terça-feira, 6 de setembro de 2011

Resultados da crise de 2008: bancos ricos. E quem paga a conta?


"No decurso das crises, quando o momento de pânico passou e a indústria estagna, o dinheiro está fixo nas mãos dos banqueiros, dos agentes de troca, e tal como o cervo brame a sua sede por água fresca, o dinheiro grita o seu desejo de um domínio onde possa ser valorizado enquanto capital." (*)


Deu no O Globo de 04 de setembro de 2011: “Bancos ricos, governos pobres”, Bruno Villas Boas.
Quase três anos após a quebra do megabanco de investimentos Lehman Brothers, em 15 de setembro de 2008, a crise financeira internacional que teve origem no mercado imobiliário americano com as hipotecas de alto risco, as chamadas subprime, segue abalando mercados e assombrando governos. Os cofres públicos e bancos centrais de todo o mundo já arcaram com US$12,4 trilhões até agora para incentivar suas economias e limpar os estragos provocados por grandes bancos globais. Essa conta se transformou numa dívida explosiva de países, e agora cobra sua conta e derruba as bolsas de valores. As instituições financeiras socorridas na crise, no entanto, estão muito bem, obrigado. Seis dos principais bancos ajudados na crise - Bank of America Merrill Lynch, BNY Mellon, Citigroup, Goldman Sachs, JPMorgan Chase e Morgan Stanley - lucraram, somados, US$42,4 bilhões no ano passado, aumento de 40% na comparação a 2009. E os bônus dos grandes executivos de Wall Street voltaram, com pagamentos que em um dos casos chegou a US$23,3 milhões.

- O problema dos bancos com a dívida imobiliária foi absorvido, e eles voltaram a ser lucrativos, na maioria dos casos. A crise que era de empresas e bancos transformou-se agora numa crise de governos, principalmente em países como Grécia, Portugal e Irlanda, e provavelmente Espanha e Itália, que precisaram socorrer suas economias. Nos EUA, a dívida ganhou uma dimensão explosiva e está em níveis preocupantes, ainda que a solução preocupe menos do que na Europa - afirma Carlos Langoni, ex-diretor do Banco Central e economista da Fundação Getulio Vargas (FGV).

Segundo dados do Fundo Monetário Internacional (FMI) compilados pelo GLOBO, a dívida bruta dos países do G-7 - os mais ricos do mundo, entre os quais EUA, França e Itália - cresceu de US$35,3 trilhões em 2009 para US$41,26 trilhões em 2011, um aumento de 16,7%. No mesmo período, o Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos pelos países) desse grupo avançou apenas 1,36%, considerando projeções do Fundo. Dessa forma, o endividamento dos países passou a representar 118,2% do PIB.
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Bancos voltam a pagar bônus gordos e o risco nas medidas de austeridade

Nesse embalo, o presidente do Bank of America, Brian Moynihan, recebeu cerca de US$10 milhões em 2010, segundo jornais americanos. O do Citibank, Vikram Pandit, que por dois anos ficou com salário simbólico de US$1 enquanto tentava pôr o banco nos trilhos, passou a receber US$1,75 milhão no ano passado. Em maio, Pandit levou mais US$23,3 milhões pelos excelentes resultados do Citi, a serem pagos nos próximos quatro anos. No Reino Unido, a situação é semelhante: o Royal Bank of Scottland deve pagar 1 bilhão de libras em bônus.

Enquanto isso, os países da zona do euro lançam programas de austeridade fiscal para estancar a crise de confiança em seus títulos soberanos, o que é fundamental para refinanciar suas dívidas. Segundo Luiz Roberto Cunha, professor da PUC-Rio, ao recuperar a confiança de investidores e empresas, os países pretender incentivar investimentos e gerar empregos. O problema é que, ao cortar gastos, empurram ao mesmo tempo suas economias para uma recessão.

- Isso pode criar um círculo vicioso e exige um ajuste fino. Não está na hora de austeridade, mas de investimentos, de fazer a economia funcionar, gerar empregos. O problema é que quem está comprando os títulos desses países, como a Grécia e Irlanda, são os contribuintes de Alemanha e França. E eles querem contrapartidas fiscais dos vizinhos - afirma Cunha.

Na visão de Cesar Benjamin (Folha de São Paulo, 20/09/2008):
Muito melhor é acumular capital sem retirá-lo da condição de riqueza abstrata, fazendo o próprio dinheiro render mais dinheiro. Marx denominou D - D essa forma de acumulação e viu que ela teria peso crescente. À medida que passasse a predominar, a instabilidade seria maior, pois a valorização sem trabalho é fictícia. E o potencial civilizatório do sistema começaria a esgotar-se: ao repudiar o trabalho e a atividade produtiva, ao afastar-se do mundo-da-vida, o impulso à acumulação não mais seria um agente organizador da sociedade.
Se não conseguisse se libertar dessa engrenagem, a humanidade correria sérios riscos, pois sua potência técnica estaria muito mais desenvolvida, mas desconectada de fins humanos. Dependendo de quais forças sociais predominassem, essa potência técnica expandida poderia ser colocada a serviço da civilização (abolindo-se os trabalhos cansativos, mecânicos e alienados, difundindo-se as atividades da cultura e do espírito) ou da barbárie (com o desemprego e a intensificação de conflitos). Maior o poder criativo, maior o poder destrutivo.
O que estamos vendo não é erro nem acidente. Ao vencer os adversários, o sistema pôde buscar a sua forma mais pura, mais plena e mais essencial, com ampla predominância da acumulação D - D. Abandonou as mediações de que necessitava no período anterior, quando contestações, internas e externas, o amarravam. Libertou-se. Floresceu. Os resultados estão aí. Mais uma vez, os Estados tentarão salvar o capitalismo da ação predatória dos capitalistas. Karl Marx manda lembranças.

Resumo da ópera: e quem pagará a conta da crise de 2008? Os governos?

Não. Seremos nós mortais trabalhadores e pagadores de impostos.

Edson Pereira Cardoso, setembro de 2011
(1) K. Marx, Manuscritos de 1857-1858, Paris, Editions sociales, 1980. A crise de 1857 começou com um colapso bancário em Nova York e depois espalhou por Áustria, Alemanha, França e Inglaterra. http://www.marxists.org/portugues/bensaid/2009/08/marx.htm#r11 06/09/2011


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