de Ziraldo e Vilma, esposa e anfitriã perfeita.

Além do bairro, da rua, compartilhamos projetos, três ou quatro redações, folguedos (réveillon al mare na Baía de Angra, torneios de piscibol) e até um sobrenome, Pinto, embora isento de parentesco. Segundo Ziraldo, ao contrário do que sempre supus, não éramos cristãos novos; o nosso Pinto seria, como o Pinter do Harold, uma corruptela de Painter, pintor em inglês.

Nosso primeiro aperto de mão aconteceu em março de 1963. Ziraldo acabara de trocar a função de relações-públicas de O Cruzeiro pela direção de arte da revista, a convite de Odylo Costa, filho, a quem fora confiada uma reforma em regra no então decadente semanário.

Ziraldo, de cara, mudou o logotipo e transformou o miolo da revista num misto de Look e Paris-Match. Sem o mofo antigo e com uma redação renovada pela inclusão de Carlos Heitor Cony, Wilson Figueiredo e Carlos Leonam, entre outros, o novo e arejado O Cruzeiro foi uma experiência estimulante, até soçobrar, sete, oito meses depois, quando o então potentado do império Chateaubriand, Leão Gondim, enciumado, maquinou a saída de Odylo.

Um dia contarei como nasceram as Fotopotocas (as memes impressas daquele tempo), que Ziraldo e eu lançamos em duas páginas da revista e, mais tarde, em brochura. Com a saída de Odylo, Ziraldo assumiu a chefia da redação. Conseguiu editar apenas um número.

Bateu de frente com Accioly Neto, capataz vitalício da empresa, por causa do veto a uma reportagem. “Já reparou que o senhor sobrevive a todas as crises d’O Cruzeiro?”, jogou-lhe nas fuças Ziraldo. “Meu filho”, reagiu Accioly, “jornalismo é uma indústria de papel pintado. Deixe de tolos idealismos. Faça alguma coisa pra ganhar dinheiro; o resto é besteira.”

Ziraldo saiu da sala aos prantos. E, sem abrir mão de seu idealismo, foi acumular fama, glória e um bom dinheiro com suas besteiras.


sexta-feira, 5 de abril de 2024

Pílulas 17

04/04/24

Três Corpos, San ti, Série TV, 2023, Lei Yang

Disponível em Rakuten Viki


Três Corpos – a magnífica série de Ficção chinesa

O Problema dos Três Corpos, ou apenas Três Corpos, como os fãs costumam encurtar é talvez a melhor coisa que já veio da China desde a pólvora, a bússola e a AliExpress. Primeiro livro de uma trilogia, O Problema dos Três Corpos foi lançado em 2014. Seu autor, Liu Cixin foi quem cometeu o livro que serviu de base para aquela abominação chamada The Wandering Earth, o filme que conta a história da Terra, movida por foguetes, sendo realocada para outro sistema solar.

Dito assim, é quase cômico ver Liu Cixin sendo chamado de “Arthur Clarke Chinês” e de “um dos maiores autores de ficção científica da atualidade”, é o equivalente a chamar o Uwe Boll de cineasta.

Sim, é óbvio que eu não li (ainda) O Problema dos Três Corpos, mas fui de mente aberta para a série, afinal, eu gostei até de Velma

Eu estava errado. Eu nunca estive tão errado. Liu Cixin é um mestre do kung fu shaolin literário. Três Corpos é uma obra-prima da ficção científica, lida com acontecimentos em escala cósmica, tem um senso de grandiosidade que faria Arthur Clarke bater palmas. (...)

Onda modulada pela inteligência

Ye Wenjie: Naquela época, a Guerra Fria estava no auge. A insanidade da raça humana atingiu seu apogeu histórico. Submarinos nucleares e armas nucleares à espreita nos cantos podem ser lançados a qualquer momento. Uma vez liberados, centenas de cidades seriam arrasadas, matando centenas de milhões de pessoas. Com tais saltos técnicos a vista, um intenso sentimento de crise foi compartilhado em todo o mundo.

Wang Miao: Professora Ye, você uma astrofísica realmente acha que a astronomia vai dar um salto tecnológico?

