sábado, 24 de setembro de 2022

Carlo Collodi, o pai de Pinóquio

A ficção para ser purificadora precisa ser atroz (Nelson Rodrigues)

PINÓQUIO: uma jornada editorial

Pinoquio Enrico Mazzanti, 1883

Editado pela autora em fevereiro/2016

Texto original: LACERDA, Luana. Pinóquio: uma jornada editorial. 2005. 105p., 30cm. Monografia (bacharel em Comunicação Social) — Curso de Graduação em Produção Editorial, UniFiam-Faam, São Paulo.

Introdução

Quem não conhece o boneco de madeira, de bochechas coradas e olhos azuis, que deseja se tornar um menino de verdade?

Pinóquio foi eternizado pela Walt Disney com o seu longa-metragem de 1940. Porém, você sabia que esse personagem da literatura infanto-juvenil é bem mais antigo?

As aventuras de Pinóquio foi publicada pela primeira vez na Itália em forma de folhetim infantil, entre julho de 1881 e janeiro de 1883, com 36 capítulos. Ao longo das décadas, foi adaptada para diferentes meios de comunicação. A adaptação mais conhecida, sem dúvida, foi a dos estúdios Walt Disney. Porém, não foi a primeira, muito menos a única.

Este livro resgata a origem da história, apresenta o escritor Carlo Collodi, e mostra, para os que acreditam que Pinóquio é um personagem criado pela Disney, sua verdadeira identidade. E relaciona diversas traduções para o português, versões, adaptações e continuações que Pinóquio obteve ao longo do tempo. Para isso, foi utilizado como base o livro As aventuras de Pinóquio da editora Paulinas (2004), por ser considerado a história mais fiel à ideia original do autor, já que seu texto foi supervisionado pela Fundação Nacional Carlo Collodi.

Mas por que Pinóquio? Minha paixão por esse boneco começou em 2004 na graduação em Comunicação Social. Na matéria Literatura Infantil tive que desenvolver um trabalho sobre o personagem e, ao pesquisar, percebi a existência de um enorme universo a ser explorado. Assim, comecei minha pesquisa que deu origem ao meu trabalho de conclusão de curso.

Depois de 10 anos formada resolvi transformá-lo em um livro com a finalidade de apresentar, em um único volume, a origem, a trajetória e as adaptações sofridas ao longo do tempo. Além de mostrar a relação do escritor e editor brasileiro Monteiro Lobato com o centenário personagem italiano, Pinóquio.

O Autor de Pinóquio

A história As aventuras de Pinóquio foi escrita por um jornalista e escritor italiano no ano de 1881, em forma de seriado, para um jornal infantil. Ele se tornou mundialmente conhecido sob o pseudônimo de Carlo Collodi. Mas, seu nome verdadeiro era Carlo Lorenzini, filho mais velho de nove irmãos. De uma família simples, seu pai, Domingo Lorenzini, era cozinheiro e sua mãe, Angela Orzali (Existem divergências com relação à grafia do sobrenome da mãe de Carlo Lorenzini. Em algumas fontes se lê Orgali, porém no site da Fundação Nacional Carlo Collodi está escrito Orzali, nome adotado neste presente trabalho), trabalhava como empregada — ambos servos do Marquês Lorenzo Ginori.

Lorenzini nasceu em Florença, no dia 24 de novembro de 1826, e desde pequeno mostrou-se um aluno inquieto. Em Memórias de Carlo Collodi, ele mesmo nos conta um segredo. “E agora adivinhem quem era o aluno mais preguiçoso, mais agitado e mais impertinente de toda a escola? Se vocês não sabem, vou lhes dizer no ouvido, mas, por favor, não contem para seus pais e suas mães. O aluno mais agitado e impertinente era eu.” (COLLODI, 2001, p. 122).

Até os 17 anos, Lorenzini foi seminarista no colégio religioso degli Scolopi e logo depois trabalhou em uma conceituada livraria, onde, a convivência com intelectuais e escritores fez com que despertasse o seu interesse pela literatura e pela política. Se formou em cultura literária, linguística e musical e, aos 20 anos, em 1846, iniciou na carreira de jornalista, redigindo resenhas e artigos para o jornal L’Italia Musicale, uma das principais revistas especializadas em música da Itália naquela época.

Lorenzini era um jovem cordial, apaixonado por política e com ideais progressistas. Lutou, como voluntário, na guerra pela independência de seu país contra os austríacos, em 1848, ao lado do político e militar revolucionário italiano Giuseppe Garibaldi (1807–1882). Lorenzini, então, iniciou-se como colaborador em alguns jornais florentinos e depois passou a editar várias publicações que criticavam o governo de sua época. Elas eram dirigidas à camada mais humilde da sociedade e defendiam o ideal de uma Itália republicana, democrática e unida.

Com 22 anos, Lorenzini fundou o seu primeiro jornal, chamado Il Lampione (O Lampião). Era um periódico de grande sucesso por conter ideias liberais e republicanas e considerado um jornal de sátira política. Em 1849, no entanto, foi retirado de circulação pelo governo da época e reaberto apenas 11 anos mais tarde, depois do plebiscito que deu início à unificação da Itália. Durante este tempo, mais precisamente em 1853, Lorenzini fundou um outro periódico humorístico semelhante, chamado La Scaramuccia (A Escaramuça), para substituir O Lampião.

Em 1850 ampliou suas atividades e passou a escrever peças teatrais, tanto teatro lírico quanto teatro em prosa, e obras literárias de ficção e não-ficção. Mas, apesar de escritor, em 1856, aos trinta anos, Lorenzini continuava no meio político e era solicitado e apreciado como diretor e colaborador de numerosos jornais italianos. Neste mesmo ano, Lorenzini usou pela primeira vez o pseudônimo Collodi para se proteger de possíveis ataques devido a um artigo polêmico que ele havia escrito. Collodi é um vilarejo situado na Toscana, entre os territórios de Lucques e Pistóia, a oeste de Florença. Foi neste povoado que sua mãe nasceu e viveu até se casar, onde Lorenzini passou várias temporadas e, provavelmente, de onde levou muitas lembranças de sua infância. Entre 1870 e 1880, Lorenzini adotou definitivamente o nome artístico Carlo Collodi, e foi com este pseudônimo que conquistou sua fama.

Em 1875, aos 49 anos, Carlo Collodi foi contratado pelo editor Felice Paggi para traduzir um livro francês de fábulas do escritor Charles Perrault, autor que ele admirava e que o influenciou em suas obras infantis futuras. Começou, então, publicando em 1876 o seu primeiro trabalho dedicado aos jovens: I racconti delle fate (Recontando o fato). A tradução teve um grande sucesso, o que fez com que Collodi recebesse encomendas de outros livros. Foi neste momento, então, que passou a dedicar-se somente a histórias infantis, pois já estava frustrado com a pouca repercussão de suas obras para adultos. Segundo o dicionário biográfico Universal Três, tudo o que ele havia produzido tinha sido esquecido. Então, Collodi assumiu a sua preferência pela escrita de livros para crianças, pois “os adultos eram muito difíceis de satisfazer”. (Editorial PRESENÇA, 2002).

Começou como tradutor e depois como autor de obras literárias escritas para escolas. Por volta de 1877, Collodi publicou seu primeiro volume da série “Gianettino” (Joãozinho) pela editora Paggi que, através de histórias, oferecia conhecimentos inspirados na pedagogia da época. Nesta mesma série, ele publicou livros como: Il viaggio per l’Italia di Giannettino (primeira parte) em 1880; Il viaggio per l’Italia di Giannettino (segunda parte), em 1883; La grammatica di Giannettino, também em 1883; e La geografia di Giannettino escrita em 1886. Estes livros obtiveram sucesso e foram publicados e utilizados pelas escolas até o final dos anos de 1960. A série dos Giannettino foi concluída com a obra La lanterna mágica di Giannetino, com explicações científicas, geográficas e históricas.

