terça-feira, 18 de outubro de 2022

Pílulas 8

Baleias

Baleias encalham em praia na região de Tasmânia, na Austrália; autoridades estimam haver quase 230 animais no local e quase metade já está morta. NRE - 20 setembro de 2022 / Via Reuters

Mais de 200 baleias encalham na Austrália, e autoridades temem mortes

Quase 200 baleias-piloto morreram depois que ficaram encalhadas em uma praia na costa oeste da ilha australiana da Tasmânia, onde as equipes de resgate conseguiram salvar pouco mais de 30 animais.

Após um grande esforço em condições difíceis, as autoridades anunciaram que apenas 32 das 226 baleias-piloto encalhadas tinham força suficiente para um resgate. "Estamos trabalhando para levar as baleias que foram consideradas aptas de volta ao mar", declarou Sam Thalmann, biólogo marinho, à AFP. As imagens aéreas mostram dezenas de baleias ao longo da areia da praia Ocean.

Após a descoberta dos animais, os moradores da região cobriram as baleias com mantas e usaram baldes de água para mantê-las com vida. Mas na maioria dos casos isto não foi suficiente. "Infelizmente temos uma taxa elevada de mortalidade neste encalhe. Isto se deve principalmente às condições de exposição na praia Ocean", afirmou Brendon Clark, diretor de operações do departamento local de vida selvagem. "As condições ambientais, as ondas na costa oeste, certamente estão afetando os animais", acrescentou. Entre as tarefas também estava a retirada dos cadáveres dos animais para evitar atrair tubarões para a área.

Há dois anos, a região foi cenário do encalhe de quase 500 baleias-piloto, o maior já registrado no país. Mais de 300 morreram, apesar dos esforços de resgate. Clark disse que, na época, as condições eram menos severas para os cetáceos porque estavam "em águas muito mais resguardadas".

INVESTIGAÇÃO DAS CAUSAS

Os restos mortais das baleias serão submetidos a necropsias para tentar determinar o motivo do encalhe, muitas vezes desconhecido. Os cientistas sugerem que o fenômeno pode ser provocado por animais que perderam o rumo depois de procurar alimentos perto da costa.

As baleias-piloto,  que podem atingir seis metros, são muito sociáveis e costumam seguir os companheiros de grupo que entram em situações de perigo. Em algumas ocasiões, isto acontece quando baleias idosas, doentes ou feridas nadam até a costa e outras integrantes do grupo as seguem, em uma tentativa de responder aos sinais de socorro da baleia que ficou encalhada.

Alguns cientistas acreditam que praias levemente inclinadas como as da Tasmânia confundem o sonar dos cetáceos e os levam a pensar que estão em mar aberto. Esta semana também foram encontrados 14 cachalotes machos jovens mortos, encalhados em uma praia remota em King Island, entre a Tasmânia e a costa de Melbourne. A morte dos cetáceos poder ser um caso de "desventura", afirmou o biólogo da vida selvagem Kris Carlyon, da agência ambiental do governo, ao jornal local Mercury.

A Nova Zelândia também registra encalhes com relativa frequência. No país, quase 300 animais são encontrados encalhados por ano em média, de acordo com os números oficiais. Não é incomum observar grupos de 20 a 50 baleias-piloto encalhadas em uma praia.

Mas os números podem alcançar centenas, como em 2017, quando cerca de 700 baleias ficaram encalhadas.

O termo baleia-piloto é a designação comum aos mamíferos cetáceos do gênero Globicephala, que ocorrem nos oceanos de todo o mundo. Tais mamíferos chegam a medir até 8,5 metros de comprimento, de coloração negra, cabeça em forma de globo sem bico definido e dentes presentes. Também são chamados de globicéfalo, caldeirão e golfinho-piloto. https://pt.wikipedia.org/wiki/Baleia-piloto

Por que baleias e golfinhos encalham? Saiba mais

https://marsemfim.com.br/por-que-baleias-e-golfinhos-encalham-saiba-mais/

Beached Whales | World's Weirdest vídeo

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Finoca 100

Hoje, 21 de setembro de 2022, Finoca, minha mãe faz 100 anos. Ela ancestralizou-se no dia 25 de novembro de 2020. Viveu com dignidade e está estrela no céu. Salve Finoca.