Ye Wenjie: Por mais destrutivas que sejam as armas nucleares, o universo abriga formas ainda mais terríveis como buracos negros e antimatéria. Comparado com eles, uma bomba nuclear nada mais é do que uma pequena vela. (Episódio 18)

Você precisa se preencher com o vazio

Wei Cheng: Estou tentando entender o Budismo.

Professor: Falando sobre Budismo com um cara como você? Isso é inútil. Venha comigo. Você pode morar aqui.

Wei Cheng: Na verdade, não me importa onde moro. Eu só quero encontrar um lugar tranquilo para brincar pelo resto da minha vida.

Professor: Este lugar não é tranquilo. Há muitas pessoas indo e vindo. O esconderijo mais seguro é a multidão. Se você quer tranquilidade, precisa se esvaziar. Descarga.

Wei Cheng: Como posso me tornar mais vazio? Fama e riqueza são menos que nada para mim.

Professor: Venha aqui. Olhe. O que é isso? Não é apenas um rádio?

Wei Cheng: Posso perguntar por que não tem antena?

Professor: é habilitado para Bluetooth.

Wei Cheng: Bluetooth?

Professor:(desmontando o rádio) Isto é um rádio?

Wei Cheng: Este é um amplificador.

Professor: Isto é um rádio?

Wei Cheng: Este é um transistor.

Professor: Isto é um rádio?

Wei Cheng: Este é um capacitor.

Professor: Onde está o rádio?

Wei Cheng: Perdido.

Professor: Então rádio é apenas um pseudônimo temporário que demos a esses componentes. Se você desmonta-lo em sua mente, ele deixará de existir. Portanto, o rádio não é uma entidade permanente. Essas coisas podem se tornar um rádio ou uma pilha de componentes. Este processo está esvaziando.

Wei Cheng: O que significa "Forma e vazio"? Se você estiver certo, então o formulário é apenas um processo.

Professor: Forma significa tudo que você pode ver. O vazio não é nada. Você precisa se preencher com o vazio. (Episódio 19)

O que é o problema dos 3 corpos quevirou sucesso em série da Netflix? 

SOBRE O PROBLEMA dos 3 CORPOS, SERJÃO ANALISA a SÉRIE 

O PROBLEMA DOS TRÊS CORPOS: Explicando TODA a Ciência para você ler melhor!

  O problema é a Netflix, não os Três Corpos (LEIA OS LIVROS!)


Considerações de quem vos fala:
"3 corpos", série chinesa, de 2023, dá de 7 a 1 na correspondente, "O problema dos 3 corpos", de 2024, da Netflix. Uma saída melhor: ler a trilogia de Cixin Liu, editada pela Suma em 2016. Livro base para as séries. Aí veremos a diferença entre a série chinesa e a besteira da Netflix.
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"Somos pessoas que vivem neste planeta aproveitando as facilidades que a ciência nos traz e suportando os perigos que ela causa. Quero me tornar aquela que revela a verdade enquanto você é aquele que tenta obscurecer a verdade." (de uma jornalista pró ambientalista para um investigador estatal que a vigia)
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Depois de assistir a série chinesa "Três Corpos (San ti)", 2023 (disponível no site Rakuten Viki), lembrei disso: "Cayahuari Yacu, the jungle Indians call this country, the land where God did not finish Creation. They believe only after man has disappeared will He return to finish His work." (do filme Fitzcarraldo) ou  “é uma terra que Deus, se ele existir, criou com raiva. É a única terra onde a criação está inacabada ainda.” Terra inacabada, Terra inacabada 2 e Terra inacabada 3
 

10/03/2024

Sérgio Augusto: Nada a ver com Aldous Huxley ou Sansão

Sobre a reflexão do ensaísta indiano Pankaj Mishra sobre a ocupação da Palestina por Israel

Leio, na última edição da London Review of Books, uma reflexão de 7.700 palavras do ensaísta indiano Pankaj Mishra sobre a ocupação da Palestina por Israel. É uma análise serena e bem embasada dos eventos que, ao longo dos últimos 76 anos, nos conduziram às atrocidades ora cometidas em Gaza.

Na contramão do achismo ideologicamente intoxicado de alguns mandarins do comentariado, é um manancial de dados que abonam todos aqueles que, além de se solidarizarem com as milhares de vítimas da blitzkrieg israelense, ousaram compará-la ao Holocausto dos judeus na Europa nazificada.