Porém, o escritor parecia acompanhar a evolução da literatura infantil de sua época. O ambiente das províncias italianas era representado com uma visão trágica da vida: na “ideia que a dor é a lei da criação, e que ao homem que queira afirmar a própria dignidade, não resta que sofrer em solitária e heroica firmeza.” (LITERATURA ITALIANA). Então, com base a estas ideias, Carlo Collodi começou, gradativamente, a abandonar obras didáticas em favor da fantasia e da emoção.

Carlo Collodi foi um grande escritor da literatura moderna italiana e, segundo a fundação que leva seu nome, “um dos ‘inventores’ dessa língua”. Ele “foi realmente um construtor da língua italiana contemporânea, usando a palavra por quarenta anos como instrumento profissional e artístico, como jornalista e escritor.” (FUNDAÇÃO, 2002, p. 7).

Assim, Collodi escreveu muitas obras com influências trazidas do Romantismo, compondo um panorama riquíssimo de livros dirigidos ao público infantil e infanto-juvenil. Uma delas é Gli amici di casa (Os amigos de casa), um drama em dois atos publicado pela primeira vez em 1856 e novamente em 1858, depois de ter sido divulgado em forma de manuscrito e debatido até dezembro de 1853. A obra foi inspirada em uma crônica passada na família florentina dos condes Pucci. Devido às críticas, pela não completa adesão aos cânones do drama, Collodi republicou a obra em 1862, revista e corrigida.

Em 1881, Collodi escreveu várias histórias no jornal infantil italiano Giornale per i bambini (Jornal para as crianças). Uma delas é a obra que o tornou imortal e reconhecido no mundo todo, As aventuras de Pinóquio. Uma história em que um boneco feito de madeira e de magia, sabe brincar, falar e mentir como um menino de verdade. As outras histórias, menos conhecidas pelo público infantil brasileiro, foram reunidas em um livro chamado Storie Allegre (Histórias Alegres), lançado em 1886 pela editora Paggi. Aqui no Brasil, o livro foi traduzido por Gabriella Rinaldi e lançado pela editora Iluminuras em 2001. Essas histórias narram as dificuldades que as crianças têm na escola, suas teimosias, brincadeiras e a relação com a família e amigos. Entre elas está a história de Pipi, o lo scimmiottino color di rosa (Pipi, ou o macaquinho cor-de-rosa), um seriado cômico onde o personagem principal possui as mesmas características de Pinóquio em uma espécie de sátira ao boneco.

Surgimento da Obra

Quando foi convidado, como já citado, em 1881, para escrever histórias seriadas para o Giornale per i bambini, um dos primeiros jornais italianos voltados exclusivamente para o público infantil, Collodi não pensou duas vezes. Rapidamente encheu várias páginas de um papel azul-claro, que sempre usava, com dois capítulos de uma história para ser publicada.

Collodi passava por momentos de dificuldade em sua vida, pois não tinha dinheiro para pagar suas contas. Estava endividado devido a jogos de cartas e era pressionado por seus credores. Por esse motivo, ao entregar sua história para o amigo, editor e jornalista Ferdinando Martini, enviou-lhe junto um bilhete. Desta mensagem, encontrei duas traduções, porém ambas mostram que Collodi escreveu a história por um único motivo: ganhar dinheiro. Na primeira versão ele diz: “Envio-lhe esta brincadeira, faça o que quiser com ela; mas se a publicar, pague-me bem para me dar vontade de continuá-la” (MOATS, 2002, p. 162). Já na outra diz: “Faça o que você bem entender com essa tolice, mas pague-me bem, se deseja continuar contando comigo.” (CORREIA, 2003).

O primeiro capítulo foi publicado no dia 7 de julho de 1881 com o título La Storia di un buratino (História de uma marionete), com ilustrações de um artista anônimo.

Não se sabe bem ao certo porque, mas, depois de um tempo, Collodi se desanimou em escrever. Talvez um desentendimento com Ferdinando Martini ou, simplesmente, tenha enjoado de sua criação. Só se sabe que o editor, devido ao grande interesse provocado no público infantil, tinha que pedir insistentemente a Collodi que mandasse a continuação da história. Mas, os capítulos não vinham regularmente. Collodi escreveu, então, “fim” no final do décimo quinto capítulo e a interrompeu em outubro de 1881, deixando o personagem principal abandonado e enforcado em um galho do “Carvalho Grande”.

Os leitores, porém, não aceitaram esse final. Começaram, então, a chegar na editora cartas de protesto, pois todos queriam saber por onde andava o boneco de madeira. O editor do Giornale per i Bambini, para conter a inquietação dos leitores, anunciou: “O Sr. Collodi me escreve dizendo que Pinóquio não está morto; está mais vivo do que nunca, e tem-lhe acontecido coisas extraordinárias!” (MOATS, 2002, p. 162).

Porém, o anúncio não acalmou os adoradores da história. Então, quatro meses depois de tanto protesto, no dia 16 de fevereiro de 1882, Collodi retomou os capítulos nas colunas do jornal. Desta vez, porém, com o título alterado para Le avventure di Pinocchio, título com o qual a história se consagraria para sempre. Assim, a história As aventuras de Pinóquio, título em português, completou seus 36 capítulos, tendo seu último episódio publicado em janeiro de 1883.

No mesmo ano Collodi vendeu os direitos de sua obra à Editora Felice Paggi de Florença por 500 liras. Dessa forma, a história foi reunida em capítulos curtos e publicada em forma de livro com ilustrações de Enrico Mazzanti — voltarei a falar deste ilustrador italiano e apresentarei o seu trabalho mais adiante. No lançamento, o livro foi recebido com um grande afeto pelas crianças, pois os folhetins com o personagem já eram conhecidos por toda a Itália.

Porém, os pais não gostavam e proibiam seus filhos de ler o livro. Eles acreditavam que este herói adorado pelas crianças os estimulava a imoralidades e molecagens. Assim, as vendas não eram grandes e, até sua morte, Collodi não teve motivo para se lamentar por ter vendido os seus direitos autorais da história por tão pouco. Apesar do fraco sucesso editorial de início devido à proibição dos adultos, a história não desapareceria, pois uma geração de meninas e meninos italianos mantinha Pinóquio vivo em uma espécie de movimento secreto, lendo às escondidas as histórias do boneco de madeira.

Antes de Carlo Collodi morrer subitamente, aos 64 anos, no dia 26 de outubro de 1890, em Florença, sua terra natal, foram publicadas seis edições com numerosas variações entre elas, pois o autor tinha o costume de revisar e retocar os seus textos entre uma publicação e outra.

Collodi foi sepultado no cemitério monumental de San Miniatio Al Monte e seus escritos foram doados pela família, em grande parte, à Biblioteca Nacional Central de Florença. Após a morte, suas obras começaram a cair no esquecimento, mas o sucesso e o valor literário da história As aventuras de Pinóquio foram plenamente resgatados no início do século XX, tornando o boneco de madeira mais famoso que seu criador. Em frente a uma casa simples, em um bairro pobre de Florença, hoje, há uma placa de mármore onde se lê: “Nesta casa nasceu, em 1826, Carlo Lorenzini, chamado ‘O Collodi’, pai de Pinóquio.” (COMPANHIA EDITORA NACIONAL, 1979).

A história se tornou um fenômeno entre as crianças por possuir uma linguagem coloquial, agilidade narrativa e inúmeros elementos cômicos. E, chamando a atenção de críticos e estudiosos sérios, imediatamente ela caiu no gosto do público, tendo dezenas de edições esgotadas. E hoje é uma das histórias mais editada no mundo todo.

