terça-feira, 25 de outubro de 2022

Filmes parte 26

O Último Samurai do Oeste, Il bianco il giallo il nero, 1975, Sergio Corbucci

Marcados pela Vingança, The Revengers, 1972, Daniel Mann

Justiça de um Bravo, The Jack Bull, 1999, John Badham

Sétimo Céu, 7th Heaven, 1927, Frank Borzage

O Anjo das Ruas, Street Angel, 1928

Estrela Ditosa, Lucky Star, 1929, Frank Borzage

Pinóquio, Pinocchio, 2022, Robert Zemeckis

Pinóquio, Pinocchio, 2019, Matteo Garrone

Poder e Luxúria, Los Borgia, 2006, Antonio Hernández

Páginas da Vida, O. Henry's Full House, 1952, Henry Koster, Henry Hathaway, Jean Negulesco, Howard Hawks, Henry King

A Embriaguez do Sucesso, Sweet Smell of Success, 1957

O Vingador Silencioso, Il grande silenzio, 1968, Sergio Corbucci

Os Cruéis, I crudeli, 1967, Sergio Corbucci

O Especialista - O Vingador de Tombstone, Gli specialisti, 1969, Sergio Corbucci

Keoma, 1970, Enzo G. Castellari

Django, 1966, Sergio Corbucci

Corre Homem, Corre, Corri uomo corri, 1968, Sergio Sollima

E Deus Disse a Caim, E Dio disse a Caino...,1970, Antonio Margheriti

Django Vem Para Matar, Se sei vivo spara, 1967, Giulio Questi

The West, Minissérie de televisão, 1996, Stephen Ives

Vidas Secas, 1963, Nelson Pereira dos Santos

Gringo, Quién sabe?, 1967, Damiano Damiani

Longe do Vietnã, Loin du Vietnam, 1967, Direção: Joris Ivens William Klein Claude Lelouch

Reinado do Terror, Terror in a Texas Town, 1958, Joseph H. Lewis

Um Homem Dificil de Matar, Monte Walsh, 1970, William A. Fraker

A Guerra dos Botões, War of the Buttons, 1994, John Roberts 


12/09/22

O Último Samurai do Oeste, Il bianco il giallo il nero, 1975, Sergio Corbucci

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Século 19. Um grupo da delegação japonesa chega aos EUA para entregar um pônei de presente do imperador do Japão para o presidente norte-americano. Para os japoneses o pônei é algo divido e ele é protegido por um samurai. Contudo, um grupo de índios renegados ataca o comboio e rouba o animal. A delegação oferece aos índios um milhão de dolares em dinheiro que será entregue por Gideon (Eli Wallach), o xerife local e Sakura (Tomas Milian), um servente japonês que acredita ser um samurai. Adorocinema 

14/09/22

Marcados pela Vingança, The Revengers, 1972, Daniel Mann

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Vaqueiro vê a família ser massacrada por bando de índios e ladrões de cavalos, liderados por dois homens brancos, que fogem para o México e escapam da polícia americana. O vaqueiro arregimenta seis fugitivos da prisão e parte para a vingança. Filmow 

15/09/22

Justiça de um Bravo, The Jack Bull, 1999, John Badham

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A violência está tomando conta do interior americano na virada do século. A falta de justiça está obrigando famílias a usarem suas armas para garantir a sobrevivência. Homens como Myrl Reddings, um jovem criador de cavalos foi obrigado a deixar parte de sua criação como pagamento de um pedágio, e conseguir passar com seus animais nas terras de um ganancioso fazendeiro. Cansado desse absurdo e sem ver nenhuma ajuda do governo, Myrl declara guerra contra o fazendeiro. Para Myrl só existe um meio de fazer justiça: a bala. Filmow 

16/09/22

Tempo para Frank Borzage

Sétimo Céu, 7th Heaven, 1927, Frank Borzage

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Sobre Frank Borzage (1894–1962)

Estar no sétimo céu significa estar pleno de felicidade, estar no paraíso. A expressão é usada por muitas pessoas, mas são poucos os que sabem de sua origem religiosa. Para os judeus, o sete é considerado um número perfeito. No cristianismo e no Islã, religiões que sofreram influências do judaísmo, também há essa visão. Por isso no Alcorão o mundo espiritual é dividido em sete camadas, sendo a sétima a mais alta, ou o trono de Alá. Culturamix

O SÉTIMO CÉU - DO CINEMA MUDO AO FALADO 

A obras primas do cinema lançou "Sétimo céu", drama romântico adaptado pelo menos duas vezes, versões estas neste incrível lançamento, uma dirigida por Frank Borzage e outra por Henry King. Borzage era especialista de dramas românticos. Seu "Sétimo céu" é quase um melodrama de Douglas Sirk.

Existe uma diferença básica entre as duas produções: um é mudo, o outro não. E com isto, no filme mudo, havia a necessidade de maior ênfase na expressão corporal e facial, para que a audiência compreendesse melhor a representação. Isto causa certa estranheza nas plateias atuais, mas que favoreceu muito as comédias (a maioria dos grandes comediantes eram desta época), o fazia com que os dramas (como o sétimo céu) fossem preferencialmente baseados em peças teatrais, pois eles pegavam as referências do que fazer em cena e como aturar, de forma que a audiência entendesse cada expressão.

O público obviamente entendeu, tornando o filme a 13ª maior bilheteria do cinema mudo nos EUA, além do filme ter arrebatado alguns Oscars (Melhor atriz - Janet Gaynor; Melhor diretor - Frank Borzage; Melhor roteiro adaptado - Benjamin Glazer)

O céu de Borzage

O filme é baseado em uma das peças de teatro mais famosas da Broadway na década de 1920,  e conta a história  de Chico (Charles Farrell), que trabalha nos esgotos de Paris. Ele sonha conseguir um emprego melhor, assim como sonha em conhecer uma mulher com se case. E aparece Diane (Janet Gaynor), uma bela mulher que está sendo procurada pela polícia por crimes pequenos. Chico a ajuda a se esconder e logo os dois se apaixonam. Apesar das dificuldades, eles estão felizes e se casam, mas Chico é chamado para lutar na I Guerra Mundial. Por um mal entendido, chega a notícia de que ele teria morrido, fazendo com que ela entre em colapso, ao mesmo tempo em que Chico, vivo mas ferido e cego, precisa retornar para casa.

Borzage consegue algumas cenas sensacionais. Achei interessante demais como cada tomada do filme pede James Stewart, mas ele só estará na segunda versão. O final do filme simboliza, não só que a luta nunca acabará, como é necessário amor para o fardo ficar mais leve.

O céu de King

Por outro lado, King faz o mesmo filme parecer diferente. Menos melodramático, não menos emocionante. King tinha mais ou menos a mesma experiência que Borzage, ambos realizando em torno de 100 filmes, sendo King um dos fundadores da Academia de Artes Cinematográficas (o Oscar).

O filme conta a mesma história: um rapaz trabalhador nos esgotos de Paris, passa o tempo tentando mudar de vida e encontrar uma bela esposa, já começa a perder as esperanças e transformar-se em um cínico. Um dia resgata uma jovem da polícia e leva-a para viver com ele, em um pequeno apartamento situado no sétimo andar.  Mas ele abre espaço para James Stewart, que é perfeito para o papel. Aliás, tanto ele quanto Henry serviram na segunda guerra.

Mas afinal, qual é melhor?

Bom, o segundo filme tem meia hora a menos, e é impressionante como faz diferença na tela. Menos informações limitaram a história. O famoso "menos é mais" aqui não funcionou. Por outro lado, a dupla King e Stewart é melhor. James tinha mais da aura do personagem central. Mas mesmo que Henry King tenha feito filmes melhores e mais importantes, esta história favorecia Borzage com relação ao estilo de direção. Borzage fez vários similares. Mas no final, quem ganha são os colecionadores, com esta edição maravilhosa que é um prato cheio para os cinéfilos e curiosos perceberem as diferenças e julgarem qual é o melhor.

16/09/22

O Anjo das Ruas, Street Angel, 1928

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Anjo das Ruas (Street Angel/ 1928), Isabel Wittmann, 06/02/2013

A tarefa de assistir esse filme foi muito proveitosa. Anjo das Ruas é um filme de transição do cinema mudo para o cinema falado. Embora o filme ainda não tenha as falas propriamente ditas, ele já foi distribuído com o som, incluindo trilha sonora composta de forma sincronizada com as cenas, alguns ruídos e assobios (que possuem papel importante na história).

