sexta-feira, 27 de janeiro de 2023

Livros lidos

Um inventário sobre o livros lidos recentemente será o tema desta redação. Período: últimos três meses. Pós longo tempo imerso no mar da telemática ou internet, iutubi, blog etc. Tela plana. Não uma proximidade com os ludistas de 2023, mas uma volta à folha plana dos livros.

1. Lidos

Sombras do paraiso

Resolvi ler este livro após assistir os filmes Nada de Novo no Front, Im Westen nichts Neues, 2022, Edward Berger e Sem Novidade no Front, All Quiet on the Western Front, 1930, Lewis Milestone que têm como base o livro de Erich Maria Remarque. Comprei Nada de novo junto com Sombras e acabei lendo quem chegou primeiro.

'Sombras no paraiso' trata da convivência de uma comunidade de emigrantes, predominantemente alemães ant-nazistas, em Nova Iorque, durante a 2ª Guerra Mundial. Ironia e nostalgia se misturam em estórias de vida em que os sofrimentos do passado estão presentes, mas de forma até alegre se divertem da própria desgraça. Destaco a relação de Robert Ross, narrador, com Natascha Petrowna  e sua comovente separação. Durante a trama Ross me pareceu um alemão racional no affair com Natasha, um anti-Werther, mas no final ele se mostrou um parceiro de “Os sofrimentos do jovem Werther”, de Goethe (conterrâneo de Ross).

O narrador, Robert Ross (alterego do autor): emigrante alemão que "morrera" oficialmente em 1933. Trabalhou em Nova Iorque: orientador na compra e venda de quadros duvidosos e de antiguidades falsas. Robert Ross é o nome de um estadunidense falecido na guerra. O alemão herdou seu passaporte.


Sombras do paraíso, Erich Maria Remarque, tradução: Bélchior Cornélio da Silva, Editora Record, 1971. 448 p.

Cinzas do Norte

Um livro excelente de Milton Hatoum. Terminei o livro com vontade de visitar Manaus. A cidade das águas do Rio Negro e do rio Amazonas. Um destaque da estória: a relação tirânica que o pai tem com o filho.

"A trama concentra-se, em sua maior parte, na Manaus dos anos cinquenta e sessenta. Como todas as histórias de Hatoum, das que li até o momento, esta também tem uma estrutura que lembra uma saga, a história de um amigo contada a partir do ponto de vista de outro. Olavo (Lavo), menino órfão, criado pelos tios, acompanha toda a trajetória de Raimundo (Mundo), menino de família nobre. A ligação entre as duas famílias vem de dois pontos, a amizade entre Alícia, mãe de Mundo, e a finada mãe de Lavo; e também do relacionamento fogoso, às escondidas, entre Alícia e Ranulfo, tio do narrador." Vilto Reis 

Cinzas do Norte, Milton Hatoum, Companhia das Letras, 2010, 231 p.

Se você morrer, eu te mato

Assistindo à série Wandinha , imperdível trabalho de Tim Burton, a personagem diz a um dos poucos colegas de escola internado no hospital: 'Se você morrer, eu te mato'. Esta frase não me era desconhecida. Fui pesquisar e cheguei ao livro homônimo. 
Um livro ótimo sobre a obra do cineasta Samuel Fuller. Com análise dos filmes e uma longa entrevista com dito cujo. Não existe cinema sem  Samuel Fuller

Se você morrer, eu te mato, Samuel Fuller, organização de Ruy Gardnier, Centro Cultural Banco do Brasil, 2013. 231 p.

Pinóquio

Para a maioria das pessoas, Pinóquio é sinônimo do filme de animação da Disney sobre uma marionete de madeira, cujo nariz pontudo cresce sempre que o boneco diz uma mentira. Mas a mentira não é o ponto principal da história original. Sim, Pinóquio mente, mas é apenas parte do seu mau comportamento. A história da marionete mais famosa do mundo é justamente o contrário da versão água com açúcar apresentada por Walt Disney em 1940. Longe de ser ingênuo e distraído, Pinóquio é um personagem cheio de contradições. Suas aventuras, criadas pelo escritor italiano Carlo Collodi, oscilam entre o moralismo e o humor negro. Ele não cai no sentimentalismo, mas reflete os problemas da Itália do século 19. (...)