Reagan referiu-se literalmente ao “Holocausto” quando ordenou ao então primeiro-ministro de Israel, Menachem Begin, que parasse de bombardear o Líbano, em 1982. Begin, terrorista de origem e useiro e vezeiro em comparar os árabes aos nazistas e o palestino Yasser Arafat a Hitler, obedeceu na hora.

The Shoah After Gaza (O Holocausto Depois de Gaza), intitula-se o ensaio. Em miúdos: como a desmedida represália israelense aos atos terroristas cometidos pelo Hamas pode comprometer ainda mais a lisura moral da Shoah. Mishra, que nunca entendeu por que despossuir e punir os palestinos por crimes de que apenas os europeus foram cúmplices, antevê um recrudescimento do antissemitismo, reincidente efeito colateral do sionismo que Begin, o Netanyahu do final dos anos 1970, degenerou.

A Shoah depois de Gaza (tradução) 

Para o ensaísta indiano, é preciso salvar a Shoah da “psicose sobrevivencialista” de Netanyahu, principal combustível do expansionismo supremacista de certa elite judaica; resgatar, enfim, o que Jean Améry, sobrevivente de Auschwitz, chocado com as torturas sistemáticas de prisioneiros árabes em prisões israelenses, considerava um apanágio humanista exclusivo dos judeus da diáspora, aos quais aconselhou: “Revejam sua relação com Israel”.

“O centro de gravidade do mundo judeu deve voltar atrás, sair de Israel e retornar à diáspora”, recomendou Primo Levi, companheiro de Améry em Auschwitz.

O cientista Yeshayahu Leibowitz, Prêmio Israel de 1993, já alertava contra a “nazificação” de seu país pelos sionistas fundamentalistas em 1969, lembra Mishra, que atribui ao colunista israelense Boaz Evron uma das mais vigorosas denúncias da tática de confundir palestinos com nazistas e apelar para a chantagem de que há sempre uma Shoah à espreita dos judeus no mundo inteiro.

Após passar três anos em Israel, o filósofo polonês Zygmunt Bauman se mandou de lá agastado com a instrumentalização da Shoah por políticos inescrupulosos como Begin, que lhe pareciam empenhados em assegurar “um triunfo post-mortem a Hitler”.

“Já é hora de ficarmos de pé, não mais deitados sobre 6 milhões de mortos”, recomendou Abba Eban, ex-chanceler de Israel, também citado no ensaio, ao lado de George Steiner, Tony Judt e outras sumidades judias que também não teriam se calado diante do holocausto de Gaza.

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Um pedaço de pouco
Tudo para ‘Oppenheimer’, um filme reacionário, cretino e desonesto. Ver GregórioDuvivier
Zero para "Assassinos da Lua das Flores", um bom filme que mexe em feridas na sociedade estadunidense. E Scorsese fez um filme de gangsters.  This is roliudi. 

Dez para Da’Vine Joy Randolph, ‘Os Rejeitados’, atriz coadjuvante. Show de personagem e
atriz. Dez para ‘Zona de Interesse’ (Reino Unido), melhor filme internacional. Dez para ‘Ficção Americana’, melhor roteiro adaptado.

A premiação do Oscar 2024
Melhor filme: ‘Oppenheimer’
Direção: Christopher Nolan, ‘Oppenheimer’
Atriz: Emma Stone, ‘Pobres Criaturas’
Ator: Cillian Murphy, ‘Oppenheimer’
Roteiro original: ‘Anatomia de uma Queda’
Ator coadjuvante: Robert Downey Jr., ‘Oppenheimer’
Atriz coadjuvante: Da’Vine Joy Randolph, ‘Os Rejeitados’
Roteiro adaptado: ‘Ficção Americana’
Filme internacional: ‘Zona de Interesse’ (Reino Unido)
Animação:  ‘O Menino e a Garça’
Documentário: ‘20 Dias em Mariupol'
Canção original: ‘What Was I Made For?’, de ‘Barbie’
Trilha sonora: ‘Oppenheimer’
Som: ‘Zona de Interesse’
Fotografia: ‘Oppenheimer’
Montagem: ‘Oppenheimer'
Direção de arte: ‘Pobres Criaturas’
Figurino: ‘Pobres Criaturas’
Cabelo e maquiagem: ‘Pobres Criaturas’
Efeitos especiais: ‘Godzilla Minus One’
Curta-metragem: ‘A Incrível História de Henry Sugar’
Documentário em curta-metragem: ‘A Última Loja de Consertos'
Animação em curta-metragem: ‘War is Over! Inspired by the Music of John & Yoko'