Um livro de Carlo Collodi

Em suas obras, Carlo Collodi sempre registrou críticas à sociedade de sua época. Na obra As aventuras de Pinóquio não foi diferente. Collodi foi representante “de uma sociedade que começava a romper com cosmovisão aristocrática. ‘Era uma vez… um pedaço de pau’. É assim que começa a fábula, frustando a expectativa do leitor de encontrar um rei” (ROSA, 2014, p. 31). A história faz uma sátira ao tradicionalismo da sociedade italiana e ao comportamento humano, seus vícios e sua insensatez, tornando-se um reflexo rico e movimentado da vida e da época do autor.

Em vários trechos do livro, o autor tece suas críticas. Uma delas é quando Gepeto resolve colocar o nome da marionete de Pinóquio:

“- Que nome vou lhe dar? — disse consigo mesmo. — Quero chamá-lo de Pinóquio. Esse nome vai lhe dar sorte. Eu conheci uma família inteira de Pinóquio: Pinóquio, o pai; Pinóquia, a mãe; e Pinóquios, as crianças, e todos estavam bem. O mais rico deles pedia esmola.” (COLLODI, 2004, p. 25).

Ou quando o dono do teatro de marionetes, Come-fogo, pergunta a Pinóquio qual é o ofício de seu pai:

- Como se chama o seu pai?

- Gepeto.

- E qual a sua profissão?

- Pobre.

- Ganha muito?

- Ganha tanto quanto é necessário para não ter nunca um centavo no bolso. (COLLODI, 2004, p. 57).

O autor trata sobre pobreza, fome e frio o tempo todo em sua obra, porém quando Pinóquio vira um menino de verdade tudo se transforma.

[…] em vez das paredes de palha da cabana, viu um belo quartinho mobiliado e enfeitado com simplicidade quase elegante. Pulando da cama, encontrou uma roupa nova preparada, um boné novo e um par de botas de couro que lhe caíam como luva.

Assim que se vestiu, colocou naturalmente as mãos nos bolsos e encontrou um pequeno porta-moedas de marfim, onde estavam escritas estas palavras: “A Fada dos cabelos azuis restitui ao seu caro Pinóquio as quarenta moedas e o agradece muito pelo seu bom coração”. Abriu o porta-moedas e, em vez das quarenta moedas de cobre, reluziam quarenta moedas de ouro, todas novinhas em folha.” (COLLODI, 2004, p. 200).

Porém, o jornalista, tradutor e crítico literário italiano Giorgio Manganelli, autor do livro Pinóquio: um livro paralelo, diz que esse tesouro que Pinóquio ganhou não significa riqueza, mas a consecução por transformação (2002, p. 191). No final do capítulo, Gepeto diz que essa mudança repentina na casa e na vida deles é mérito de Pinóquio por ter se tornado bom, trazendo, consequentemente, um aspecto novo e alegre também para dentro da sua família.

Outro trecho bastante interessante é quando Pinóquio descobre que teve suas moedas de ouro roubadas e corre ao tribunal para denunciar ao juiz os dois malandros que o haviam ludibriado. Mas, depois de ouvir com benevolência, o juiz dirige-se a dois cães vestidos de policiais e diz: “Aquele pobre coitado foi roubado de quatro moedas de ouro: peguem-no e coloquem-no na prisão.” (COLLODI, 2004, p. 94). E ali Pinóquio ficou por quatro meses. Para esclarecer esta prisão do personagem, Manganelli explica que a “condenação de Pinóquio demonstra que é uma sociedade coerente, capaz de misturar a benignidade com a punição da desventura e da ineficiência. Fazendo-se roubar, Pinóquio revelou-se ingênuo e, portanto, ineficiente” (2002, pp.105–106). Na vida, as pessoas são punidas pelos seus atos de tolice e ingenuidade, então, nesta cena, Pinóquio foi condenado a quatro meses de prisão por se deixar enganar.

A história trata de temas como: violência e ternura, alegria e tristeza, medo e coragem, fazendo com que as crianças mergulhem no mundo do boneco de madeira, encantando-se com as situações fantásticas e identificando-se com as travessuras de Pinóquio. A história encanta, há mais de cento e trinta anos, adultos e crianças através de seu personagem. Em uma entrevista para a Folha Online, a versão na internet do jornal Folha de S. Paulo, o ator, diretor e produtor italiano Roberto Benigni comenta que o “personagem fascina porque é contraditório, uma mistura de Dom Quixote, Fausto, Hamlet e Édipo. É como um bombardeio de alegria, mas também de dor, perdas, buscas e de todos os ingredientes da vida.” (ISSA, 2002).

A história de Pinóquio mostra, também, para as crianças como seus pais se preocupam em mantê-las protegidas dos perigos da vida. Os adultos sofrem com os seus filhos, mas as crianças sofrem mais ao serem educadas. Collodi, em uma de suas histórias, esclarece a sua revolta, com um raciocínio de Tomás, um dos seus personagens de doze anos.

Todos ralham comigo…, todos implicam comigo!… Por quê? Afinal de contas, eu faço o que todos os meninos têm que fazer. A culpa, portanto, não é minha. A culpa é da mamãe, que nunca sossega; a culpa é do papai, que sempre grita…; a culpa é do professor, que todos os dias precisa humilhar-me diante dos meus colegas. Oh! Como seria bom se os pais e as mães algumas vezes parassem com aquela mania que eles têm de reclamar! Oh! Que bom seria se os professores entendessem que o máximo que se pode exigir dos meninos é que eles vão para a escola! Mas querer que eles vão para a escola e que estudem me parece uma pretensão e tanto! Quem é que pode fazer duas coisas ao mesmo tempo?” (COLLODI, 2001, p. 27).

Já no capítulo XXVII de Pinóquio, Collodi provoca uma discussão entre o personagem principal e seus colegas de escola que acabam atirando-lhe cartilhas, livros infantis e um volume pesado do Tratado de Aritmética, num irônico jogo de rebeldia.

O episódio em que Pinóquio é engolido por uma baleia é, provavelmente, uma metáfora utilizada para simbolizar uma experiência que o autor presenciou. Domingo Lorenzini, seu pai, fizera um empréstimo com um rico florentino, mas os enormes juros o arrasaram e ele foi “engolido” pelas dívidas. Collodi, então, foi auxiliá-lo, pagando suas dívidas e tirando-o de dentro da “barriga da baleia”. Este capítulo possui uma semelhança com a parábola de Jonas, onde Deus envia um peixe enorme para engoli-lo, como castigo por não ter seguido o caminho e fugido da presença de Javé. Jonas ficou, então, no ventre do peixe durante três dias e três noites. A experiência dentro de uma angústia mortal, figurada pelo mar e pelo ventre do peixe, faz com que Jonas aprenda a lição.

Na história, Gepeto, assim como o Dr. Frankenstein de Mary Shelley (1818), sonha em criar um ser, mas não se preocupa com suas consequências. Gepeto por duas vezes se arrepende por ter criado um boneco tão maroto. Na primeira, logo quando o finalizou e Pinóquio lhe deu um pontapé na ponta de seu nariz, Gepeto diz: “Eu mereço! — disse, então, consigo mesmo. — Eu tinha que ter pensado nisso antes! Agora é tarde.” (COLLODI, 2004, p. 27). A segunda frase é quando Gepeto é pego pela polícia por perder a paciência e ameaçar Pinóquio: “Filho malvado! E pensar que sofri tanto para fazer o boneco! Eu mereço! Eu tinha que ter pensado nisso antes…” (COLLODI, 2004, p. 29).