A história de Pinóquio mostra os danos causados pela pobreza e as dificuldades para seguir adiante:

"- Como se chama o seu pai?

- Gepeto.

- E o que ele faz para ganhar a vida?

- É pobre.

- E ganha muito?

- Ganha o suficiente para nunca ter um centavo no bolso."

BBC 

Pinóquio de Carlo Collodi  é uma obra infanto-juvenil-adulta universal. Uma das mais impressas que conhecemos. A narrativa corrente fala de um boneco em que o nariz cresce sempre quando ele diz uma mentira. Meia mentira, pois é muito mais que isso. Conta a estória de danos provocados pela pobreza. Reflete as condições miseráveis da Itália do final do século 19. 

A popularidade de Pinóquio se vê no cinema e séries. Até hoje foram 67 produções, desde 1911, em audiovisual. A que está na mente de muita gente é o filme Pinóquio de 1940, da Disney, dirigido Norman Ferguson , T. Hee e Wilfred Jackson 

Assisti Pinóquio de Robert Zemeckis (Disney) (Sofrível) e o Pinóquio de Matteo Garrone, 2019 (Muito bom). Estes dois filmes estão resenhados aqui 

Mas o melhor de todos é o Pinóquio de Guillermo del Toro e Mark Gustafson, 2022 (obra-prima) . Este filme está resenhado aqui.

Pinóquio, Carlo Collodi, tradução Monteiro Lobato, Pelicano, 2021, 188 p. Título original: Le avventure di Pinochio. Storia di un burattino, 1883

Satsuma Gishiden, Crônicas dos Leais Guerreiros de Satsuma

A maior e mais consagrada obra do grande mestre dos mangás de samurai, Hiroshi Hirata, chega ao Brasil numa coleção de três volumes. Se você já gostou de O Preço da Desonra: Kubidai Hikiukenin, saiba que foi em Satsuma Gishiden que Hirata encontrou seu auge como artista, entregando uma trama épica, com arte arrebatadora. A época dos samurais é repleta de histórias de grandes proezas em batalha e sistemas profundamente arraigados na honra e disciplina, mas, por trás desse rígido código de conduta havia uma sociedade se despedaçando. Com o longo período de paz trazido pelo resultado da Batalha de Sekigahara, em 1600, conflitos nos sistemas de classes e a necessidade de uma nação unida acabaram com os velhos modos de combater dos samurais, que perderam seu propósito de vida de uma hora para outra. Agora, eles diariamente se digladiam com o severo código de honra que norteia suas vidas, enquanto tentam se adequar aos novos tempos. E nenhuma província tinha mais samurais treinados para a guerra do que Satsuma, o que faz dela a região mais temida pelo Xogunato. Lá, o clima de apreensão ganha ares de rebelião quando uma ordem expressa do governo demanda a realização de uma obra quase impossível de ser executada, o que só pode significar que as autoridades buscam a derrocada do clã. O acirramento dos ânimos desses homens levará a desdobramentos que poderão tanto glorificá-los pela eternidade como decretar sua desgraça de uma vez por todas. Satsuma Gishiden é um clássico gekigá (mangá de temática realista) sobre o começo do fim da era dos samurais. Publicado originalmente no Japão de 1979 a 1982, ele agora é apresentado aos leitores brasileiros em uma coleção fechada de três volumes, com sobrecapa com verniz localizado de alto relevo, papel de alta gramatura, miolo colado e costurado para o melhor manuseio na leitura, e um marcador de páginas diferente em cada edição. Satsuma 

Satsuma Gishiden, Crônicas dos Leais Guerreiros de Satsuma, Hiroshi Hirata, vol. 1, tradução Drik Sada, Pipoca & Nanquim, 2020, 452 p.

Satsuma Gishiden, Crônicas dos Leais Guerreiros de Satsuma, Hiroshi Hirata, vol. 2, tradução Drik Sada, Pipoca & Nanquim, 2020, 452 p.