Finoca

Casarão da 4

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Mulheres que enfrentaram desafios pela liberdade

 
Kijini Primary School students learn to float, swim and perform
                                                           rescues in the Indian Ocean off of Muyuni, Zanzibar.

https://www.annaboyiazis.com/finding-freedom-in-the-water

Fotos de mulheres que enfrentaram desafios pela liberdade são tema de exposição

Por Ubiratan Brasil, O Estado,13/10/2022

A presença de mulheres na arquibancada de estádios em jogos de futebol é corriqueira em muitas regiões do mundo, mas a imagem registrada em 2018 pela fotógrafa iraniana Alaei Forough, que mostra torcedoras iranianas assistindo a uma partida em um estádio em Teerã, é significativa: as leis do país não permitem o acesso feminino em estádios, mas, naquele dia, um grupo delas pôde assistir ao jogo entre Persépolis e o time japonês do Kashima Antlers.

A imagem captada por Alaei, mostrando a reação das torcedoras na arquibancada, tornou-se significativa como exemplo, ainda que fugaz, de liberdade. Tanto que foi uma das vencedoras do concurso da World Press Photo de 2019 com o título Crying for Freedom (Gritando por liberdade, em tradução livre). É justamente a intenção de mostrar tal força feminina diante de adversidades que inspira a exposição Resiliência - Histórias de Mulheres que Inspiram Mudanças, que abre nesta sexta, 14, no Instituto Artium de Cultura.

São retratos documentados por 17 fotógrafos, de 13 nacionalidades diferentes, entre 2000 e 2021 e que expressam, por meio das imagens, suas visões sobre questões como sexismo, violência contra mulher e direitos reprodutivos. “São exemplos de luta pela igualdade de gênero”, observa Wieneke Vullings, cônsul-geral do Reino dos Países Baixos, que organizou a mostra juntamente com a Fundação The World Press. “E é ainda mais significativo agora, quando vivemos o período pós-pandemia e que podemos sair de casa e voltarmos a nos preocupar com o que acontece ao redor do mundo.”

De fato, a imagem das torcedoras se expressando livremente no estádio iraniano revela uma forte carga de resistência: antes, quem se arriscasse era sumariamente encarcerada. Foi o que aconteceu em 2018, quando 35 mulheres foram presas depois de tentarem entrar em um estádio para acompanhar o jogo entre Persépolis e Esteghlal.

As mais determinadas, como Alaei Forough, chegaram a se disfarçar como homens para conseguirem acesso às arquibancadas. Foram momentos de tensão, pois houve hostilidade de alguns torcedores, mas também outros homens as apoiaram a seu modo, ou seja, ficando em silêncio mesmo sabendo que estavam ao lado de uma mulher.

A liberação para aquela partida contra o time japonês - que só veio depois de uma pressão da Fifa - foi como a explosão de um grito preso no peito. “Lembro que, quando passamos pelo portão e entramos no estádio, não consegui segurar as lágrimas por cerca de 10 minutos. Era tão humilhante quando você tinha de mudar seu rosto - nós até tivemos de enfaixar nossos seios para parecerem achatados como o dos meninos”, contou Alaei ao site Artistas No Musas, que defende os direitos femininos.

São momentos significativos como esse que marcam a exposição. Wieneke aponta outro exemplo de resiliência: o retrato Finding Freedom in the Water (Encontrando liberdade na água, em tradução livre), da fotógrafa Anna Boyiazis, compartilha a história de alunas da Escola Primária Kijini que aprendem a nadar e a realizar salvamentos, no Oceano Índico, na Praia de Muyuni, Zanzibar.

Tradicionalmente, as garotas do Arquipélago de Zanzibar são dissuadidas de aprender a nadar, muito por causa da falta de roupas de banho mais recatadas. “Sou mãe de uma menina de 4 anos, que frequenta livremente aulas de natação, portanto, essa imagem é particularmente forte para mim.”

Para ela, além do aspecto estético, as fotografias refletem um compromisso contra a violência contra mulheres, uma grave ameaça global.

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Otto Lara Resende ganha filme sensível em seu centenário

Compartilhávamos muito mais afeições e manias, além de torcer pelo Botafogo, do que supúnhamos

Sérgio Augusto, FSP, 15/10/2022

Os dois únicos Otto que tive o privilégio de desfrutar como amigos estão de volta ao noticiário cultural. O austríaco Carpeaux (Otto Maria) com a reedição, pela Faro Editorial, de sua História da Música, lançada 64 anos atrás, e o mineiro Lara Resende com um documentário, Otto, De Trás P/ Diante, dirigido por sua filha caçula, Helena, e Marcos Ribeiro, exibido esta semana no Festival de Cinema do Rio. Não conheci xarás que lhes fizessem sombra, nem me apontaram outro palíndromo de comparáveis grandezas. Verdade que o americano Otto Soglow, criador do Reizinho dos quadrinhos, nunca viveu entre nós.