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Quem foi o visconde com 1280 escravos, tataravô de mulher de bilionário

Colaboração para oUOL, 14/03/2024 

Se você é fã de podcast, provavelmente, já se deparou com as histórias contadas por Branca Vianna no podcast "Rádio Novelo Apresenta". https://radionovelo.com.br/originais/apresenta/o-visconde/

Mas você sabia que ela é parente de um escravocrata? A história foi contada no próprio canal no episódio "O Visconde". Nele, o podcast apresenta o Visconde do Rio Preto, o tataravô de Branca - que também é mulher do bilionário João Moreira Salles. O nome do visconde, na verdade, era Domingos Custódio Guimarães. O título era dado a homens que agradavam ao império e também eram muito ricos. 

 
O Visconde do Rio Preto representado artisticamente Imagem: Reprodução

Filho de fazendeiros, em São João del Rei, Minas Gerais, quando mais novo, fez fortuna vendendo "carne verde", também conhecida como carne fresca. Com esse dinheiro, passou a comprar terrenos no Vale do Paraíba e também a adquirir escravizados para trabalhar em suas fazendas de café. Sua morte, em 1868, deixou uma herança que incluía não apenas oito fazendas e sítios. Ele tinha 1280 escravizados que foram comprados e deixados para seus herdeiros. (...)

Ele morreu na Fazenda do Paraíso, que seria a principal propriedade do visconde. Lá, ele tinha mais de 500 escravizados.

A herança do visconde perdurou por três gerações. Segundo Tina Vianna, prima de Branca, foi a avó delas quem acabou com os pertences do avô visconde. Ela teria queimado objetos e vendido joias, pratarias, entre outros.

A Fazenda Paraíso, também conhecida como a "Joia de Valença", deixou de pertencer à família em 1895 e, hoje, é propriedade de descendentes de Alexandre Belfort Arantes. Seu tataraneto, Paulo Roberto, que ironicamente é descendente tanto de escravocratas como escravizados, mantém o lugar o mais preservado possível e oferece tours guiados pelo local, onde, junto com sua esposa, contam a história do fazenda e, consequentemente, do Visconde.

A busca pela origens

Após ter conhecimento do inventário do tataravô, com o espantoso número de escravizados, Branca Vianna, sua irmã Anna e a prima Tina decidiram saber mais sobre as origens do visconde e de sua família em busca de mais informações sobre a história da escravidão no Brasil.

Um dos pontos de partida para a pesquisa foi a lembrança que as três tinham de um livro com registro de escravizados que existia na antiga Fazenda Paraíso, local visitado por elas na infância.

O livro teria nomes e outras informações que poderiam fazer com que descendentes destas pessoas encontrassem suas origens. Mas infelizmente, o documento não foi encontrado durante os mais de três anos de estudos. O atual proprietário da fazenda afirma ter visto o material em algum momento, mas não sabe onde foi parar.

"Este acaba sendo um exemplo de outros documentos importantes que podem estar guardados esquecidos nas gavetas e baús das famílias", diz Branca durante o episódio do podcast. As descendentes do visconde fazem um apelo para que outras pessoas com famílias de origem escravocrata como a delas procurem em suas casas arquivos como esses e compartilhem, para que a história de outras pessoas possa ser esclarecida e traçada de forma linear como acontece com elas. "É uma parte da história que não podemos negar. A escravidão é uma brutalidade que não se pode repetir, colocando embaixo do tapete", conclui Tina.

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27/03/2024

O conto do pescador e do peixe

Alexandre Pushkin (1799 - 1837)

No passado, perto do mar,

O velho e a velha viveram;

O terreno está cheio - na casa velha

Eles estavam juntos há trinta e três anos.

O velho estava pescando com uma rede,

A velha tem vinte anos.

Assim que o velho colocar uma rede no mar,

A rã pendurou a folha sozinha.

O velho pela segunda vez na rede

O mar estava morto.