Tanto Gepeto quanto o cientista Frankenstein querem ser donos daquilo que criam. Porém, enquanto o livro de Shelley fala sobre a tentativa de se colocar no lugar de Deus como supremo criador da vida, na história de Collodi isto é ignorado. Gepeto não dá vida a Pinóquio. Simplesmente o pedaço de madeira já possui vida antes de ser esculpido, o que é muito comum nas literaturas infantis: aquilo que é inanimado possuir ou ganhar vida própria.

Esta identidade entre criador e criatura, também existe na mitologia grega. Prometeu era um titã, filho de Japeto (O mesmo que Iápeto. Um dos Titãs, filho do Céu e da Terra. Marido de Clímene, com quem teve Atlas) com Clímene (Também chamada de Ásia, era filha de Oceano e Tétis e casou-se com Iápeto), que foi incumbido de criar um ser diferente dos animais. Esculpiu as feições de um deus, em seguida deu-lhe a fidelidade do cavalo, a força do touro, a esperteza da raposa e a avidez do lobo. Assim, para terminar, Minerva (Filha de Júpiter e Métis e uma das doze divindades do Olimpo) deu à criatura algumas gotas de néctar para que adquirisse o espírito divino, fazendo surgir a raça humana.

Carlo Collodi provavelmente teve um contato direto com a mitologia grega em seus estudos no seminário. Então entende-se que ele pode ter, sim, se baseado nesta história para poder criar a de Pinóquio. Elas são bem parecidas por alguns motivos: Japeto possui um nome semelhante ao de Gepeto, o velho marceneiro solitário que cria Pinóquio; Prometeu também cria um ser diferente; Prometeu baseia-se nos animais para criar este ser, e Pinóquio o tempo todo é comparado, ou confundido, com um coelho, peixe, burro etc.; e, por fim, tanto nesta passagem da mitologia grega como na história de Collodi, existe a figura feminina que, como uma divindade, transforma o ser criado em um ser humano.

O Marionete

Pinóquio apenas deseja se transformar em um menino de verdade; sair da condição de marionete, um ser totalmente controlado e manipulado por outro homem, e se libertar, tornando-se uma pessoa. Pinóquio é um boneco, “um brinquedo do qual só se espera que contrarie sua natureza: não brinque, não se distraia, não se divirta, mas vá à escola, cumpra o dever e trabalhe.” (MACHADO, 2002, p. 120).

No trecho em que Gepeto diz para o Mestre Cereja que pensa em fabricar um boneco de madeira, um boneco maravilhoso, que saiba dançar, esgrimir e dar saltos-mortais, para rodar o mundo e conseguir um pedaço de pão e um copo de vinho, o jornalista e editor Haroldo Ceravolo Sereza afirma que Gepeto “imagina-o como uma fonte de renda, capaz de lhe fornecer pão e vinho. Uma leitura radical e politicamente correta veria aí a expressão clara da exploração do trabalho infantil.” (SEREZA, 2002).

Na Cidade das Abelhas, Pinóquio pede esmola para cerca de vinte pessoas e elas lhe respondem: “Você não tem vergonha? Em vez de vagabundear pela estrada, vá procurar um pouco de trabalho e aprenda a ganhar o seu pão.” (COLLODI, 2004, p. 116). Porém, Pinóquio não quer ir à escola, nem trabalhar. Ele diz à Menina dos Cabelos Azuis que trabalhar lhe cansa. E a Menina o assusta dizendo que quem não trabalha acaba preso ou no hospital.

[…] aqueles que falam assim acabam quase sempre na cadeia ou no hospital. O homem, fique sabendo, nasça rico ou pobre, deve fazer alguma coisa neste mundo, deve ter uma ocupação, deve trabalhar. Ai de quem fica no ócio! Ócio é uma doença muito feia, e é preciso curá-la logo, desde criança, senão, quando formos grandes, não se cura mais.” (COLLODI, 2004, p. 121).

Porém, não adianta conselhos. Pinóquio quer é brincar como qualquer outro menino e diz ao Grilo que não quer ir para a escola, porque se diverte muito mais perseguindo borboletas. “Pode falar, meu Grilo, como e quanto você quiser, mas eu só sei que amanhã, ao amanhecer, quero ir embora daqui. E isto porque, se eu ficar aqui, vai me acontecer o que acontece com todas as outras crianças. Quer dizer: vão me mandar para a escola. E, querendo ou não, vou ter que estudar. E eu, cá entre nós, não tenho nenhuma vontade de estudar. Eu me divirto mais correndo atrás de borboletas e subindo nas árvores para pegar os passarinhos nos ninhos.” (COLLODI, 2004, p. 32).

O Grilo, que na obra de Collodi tem um papel secundário, também recomenda a Pinóquio estudar e trabalhar, dizendo que crianças que se rebelam contra os pais e fogem de casa, não terão nenhum bem neste mundo e se arrependerão amargamente. Depois de diversas aventuras arriscadas e desilusões, no final do livro, Pinóquio aprende, finalmente a trabalhar e estudar. Consegue não só sustentar o seu pai doente, mas também guardar dinheiro suficiente para comprar roupas novas para si.

Mas antes desta conquista, Pinóquio vivia prometendo estudar, trabalhar e fazer tudo que a Menina dos Cabelos Azuis dissesse para virar um menino de verdade. Mas se transformar em gente não é nada fácil. Como diz a professora de literatura Esther Rosado, “dói crescer, dói perder, dói ter medo da Baleia, dói encontrar garrafas com mensagens. O mundo dói e nos desvia dos nossos caminhos quando vamos ‘à escola’ ser domesticados para o universo social que nos acolherá” (ROSADO, 2002).

“Pinocchio” significa, em italiano, olhos de pinho ou semente do pinho, o pinhão (DIZIONARIO, 1976, p. 600). Logo no início da história, Collodi explica aos seus pequenos leitores que, no lugar de rei, seu personagem principal era um simples pedaço de madeira, daqueles que durante o inverno são colocados nos fogões e lareiras. Alessandra Garrido Sotero, mestre em Letras Neolatinas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, explica que o pedaço de madeira que sabe falar e com características humanas “nos remete à ideia do homem como coisa, que precisa ser esculpido, o homem aproximado ao animal se não se educa; chamando a atenção para a necessidade de culturalização.” (SOTERO, 2002).

O pedaço de madeira que, ao saber que iria virar perna de uma mesinha, grita para não baterem com força. Ou seja, Pinóquio já tinha vida antes de ser um boneco mas, essa vida estava longe de ser vista como humana. Gepeto entalha o boneco, dá nome e o ensina a andar, momento que se inicia o processo de humanização de Pinóquio. Pinóquio é um bebê recém-nascido com 11 ou 12 anos que inicia seu processo de socialização com a figura paterna e materna, representadas por Gepeto e Menina dos Cabelos Azuis. A paterna sendo mais rígida e severa, preocupada com sua educação, e a materna fazendo o papel da carinhosa e amiga, apresentando o amor e o afeto. São eles que vão, no dia a dia, ensinando o boneco a dominar os códigos da sociedade em uma socialização primária.

Comparando a história As aventuras de Pinóquio e a teoria de Freud do prazer e da realidade, Sotero diz ainda que, embora Pinóquio saiba andar e falar, ele não é uma pessoa.

[…] somente no fim da história, quando ele se ajusta ao princípio da realidade, então merece ser transformado em uma pessoa. Sempre que Pinóquio está sendo sugerido pelo princípio do prazer, se afasta da condição humana, e isto é representado pela sua ‘animalização’. Em diversas partes da história, Pinóquio se transforma em um animal, e isto acontece sempre quando ele é sugerido pelo princípio do prazer.” (SOTERO, 2002).