Conheci, e até entrevistei, Rian, nom de plume adotado pela versátil Nair de Teffé, segunda esposa do presidente (e marechal) Hermes da Fonseca e nossa primeira mulher caricaturista. Vê-se que já fomos bem melhores também em matéria de primeira-dama. De marechais, nem tanto.

O simples, sensível e amoroso documentário da Heleninha, articulado em torno de cartas, bilhetes e outros escritos de seu grafomaníaco pai, lidos pela atriz Julia Lemmertz e pelo ator Rodolfo Vaz (um Otto muito mais do que convincente), tem o condão de despertar inveja naqueles que não conviveram com o biografado e seus três mais íntimos cupinchas mineiros e muita saudade naqueles que testemunharam o seu tempo, para ele encerrado em 28 de dezembro de 1992, dois dias antes, hélàs!, do impedimento do presidente Fernando Collor de Mello, pelo qual ansiava fervorosamente.

Quando há dias o ogro que nos governa ameaçou a República de, se reeleito, escalar Collor como ministro, fui, só de curiosidade, pesquisar o que Otto escreveu sobre ele, em suas crônicas na Folha entre 1991 e 1992. Elogiou-lhe a eloquência, e foi só. Abordou discretamente a polêmica em torno das acusações de plágio envolvendo o diplomata e ensaísta José Guilherme Merquior, e não se furtou a equiparar o plagiário presidente em fim de mandato a “um Napoleão de hospício”.

 
O crítico literário Antonio Candido e os escritores Fernando Sabino, ao centro, e Otto Lara Resende, à direita Foto: Instituto Moreira Salles

Otto foi meu inesperado guia por Lisboa na primeira vez em que a visitei, em 1969. Prestes a deixar seu posto de adido cultural em Portugal, encontrei-o na casa de Cláudio Mello e Souza, e ele me adotou, sem papel passado. Tive a honra de substituí-lo nas férias e folgas no espaço que lhe cabia na página 2 da Folha e de ter sido, também, o primeiro repórter a entrevistá-lo sobre a barba que, no auge de uma depressão, desempregado e sem planos para o futuro, decidiu cultivar em meio aos festejos do réveillon de 1984. “Se eu fosse um pouco mais burro, seria mais feliz”, foi um de seus primeiros desabafos com aquele new look meio Hemingway, meio Papai Noel, meio mendigo.

Compartilhávamos muito mais afeições, manias e idiossincrasias, além de torcer pelo Botafogo, do que a princípio supúnhamos. Apinhar de informações inúteis o cérebro, por exemplo. Vez por outra, altas horas, ele me ligava, intermediado pelo arquiteto Marcos de Vasconcellos, para tirar dúvidas sobre o nome de uma loja de eletrodomésticos famosa no centro do Rio dos anos 1950 ou como era mesmo que se chamava o personagem de Orson Welles em O Terceiro Homem. E se eu respondesse de primeira, no automático, resmungava: “Bandido!”

O que estaria achando e dizendo desse pandemônio em que nos meteram?, indagou-me um amigo em comum, ao final da sessão de Otto, Detrás P/ Diante. Fácil de prever, dado o proverbial ceticismo do personagem. Cético, porém propenso à ironia, talvez agradecesse não estar mais vivo para presenciar o grotesco espetáculo diuturnamente oferecido por Bolsonaro.

Em outro momento de crise nacional, embora não comparável ao atual, chegou a ameaçar “trancar sua matrícula de brasileiro”. Nos estertores do governo Collor, admitiu “não ter o direito de enjoar a bordo do Brasil”, reconhecendo afinal que, por ter assistido tantas vezes àquele filme, tinha, sim, o direito ao enjoo. Hoje é provável que estivesse vomitando a própria alma.