Trata-se de um melodrama em que uma jovem, Angela, com sua mãe doente, precisa ir às ruas se prostituir para conseguir pagar o remédio. Apesar disso sua mãe falece e ela se une a uma trupe de circo, tornando-se desiludida com o amor. Até conhecer Gino, um pintor de rua que pretende casar-se com ela. A trama se passa na Itália.

Visualmente o filme é muito bonito: apela para luzes e sombras quase expressionistas. A atriz encarna bem a beleza das mocinhas da década de 1920, com rostos delicados e boca pintada em forma de coração. A história, que tem uma pitada de simbolismo religioso, pode parecer piegas, água com açúcar ou exagerada se não desligarmos nosso cinismo do século XXI ao assistir. Eu fiz isso e mergulhei no que vi e me emocionei.

Mas o mais impressionante mesmo é o uso do som. Tudo parece perfeitamente sincronizado, mostrando emoções e ilustrando ambientes. Em nenhum momento os diálogos fazem falta. Nunca havia visto um filme dessa forma: os filmes mudos que eu assisti não possuíam som projetado para eles, apenas aquela trilha sonora genérica que deveria acompanhá-los. Foi uma experiência muito interessante e o filme vale a pena.

17/09/22

Estrela Ditosa, Lucky Star, 1929, Frank Borzage

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Sobre Janet Gaynor (1906–1984) 

"In September 1982, Ms. Gaynor, who was 75, was seriously injured in a San Francisco taxi cab accident which also injured her husband, executive producer Paul Gregory, and actress Mary Martin. The accident proved fatal for Martin's agent, Ben Washer. Gaynor suffered 11 broken ribs, a ruptured bladder, a broken collar bone, a bleeding kidney, and multiple pelvic fractures. She was to endure a number of operations in the next year and grew weaker until her death in 1984."

Estrela Ditosa (1929) / Lucky Star (1929)

A Primeira Guerra Mundial é um período fantástico para ser estudado – e uma experiência terrível para ser vivida. Muitos soldados que sobreviveram voltaram para casa desfigurados ou permanentemente incapacitados. “Estrela Ditosa” conta a história de um destes soldados – e também é provavelmente o único filme da história a ter uma briga entre duas pessoas no topo de um poste de telefonia.

Em uma área rural pobre vivem Mary e Tim. Mary (Janet Gaynor) é uma garota que precisa cuidar dos irmãos mais novos e ainda ajudar a mãe com as tarefas da fazenda. Tim (Chares Farrell) trabalha consertando postes de telefonia, e com ele trabalha o preguiçoso Martin Wrenn (Guinn Williams). Mary e Tim se conhecem quando ela entrega dois galões de leite para os rapazes, e enquanto ela está lá tentando arrancar cinco centavos a mais de Wrenn, Tim ouve a notícia de que foi declarada guerra.

O primeiro encontro deles não foi muito agradável. Quando Tim percebe que Mary estava mentindo sobre não receber os cinco centavos de Wrenn, ele dá uma surra nela, e a deixa possessa. Mesmo assim, ela sente falta dele e dos outros homens quando eles vão para a França. Ela escreve para Tim e Wrenn, mas é mais educada com Wrenn. Mesmo na guerra, Wrenn não mudou: ele não está interessado em seu dever cívico, mas sim em conhecer moças francesas. O contraste é claro quando temos cortes rápidos entre Wrenn, dirigindo um caminhão para encontrar mulheres, e Tim, usando um vagão movido a cavalo para levar sopa para  os soldados nas trincheiras.

Depois de um ano a França e outro ano no hospital, Tim volta para casa em uma cadeira de rodas. Mary se surpreende ao vê-lo assim, e fica mais surpresa ainda ao ver como ele já se adaptou à cadeira de rodas – ele gira, vai para todo canto dentro de casa e até dá marcha à ré. Mary começa a visitá-lo sempre, animada para ver as coisas que ele está inventando. Tim primeiro quer protegê-la e zoá-la, como se faz com uma irmãzinha, mas depois ele percebe que está apaixonado por ela.

E Wreen ainda não aprendeu nada. Ele foi expulso do exército, mas ainda usa seu uniforme – pior, ele diz à mãe de Mary que foi promovido de sargento a major. Ele usa o uniforme e promessas falsas de casamento para enganar garotas, e escolheu Mary como a próxima vítima.

Tim se entristece porque se sente solitário. Ele fica em casa 24 horas por dia porque não há acessibilidade do lado de fora. As coisas ficam ainda piores quando começa a nevar – algo que é um desafio para as pessoas em cadeiras de rodas ainda hoje. Logo após a Primeira Guerra Mundial, as cadeiras de rodas eram só cadeiras modificadas, e fica claro que o modelo usado por Tim se popularizou a partir de 1880, por causa da roda traseira. É prática, sim, mas não é suficiente para promover a socialização, como o filme mostra.

Tim não quer que as pessoas tenham pena dele. E esta é a primeira coisa que precisamos saber ao lidar com deficientes: eles não querem pena. Tratá-los de maneira diferente, especial, é mais um insulto que um favor. Eles não querem privilégios. Eles querem ser tratados como seres humanos, com algumas necessidades especiais. Mesmo que o termo “necessidades especiais” não seja bem aceito, é a verdade: alguém como Tim, em uma cadeira de rodas, precisa de algumas mudanças no local em que vivem para que possam viver normalmente. Estas mudanças são pequenas, coisas que podem ser feitas facilmente e que beneficiam a todos, porque conviver com pessoas diferentes é enriquecedor para todos.

Além de termos Tim convivendo com a deficiência, temos Mary vivendo em uma família abusiva. Ela é explorada pela mãe (Hedwiga Reicher) e apanha com frequência. A mãe também detesta Tim e o chama de “aleijado”. Ela só está interessada nos presentes que Wrenn traz e nas falsas promessas dele de dinheiro para a família se Mary se casar com ele.

Charles Farrell era um ator muito bonito, mas hoje está quase esquecido. Em “Estrela Ditosa”, ele mostra que também era excelente ator. Seus esforços com as muletas me lembraram da atuação de Lon Chaney, ao mesmo tempo difícil de ver e hipnotizante. Obviamente, para que o roteiro funcione, o progresso de Tim é muito rápido, mas “Estrela Ditosa” foi feito para ganhar dinheiro em cima da química da dupla Farrell e Gaynor, e não para dar esperança para as pessoas que se tornaram deficientes após a guerra.

A direção de arte é hipnotizante desde o primeiro segundo de projeção. As casas podem ser pobres, mas são construídas de maneira estilizada, e criam um contraste interessante com as montanhas e o céu ao fundo. Borzage fez alguns filmes visualmente maravilhosos nos anos 20 e 30 – eu particularmente aprecio o subestimado “Liliom”, de 1930. “Estrela Ditosa” é mais um desses belos filmes.

A “Estrela Ditosa” que conhecemos hoje não é a versão original entregue pelo mestre Frank Borzage. De acordo com resenhas de 1929, o filme era parcialmente falado, com efeitos sonoros e diálogos perto do final. Entretanto, “Estrela Ditosa” foi considerado perdido durante muitas décadas. Felizmente, uma cópia foi encontrada em um arquivo da Holanda, e os intertítulos foram reconstruídos através de pesquisa e com ajuda do roteiro original. Uma nova trilha sonora foi composta, mas infelizmente a trilha original com diálogos ainda não foi encontrada.

“Estrela Ditosa” é uma das 12 colaborações entre Charles Farrell e Janet Gaynor. Eles eram tão convincentes como um casal que vários presentes chegavam todas as semanas aos estúdios da Fox para o “aniversário de casamento” deles. Obviamente, eles não eram casados. E obviamente, um homem em uma cadeira de rodas não consegue se recuperar com aquela rapidez. Mas “Estrela Ditosa” é um destes filmes em que devemos suspender o senso muito crítico para apreciá-lo por completo. É belo, romântico e nos dá esperança. Ditosos somos nós!