Mesmo todos dizendo, o tempo todo, que se não for à escola Pinóquio se tornará um grande burro, ele foge do modelo de educação tradicionalista com regras e métodos e diz que não quer estudar. No final ele se torna um ser humano, não porque estudou as matérias científicas, e sim porque tem um bom coração.

O Grilo tenta aconselhar Pinóquio e mostra as consequências de suas ações. A relação do comportamento entre Pinóquio e o Grilo é, gradativamente, modificada pelo desenvolvimento da consciência do boneco. O Grilo surge quatro vezes na história: uma em que Pinóquio o mata; outra, na forma de sombra e com uma vozinha fraca que parecia de outro mundo, quando Pinóquio o ignora; depois Pinóquio chora e reconhece os seus maus atos; e, finalmente, na última aparição, o boneco escuta e aceita o Grilo, como sua consciência.

Já Gepeto é um velho pobre, solitário, de ofício incerto e representa, em parte, a figura paterna, mas não dá para se dizer que ele é pai de Pinóquio, já que se distancia bastante do boneco ao longo da história. “Eu não diria, porém, que Gepeto é o “pai” de Pinóquio. Ele representa em parte a figura paterna, mas se distancia bastante dela. Como “pai” lhe cabe o desafio filial de Pinóquio, já que, como gerador, ele está do lado da prevaricação e do equívoco: gerar significa ignorar, contagiar, abandonar, matar.” (MANGANELLI, 2002, p. 26).

Pinóquio só vive com Gepeto no dia em que foi criado, no dia seguinte quando seu pé é restaurado pelo marceneiro e nos dois últimos capítulos, com o resgate de dentro da baleia. Em um episódio, Gepeto é considerado o seu criador, no outro, uma espécie de tutor ou pedagogo, depois como o melhor pai do mundo. Pinóquio tem uma relação muito mais afetiva com a Menina dos Cabelos Azuis, que faz o papel de sua amiga e irmã. É para ela que Pinóquio promete seu bom comportamento e chora pela sua suposta morte.

O tempo passa e todos crescem. Gepeto fica mais velho e fraco e a Menina, de irmã, passa a ser considerada, por Pinóquio, mãe. No entanto, o boneco de madeira continua estacionado no tempo, desejando, assim, virar um menino de verdade para, também, poder crescer. No decorrer da história, Pinóquio sabe quando está agindo corretamente e quando não está. O boneco de madeira, talvez, através de suas mentiras, esteja apenas escondendo os seus atos e os resultados de suas ousadias para não levar punição.

[…] Pinóquio não é tão mentiroso assim, ou, se quisermos, não é esse o seu principal defeito. Ele pode igualmente ser acusado de imediatismo, de preguiça, de desinteresse pelo estudo, de insolência e de brusquidão. Ao longo de suas aventuras, Pinóquio é castigado mais pela credulidade […] do que pelas inverdades que profere.” (COELHO, 2002).

Quando Pinóquio promete ir à escola e aprender um ofício não está mentindo. Promessa não é mentira. O problema é que o personagem, na verdade, vive em um mundo de mentiras e fingimentos, onde a Raposa, de pé ligeiríssimo, que diz ser manca, e o Gato, de vista agudíssima, que diz ser cego, convencem Pinóquio a plantar as suas moedas para nascer um pé de dinheiro. Sem falar de quando Pinóquio, com os seus pés queimados, pede para Gepeto refazê-los e o velho finge querer deixar Pinóquio sem eles e de quando seus colegas brincam com o boneco e fazem com que ele perca um dia de aula, dizendo que viram uma baleia grande no mar, supostamente a que engoliu o seu pai.

No entanto, Pinóquio deve aprender que o mundo é feito de mentira e às vezes ela é necessária, como diz Emília, personagem do escritor Monteiro Lobato, no livro A Chave do Tamanho.

Isso de falar a verdade nem sempre dá certo. Muitas vezes a coisa boa é a mentira. ‘Se a mentira fizer menos mal do que a verdade, viva a mentira!’ Era uma das ideias emilianas. ‘Os adultos não querem que as crianças mintam, e, no entanto, passam a vida mentindo de todas as maneiras — para o bem. Há a mentira para o bem, que é boa; e há a mentira para o mal, que é ruim. Logo, isso de mentira depende. Se é para o bem, viva a mentira! Se é para o mal, morra a mentira! E se a verdade é para o bem, viva a verdade! Mas se é para o mal, morra a verdade!’” (COELHO, 2000, p. 148).

Neste jogo de verdade e mentira, Emília ainda explica que a “verdade é uma espécie de mentira bem pregada, das que ninguém desconfia” (LOBATO, 1994, p.8) e que não existe um parâmetro certo para definir o que é verdade e o que é mentira.

Acho graça nisso de você falar em verdade e mentira como se realmente soubesse o que é uma coisa e outra. Até Jesus Cristo não teve ânimo de dizer o que era a verdade. Quando Pôncio Pilatos lhe perguntou: ‘Que é a verdade?’ Ele, que era Cristo, achou melhor calar-se. Não deu resposta.” (LOBATO, 1994, p. 7).

Tanto é que o nariz de Pinóquio não cresce todas as vezes que ele mente. Uma passagem como exemplo, é quando, para esconder as vergonhosas orelhas de burro, ele diz para seu amigo Pavio que por ter “esfoliado” um pé, o médico ordenou que ele usasse um boné de algodão enfiado até o nariz. Pinóquio mente por vergonha de sua condição e não é condenado por isso.

Diferentemente do que se popularizou acreditar, o nariz de Pinóquio cresce somente em três momentos da história. Quando Gepeto o cria, depois quando ele mente para a Menina dos Cabelos Azuis e, por último, quando perguntam-no se conhece Pinóquio, e ele diz que sim e parece ser “um bom menino, cheio de vontade de estudar, obediente e muito ligado ao seu pai e à sua família.” (COLLODI, 2004, p. 142).

Quando a Menina pergunta onde estão as quatro moedas de ouro, Pinóquio diz que as perdeu, sendo que estavam no seu bolso. Esta é uma prova que Pinóquio mentiu para se proteger. No livro O novo Pinóquio (uma adaptação de Christine Nöstlinger da história) o boneco de madeira pensa antes de responder à pergunta da Menina. “Pinóquio já ia enfiar a mão no bolso e tirar as moedas, mas então ele pensou: ‘Eu já fui enganado uma vez por dois vigaristas que se fingiram de amigos. É melhor tomar cuidado, se não ai de mim outra vez!’” (NÖSTLINGER, 1989, p. 86).

Porém, quando o seu nariz começa a crescer, o Pinóquio de Nöstlinger explica para a fada, chorando, porque mentiu. “’Mas eu só estava sendo prudente’, disse Pinóquio, soluçando. ‘Se eu confio em alguém, dá errado! Se eu não confio, também dá errado. Isso não é justo!’” (NÖSTLINGER, 1989, p. 88). Neste momento, Pinóquio mente pela sua “sobrevivência”, pois em outro momento ele foi enganado. Porém, ele tem que aprender a discernir quando uma pessoa está falando a verdade ou mentindo, isso é muito difícil e só a vida poderá ensiná-lo. Pinóquio não sabe quando mentir, quando dizer a verdade e quando acreditar, ou não, nas pessoas.

Pinóquio tenta ser uma pessoa educada, de bons modos e obediente para receber a recompensa de se tornar um menino de verdade. E quando a Menina dos Cabelos Azuis, no papel de tutora, faz o ritual de passagem de boneco para ser humano diz o Pinóquio: “Muito bem, Pinóquio! Graças ao seu bom coração, eu perdôo todas as molecagens que você fez até hoje. As crianças que assistem amorosamente os próprios pais nas suas misérias e nas suas enfermidades merecem sempre grande louvor e grande afeto, mesmo não podendo ser citadas como modelo de obediência e bom comportamento. Veja se cria juízo daqui para a frente e você será feliz.” (COLLODI, 2004, p.199).