O velho, pela terceira vez,

Um pequeno peixe preso em uma rede,

Peixe-lã, peixe dourado,

Os peixes dourados são como os humanos,

Ele implorou:

"Vamos para o mar, avô,

Eu vou te pagar uma grande taxa,

Eu vou te dar o que você quiser "

O velho ficou surpreso e assustado:

Pescado por trinta e três anos,

Mas o peixe disse,

Ele nunca tinha ouvido falar disso em sua vida.

O velho soltou o peixe,

Ele disse gentilmente para ela:

"Deus abençoe o peixinho dourado,

Você não tem que me pagar,

Bem, ao meio-dia para o mar azul,

Jogue livremente! ”

 

O velho voltou para a velha,

Ele disse um milagre tão interessante:

“Eu peguei um peixe hoje;

Peixe John - peixe dourado puro;

O peixe falou,

À medida que você deixa de lamber muito,

Para sua casa - para o mar azul;

Vou pagar uma grande taxa, disse ele,

Dê-me o que quiser, disse ele;

Eu não ousei pegar,

Deixei no mar azul »

 

A velha começou a xingar o velho:

“Ó velho tolo, tolo, velho louco!

Não foi possível pagar pelo peixe!

Pelo menos uma gaveta -

Você não pode perguntar a ele,

Nosso banheiro é um buraco! ”

 

O velho foi para o mar azul,

Quando as ondas atingem o mar,

Ele chamou o peixe para fora d'água,

O peixe perguntou a ele:

"O que você quer, velho?"

O velho respondeu com uma reverência:

"Peixe poshsho, me desculpe,

Minha avó me bateu:

Não dá paz, não diz velhice,

Precisa de uma nova banheira,

Nosso banheiro é perfurado. "

A resposta diz que o peixinho dourado:

"Não se preocupe, Deus te abençoe,

Borgil, eu te dei um novo tambor. "

Quando o velho voltou para a velha,

Ela era uma velha.

Mas a velha bateu ainda mais forte:

“Ó velho tolo, tolo, velho louco!

Você pediu uma roupa?

A roupa suja seria uma mercadoria?

Jonah, seu idiota, vá pescar,

Curve-se e peça uma casa.

 

O velho foi para o mar azul,

(O mar azul estava borrando)

Ele chamou o peixe para fora d'água,

O peixe perguntou a ele:

"O que você quer, velho?"

O velho curvou-se e disse:

"Peixe poshsho, me desculpe,

A velha me amaldiçoou pior,

Não te dá paz, você não envelhece,

Ele está sempre pedindo uma casa. ”

A resposta diz que o peixinho dourado:

"Não se preocupe, Deus te abençoe,

Borgil, haverá uma casa. "

Voltando ao porão, o velho,

Não havia nenhum vestígio do porão,

Os canos são feitos de tijolo, elegantes,

Feito de madeira de carvalho -

Há uma casa no portão,

Há um hotel ao lado da casa.

Pela janela,

A velha sentou-se,

O velho está praguejando pior:

“Ó velho tolo, tolo, velho louco!

Você vem e pede uma casa!

Jonas foi imediatamente para o peixe,

Curve-se diante dele novamente:

Não serei mais um fazendeiro negro,

Eu quero ser um mendigo! ”

O velho foi para o mar azul,

(O mar está turbulento, as ondas estão batendo).

Chama o peixe para fora d'água,

O peixe perguntou a ele:

"O que você quer, velho?"

O velho curvou-se e disse:

"Peixe poshsho, me desculpe,

A velha estava possuída por um demônio,

Não te dá paz, você não envelhece,

Mais que um fazendeiro negro,

Ele quer ser inocente! ”

A resposta diz que o peixinho dourado:

"Não se preocupe, vá, Deus te abençoe"!

 

O velho volta para a velha.

O que ele vê? Um palácio alto;

Uma velha morando na varanda,

O odre está com ele,

No começo, a dakana vermelha,

Uma fileira de pérolas em volta do pescoço,

Anéis de ouro em suas mãos,

Botas vermelhas em seus pés.

Viúvas por aí,

Uma velha estava parada no meio,

Ele estava arrastando o cabelo dela,

O velho disse à avó:

“Olá, meu senhor, meu senhor!

Você deve estar satisfeito! ”

A velha gritou com ele,

Ele começou a trabalhar no estábulo.

