Eleição mais apertada da história tem virada pró-Bolsonaro em 248 cidades e nenhuma para Lula
Maior avanço foi em municípios de MG, apesar de petista ter prevalecido no estado
Cristiano Martins, Daniel Mariani, Diana Yukari, FSP, 31/10/2022
Segundo colocado na eleição presidencial, Jair Bolsonaro (PL) conseguiu ampliar sua votação a ponto de virar sobre Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no estado do Amapá e em 248 cidades onde o petista havia vencido no primeiro turno. Isso representa 4,5% dos 5.570 municípios brasileiros.
Lula, por sua vez, não teve maioria em nenhuma cidade onde Bolsonaro prevaleceu na primeira rodada.
No geral, Bolsonaro conseguiu encurtar a desvantagem em relação ao adversário de 6,2 milhões de votos no primeiro turno para 2,1 milhões nesta segunda rodada. O crescimento foi insuficiente para garantir uma virada inédita no pleito. O atual presidente tornou-se neste domingo (30) o primeiro a não conseguir a reeleição no cargo.
Segundo a apuração do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Lula alcançou 50,90% dos votos válidos, e Bolsonaro, 49,10%. Foi a eleição mais apertada desde a redemocratização.
No primeiro turno, Lula havia sido o mais votado em 3.376 cidades. Bolsonaro, por sua vez, saiu na frente em 2.191— houve empate em Coronel Sapucaia (MS), Alecrim (RS) e Ribeirão do Sul (SP). Prova da elevada polarização desde o início da disputa, os outros candidatos não conseguiram sequer o segundo lugar em nenhum município do país. Com a disputa restrita aos dois finalistas, o petista acabou como o mais votado em 3.123 municípios neste domingo, e o atual presidente, em 2.445. Houve também dois empates, em Guará (SP) e Irati (SC).
Estado considerado estratégico pelas duas campanhas, por ter o segundo maior colégio eleitoral e o maior número de municípios do país –além de ser um espelho histórico da eleição presidencial–, Minas Gerais foi palco de 66 viradas pró-Bolsonaro.
A principal reviravolta bolsonarista aconteceu em Grupiara, no Triângulo Mineiro, onde o presidente saltou de 46% dos votos válidos no primeiro turno para 59,4% no segundo.
Minas recebeu seis visitas presenciais de Bolsonaro durante a segunda parte da campanha. Além de Belo Horizonte, Uberlândia e Governador Valadares, apostou também em três localidades onde havia perdido para Lula: Montes Claros, Teófilo Otoni e Juiz de Fora, palco da facada sofrida por ele em 2018. Destas, só conseguiu reverter o resultado do primeiro turno em Montes Claros. A votação do presidente subiu de 44,9% para 51,2% na cidade-polo do Norte mineiro, região com perfil similar ao Nordeste brasileiro e marcada por vitórias petistas desde 2006.
Além do próprio presidente, a primeira-dama Michelle Bolsonaro, a ex-ministra Damares Alves (Republicanos), eleita ao Senado pelo Distrito Federal, e o vereador de Belo Horizonte Nikolas Ferreira (PL), campeão de votos para a Câmara dos Deputados neste ano, foram algumas figuras que reforçaram a campanha do presidente no estado.
Bolsonaro também contou com o apoio engajado do governador reeleito Romeu Zema (Novo), escalado para mobilizar os prefeitos mineiros. "Nenhuma região e nenhuma parte desse estado ficará para trás", declarou Bolsonaro ao lado de Zema em Montes Claros.
Mesmo com um crescimento de 6,2 pontos percentuais no estado, o presidente não conseguiu reverter a vitória petista. O estado manteve a sua tradição de refletir os resultados da disputa nacional, com vitória de Lula por apertados 50,2%.
Integrantes da campanha do presidente creditaram a derrota para Lula a falhas da estratégia em Minas e em São Paulo.
No maior colégio eleitoral do Brasil, Bolsonaro conseguiu 10,5 pontos de vantagem neste domingo (55,24% a 44,76%), o equivalente a 2,7 milhões de votos a mais entre os paulistas.
Foi pouco para compensar os 12,6 milhões eleitores a mais conquistados pelo petista entre os nordestinos. Depois de vencer no primeiro turno em apenas 15 das 1.794 cidades na região, Bolsonaro conseguiu aumentar esse número para somente 20 municípios no maior reduto lulista.
Na capital paulista, Bolsonaro aumentou sua votação em relação ao primeiro turno, de 37,9% para 46,5% dos votos válidos, mas voltou a ser derrotado, desta vez com uma diferença de 486,4 mil eleitores paulistanos a mais para Lula.