Ou seja, mostram que o desenvolvimento humano é gradual, vai se sofisticando ao longo da vida e só para quando morre. E Pinóquio recebe o tão esperado prêmio e, contente por ter virado um menino de verdade, se olha e se acha ridículo quando boneco.

O boneco da Disney

O personagem de Carlo Collodi que sonha virar menino de verdade ultrapassou gerações e tornou-se conhecido mundialmente, tendo ganhado inúmeras versões. Porém, quando se fala em Pinóquio, a primeira imagem que vem à cabeça é daquele boneco fofinho, de bochechas coradas e olhos azuis que a Walt Disney eternizou com o seu longa metragem em animação.

Boneco da Disney 

A versão do personagem criado pela Disney, em 1940, entrou no imaginário popular e deturpou o personagem, tirando a sua nacionalidade e identidade italiana, perdendo assim, toda a parte crítica e de contextualização que Collodi quis transmitir quando escreveu a história. Hoje, as pessoas se assustam quando alguém diz que Pinóquio é um pedaço de madeira que foge e enfrenta serpente, que é preso e enforcado e até mata o grilo em sua primeira aparição, mas é essa a história original escrita em 1881.

Para o cartunista italiano Sergio Staino, em uma entrevista para a Folha Online, a “Walt Disney traiu o personagem. Fez um Pinóquio muito superficial”. A história de Collodi é muito mais rica e a Disney transformou Pinóquio em um boneco mais gracioso, que desperta ternura. Porém, “Pinóquio é bem mais do que a imagem corriqueira que temos dele, fixada pelo desenho animado de Walt Disney e pelo proverbial nariz que cresce a cada mentira.” (COELHO, 2002).

Depois do grande sucesso de seu primeiro desenho animado de longa metragem, Snow White and the Seven Dwarfs (Branca de Neve e os sete anões), em 1937, os Estúdios Walt Disney estavam confiantes em continuar suas fórmulas de inovação na animação. Mas, depois de seis meses de produção do filme de Pinóquio, a Walt Disney decidiu parar tudo e resolver um problema que havia com o personagem. Apesar da história de Collodi formar um adulto responsável e educado e no final de cada capítulo obter mensagens educativas, os roteiristas dos estúdios acreditavam que o protagonista não era ingênuo o bastante, não tinha o mesmo carisma da Branca de Neve e não era forte o suficiente para carregar a história. Eles acreditavam que deveriam diminuir os aspectos agressivos, inserindo comédia e princípios morais. Por essa razão, eles alteraram e adaptaram livremente a história, criando um Pinóquio mais bonzinho, inocente e com cara de desenhos da Disney.

Eles inventaram Cléo, a peixinha charmosa, e Fígaro, o gato travesso e companheiro de Gepeto. Porém, a grande solução para o problema não foi somente criar novos personagens e, sim, manter o grilo vivo e torná-lo o narrador da história. “Assim a atenção do espectador é atraída, quase o filme todo, para os movimentos e a graça do bichinho.” (NAZÁRIO; BRUZZO, 1995, p. 22).

O Grilo Falante, criado por Ward Kimball, em forma de consciência, ajudaria a guiar o boneco pela história. Como um narrador personagem e com a missão de mostrar o que é certo e o que é errado, e dando seus conselhos de como Pinóquio devia se comportar diante de certas situações, o grilo ganhou cada vez mais destaque na história. Apesar de, na história de Collodi, o Grilo não ter nome, aparecer em apenas alguns capítulos e ainda ser esmagado por Pinóquio, na Disney ele tornou-se cada vez mais importante e famoso. E, depois deste desenho, virou apresentador do longa Como é bom se divertir (1947) e apareceu em diversos programas de TV da Disney, como o Mickey Mouse Club.

O Grilo do desenho animado é um esfarrapado com sapato furado e calça rasgada. Porém, quando a fada lhe dá a missão de ser a consciência de Pinóquio, em um passe de mágica, passa a vestir um fraque e usar uma cartola e guarda-chuva. Apesar de Walt Disney ter “adocicado” a história do italiano Carlo Collodi, não se pode condená-la. Se não fosse o desenho animado, que possui uma maior difusão, talvez Pinóquio não se tornasse tão conhecido e não teria permanecido no imaginário de tanta gente do mundo todo. Disney foi um importante meio de popularização do personagem, transformando-o no estereótipo que conhecemos hoje.

O filme de Pinóquio foi lançado em 1940 pelos Estúdios Disney logo depois da história cair em domínio público. A produção desse clássico custou para a Disney na época 2,6 milhões de dólares (NAZÁRIO; BRUZZO, 1995, p. 18) e, embora o entusiasmo das críticas, o filme perdeu dinheiro logo na estréia. Parte deste fracasso foi a eclosão da Segunda Guerra na Europa, cinco meses antes do lançamento do longa, pois 45% da renda de Disney vinha do exterior e o público, certamente, não estava com espírito para assistir a esse tipo de fábula.

Porém, o filme conseguiu se recuperar e com os relançamentos ao longo dos anos, acabou tornando-se, talvez, um dos desenhos animados de maior sucesso dos Estúdios. Apesar de ter sido mal-recebido pelo público da época, o longa em animação ganhou dois Oscars em 1941: melhor Trilha Sonora e Melhor Música, com a canção que virou hino da Walt Disney, When You Wish Upon a Star (Quando você fizer um pedido a uma estrela).

Atualmente, a Disney se prepara para lançar uma nova versão do filme de Pinóquio com atores reais, uma tendência que o estúdio vem adotando para modernizar seus clássicos da animação. (EFE, 2015).

Volta ao Mundo

Não foi somente a Walt Disney que fez uma adaptação da história italiana do boneco de madeira que quer virar gente. Desde que Pinóquio foi criado por Carlo Collodi, em 1881, houve inúmeras adaptações e traduções da história “praticamente para cada língua existente na Terra.” (DICIONÁRIO, 1984, p. 394).

São livros, vídeos, filmes, séries, peças de teatros, jogos e brinquedos que compõem todo o universo da indústria cultural em cima do boneco de madeira.

Porém, apesar da Disney ter unificado a imagem de Pinóquio, existem inúmeras interpretações do personagem de madeira no mundo todo. Para comemorar os 120 anos do personagem (2002), por exemplo, foram criadas duas exposições: Pinocchio nel Mondo, da Fundação Nacional Carlo Collodi, e Pinocchio Novecento, do desenhista italiano Sergio Staino. A primeira trata justamente dos diferentes traços que Pinóquio sofreu ao longo do século, tendo como base a origem, cultura e época de cada desenhista. A mostra apresentou uma série de painéis com as reproduções das capas de livros de vários países da Ásia, África e Europa, além dos Estados Unidos. Já a segunda exposição, do cartunista Sergio Staino, resgatou a interpretação da história original de Carlo Collodi. Staino voltou a politizar Pinóquio transportando-o para o conturbado século XX e fazendo-o encontrar com personalidades piores que o Gato e a Raposa.

Pinóquio foi ilustrado pela primeira vez em 1881, junto com a primeira versão da história As aventuras de Pinóquio publicada em forma de seriado, como já foi dito. Estas ilustrações não foram assinadas, tornando, assim, o desenhista um ilustre anônimo. Em 1883 foi lançada a primeira edição da história em forma de livro, ilustrado por Enrico Mazzanti. A partir de então, iniciou-se a difusão de Pinóquio nos principais mercados europeus de livros infantis. Em 1891, o livro foi publicado na Grã-Bretanha, também ilustrado por Mazzanti, e recebido com muito mais sucesso e entusiasmo do que na Itália.