Satsuma Gishiden, Crônicas dos Leais Guerreiros de Satsuma, Hiroshi Hirata, vol. 3, tradução Drik Sada, Pipoca & Nanquim, 2020, 436 p.

2. Em leitura

Nada de novo no front

Este livro não pretende ser um libelo nem uma confissão, e menos ainda uma aventura, pois a morte não é uma avetura para aqueles que se deparam face a face com ela. Apenas procura mostrar o que foi uma geração de homens que, mesmo tendo escapado às granadas, foram destruidos pela guerra. (Erich M. Remarque)

Nada de novo no front, Erich Maria Remarque, tradução Helen Rumjanek, Abril cultural, 1981, 231 p.

História das ideias pedagógicas no Brasil

Um livro essencial sobre a educação no Brasil. Um clássico obrigatório. Dos 14 capítulos fiz uma resenha de 9. A quem interessar possa: Saviani e as ideias pedagógicas (3)
Em dívida com o restante.

História das ideias pedagógicas no Brasil, Dermeval de Almeida, 5ª edição, Autores Associados, 2019, 470 p.

O revolucionário cordial

Em 28 de setembro de 1908. Um jovem de quase 18 anos pega a barca da Cantareira rumo à Praça 15, do outro lado da baía da Guanabara. Nem seus pais sabiam que ele pretendia visitar Machado de Assis no leito da morte. Tenso, Astrojildo bateu à porta do casarão do Cosme Velho, identificou-se apenas como "um grande admirador do escritor" e implorou para que o deixassem entrar e ver o mestre de perto. Em vigília na sala de estar, Euclides da Cunha, Coelho Neto, José Veríssimo, Raimundo Corrêa, Graça Aranha e Rodrigo Otávio manifestaram-se contra a entrada do rapaz desconhecido. Acordado pelo burburinho, Machado permitiu que Astrojildo entrasse em seu quarto, ajoelhasse ao lado da cama e lhe beijasse a mão, partindo depois sem se identificar. O escritor morreria na madrugada seguinte. 
"Naquele meio segundo em que ele estreitou o peito do moribundo de Machado de Assis, aquele menino foi o maior homem de sua terra" escreveu Euclides de Cunha, num célebre artigo intitulado "A última visita", publicado no Jornal do Commercio dois dias depois da morte do escritor. Sérgio Augusto no prefácio do livro

O revolucinário cordial, Astrojildo Pereira e as origens de uma política cultural, Martin Cezar Feijó, Boitempo, 2ª edição, 2022, 252 p.


Eugênio Oneguin

Meu interesse por Eugênio Oneguin vem também depois que assisti ao filme Oneguin de 1999. 
Não existe literatura sem Púchkin.

O “romance em versos” Eugênio Onêguin é a expressão máxima do gênio de Aleksandr Púchkin (1799-1837), e representa para a literatura da Rússia o mesmo que Os Lusíadas, A Divina Comédia, o Dom Quixote e as peças de Shakespeare representam respectivamente para Portugal, a Itália, a Espanha e a Inglaterra. Púchkin é considerado o fundador da literatura russa moderna, o maior ícone cultural da Rússia, e seu Eugênio Onêguin já foi chamado de “enciclopédia da vida russa”, de leitura obrigatória em escolas. A obra foi escrita em versos tetrâmetros (mais ou menos equivalentes aos versos de oito sílabas em português), num total de 384 estrofes de 14 versos cada. Trata-se, pois, de uma obra que realiza uma verdadeira fusão de modalidades literárias – romance e poesia – e que, por apresentar uma curiosa consciência de sua própria narratividade, ou de suas próprias técnicas de “representação” artística, se reveste de ainda mais sentido na época do Pós-modernismo. Em termos de linguagem, um aspecto de sua tão propalada “perfeição estilística” está em fazer com que palavras as mais comuns adquiram conteúdo poético e ironia. Em virtude de sua clareza de expressão e fluência verbal, os versos de Eugênio Onêguin dão a impressão de absoluta espontaneidade e leveza. Ateliê Editorial 

Eugênio Oneguin, Aleksandr Púchkin, tradução Dário Moreira de Castro Alves, Record, 286 p.