Ficção de Otto Lara Resende, à margem por décadas, é tesouro secreto da literatura brasileira

Crítica | Mais do queuma biografia, ‘Otto: de trás p/ diante’ fala sobre paixão por Literatura

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Série da HBO Max, 'Irma Vep' é um passeio pelos bastidores do cinema

Alicia Vikander vive a nova versão da protagonista na atração de Olivier Assayas que já foi tema de filmes no exterior e no Brasil

Helen Beltrame-Linné​, FSP, 14/10/2022

Roteirista e consultora de dramaturgia, foi diretora da Fundação Bergman Center, na Suécia, e editora-adjunta da Ilustríssima

Uma série de 2022 sobre um filme-seriado de 1915 que já havia sido objeto de um longa-metragem do mesmo diretor em 1996. Pode parecer confuso, mas "Irma Vep", criada por Olivier Assayas para a HBO Max, vale o mergulho metalinguístico.

Lançada no Festival de Cannes deste ano, a série é um passeio delicioso por Paris e pelos bastidores da indústria cinematográfica em toda sua complexidade.

Do drinque refinado no restaurante cinco estrelas para o café em copo de papelão no set de filmagem. Da elegância andrógina diante das câmeras das premières até a solidão dos quartos de hotel, passando pelos ataques histéricos de atores pouco convencionais. Em oito episódios, Assayas consegue revelar a mistura inusitada que compõe o fazer cinematográfico: glamour e tédio, fluidos corporais e instantes sublimes.

Uma série de 2022 sobre um filme-seriado de 1915 que já havia sido objeto de um longa-metragem do mesmo diretor em 1996. Pode parecer confuso, mas "Irma Vep", criada por Olivier Assayas para a HBO Max, vale o mergulho metalinguístico.

Lançada no Festival de Cannes deste ano, a série é um passeio delicioso por Paris e pelos bastidores da indústria cinematográfica em toda sua complexidade.

Do drinque refinado no restaurante cinco estrelas para o café em copo de papelão no set de filmagem. Da elegância andrógina diante das câmeras das premières até a solidão dos quartos de hotel, passando pelos ataques histéricos de atores pouco convencionais. Em oito episódios, Assayas consegue revelar a mistura inusitada que compõe o fazer cinematográfico: glamour e tédio, fluidos corporais e instantes sublimes.

 
Cartaz da série 'Irma Vep', criada por Olivier Assayas - Divulgação

Ainda que seja desnecessário para desfrutar a nova "Irma Vep", aproveito a chance para falar da obra que está na origem dos dois trabalhos homônimos de Assayas. "Os Vampiros", um "filme em série" composto de dez partes, foi criado na década de 1910 por Louis Feuillade, à época diretor artístico do respeitável estúdio Gaumont. No seu lançamento, a obra foi acusada de glorificar o crime e, inclusive, censurada por atentar contra os bons costumes.

Mas o sucesso de público viria em seguida, em muito capitaneado por Musidora, atriz que interpretava Irma Vep, uma personagem sedutora de moralidade dúbia que a consagraria como a grande vedete do cinema francês. Com os anos, viria também a consagração artística: "Os Vampiros" desenvolveu técnicas de suspense que seriam depois adotadas por mestres como Fritz Lang, Hitchcock e Buñuel, para citar alguns.

Irma Vep, por sua vez, tornou-se inspiração para diversas obras derivadas. No Brasil, muitos devem se lembrar da lendária comédia "O Mistério de Irma Vap", com Marco Nanini e Ney Latorraca nos papéis principais —que foi dirigida por Marília Pêra com base na peça homônima de Charles Ludlam e ficou em cartaz durante anos na década de 1980.

No filme homônimo dirigido por Assayas em 1996, Irma Vep era interpretada por Maggie Cheung, mais conhecida como musa de Wong Kar-wai, e que foi casada com Assayas.

Na nova série, o papel foi dado a Alicia Vikander, uma atriz talentosa que não era tão bem aproveitada desde seu papel em "A Garota Dinamarquesa", que lhe rendeu um Oscar em 2016. Sua presença em cena é cativante e vê-la deslizar pelos cenários com seu colant vampiresco é um prazer que recomendo ser desfrutado na tela grande.

Outra estrela inegável da série é Vincent Macaigne –ele próprio um premiado realizador de curtas na vida real–, que interpreta o diretor fictício René Vidal com um repertório surpreendente de tons e estados de espírito.

Os elogios podem ser estendidos a colaboradores regulares de Assayas que completam o elenco: Nora Hamzawi, extremamente hábil como a diretora-assistente Carla, que tenta navegar as águas turbulentas da filmagem; Jeanne Balibar como a figurinista charmosa e paqueradora Zoe; e Lars Eidinger no papel do repulsivo Gottfried, que toma a filmagem como um furação corrosivo.