Pinoquio, Enrico Mazzanti, 1883 

Nascido em Florença no dia 5 de abril de 1850, o engenheiro apaixonado por desenhos, Enrico Mazzanti, começou ilustrando obras científicas e depois passou a dedicar-se exclusivamente a ilustrações de obras literárias e didáticas, tornando-se ilustrador das principais editoras italianas, entre as quais Le Monnier, Paravia, Hoepli e Bemporad. Os seus desenhos eram em preto e branco com traços simples, porém ricos em detalhes. Mazzanti morreu aos 60 anos em sua cidade natal no dia 3 de setembro de 1910.

O Pinóquio de Carlo Chiostri, outro ilustrador famoso, é parecido com o de Mazzanti. Nos dois primeiros capítulos, em 1901, ele seguiu os passos de seu antecessor, mas foi a partir do terceiro que Chiostri soube dar uma interpretação mais pessoal a Pinóquio. Suas ilustrações se passam na Toscana rural e urbana do final século XIX. Ele criou cenas entre o real e o fantástico e um “Pinóquio alucinado, voltado para dentro, que parece seguir uma trajetória que só ele conhece” (BIBLIOTECA). Chiostri nasceu também em Florença, em 1863, e morreu em 1939 aos 76 anos. Segundo a Biblioteca Demonstrativa de Brasília, é um dos ilustradores com maior influência na definição do aspecto físico do personagem. Numerosas reedições de As Aventuras de Pinóquio se servem de suas ilustrações até hoje.

Pinoquio, Carlo Chiostri

Nos Estados Unidos, Pinóquio apareceu pela primeira vez em 1898. Porém, foi apenas em 1904 que surgiu a primeira edição traduzida, escrita e ilustrada pelos americanos Walter S. Cramp e Charles Copeland. Assim, a história do boneco de madeira foi atingindo gradativamente o sucesso, tornando-se um dos livros mais apreciados por inúmeras crianças americanas e um mercado lucrativo para vários ilustradores.

Pinoquio, Charles Copeland,1904 

As edições norte-americanas, junto com as inglesas, contribuíram para a propagação da história em países culturalmente distantes da Itália, como a Islândia e os países asiáticos. Em 1902, foi lançada a primeira edição francesa e na Alemanha, em 1905, surgiu uma adaptação da história com o título Zapfelkerns Abenteur (As aventuras de Pinóquio), escrita por Otto Julius Bierbaum.

Em 1911 surge o primeiro e famoso Pinóquio a cores, criado pelo ilustrador Attilio Mussino (ANEXO A.4). Nascido em Turim, Itália, em 1878, ele tornou-se bem mais conhecido que Mazzanti e Chiostri, criando imagens de Pinóquio ao longo de trinta e cinco anos para diferentes versões do livro de Collodi.

Pinoquio, Attilio Mussino, 1911 

Depois da Segunda Guerra Mundial, Pinóquio já tinha sido traduzido para praticamente todas as línguas da Europa e para numerosos idiomas da Ásia, África e Oceania

Com traços simples em preto e branco, o italiano Sergio Tofano reproduziu o boneco de madeira pela primeira vez, em 1921. Tofano nasceu em Roma em 1886 e seu Pinóquio remete a imagens de sua infância. Segundo a Biblioteca Demonstrativa de Brasília, seu personagem é “leve, flexível, longe da rigidez da madeira, com uma permanente expressão de surpresa em seu rosto, parecendo não pertencer a este mundo”. Em 1948, Tofano também fez ilustrações coloridas para uma adaptação da história. Assim, Pinóquio foi sendo conhecido por milhares de crianças e adultos de cada canto do mundo.

Pinoquio, Attilio Mussino, 1911

O escritor e ilustrador italiano de livros infantis Attilio Cassinelli, com suas figuras geométricas, expressivas, vibrantes e alegres, interpretou Pinóquio em 1981.

Pinóquio, Attilio Cassinelli, 1981


O alemão Nicolaus Heidelbach, em 1989, ilustrou o livro O Novo Pinóquio de Christine Nöstlinger. O italiano Benito Jacovitti, por três vezes, também se dedicou a Pinóquio: em 1943, 1946 e em 1964. Em 1944, o desenhista russo Vsevolod Nicouline ilustrou Pinóquio com muito mais valores culturais e étnicos de si mesmo do que uma simples interpretação da história.

A escritora alemã Marianne Mayer traduziu e adaptou a história em 1981 e o desenhista Gerald McDermott Ilustrou-a com figuras coloridas e vibrantes. Alvaro Cattaneo desenhou Pinóquio em 2002 para ilustrar o livro As aventuras de Pinóquio elaborado pela Fundação Carlo Collodi. Ele nasceu em Milão em 1937 e é apreciado pela sua técnica original de composição e coloração. Com muito estudo e prática, Alvaro usa cores puras e espátulas para obter um efeito de “mosaico”.

Pinoquio, Alvaro Cattaneo (2002) 

No Brasil, pela editora Ediouro, o cronista e membro da Academia Brasileira de Letras Carlos Heitor Cony escreveu, na década de 80, uma adaptação da história do boneco, chamada Pinóquio da Silva. Sem perder as características originais, Cony criou um Pinóquio bem brasileiro.

Os meios de comunicação de massa também contribuíram para a popularização de Pinóquio. Por atingirem um maior número de leitores, foram eles que fizeram com que o boneco de madeira permanecesse no imaginário das pessoas por tanto tempo, tornando-o mundialmente conhecido. Porém, foram os mesmos meios de comunicação que fizeram com que o autor se perdesse no decorrer do século, tornando o personagem mais conhecido do que o seu próprio criador.

Um dos pioneiros do cinema, conde Giulio Cesare Antamoro, adotou Pinóquio em 1911 e o transportou para um filme mudo de trinta segundos e colorizado manualmente. Na Itália, na década de 30, foram realizadas numerosas produções em longa-metragem coloridas baseadas em Pinóquio. Em 1932, no Japão, o diretor Noburo Ofuji criou um filme do personagem com técnicas experimentais de fantoche animado.

Enquanto o Pinóquio da Walt Disney era produzido com novas técnicas de cinema em animação, a então União Soviética produzia numerosas versões do boneco de madeira em desenhos e fantoches animados, baseado no livro de Aleksej N. Tolstoij, La chiavina d`oro (A chave de ouro).

O Japão, em 1972, criou uma versão para a televisão em forma de seriado chamado Kashi no Ki Mock. 

Mas ele foi traduzido pelos japoneses para vender nos Estados Unidos como Mock, the Oak Tree (Mock, o carvalho). No entanto, o desenho acabou virando mesmo The Adventures of Pinocchio (As Aventuras de Pinóquio). Ele consiste de 52 capítulos de trinta minutos cada e basicamente era a mesma história original criada por Carlo Collodi. Uns dizem que este desenho era muito triste e assustador. Outros, que essa versão foi considerada uma das mais depressivas de todos os animes (animação japonesa) já feitos, mas o que se sabe é que houve protestos de mães contra o desenho e até um boato nunca comprovado de que um garoto havia se suicidado por causa do desenho. Era muito comum crianças chorarem no final de cada episódio. Mas no meio de tanto medo por causa do desenho, houve inúmeros elogios por esse Pinóquio ser bem mais realista que o da Disney.