Semana após semana,

A velha ficou com raiva novamente.

Ele mandou o velho em direção ao peixe:

"Vá rápido, faça uma reverência aos peixes:

Não serei mais um mendigo,

Eu quero ser uma boa esposa! ”

O velho assustado disse:

“Você comeu cérebro de burro, velha?

Ele não sabe o que fazer

Foi ridículo! ”

A velha ficou ainda mais irritada:

O velho deu um tapa na cara:

"Fazendeiro negro, como te atreves,

Quem se atreveu a falar com voce,

Para mim, para um mendigo como eu?

Eu digo adeus,

Vou enviar para você se você não for. "

 

O velho foi para o mar,

(O mar azul ficou preto).

Ele chamou o peixe para fora d'água,

O peixe perguntou a ele:

"O que você quer, velho?"

O velho se curva e diz:

"Peixe pashsho, tenha pena de mim!

A velha começou a gritar de novo!

Chega de amamentar,

Será uma princesa grátis! .. »

Goldfish dá a resposta:

"Não se preocupe, Deus o abençoe!"

Bem, a velha vai ser uma princesa! '

O velho volta rapidamente para a velha,

Olha, o palácio real,

A velha aparece na rede do castelo,

Ela estava sentada como uma princesa.

A serviço de beis, emires,

Derramando o vinho original,

As duas princesas estão comendo a infusão;

Muitos yasovul por aí,

Oyboltalari nos ombros.

Os arredores agora são enormes,

Quando o velho viu isso, ficou assustado.

E a palavra dobra sete:

“Olá linda princesa!

Talvez seu coração esteja cheio agora! ”

A velha não olhou para trás:

"Dirija rápido!" ele pediu

Beys pulando, emires,

O velho foi arrastado para longe.

Os Yasuvals estão na porta

Eles estavam quase correndo.

A multidão riu:

"Você o encontrou, seu velho ignorante."

Próxima lição:

Pernas longas em direção à sua própria cama!

 

Semana após semana

A velha cavalgou pior;

Enviando um mensageiro para procurar seu marido,

Eles encontraram o velho.

A velha disse à velha:

"Vá para o peixe novamente,

Curve-se e vá imediatamente,

Não serei mais que uma princesa,

Eu quero ser o rei do mar,

Deixe o peixe a meu serviço,

Deixe o peixe correr para mim! »

O velho homem,

A palavra da velha que não pode ser;

Voltou para o mar azul,

Coelhos pretos no mar:

As ondas rugem furiosamente,

Tanto a plenitude quanto as profundezas são incessantes,

O velho chama o peixe para fora d'água,

O peixe perguntou a ele:

"O que você quer, velho?"

O velho curvou-se para ele e disse:

 

"Peixe poshsho, me desculpe,

Velha maldita,

Chega de amamentar princesa,

Você quer ser o rei do mar,

E voce quer viver no mar,

Você também foi ao serviço,

Você vai correr para ele? '

 

O peixe não disse uma palavra,

Basta acertar o rabo com a água,

Desapareceu no fundo do mar.

O pobre velho esperou por uma resposta,

Longa estadia à beira-mar.

Ele voltou para a velha,

Acontece que: novamente no mesmo porão,

Uma velha sentada na soleira,

Existe um buraco na frente.

 

AS Pushkin

Tradução de Mirtemir

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Não éhistória, é presente. O Estado, construído por traumas, não deve temer suasmazelas

Marcelo Rubens Paiva O estadão, 28/03/2024

Lula, depois de tudo pelo que passou - perseguido e preso durante a ditadura -, representa o governo com traumas recentes em mexer em feridas da ditadura militar

Minha vida, infelizmente, sempre foi com mais transtornos do que planejei. Quando pensei que encerrava meu ciclo de textos em que tragédias pessoais e familiares estavam na premissa, me vejo novamente no topo de um vulcão. Queria escrever sobre o novo sofá de quatro lugares reclinável do Palácio da Alvorada. Os ocupantes têm de votar sobre quantos graus o encosto deve ficar?

Mas Lula... Ele representa o governo com traumas recentes em mexer em feridas da ditadura militar. Porém, o Estado é construído pelos traumas e tem o dever de relembrar suas mazelas, não temer.