O PT não virou o resultado em nenhuma das cidades conquistadas pelo PL na primeira rodada. Garantiu a vitória nacional com aumentos, ainda que menos expressivos, nos locais onde conseguiu repetir as vitórias do primeiro turno. "Foi a campanha mais difícil da minha vida", declarou Lula ao discursar para seus eleitores que comemoravam a vitória do ex-presidente na avenida Paulista, no centro de São Paulo.
O maior salto de Lula foi observado em Sobral (CE), berço político de Ciro Gomes (PDT), quarto colocado no primeiro turno. O petista já havia vencido na primeira parcial e aumentou sua votação na cidade, de 55,4% para 69% na segunda rodada.
Nova Pádua (RS) manteve o título de cidade mais bolsonarista do país, com aumento de 83,97% dos votos no primeiro turno para 88,99% no segundo.
Guaribas (PI) também conservou o posto de município mais lulista do Brasil. A votação do novo presidente eleito subiu de 92,14% para 93,85% na cidade piauiense.
Em nível estadual, Lula saiu vitorioso em 13 unidades da federação, uma a menos que Bolsonaro, contando o Distrito Federal.
Considerando os três maiores colégios eleitorais, o resultado deste domingo repetiu o do primeiro turno. O petista venceu em Minas Gerais, e o atual presidente, em São Paulo e Rio de Janeiro.
Em mais um capítulo da polarização regional, Lula foi o mais votado em todos os estados do Nordeste, e Bolsonaro, em todos das regiões Sul e Centro-Oeste.
O Amapá, que também vinha refletindo os resultados nacionais desde a redemocratização ao lado de Minas Gerais e Amazonas, saiu dessa lista ao ser o único estado com virada bolsonarista neste ano em relação ao primeiro turno.
Em nível nacional, nunca houve uma virada entre o primeiro e o segundo turno das eleições presidenciais. Fernando Collor (1989), Lula (2002 e 2006) e Dilma Rousseff (2010 e 2014) também conseguiram confirmar a vitória após terem largado em vantagem nas edições anteriores decididas em duas rodadas.
No pleito realizado há quatro anos, apenas 147 das 5.570 cidades brasileiras (3%) haviam registrado vencedores diferentes entre a primeira e a segunda rodada da eleição presidencial, com 121 viradas a favor do então candidato petista Fernando Haddad, derrotado na ocasião por Bolsonaro.
NB1: TSE resultados - 2022
LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA: 60.345.825 · 50,90%
JAIR MESSIAS BOLSONARO: 58.206.322 · 49,10%
Diferença 2.139.503 (1,8%)
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Total de votos: 124.252.587
Votos Válidos: 118.552.147
Nulos: 3.930.762 · 3,16%
Em branco: 1.769.678 · 1,43%
99,99 % dos votos apuradosl
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NB2: Em 2018 Bolsonaro teve 57.797.847 votos, 408.475 menos que 2022. Cresceu 0,7 % de 2018 para 2022. Evoluiu pouquíssimo. Ou melhor, avaliação de governo.
Lula teve 52,7 milhões de votos em 2002, 58,2 milhões de votos em 2006 (10,4 % a mais que em 2002) e agora 60,3 milhões. Lula ganhou a reeleição em 2006, Bolsonaro perdeu em 2022.
Abstenção cai pela primeira vez no 2º turno da eleição
Não comparecimento foi de 20,57%, contra 20,95% no 1º turno; no Nordeste, região com mais operações da PRF, houve queda com relação a outras eleições
A taxa de abstenção no segundo turno da eleição deste ano foi menor do que no primeiro turno. É a primeira vez desde 2002 que o comparecimento cresce em relação à primeira rodada de votação do mesmo ano.
De acordo com dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) de todas as urnas apuradas, não compareceram para votar 20,58% dos eleitores. No primeiro turno, a taxa foi de 20,95%.
O percentual de votos em branco e nulos somados (4,59%) também foi o menor dos últimos 20 anos, repetindo marca já registrada no primeiro turno. O número caiu à metade em relação à eleição passada.
O maior interesse pelas urnas coincide com a estreia do passe livre nos ônibus para facilitar a votação, adotado em todas as capitais do país e em outros 167 municípios, segundo levantamento do Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor).
Atrair os eleitores para as seções eleitorais também foi uma preocupação das campanhas do presidente eleito Lula (PT) e do atual presidente Jair Bolsonaro (PL).
A equipe do petista temia o não comparecimento de eleitores mais pobres, grupo no qual as pesquisas indicavam seu favoritismo. O estafe do atual presidente, por sua vez, preocupava-se com a ausência dos mais velhos.
FOTOS
Avanço no Sudeste e menor votação no Nordeste: como Lula ganhou
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