Fausto: uma tragédia

Escrito ao longo de sessenta anos, o Fausto de Goethe é não só a opera della vita de seu autor, mas um poema "incomensurável" que, no dizer de Thomas Mann, "abrange em seu interior três mil anos de história humana". Esta tragédia, reconhecida como uma das obras máximas da literatura mundial, teve sua primeira parte publicada em 1808; a segunda foi finalizada semanas antes da morte do autor, em março de 1832. Com rigorosa supervisão do professor Marcus Vinicius Mazzari, da Universidade de São Paulo, a presente edição traz, ao lado do original alemão, a tradução completa da segunda parte realizada por Jenny Klabin Segall, pela primeira vez totalmente revista, acrescida de notas e comentários que orientam a leitura deste livro monumental - e atualíssimo. Este volume reproduz também a série integral de 143 ilustrações a bico de pena de um dos maiores nomes do Expressionismo alemão, Max Beckmann (1884-1950), criadas pelo artista no exílio em plena Segunda Guerra Mundial. Editora 34  


Fausto: uma tragédia, parte 1, Johan Wolfgang von Goethe, tradução Jenny Klabin Segall, 3ª edição, Editora 34, 2017, 416 p.
Fausto: uma tragédia, parte 2, Johan Wolfgang von Goethe, tradução Jenny Klabin Segall, 3ª edição, Editora 34, 2011, 672 p.

Os demônios

A voltar a ler já.

Obras publicadas em seus último 15 anos de vida:
1866 — Crime e Castigo, 1867 — O Jogador, 1869 — O Idiota , 1870 — O Eterno Marido 1872 — Os Demônios, 1875 — O Adolescente, 1881 — Os Irmãos Karamazov 


Os demônios, Fiodor Dostoiévski, tradução Paulo Bezerra, 6ª edição, Editora 34, 699 p.

3. Visitas frequentes

Machado de Assis



Machado de Assis, Obra completa, vol. 1 - Romance, Nova Aguillar, 1986, 1.214 p.
Machado de Assis, Obra completa, vol. 2 - Conto e teatro, Nova Aguillar, 1986, 1.199 p.
Machado de Assis, Obra completa, vol. 3 - Poesia, Crônica, Crítica e Epistolário , Nova Aguillar, 1986, 1.214 p.

O gato preto e outros contos extraordinários

Contos do Edgar Allan Poe neste Blog: O GATO PRETO, O corvo, Assassinatos na rua Morgue, O Poço e o Pêndulo

O gato preto e outros contos extraordinários, Edgar Allan Poe, Camelot, tradução Fábio Kataoka, 2021, 199 p.

Dicionário de filmes

Na atualidade, realizam-se em média, no mundo, cerca de 3 mil longas-metragens por ano. Aproximadamente 145 mil foram produzidos desde 1930, com o início do cinema falado. Escolhi os quase mil e duzentos filmes que figuram neste Dicionário esforçando-me para dar, através deles, um panorama do cinema do mundo desde suas origens. Procurei incluir paises poucos conhecidos na França, e também dar espaço para as grandes obras da "arte muda". Vi pelo menos 95% dos filmes que comento. Os que não pude ver, por diversos motivos, foram identificados com o sinalo, para deixar bem claro que o comento por ouvir dizer, através de vários autores. (Georges Sadoul
NB: a versão original deste livro é de 1965

Dicionário de filmes, Georges Sadoul, L&PM, tradução Marcos Santarrita e Alda Porto, 1993, 487 p.


Afinal, quem faz os filmes


Afinal, quem faz os filmes, Peter Bogdanovich, tradução Henrique W. Leão, Companhia das Letras, 978 p. Título original: Who the devil made it

1001 noites no cinema


1001 noites no cinema, Pauline Kael, tradução Marcos Santarrita e Alda Porto, Compahia das Letras, 1994, 567 p.











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