17/09/22

Pinóquio, Pinocchio, 2022, Robert Zemeckis

ANÁLISE 

Dentre todas as animações clássicas da Disney, Pinóquio é facilmente uma das que mais possui destaque. Sendo a primeira produção a receber dois Oscars e tendo sua música tema como um marco da história do cinema, o desenho de 1940 vive em nossa memória até os dias atuais.

A beleza de Pinóquio está na simplicidade de sua história e na ingenuidade do boneco de madeira, que tem como seu único objetivo se tornar um menino de verdade. As desventuras vividas por ele e seu amigo Grilo Falante são angustiantes, mas ao mesmo tempo instigantes, nos fazendo torcer para que eles consigam encontrar logo o caminho de casa.

Todas as lições proporcionadas por Pinóquio são conduzidas, na animação, pela emoção. Saber que uma pequena criança precisa fazer diversas escolhas que, algumas vezes, até os adultos têm dúvidas, é algo imersivo. E há um certo terror em algumas passagens da história, o que causava impacto nas crianças que assistiam.

De certa forma, Pinóquio ajudou a pavimentar o caminho para outras grandes animações da Disney que vieram depois dele. Se Branca de Neve foi o grande breakout, Pinóquio manteve o público interessado pelos próximos capítulos que o mundo mágico do Mickey poderia oferecer.

Dito isso, o live-action de Pinóquio é, infelizmente, muito aquém do esperado. Apenas o seu primeiro arco funciona com eficácia, fruto da fidelidade à animação de 1940. A partir do momento em que Pinóquio deixa a casa de Gepeto e ganha o mundo, o roteiro de Robert Zemeckis e Chris Weitz adapta situações em uma escala exagerada, e o CGI que caminha no vale da estranheza não ajuda em nada a criarmos uma conexão com o famoso boneco de pinho.

Mesmo com Tom Hanks dando vida a Gepeto, que é claramente uma excelente escalação, todo o restante que envolve Pinóquio não parece funcionar. É impossível não reparar nos cenários, que parecem ser todos feitos de CGI. Por vezes, parece que a escala dos atores em relação a Pinóquio se torna desproporcional, principalmente no arco da Ilha dos Prazeres.

Os momentos em que Pinóquio interage com Sabina, a marionete que ganha vida pelas mãos de Jaquita Ta’le e com o Grilo, dublado por Joseph Gordon-Levitt, são os únicos que realmente tem alguma sinergia, mas o restante passa a ideia de uma história mal lapidada.

Por se tratar de uma adaptação live-action é compreensível que os realizadores queiram trazer elementos novos, pois é uma forma de criar surpresas para o público. Entretanto, as escolhas criativas de Zemeckis e Weitz não são boas, tornando o final do filme muito anticlimático.

Um ótimo storyteller, com grandes feitos em sua carreira, Zemeckis era uma ótima escolha para essa adaptação, mas infelizmente o resultado final está muito abaixo de sua trajetória no cinema. Pode ser, também, que o modelo de live-action não seja a melhor escolha para Pinóquio, e que sua história esteja melhor preservada no formato de animação. O fato é que o personagem merecia um filme melhor, que preservasse seu encanto e realmente pavimentasse o caminho para que uma nova geração se apaixonasse por suas desventuras.

Ao término da produção, a sensação é que, nesse caso, menos seria mais. O excesso de CGI e mudanças na história acaba fazendo com que Pinóquio não funcione da maneira que deveria, o que é uma lástima.

VEREDITO

Pinóquio é um live-action que não consegue encantar. Com um uso extremo de CGI, a produção perde por não se ater à simplicidade e doçura da história do boneco que queria se tornar um menino.

Pinóquio (2022) - Crítica: remake mentiroso (Disney +) vídeo 

 18/09/22

Pinóquio, Pinocchio, 2019, Matteo Garrone

“PINÓQUIO” E A REINTERPRETAÇÃO DE UM CLÁSSICO

LARISSA VASCONCELOS, 21 DE JANEIRO DE 2021 

As adaptações em live-action estão cada vez mais comuns e criam novas interpretações de animações clássicas, o que nem sempre dá certo. Mas não é o caso deste “Pinóquio”, produção italiana dirigida por Matteo Garrone (“Gomorra”, “Dogman”) e protagonizada pelo garoto Federico Ielapi (que estreou no cinema na comédia “Funcionário do Mês”, de 2016).

Nesta versão da história criada pelo também italiano escritor Carlo Collodi, em 1883, somos levados a um vilarejo devastado pela pobreza e pela fome, onde conseguimos entender melhor a vida de Gepeto, um marceneiro que, mesmo solitário, possui muita esperança pela vida. Parte desse sentimento se deve à atuação sempre otimista e profunda de Roberto Benigni (“A Vida é Bela”), atuação esta que marca o seu retorno ao cinema após um hiato de oito anos. Vale lembrar, o mesmo Benigni dirigiu (e protagonizou) uma adaptação de “Pinóquio”, em 2002, que foi muito mal recebida.

Os estranhamentos com este novo longa começam com a caracterização e a maquiagem dos personagens animais, como o Grilo Falante, o Gato, a Raposa e a Caracol. O trabalho é muito bem realizado e traz um ar sombrio e um tanto exagerado, fazendo o design das criaturas lembrar o universo de Tim Burton. Porém, mesmo com o possível desconforto que esse visual possa causar, é possível adentrar naquele mundo de imaginação que traz a ideia de um boneco se transformar em um “menino de verdade” — e a textura da maquiagem feita em Ielapi é particularmente eficaz, dando a impressão de que há mesmo madeira na composição de seu rosto.

Mesmo sendo uma reinterpretação, o longa mantém os valores da animação da Disney, de 1941, como a importância de valorizar o estudo e de não mentir, aspectos mais essenciais do que nunca em um mundo com tantas notícias falsas. Além disso, é um filme que traz a inocência dos contos de fada, daqueles que nos teletransportam para nossa infância e criam a esperança de um mundo mais puro, como o olhar do nosso herói.

Mas fica também um alerta para os fãs da animação clássca: o ritmo deste novo “Pinóquio” é bastante lento, o que pode ser incômodo. A montagem é de Marco Spoletini, frequente colaborador de Garrone, e determinados momentos podem gerar cansaço no espectador, devido à pouca ação entre os atos. Por outro lado, o longa chama a atenção pela fotografia de Nicolai Brüel (que trabalhou com Garrone em “Dogman”), que faz bom proveito da luz em suas várias nuances, principalmente nas cenas da Fada Azul (interpretada pela francesa Marine Vacth, de “Jovem e Bela” e “O Amante Duplo”). A trilha sonora também é uma marca importante, assinada por Dario Marianelli (vencedor do Oscar por “Desejo e Reparação”). A música torna o longa mais intimista e acolhedor, contrastando com as dificuldades vividas por Pinóquio durante sua jornada.

“Pinóquio” deixa uma divisão de sentimentos entre a nostalgia de revisitar um clássico da infância e a construção de um novo ponto de vista para narrar a história do personagem no cinema. Um ponto de vista mais consciente, mais duro e mais triste. Uma realidade que, infelizmente, era mais comum na época em que Carlo Colodi escreveu a história original e que, muitas vezes, é esquecida a fim de amenizar um conto infantil.