Dilma abriu o debate do que aconteceu e de quem foram os agentes de crimes cometidos durante os anos de chumbo. Os anteriores, Tancredo, Sarney, Collor, FHC e Lula, homens, governaram pisando em ovos, sob o pacto invisível de não desagradar a setores que, na República, demonstraram não ter pudor em apontar a espada ou o canhão para derrubar um governo constitucional.

Lula, surpreendentemente, depois de tudo pelo que passou, logo ele, perseguido e preso durante a ditadura, não recebeu em seu terceiro mandato a Comissão Sobre Mortos e Desaparecidos, enrolou para recriá-la, determinou que órgãos do governo silenciassem sobre os 60 anos do Golpe de 64 e engavetou um projeto do seu ex-ministro da Justiça, Flávio Dino, o Museu da Verdade.

Lula exibe a bandeira brasileira, em São Paulo, no dia em que aguardava a notícia de que seria eleito presidente.

O presidente diz que a ditadura “faz parte da história”. Manifestantes pedindo intervenção militar, com cartazes escritos AI-5, camisetas com o rosto do torturador Brilhante Ustra, ou a frase “Ustra Vive”, não são história. A dor e o sofrimento de quem teve um familiar torturado, morto, desaparecido não são história. Autoridades públicas exaltando a repressão do regime militar, inclusive a tortura, a censura de livros, exposições, perseguição e morte de jornalistas, como Dom Phillips, não são história.

Os abusos da PM paulista na operação na Baixada Santista, o caso Amarildo, Marielle e Anderson, a absolvição de militares que mataram o músico Evaldo, a herança de uma sociedade escravocrata, o genocídio indígena, não são história, mas efeitos da impunidade do passado, de uma sociedade violenta e da falta de memória e covardia de quem deveria liderar.

A tentativa do golpe de 8 de janeiro não teria acontecido se não varrêssemos para debaixo do tapete a tragédia brasileira. Não é apenas por conta de militares legalistas que o Brasil tem uma democracia resguardada, é pelo passado de que ainda não nos esquecemos, inclusive a Comissão Nacional da Verdade, mas que futuras gerações podem achar que é história.

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02/04/24

Filmes a rever

Yojimbo, 1961 

High Noon (Matar ou Morrer)

Qual o filme?

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Culinária - Receitas

De uma viagem pela internet

Rabada

Arroz com beterraba

Molho

Teak com ovos

Batata frita

Banana com chocolate

Lasanha

Requeijão

Macarrão diferente

Mandioca palito

Bolo de coco

Cebola frita

Conserva de legumes

Patê de atum

Bolo de mandioca

Sardinha panqueca

Linguiça

Bolo de batata doce

Batata

Pot-au-feu

Repolho salada

Maionese

Ovo ponche

Pudim de banana

Macarrão

Bolo queijadinha

Coxinha de frango

Cappuccino

Bolo de arroz

BIFE Á OSWALDO ARANHA

Dificuldade: média

Rendimento: 2 porções

Ingredientes

400 g de carne (filé, bife ancho, picanha ou alcatra), dividida em 2 bifes grossos

2 colheres (sopa) de manteiga

½ cebola roxa

1 xícara de farinha de mandioca

Óleo vegetal (quanto baste)

8 dentes de alho laminados

2 batatas em rodelas bem finas

2 colheres (sopa) de manteiga

½ cebola roxa

1 xícara de farinha de mandioca

Arroz branco cozido

Sal e pimenta-do-reino a gosto

Modo de fazer

Aqueça o forno a 200ºC

Tempere a carne com sal e pimenta e a deixe fora da geladeira por 1 hora.

Faça a farofa. Derreta a manteiga, refogue a cebola até amolecer, misture a farinha e tempere com sal. Reserve.

Aqueça o óleo em fogo baixo. Frite o alho por imersão, até dourar. Retire com uma escumadeira e reserve.

Usando o mesmo óleo, aumente o fogo para médio e frite as batatas em algumas bateladas, para não esfriar a gordura. A quantidade de óleo e o número de bateladas vai depender da panela. Reserve no forno aquecido e desligado.

Aqueça uma chapa ou frigideira e grelhe os bifes no ponto desejado. Distribua o alho sobre a carne e sirva com farofa, batata e arroz.