A modelo Devon Ross é outra que merece menção, ao desempenhar com tranquilidade o papel de Regina, a assistente pessoal de Mira que é, acima de tudo, uma cinéfila e diretora principiante. A crença de sua personagem no cinema como magia vai permitir uma transição formal extremamente interessante para a série, que passa a explorar a distorção de imagens e a forma cinematográfica em todo o seu potencial imagético. É algo que, combinado com a trilha sonora de Thurston Moore, pode se tornar uma experiência sensorial inédita para muitos espectadores de streaming.

Outro ponto que se destaca na produção é a elegância absoluta da direção de Assayas. E não me refiro apenas ao excepcional figurino de Jürgen Doering ou à coreografia de cena do genial Angelin Preljocaj (que aparece em alguns episódios em ação fazendo o que faz de melhor: desenhando os movimentos de Irma Vep).

O cuidado de Assayas com detalhes se estende ao roteiro, que é extremamente bem decupado e revela um verdadeiro tour de force do francês para dar conta de todas as tramas e linhas paralelas que a série aborda. Ainda que, no nível das cenas, alguns diálogos incomodem por serem mera recapitulação didática de pontos da trama original do filme de 1915.

Incomodam porque os fatos pouco interessam. "Irma Vep" é uma obra sobre performance. Obviamente da atriz Mira, que faz isso profissionalmente e também nas suas horas vagas. Mas, especialmente, do diretor René Vidal, que é obrigado, ele mesmo, a desempenhar essa função no trato com seus atores e sua equipe –ainda que ele falhe ocasionalmente, deixando seu sofrimento profundo transbordar para fora da sala de terapia.

Para alguém que trabalha no audiovisual e se interessa profundamente pela forma pela qual se conta uma história, é muito interessante ver a inquietude de um artista como Olivier Assayas, que continua se desafiando e buscando alguma coisa que nem ele bem sabe o que é. "Irma Vep" é uma anomalia no mundo do streaming. Porque é difícil de classificar. Porque é cinema dividido em partes. Porque Assayas não presta contas para o mundo, mas para si mesmo. Porque ele, como, como declarou em Cannes, está perdido. E nós adoramos isso.

Helen Beltrame-Linné​, FSP 

Roteirista e consultora de dramaturgia, foi diretora da Fundação Bergman Center, na Suécia, e editora-adjunta da Ilustríssima

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13/10/22

Conversando sobre o faroeste italiano

Não se deve esquecer que o western corresponde não apenas à história dos Estados Unidos – para os europeus, representa à saga dos nibelungos. ('Afinal quem faz os filmes', Peter Bogdanovich, p. 234, Companhia das Letras, 2000).

No período de 1966 a 1970 o cinema italiano foi contaminado pelo faroeste. Já nos estertores do neorrealismo, apareceram estes filmes com uma cinematografia diferente do western USA. Aproveitavam-se da linguagem, mas queriam algo diferente do bem e mal, mocinho e bandido e ação pela ação. Inseriam as questões sociais, o existencialismo, o barroco e até o surrealismo. Almería, na Espanha, se tornou o cenário da roliudi do western com seus desertos e montanhas. O equivalente a Monument Valley dos faroestes de John Ford.

Alguns destaques relevantes desta onda de faroestes italianos: os três Sérgios – Corbucci, Leone e Sollima, Damiano Damiani, Enzo G. Castellari e outros

Abaixo, alguns filmes clássicos destes nibelungos italianos. Dicas para iniciar esta revisão: O Vingador Silencioso, Keoma, Corre Homem, Corre e Gringo, Quién sabe?

O Vingador Silencioso, Il grande silenzio, 1968, Sergio Corbucci

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Os Cruéis, I crudeli, 1967, Sergio Corbucci

O Especialista - O Vingador de Tombstone, Gli specialisti, 1969, Sergio Corbucci

Sobre Sergio Corbucci(1926–1990)

Keoma, 1970, Enzo G. Castellari

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Django, 1966, Sergio Corbucci

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Corre Homem, Corre, Corri uomo corri, 1968, Sergio Sollima

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Era uma Vez no Oeste, C'era una volta il West, 1968, Sergio Leone

Gringo, Quién sabe?, 1967, Damiano Damiani

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E Deus Disse a Caim, E Dio disse a Caino...,1970, Antonio Margheriti

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Django Vem Para Matar, Se sei vivo spara, 1967, Giulio Questi

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