19/09/22

Poder e Luxúria, Los Borgia, 2006, Antonio Hernández

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Itália, século XV. Rodrigo Borgia é um maquinador astuto. Por trinta anos ele trabalhou na Igreja Católica Romana e agora foi eleito papa pelo Colégio de Cardeais. Borgia não tem motivos religiosos, é tudo uma questão de poder para ele. Com seu poder papal, ele inicia um reinado de terror, eliminando rivais. Uma nova era vai começar para a família Borgia, ele pensa, e seus quatro filhos são os peões mais importantes. Sua linda filha Lucrécia Bórgia e o filho passivo Jofré se casam para estreitar os laços com famílias rivais. O mesmo vale para Juan, que também foi nomeado capitão do exército do Vaticano. O primogênito de Rodrigo, César Bórgia, agora é cardeal. Ele não gosta de tudo. Como o lutador nato da família, ele se vê mais adequado à posição de Juan. Cesare fica cada vez mais insatisfeito como cardeal e cada vez mais agitado com a família. Então Juan morre repentinamente após uma agressão. Looke 

Sobre César Bórgia: Recebeu o título de gonfaloneiro da igreja pelo seu pai após conquistar Imola e Forlì e foi uma forte influência no livro OPríncipe , de Maquiavel, com o qual conviveu diversas vezes e o qual elogiou abertamente César na sua obra

20/09/22

Páginas da Vida, O. Henry's Full House, 1952, Henry Koster, Henry Hathaway, Jean Negulesco, Howard Hawks, Henry King

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Cine Antiqua apresenta um antológico filme hollywoodiano, composto por cinco histórias baseados nos contos de O. Henry, importante literato norte-americano. Produzido por André Hakim, cada episódio é dirigido por um grande diretor: Henry Hathaway, Howard Hawks, Henry King, Henry Koster, Jean Negulesco. A trilha sonora foi composta por Alfred Newman e o filme é narrado pelo autor John Steinbeck, que faz uma rara aparição em câmera para introduzir cada história. - O Policial e o Hino (The Cop and the Anthem) Um sem-teto fica frustrado pelas inúmeras tentativas de ser preso e encarcerado por 90 dias em uma cela quente ao invés de enfrentar os rigores de um inverno de Nova Iorque. Direção: Henry Koster - Estrelando: Charles Laughton, Marilyn Monroe e David Wayne. - O Toque do Clarim (The Clarion Call) Um detetive da Policia de Nova Iorque tem uma crise de consciência quando fica dividido entre o dever de prender um amigo de infância por um crime que só ele sabe e a dívida de honra que ainda tem para com o amigo. Direção: Henry Hathaway - Estrelando: Dale Robertson e Richard Widmark. - A Última Folha (The Last Leaf) Uma jovem ingênua pega pneumonia depois de ser seduzida e abandonada por ator venal. Quando perde a vontade de viver, sua irmã e um excêntrico artista de Greenwich Village tentam ajudá-la a sobreviver. Direção: Jean Negulesco - Estrelando: Anne Baxter, Jean Peters e Gregory Ratoff. - O Resgate do Chefe Vermelho (The Ransom of Red Chief) Dois vigaristas trapalhões sequestram o filho de um xerife rural, mas começam a achar que pegaram mais do que podem lidar. Direção: Howard Hawks - Estrelando: Fred Allen, Oscar Levant e Lee Aaker. - O Presente dos Reis Magos (The Gift of the Magi) Um jovem casal pobre luta para pagar presentes de Natal dignos de seu amor. Direção: Henry King - Estrelando: Jeanne Crain e Farley Granger. Título: Páginas da Vida Título Original: Full House País de Produção: Estados Unidos Ano de Produção: 1952 Gênero: Drama Direção: Henry Koster, Henry Hathaway, Jean Negulesco, Howard Hawks, Henry King. Elenco: Charles Laughton, Marilyn Monroe, Richard Widmark, Anne Baxter, Fred Allen, Jeanne Crain, David Wayne, Dale Robertson, Jean Peters, Gregory Ratoff, Oscar Levant, Lee Aaker, Farley Granger.

“Páginas da Vida”, a linda adaptação dos contos de O. Henry 

PÁGINAS DA VIDA (1952) 

23/09/22

A Embriaguez do Sucesso, Sweet Smell of Success, 1957

O doce odor do sucesso, Sergio Augusto, O Estado, 14/09/2002

In Sergio Augusto, Vai começar a sessão – ensaios sobre cinema, p. 113, 2019, Objetiva

26/09/22

O Vingador Silencioso, Il grande silenzio, 1968, Sergio Corbucci

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Crítica | O Vingador Silencioso por Guilherme Coral, 27 de outubro de 2014

Mais uma vez, nas mãos de Sergio Corbucci, somos colocados diante de um impactante western spaghetti. Deixando os floreios e o heroísmo do apogeu do gênero para trás, o diretor constrói uma obra impactante e desoladora, que procura nos mostrar, de relance, a violência, a brutalidade do Velho Oeste. O filme, contudo, não nos leva aos cenários típicos, que já estamos acostumados, do faroeste. Ao invés disso, nos vemos diante de planícies gélidas, cobertas pela neve, trazendo uma nítida sensação de desolação e solidão, se encaixando perfeitamente com o título original da obra Il Grande Silenzio, ou “O Grande Silêncio”.

Vemos, portanto, que a projeção é sobre muito mais que apenas um homem mudo que procura vingar os injustiçados. Sim, O Vingador Silencioso coloca em cheque os motivos por trás da violência em tais regiões, culpando não só os ensandecidos caçadores de recompensa, como os banqueiros, o sistema judicial e a própria falta de ação por parte do governo. Para criar esse vívido palco, Corbucci opta por diminuir seu foco no protagonista, distribuindo-o por todos os personagens centrais exibidos. Portanto, pode-se dizer que o personagem principal é o homem mudo conhecido como Silencio (Jean-Louis Trintignant) ou, em seu lugar, o matador Loco (Klaus Kinski), que, definitivamente conta com maior tempo em tela. De fato, pouco importa quem é ou não é o protagonista, pois o que vemos aqui, na neve, muito bem se estende para as cidades e estados pouco mais ao sul do país.

Nos prendendo neste cenário, temos uma trama bastante simples, que sabe exatamente quais simbólicos elementos utilizar. A chegada de um novo xerife na cidade de Snow Hill, onde a maior parte do filme se passa, indica o pouco poder que a lei ali, de fato, exerce. Temos nele o ensejo pela mudança, sendo um dos poucos personagens que procuram meios alternativos à costumeira violência. Sergio sabe utiliza-lo idealmente para construir seu drama, ocupando um papel central na narrativa, que, aos poucos, indica o que veremos nos minutos finais da projeção.

O Silêncio, por mais que pareça subutilizado ao longo da história, consegue demonstrar uma interessante profundidade. A princípio ele é aquele velho pistoleiro, o strong silent type. Aos poucos, contudo, vemos que há mais por trás disso, uma constante tristeza parece assolá-lo e os constantes closes conseguem transmitir isso sem o menor problema. O crescente afeto entre ele e a mulher que recentemente perdera o marido, por mais que pareça artificial em determinados pontos, cumpre o papel de deixar clara a solidão do personagem – aquele é seu momento de entrega, que, também funciona como a calmaria antes da tempestade.

O fatídico desfecho chega de forma imprevisível, por mais que marcas anteriores já deixassem claro o rumo que iríamos tomar. Aqui, a falta de identificação que temos com o Silencio prejudica o momento dramático. Felizmente, a memorável trilha de Ennio Morricone preenche esse vazio com melodias que perfeitamente reiteram o caráter desolador da região, daquele silêncio constante, que paira no ar, como a morte, que apenas espera para fazer sua triunfal entrada em cena.

Com esses inesquecíveis minutos finais, Sergio Corbucci encerra esse seu grande western, de caráter, ao mesmo tempo, épico e intimista. O Velho Oeste é mostrado de forma assustadoramente crua e violenta, nos deixando com um distinto nó no estômago após o término da projeção. Apesar de seus pontuais deslizes, O Vingador Silencioso certamente é uma obra que merece ser vista e revista.

O Vingador Silencioso, Il Grande Silenzio – Itália/ França, 1968

Direção: Sergio Corbucci, Roteiro: Mario Amendola, Bruno Corbucci, Sergio Corbucci, Vittoriano Petrilli, Elenco: Jean-Louis Trintignant, Klaus Kinski, Frank Wolff, Luigi Pistilli, Vonetta McGee, Mario Brega

A sádica morte do western spaguetti pelas mãos de um de seus criadores.

Victor Ramos | 04 de Abril de 2015 

O Vingador Silencioso (Grande silenzio, Il, 1968) é uma obra cabalística: trata-se da morte do western spaguetti justamente pelas mãos de um dos nomes que o fizeram nascer, sob uma trilha sonora bastante familiar (não minta: você não precisou puxar o nome de Ennio Morricone para saber que ele assinou) e em um contexto em que o subgênero já não vingava muito. O cenário não é tomado por tonalidades quentes; ainda que a técnica do Eastmancolor se faça presente em suas cores mortas (uma das principais características daqueles filmes italianos, a fotografia), a neve toma conta – se outrora todo aquele ambiente poeirento, cheio de montanhas, construía a visão de uma terra selvagem em um sentido mais histórico do homem e sua relação com a violência como forma de conseguir seus objetivos, a neve (mais à frente irei discutir melhor) no chamativo filme de Corbucci acrescenta um tom de melancolia, propondo algo mais intimista pelo constante uso do branco. Era uma vez no Oeste (C'era una Volta il West, 1968) e Pat Garrett & Billy The Kid (idem, 1973) cantaram o fim de um momento histórico e de um gênero, mas vale lembrar que O Vingador Silencioso é uma leitura mais voltada para o estilo, para as raízes estabelecidas na Itália, utilizando o contexto histórico dos EUA como superfície para algo mais pessoal – ou seja, é um trabalho que visa representar o trágico fim de um estilo tipicamente italiano; pura desculpa para Sergio Corbucci imprimir sua visão da coisa. Ao considerarmos que a torta imagem do herói do western spaguetti foi cativada em Django (idem, 1966), fica melhor compreensível essa relação simbólica de Corbucci com seu outro filme – sua grande obra-prima.

A desconstrução não ocorre apenas pelo cenário. Reparem na arma utilizada por Jean-Louis Trintignant sob a pele do justiceiro mudo; automática, sem permissões para a imagem de estilo que boa parte das figuras esboçou durante clássicos momentos de tiroteio; porque a imagem exposta por Trintignant é quase como se fosse a de um mensageiro da morte, que está ali não para mostrar o quão bom é em manejar armas de fogo, mas apenas para realizar seu automático e quase impessoal trabalho de tirar vidas. Mas O Vingador Silencioso (cujo roteiro foi escrito a oito mãos) é tão sacana que, não contente em utilizar um personagem subversivo dentro de um cenário subversivo, o coloca em próprio processo de desconstrução. Algo doentio, diga-se de passagem. Não existe espaço algum para o sentimento de esperança; é tudo tão direto, frio, que a narrativa cria uma atmosfera de densa tensão. Aquela imagem extraída na cena de abertura, nos créditos iniciais, com o justiceiro mudo sobre seu cavalo, que afunda as patas na grossa camada de gelo, já nos deixa em alerta para o que vem a seguir. E citar Morricone mais uma vez é obrigação; a coisa deve muito a ele – é um desafio assistir e não se arrepiar com a ambientação proposta pelo diretor, sob a companhia da música-tema.

O espetáculo de horrores é composto principalmente pelo que há de mais sujo que o western spaguetti sempre se comprometeu: desvirtuamento de valores éticos convencionais e a violência como algo inerente ao homem (Klaus Kinski, maravilhoso, expondo por palavras o tipo de homem que o Loco é, quando o Xerife é executado por suas mãos). E o aditivo do branco, o elemento que intensifica tudo. Sergio Corbucci descobriu que somar o branco da neve à condição de morte da qual todos os personagens compartilham (algo que parece ter inspirado Joaquín Luis Romero Marchent no chocante Condenados a Viver [Condenados a vivir, 1972]) daria a ele a carga psicológica precisa para narrar a morte do velho herói do Oeste – ou ao menos como passamos a conhecê-lo. O sangue manchando a neve cria um efeito incrível de fragilidade carnal, uma vulnerabilidade que está nos olhos e, sobretudo, no silêncio do justiceiro – dolorosa a cena em que pegam sua mão para colocar no fogo; notem em todo o cuidado de direção ao exprimir a agonia do personagem, tentando gritar, mas impossibilitado de realizar tal ato (momento sádico que termina por ser tonar mais árduo que o próprio fogo em si; as feições do Trintignant, se contorcendo, anulam qualquer necessidade de palavra).

O Vingador Silencioso é uma tragédia. É explícita a necessidade de utilizar o sofrimento para fins catárticos: o amor que é construído do nada, somente para ser terminado por meio de um banho de sangue, e a representativa morte do protagonista. Klaus Kinski, ao final, mata o justiceiro silencioso, e chora. A câmera enquadrada nos olhos de Kinski é uma coisa belíssima, pois transfere a pessoalidade de Sergio Corbucci para o olhar do homem responsável por matar o “herói” clássico, quase que um momento de abstração em relação à própria narrativa: ele atira, sem hesitar, sob o contexto mais imoral possível; mas ainda assim sente, pois sabe que aquela imagem acabou-se assim, como um lixo (sem voz, sem mãos, desarmado, impotente), e jamais voltará – é o reconhecimento de um antagonista em relação à importância icônica de seu inimigo numa relação de completude. Peguem personagens memoráveis como Django e Blonde, e mate-os; sob a ótica do Cinema, não são homens, mas sim símbolos – algo poderoso. É construído um funeral; sem o calor da vida (suja, errante, mas ainda vida), apenas o frio da morte de um grande símbolo, segundo um de seus criadores.

O Vingador Silencioso

Alexandre Guimarães | 24 de Julho de 2013 

É fato que Leone foi o maior diretor que já passou pelo western – talvez o maior diretor que já passou pelo cinema -, mas Corbucci também merece nosso respeito pelas suas obras que são no mínimo plausíveis. A mais famosa película do diretor é Django (Idem, 1966), um excelente exemplar do western à italiana, porém apesar de menos conhecido o seu melhor filme é O Vingador Silencioso. Um filme de dramaticidade e aspectos impares.

Um homem misterioso e mudo (Jean-Louis Trintignant) chega a uma pequena cidade em uma diligência com um xerife (Frank Wolff) e um caçador de recompensa (Klaus Kinski) e alguns cadáveres. Lá na cidade o mudo recebe uma proposta de uma mulher para que mate o caçador de recompensas, já que o mesmo assassinou o seu marido. O xerife, por sua vez, quer que a cidade siga em paz e faz e tudo para impedir confusões, mas a violência irá tomar de conta da cidade.

Os opositores do western spaghetti na época denominavam o gênero de “lixos de sangue”. O fato é que este é um dos filmes de maior nível de violência do spaguetti, e que de lixo não tem nada, apenas as revelações da podridão da sociedade americana em séculos passados que vem se estendendo até os dias de hoje. A ambição pelo poder, pelo dinheiro, o preconceito, e a grande revelação final que causa grande impacto, são temas tratados na maioria dos faroestes italianos, que resultam em protestos americanos que ficam contra o sub-gênero, por conta de revelarem a escória da sociedade americana do qual teimam em conter os fatos.

Corbucci é um diretor acima da média. Sabe muito bem como conduzir um clímax e uma história, suas cenas violentas intensamente dirigidas nos impulsionam a um resultado de extrema eficiência. O diretor sempre preserva a mística por trás do personagem principal, anexando o seu passado, os motivos – apesar de já telegrafados -, e o Silencioso é de uma estranheza abissal. Em Django, diretor conseguiu como nunca preservar o mistério do caixão, no qual havia uma metralhadora, mas o modo como o diretor criou um mistério em torno daquilo foi extraordinário. Direção formidável de Corbucci, principal responsável pelo excelente resultado do filme.

O responsável pela trilha sonora foi novamente o grande colaborador com o faroeste italiano Ennio Morricone. Por ser ele o compositor da trilha sonora do filme nem precisa dizer que a trilha é excelente, tem um dom natural e exuberante. Neste filme sua trilha é impactante, perturbadora e incomum resultando no que já foi citado no inicio do texto, em um tom de dramaticidade.

Montanhas quentes, arejadas, cenários em que a poeira toma conta de tudo. Não, O Vingador Silencioso não conta com estes aspectos tradicionais vistos na maioria dos westerns vistos. Os ambientes aqui retratados são frios, na neve. Deste modo o anti-herói consegue ainda mais enaltecer sua figura. Por falar no anti-herói, o ator responsável pelo papel, Trintignant, consegue de maneira magnífica exaltar sua personalidade. De poucas palavras, ou melhor, de nenhuma palavra, é de se elogiar sua interpretação assustadora, que resulta em um personagem do estilo perfeito de um pistoleiro exigido pelo público.

Por fim, O Vingador Silencioso consegue transmitir toda a adrenalina que carrega. O melhor filme do italiano Sergio Corbucci, que demonstra sua capacidade em roteiros e direção. Mesmo Django sendo mais conhecido, este consegue ser mais eficiente e explora mais os seus temas.

O VINGADOR SILENCIOSO 

Dentro do que se convencionou chamar de Western Spaghetti ou Faroeste à Italiana, o cineasta Sergio Corbucci era conhecido como “o outro Sergio”. Isso se devia pela fato de seu grande amigo, Sergio Leone, ser o “Sergio” titular dessa leva de faroestes feitos na Itália entre 1964 e 1973. Leone começou tudo com a famosa Trilogia dos Dólares, estrelada por Clint Eastwood. Mas Corbucci definiu alguns parâmetros com seu Django, de 1966 e, principalmente, dois anos depois com este O Vingador Silencioso. O roteiro dos irmãos Bruno e Sergio Corbucci, escrito junto com Vittoriano Petrilli e Mario Amendola, nos apresenta o justiceiro mudo vivido pelo francês Jean-Louis Trintignant. Ele é contratado por Pauline (Vonetta McGee), uma das vítimas do bando liderado por Loco (Klaus Kinski). A partir daí temos uma grande caçada nas terras geladas do estado de Utah, nos Estados Unidos. Diferente do pistoleiro que falava pouco na pele de Eastwood, a personagem de Trintignant não fala por conta de uma situação traumática do passado. Mais isso não é a única ruptura narrativa de O Vingador Silencioso. Há também a presença de Vonetta McGee e sua Pauline, uma mulher negra que se envolve com o herói, algo que nunca tinha sido mostrado nas telas até então. Isso, para muitos estudiosos, teria sido a razão principal para que a obra não fosse bem aceita no mercado americano. O futuro se encarregou de provar como Corbucci estava bem à frente de seu tempo. Inclusive pela maneira que a história é concluída. Por fim, uma curiosidade: a “neve” do filme era, na verdade, creme de barbear.

The Great Silence

O Western Spaghetti, a variante italiana do gênero, Maurício Oliveira, 05/06/2021 

Ennio Morricone ‎– Il Grande Silenzio (Dalla Colonna Sonora Originale Del Film) 

27/09/22

Os Cruéis, I crudeli, 1967, Sergio Corbucci

Sobre Norma Bengell (1935–2013) 

Jonas (Joseph Cotten), um antigo oficial da Confederação, deseja reorganizar as suas antigas tropas no sudoeste para reavivar as lutas da Guerra Civil Americana. Com uma grande quantia de dinheiro roubado ele elabora uma rota para explorar o território inimigo. Enquanto isso, um de seus filhos viaja com uma viúva contratada em direção à um novo começo. Adorocinema 

 
Norma Bengell and Julián Mateos in Os Cruéis (1967)

28/09/22

O Especialista - O Vingador de Tombstone, Gli specialisti, 1969, Sergio Corbucci

Sobre Sergio Corbucci (1926–1990) 

O solitário Hud volta à Blackstone, buscando vingança contra o irmão, que foi erroneamente acusado de roubar um banco. Em busca do verdadeiro ladrão para limpar o nome do irmão ele se encontra em grande perigo com pessoas poderosas. Adorocinema  

 DVD Sergio Corbucci

Conversando sobre o faroeste italiano

Não se deve esquecer que o western corresponde não apenas à história dos Estados Unidos – para os europeus, representa à saga dos nibelungos. ('Afinal quem faz os filmes', Peter Bogdanovich, p. 234, Companhia das Letras, 2000).

No período de 1966 a 1975 o cinema italiano foi contaminado pelo faroeste. Já nos estertores do neorrealismo, apareceram estes filmes com uma cinematografia diferente do western USA. Aproveitavam-se da linguagem, mas queriam algo diferente do bem e mal, mocinho e bandido e ação pela ação. Inseriam as questões sociais, o existencialismo, o barroco e até o surrealismo. Almería, na Espanha, se tornou o cenário da roliudi do western com seus desertos e montanhas. O equivalente a Monument Valley dos faroestes de John Ford.

Alguns destaques relevantes desta onda de faroestes italianos: os três Sérgios – Corbucci, Leone e Sollima, Damiano Damiani, Enzo G. Castellari e outros

Abaixo, alguns filmes clássicos destes nibelungos italianos. Dicas para iniciar esta revisão: O Vingador Silencioso, Keoma, Corre Homem, Corre e Gringo, Quién sabe?

O Vingador Silencioso, Il grande silenzio, 1968, Sergio Corbucci

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Os Cruéis, I crudeli, 1967, Sergio Corbucci

O Especialista - O Vingador de Tombstone, Gli specialisti, 1969, Sergio Corbucci

Sobre Sergio Corbucci(1926–1990)

Keoma, 1970, Enzo G. Castellari

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Django, 1966, Sergio Corbucci

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Corre Homem, Corre, Corri uomo corri, 1968, Sergio Sollima

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Era uma Vez no Oeste, C'era una volta il West, 1968, Sergio Leone

Gringo, Quién sabe?, 1967, Damiano Damiani

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E Deus Disse a Caim, E Dio disse a Caino...,1970, Antonio Margheriti

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Django Vem Para Matar, Se sei vivo spara, 1967, Giulio Questi

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30/09/22

The West, Minissérie de televisão, 1996, Stephen Ives


The west série 

The west

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Ken Burns - The West. Ep. 06 - Fight No More Forever (1874 - 1877) 

Ken Burns - The West. Ep. 02: Empire Upon The Trails (1806 - 1848) 

Outros episodios em Michel


 
O verdadeiro velho oeste, Sérgio Augusto, O Estadão, 30/06/2001 


10/10/22

Vidas Secas, 1963, Nelson Pereira dos Santos

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‘Vidas Secas’, um clássico do cinema brasileiro, 11/04/2018

Em 2018, o filme ‘Vidas Secas’ completa 55 anos de história. Rodada na segunda metade do século 20, a produção de Nelson Pereira dos Santos é fundamental para entender a cultura brasileira

Ao longe, um horizonte. Vegetação rasteira e seca, com apenas uma única árvore, igualmente desolada. Longo tempo se passa, até que um pequeno grupo de pessoas surge, em meio a uma luz estourada. Eles andam de maneira lenta, sem rumo. Aos poucos, tem-se uma ideia melhor: trata-se de uma família perdida que se aproxima, tendo um cachorro à frente. O único som é seco e árido, semelhante ao barulho emitido pelo carro de boi.

Com pouco mais de 3 minutos de duração, essa abertura feita em um único plano-sequência (imagem sem cortes de câmera) se tornou uma das mais famosas do cinema brasileiro. Dirigido por Nelson Pereira dos Santos, o filme Vidas Secas entrou para a história em 1963 ao adaptar um clássico da literatura brasileira: o romance homônimo de Graciliano Ramos.

Em 2018, a produção de Santos completa 55 anos e o livro de Ramos, 80 anos. A temática sobre a indústria da seca que corrói milhões de brasileiros no Nordeste ainda continua contemporânea e comovente.

Tanto no filme quanto no livro, Vidas Secas conta a história de uma família formada por cinco integrantes: Fabiano, sinhá Vitória, menino mais velho, menino mais novo e a cachorra Baleia. Havia um papagaio, mas que foi devorado logo no início da narrativa. Afinal, os viventes precisavam se alimentar, tamanha era a fome até aquele momento.

Após a cena inicial de grande impacto visual, a família do vaqueiro Fabiano (Átila Iório) encontra um local para fixar residência, enquanto a chuva retorna ao sertão nordestino. Nesse meio tempo, o personagem consegue emprego e passa a ser explorado pelo Patrão (vivido pelo ator Jofre Soares) e depois pelo Estado.

As crianças, sinhá Vitória (Maria Ribeiro) e até mesmo a cachorra Baleia ganham momentos singelos durante a narrativa do filme. Assim como o livro, a versão cinematográfica também trata das agruras do homem; mas, claro, sem o mesmo mergulho na consciência das personagens feito na literatura de Graciliano Ramos.

Para muitos espectadores, o que salta aos olhos no filme é a denúncia das condições de exploração dos trabalhadores em um contexto de vantagens para quem ocupa as posições superiores, caso do Patrão e do Soldado Amarelo.

NEORREALISMO

Não por sinal, Nelson Pereira dos Santos é apontado como um dos grandes representantes da influência do Neorrealismo italiano no Brasil. Surgido na Europa após a Segunda Guerra Mundial, esse movimento cinematográfico encabeçado por nomes como Roberto Rosselini, Vittorio De Sica e Luchino Visconti caracterizou-se pelo uso de elementos da realidade numa peça de ficção, aproximando-se até certo ponto, em algumas cenas, das características do filme documentário. Ao contrário do cinema tradicional de ficção, o Neorrealismo buscou representar a realidade social e econômica de uma época.

No Brasil, a historiografia do cinema costuma dizer que Santos foi um dos precursores do movimento neorrealista em versão tupiniquim ao rodar Rio, 40 Graus (1955) e Rio, Zona Norte (1957). São dois filmes que desconstroem o mito da cidade maravilhosa em relação ao Rio de Janeiro. Logo em seguida, viria Vidas Secas (1963), que revela os mecanismos de opressão social nos rincões do Brasil profundo.

Além da temática, a adaptação de Nelson Pereira dos Santos tem uma linguagem própria no contexto do cinema: fotografia estourada, sem filtros para amenizar a luz (mérito do fotógrafo e produtor Luiz Carlos Barreto, o Barretão); longos planos-sequência; atores amadores; eliminação de trilha sonora; câmera na mão; poucos diálogos; narrativa guiada pelas imagens; entre outros.

Pode-se dizer que o diretor utilizou a linguagem cinematográfica para fazer a sua leitura pessoal da obra-prima do escritor alagoano.

CINEMA NOVO

Versão imortal do monumento literário Vidas Secas, o filme de Nelson Pereira dos Santos também faria à sua época escola dentro do mercado brasileiro. Na verdade, isso já havia ocorrido com Rio, 40 Graus e Rio, Zona Norte. O diretor fora apontado como o ponta de lança do Cinema Novo, um movimento cinematográfico no país que recebia influências das vanguardas europeias, caso da Nouvelle Vague francesa e do Neorrealismo italiano.

O diretor baiano Glauber Rocha (autor de clássicos como Deus e o Diabo na Terra do Sol) dizia que bastava uma câmera na mão e uma ideia na cabeça para fazer filmes que repensavam a realidade brasileira. Para essa turma, Santos conseguiu isso em Vidas Secas.

Mais do que isso, essa produção se tornou um dos filmes mais importantes para entender a cultura brasileira do século 20.


 

Antologia da Crítica Cinematográfica em Vidas Secas

Atílio AVANCINI e Juliana PENNA

13/10/22

Gringo, Quién sabe?, 1967, Damiano Damiani

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Quien sabe? (1966 / Realizador: Damiano Damiani), 13/10/2009

Motivado pela interessante interacção que se desenvolveu com a publicação da resenha de Vamos a matar, compañeros (1970) no blogue irmão Dementia 13, decidi abordar agora o filme Quien sabe?, mais conhecido por aí como A bullet for the general. Quien Sabe? é um excelente filme de contornos políticos realizado em 1966 pelo reconhecido intelectual de esquerda italiano, Damiano Damiani. A acção do filme desenrola-se no epicentro da revolução mexicana, condição que haveria de servir como elemento diferenciador dentro do género, carregando este tipo de filmes o rótulo de Zapata westerns. Pois bem, neste campo este título merece especial destaque já que terá sido o pioneiro!

Numa tentativa de rentabilização do sucesso que Quien Sabe? alcançaria, muitos outros Zapata westerns seriam lançados pelas produtoras cinematográficas ítalo-espanholas, mas só Damiani conseguiu fazer á primeira tentativa o que muitos outros cineastas jamais lograram nas suas carreiras - conceber um filme de fortes convicções políticas e ao mesmo tempo uma poderosa obra de entretenimento. O realizador sempre refutou a ideia de que Quien Sabe? é um western-spaghetti, mas sim uma critica ás incursões americanas na América do Sul, nomeadamente através dos conhecidos esquemas ilegais da CIA. O facto de a acção decorrer num ambiente western seria portanto uma mera casualidade. Teimas à parte, para a maioria dos mortais, Quien Sabe? contém todos os elementos do género, sendo por isso logicamente metido no grande saco do western-spaghetti. E se nos restringirmos ao subgénero Zapata, arrisco-me mesmo a considerá-lo o melhor de todos!

O elenco aqui compilado é todo ele de grande qualidade, o papel principal (El Chuncho) foi muito bem entregue ao magnífico actor italiano Gian Maria Volontè, certamente o único actor italiano que nunca deixou créditos por mãos alheias no cinema spaghetti, participando apenas em filmes dirigidos por realizadores comprometidos com as suas ideologias de esquerda. Terá porventura por isso ter perdido a hipótese de enriquecer rapidamente, mas por outro lado conseguiu um registo imaculado, com presença em filmes que se poderão todos eles considerar de topo (Per un pugno di dollari, Per qualche dollaro in più, Faccia a faccia).

A Lou Castel, que também teve uma curta mas interessante passagem pelo western-spaghetti (em que se destaca Requiescant), coube o papel de Bill “Niño” Tate, um gringo algo misterioso que transporta consigo uma bala de ouro e cujo único interesse parece ser o de enriquecer muito rapidamente. O terceiro nome do cartaz foi entregue ao arrepiante Klaus Kinski (Il grande silenzio, E Dio disse a Caino, Prega il morto e ammazza il vivo), um dos actores europeus que mais presenças teve neste tipo de cinema, e que pelas características físicas e tipo de interpretação demencial, tem um lugar especial nas minhas preferências. Kinsky desempenha aqui a personagem de Santo (meio-rmão de El Chuncho) um indivíduo cujas motivações religiosas não impediram o empunhar das armas em nome da libertação do povo mexicano.

Na vida real, Lou Castel foi parte activa no movimento maoista italiano

Damiani precisou de quase duas horas para contar esta excelente história, que não terá sido por acaso co-escrita com outro conhecido esquerdista italiano, Franco Solinas (que chegou a ser nomeado para um Óscar). O inicio das hostilidades não poderia ser mais violento, com um brutal fuzilamento de um grupo de peones pelo exército do governo mexicano. É aqui que nos cruzamos pela primeira vez com Tate, o gringo americano de intenções pouco claras. Fazendo-se passar por prisioneiro, o americano junta-se aos supostos revolucionários após o assalto feito por estes ao comboio militar em que seguia. Comboio esse que o próprio Tate faz deter - sem que isso o impeça de limpar o sebo quer a um soldado quer a um bandido.

A dualidade e falta de escrúpulos do personagem demarca-se em cada uma das suas acções, não obstante consegue cair nas graças de El Chuncho, o alegre homem do tambor e também líder do grupo de saqueadores revolucionários. Estes parecem no entanto importar-se muito pouco com os ideais revolucionários, estando mais interessados em roubar o máximo de armas aos soldados do exército para de seguida as vender à Revolução, encabeçada pelo General Elias. Este esquema interessa a Tate, cujo objectivo cedo se perceberá consistir em chegar suficientemente perto do General Elias, para assim lhe tirar a vida. Tate engendra assim uma série de assaltos a guarnições militares, que permitirá aos pseudo-revolucionários engrossar o seu stock e assim levá-lo ao quartel-general secreto do General Elias quanto antes…

Quien sabe?, que em Portugal foi lançado como "O mercenário” – por favor não confundir com Il Mercenario (1968) de Sergio Corbucci – teve honras de edição em formato DVD pela Prisvideo, fazendo parte da “Colecção western” da editora. Esta colecção foi lançada em caixas (mais ou menos) temáticas de duas unidades e peca apenas pela sua curta amplitude. Quien sabe? aparece incluído na designada “caixa spaghetti”, lado a lado com Il bianco, il giallo, il nero (1975), com o qual não vislumbro qualquer ponto de contacto. O conjunto vale sobretudo por este de que agora vos falo. O filme é apresentado em formato 16:9 com excelente qualidade de imagem e idioma original em italiano (curiosamente a informação do booklet indica o inglês). Vale a compra!

Publicado por Pedro Pereira

19/10/22

Longe do Vietnã, Loin du Vietnam, 1967, Direção: Joris Ivens William Klein Claude Lelouch

Roteiristas: Jean-Luc Godard (segment Camera-Eye) Chris Marker(supervising writer) Jacques Sternberg (segment Claude Ridder)

Crítica | Longe do Vietnã

por FredericoFranco, 6 de maio de 2020  

A década de 1960 foi um período turbulento da história da humanidade. Cresciam as tensões entre as potências mundiais, EUA e URSS, e grandes conflitos armados se iniciaram ao redor do mundo. As nações mais importantes do planeta encontravam-se em contextos políticos delicados e as massas reagem contra tiranos governos que haviam instaurado regimes tiranos em seus países. Desde a França até o Brasil, ocorriam importantes revoltas civis-populares que desafiavam a ordem vigente.

Dentro de uma lógica de desobediência de duvidosas regras normativas, insurgem nos quatro cantos do mundo movimentos cinematográficos dispostos a quebrar com paradigmas impostos pela indústria hollywoodiana. Batizados de nouvelle vague (“nova onda”), estas novas propostas estéticas ganharam força e popularidade. Na Ásia, a nouvelle vague japonesa marcou época com Toshio Matsumoto; Djibril Diop Mambéty marcou o cinema senegalês com seus inovadores filmes; já no Brasil, o cinema novo, capitaneado por Glauber Rocha, representa uma fundamental luta política de classes sociais no país tupiniquim. Contudo, a França é onde reuniram-se os membros mais famosos das nouvelle vague: Jean-Luc Godard, Agnès Varda, Alain Resnais e François Truffaut.

A partir de meados dos anos 60 os dois primeiros diretores franceses se voltaram para uma outra forma de crítica. Além de contrapor os paradigmas de Hollywood, inflamados pela conjuntura social pré-maio de 68, os realizadores passaram a adotar uma postura mais politizada em suas películas. Na companhia de Chris Marker, virtuoso documentarista, Godard e Varda voltam suas energias para produções de forte cunho político, tendo como principal referencial as ideias políticas de esquerda – utilizando-se da filosofia maoísta e marxista.

Dentro dessa nova tendência, algumas obras acabam se sobressaindo, sendo de caráter documental ou não. Volta-se aos anos 1950 para apresentar Noite e Neblina e Guernica, ambos assinados por Resnais, para entender um dos aspectos estudados na fase política da nouvelle vague francesa: a denúncia de crimes de guerra. Ainda, retornando à década de 1960, Varda realiza o excepcional Black Panthers, enquanto Godard deixa sua marca com A Chinesa e Weekend à francesa.

O filme aqui em questão, Longe do Vietnã, é construído a partir de diferentes visões de diferentes diretores a respeito da brutal Guerra do Vietnã. Cada um dos diretores resolve abordar um aspecto referente ao conflito. Enquanto, em um trecho, são apresentados os horrores que ocorriam no Vietnã, do outro lado é apresentada a sociedade estadunidense e as consequências sociais da batalha.

A grande maioria das construções críticas de Longe do Vietnã são desenvolvidas por meio de um recurso extremamente utilizado no cinema contemporâneo: o found footage. Nesse micro-gênero experimental, o discurso está presente na ressignificação de imagens de arquivo. Aqui, os diretores apresentam seus pontos de vista, também, por meio de uma narração em off constante, permeando quase toda a película – recurso que, por várias vezes, dá à obra um caráter mais historiográfico do que analista.

Mesmo com sete visões e focalizações distintas, o filme preza por uma unidade estilística ímpar. A mise en scène é ponto chave para o espectador conectar-se diretamente com o zeitgeist encontrado pelos realizadores do filme. A inquietude da câmera e do discurso dos personagens é um perfeito simbolismo do fervor social sessentista. A característica câmera na mão, aqui, possui apenas um momento de descanso: durante a rápida entrevista do líder revolucionário Fidel Castro. Aqui, o aparato fílmico se limita a contemplar a fala do presidente cubano.

Uma das mais importantes teorias do documentários reside na URSS dos anos 1920, com Dziga Vertov, o kino-pravda (cine-verdade) e o kino-glaz (cine-olho). Dentro dessa estética, o diretor propunha a captura da verdade a partir de uma linguagem livre de subjetividade e simbolismos. Contudo, a ausência de uma verdade absoluta transforma esta vertente cinematográfica em algo completamente utópico. E é a partir de tal constatação que se baseia que surge Longe do Vietnã.

Os cineastas pouco preocupam-se com uma inexistente imparcialidade no filme. Apresentam ao espectador suas próprias verdades e opiniões, transformando a película em uma ode a autoria. O cinema é uma arte de autor, como propunham os jovens turcos da Cahiers du Cinéma, portanto: a sétima arte é fruto de o olhar de alguém sobre alguma coisa. Exatamente o que ocorre no filme em questão. A questão do autor é exposta, aqui, por meio da parcialidade do discurso dos diretores. O espectador é levado ao universo próprio dos realizadores.

O tom de denúncia do documentário é outro ponto forte de Longe do Vietnã. A sequência final, filmada nos Estados Unidos da América, é, definitivamente, a mais impactante. Com pouca interferência da narração, o público vê protestos que ocorreram nos EUA. Lá, o discurso está presente única e exclusivamente na imagem. Com cenas de xenofobia e racismo, somos conduzidos ao coração da burguesia estadunidense. Ao mesmo tempo, vê-se uma efervescente juventude que luta pelos direitos dos soldados, renunciando à violência praticada pela velha política. A simples comparação entre aqueles que defendem o uso de napalm e os que mostram-se contrários a isso é finalizada quando, em um rápido momento explicativo, um entrevistado explica como funciona tal arma química. A denúncia está feita; cabe ao espectador decidir de qual lado estará.

Neste documentário caleidoscópico, a chave da narrativa está na sensibilidade desse. Por mais que trate de temas delicados, os diretores dão ao espectador o juízo sobre o conflito e os lados envolvidos. Com clara solidariedade ao povo vietnamita, não há como tomar outro lado senão o do povo asiático. A importância social da louvável força do Vietnã está exposta do na fala de Godard: “precisamos criar um Vietnã dentro de nós.” Nesta outra batalha entre Davis e Golias do mundo moderno, novamente, por meio da união popular, o subdesenvolvido vence. Longe do Vietnã aproxima o espectador da luta vietnamita, criando empatia para com eles. E é a própria parcialidade que constrói essa narrativa.

Longe do Vietnã (Loin du Vietnam) – França, 1967, Direção: Jean-Luc Godard, Agnès Varda, Alain Resnais, Chris Marker, Claude Lelouch, William Klein, Joris Ivens, Com: Anne Bellec, Karen Blanguernon, Bernard Fresson, Jean-Luc Godard, Ho Chi Minh, Fidel Castro

Frederico Franco

Estudante de cinema de Porto Alegre, RS, que pretende ser professor de cinema. Ocupo meu tempo com literatura, música e cinema. No mundo da literatura, Borges é meu padrinho; na música, sou regido pelo sintetizador de Charly García; e, junto de Michael Snow e Michelangelo Antonioni, caminho pelo mundo do cinema.

Guerra do Vietnã 

Norman Morrison

Morrison levou sua filha Emily, então com um ano de idade, para o Pentágono, e ou a colocou para baixo ou entregou-a a alguém na multidão antes de se incendiar. As razões de Morrison para levar Emily não são inteiramente conhecidas

20//10/22

Reinado do Terror, Terror in a Texas Town, 1958, Joseph H. Lewis

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 Reinado do terror - resenha

22/10/22

Um Homem Dificil de Matar, Monte Walsh, 1970, William A. Fraker

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Sobre Lee Marvin (1924–1987) 

Sobre Jeanne Moreau(1928–2017) 

Na fase final do Velho Oeste, um grupo de cowboys liderado por Monte (Lee Marvin) enfrenta o envelhecimento e a falta de oportunidade oriunda do desuso de sua profissão. Longe da liberdade que almejam, eles enventualmente decidem se separar para tentar recomeçar suas vidas longe dali. Adorocinema 

23/10/22

A Guerra dos Botões, War of the Buttons, 1994, John Roberts

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Grupos rivais de crianças se preparam para uma guerra, na qual o troféu são os botões dos adversários. Mentiras, amizades, lealdade e traições fazem parte de um conflito que preocupa os pais, professores e policiais. Refilmagem do clássico francês de 1961, baseado na obra de Louis Pergaud. Filmow 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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