No Brasil, a rede Record de televisão exibiu a série nos anos 80. Esse seriado é bem lembrado pelos brasileiros. Certamente muitos se recordam do Pinóquio chamando o Gepeto de “Vovozinho” na dublagem brasileira. Essa série ficou tão famosa que chegou até a gerar, em 1995, piadas feitas pelos integrantes do extinto grupo Os Sobrinhos do Athaíde, da emissora de rádio 89FM de São Paulo. Se chamava Pinóculos, o menino de pau de óculos e no quadro humorístico os atores imitavam a voz do boneco: “Vovozinho, ninguém quer brincar comigo.” “Eu queria tanto ser um menino de verdade.” “Vovozinhooooo!”; e Gepeto dizia: “Ah meu Deus! Por que em vez de boneco, não fiz uma mesa?”

Em 1980 foi lançado o filme brasileiro intitulado Os Paspalhões em Pinóquio 2000. O longa foi dirigido por Victor Lima e estrelado pelos atores Ricardo Blat, Older Cazarré e Ted Boy Marino. O filme, raro e trash, fala sobre a história de um cientista louco que tenta provocar uma epidemia mundial de diarréia para poder lançar no mercado sua marca de papel higiênico. Por essa razão, os Paspalhões contam com a ajuda de um robô gay para salvar a humanidade. Um caso extremo de até onde o Pinóquio pode chegar.

Um dos grandes exemplos de filmes baseados em Pinóquio foi o AI — Inteligência Artificial (2001),  filme idealizado pelo diretor Stanley Kubrick (mesmo diretor de De Olhos Bem Fechados). Para que o filme se tornasse realidade, Kubrick acreditava que o diretor Steven Spielberg fosse o diretor ideal para realizá-lo, já que era preciso uma grande quantidade de efeitos especiais. Quando Kubrick faleceu, Spielberg resolveu realizar o filme com base nas notas e escritos deixados por ele de como pretendia fazer o longa, já que os dois já vinham conversando sobre o assunto. O filme foi protagonizado pelo ator Haley Joel Osment, o mesmo de O Sexto Sentido, que faz o papel do pequeno David, um robô que busca, de qualquer maneira, tornar-se um menino de verdade para conquistar o amor de sua mãe. Ao escutar a história de Pinóquio, David foge à procura da Fada Azul para que ela o transforme em um ser humano. Em suas aventuras, o robô conta com a ajuda de Teddy, um ursinho que foi colocado no lugar do grilo falante para ser sua consciência.

AI — Inteligência Artificial (2001)

O ator italiano Roberto Benigni também quis interpretar Pinóquio e, em 2002, dirigiu e protagonizou o filme produzido pela Miramax, uma unidade da Walt Disney. Benigni procurou ser o mais fiel possível ao texto original escrito por Carlo Collodi. O filme foi lançado em um momento oportuno, pois comemoravam-se os 120 anos do Pinóquio e o filme foi escolhido para representar a Itália na disputa do Oscar como melhor filme estrangeiro em 2003. Porém o que ele ganhou foi o “Framboesa de Ouro” de pior ator com a interpretação de Roberto Benigni, além de ter sido indicado como pior filme, diretor, sequência, dupla — Roberto Benigni e Nicoletta Braschi — e roteiro. No entanto, a imprensa elogiou o roteirista Vincenzo Cerami, o compositor da trilha sonora, Nicola Piovani, os cenários de Danilo Donati e todos os outros atores, em sua maioria formados em teatro, que foram considerados “a salvação do filme”.

Pinoquio de Benigni

Em 2004, foi lançado um longa em animação 3D chamado “P3K — Pinocchio 3000”, do diretor canadense Daniel Robichaud. Vencedor do prêmio Goya, da Espanha, de melhor filme de animação em 2005, a história se passa no ano 3000 e fala sobre Gepetto, um genial inventor da cidade de Scamboville, que cria um robô com personalidade de um menino de verdade, chamado Pinocchio. O robô é alegre, criativo, curioso, mas também muito inocente. Porém, está disposto a qualquer coisa para realizar seu sonho de se tornar um menino de verdade.

P3K — Pinocchio 3000

Um outro filme em que Pinóquio é um robô é no longa de Takahiko Akiyama. Produzido em 2005, Hinokio é uma adaptação futurista e conta a história de um menino que aos 11 anos perde sua mãe e tenta se isolar. Para ir para a escola manda em seu lugar um robozinho criado pelo pai. A história é uma reflexão sobre a adaptação do menino à realidade e sua convivência com os outros.

No Brasil, existem diversas peças de teatro que falam sobre Pinóquio, cada uma a seu modo. Pinóquio, uma aventura em busca de ser, exibido no Theatro São Pedro em 2003, é uma adaptação livre de Alberto Isola e Leslie Marko da história original. Pinóquio etc. e tal, do grupo Teatro Por um Triz, foi escrita por Márcia Nunes e Péricles Raggio e dirigida por Henrique Sitchin. Essa peça foi inspirada em Collodi, porém, ela conta a história de quatro marceneiros que necessitam construir um boneco de madeira e que, durante a fabricação, se lembram da fábula de Pinóquio.

O Giramundo também não poderia ficar de fora. Um dos poucos grupos de teatro voltado exclusivamente ao teatro de bonecos, foi fundado em 1970 por três artistas plásticos da Escola de Belas Artes de Minas Gerais: Terezinha Veloso, Álvaro Apocalypse e Madu. Em 2005, o grupo criou uma nova montagem de Pinóquio para adultos, inspirado em Carlo Collodi.

Atualmente, existem diversos produtos com o tema Pinóquio. São produtos que vão desde um simples resumo da história até produtos complexos de multilinguagens. Entre eles, estão o CD-TV da Giunti Multimídia, que contém a história em seis línguas europeias, e o videogame baseado nos desenhos originais de Lernardo Mattioli para a história As aventuras de Pinóquio, na edição Vallecchi de 1955. Hoje, esses dois produtos são de direitos autorais do Comitê para o Monumento a Pinóquio, da Fundação Nacional Carlo Collodi.

Monteiro Lobato e o boneco de madeira

Monteiro Lobato foi, sem dúvida, uma das figuras mais importante para a história do Brasil. Com uma mente além do seu tempo, ele foi político, empresário, editor, escritor e tradutor.

Como editor e escritor, Lobato encarava o livro como um produto qualquer a ser comercializado. Inventou novos postos de venda e criou capas coloridas que atraíssem a atenção dos leitores. Ele inovou na forma de se tratar o livro. Lobato, preocupado com a alta taxa de analfabetismo no país no início do século XX, incentivava o hábito de leitura na população. Ele sabia que para aumentar o número de leitores e consumidores de livros no país, precisaria “formar novos leitores e, também futuros leitores, um processo que deve ser começado na infância.” (KOSHIYAMA, 1982, p. 189).

Então, em 1921, Lobato publicou A menina do nariz arrebitado, o seu primeiro livro voltado para as crianças. Este livro teve uma enorme repercussão e a partir de então Lobato, gradativamente, deixou os seus textos políticos e dirigidos para adultos e passou a dedicar-se somente às crianças.

Apesar das desilusões do pós-guerra, LOBATO permaneceu um otimista concentrando o esforço de sua influência sobre a infância e o futuro. Esforço que por si mesmo condensa sua campanha mais importante — a da educação da nova geração. Nela LOBATO propõe, ao lado do incremento da inteligência, uma ética assentada sobre uma democracia do senso comum. Propõe, como modelo de sociedade ética, o ‘Sítio do Picapau Amarelo’ e como exemplo de convivência humana, o relacionamento entre os seus habitantes fictícios. É uma ‘Utopia’ democrática cujo esboço já não se suporta sobre os andaimes da macroestrutura como o foram as utopias da “República” de Platão ou a “Civitate Dei” de S. Agostinho. Também não se suporta sobre uma ordem dada do conhecimento como utopias modernas desde Thomaz MORUS até o “Admirável Mundo Novo” de HUXLEY ou o “WALDEN TWO” de B.F.SKINNER, entre outras. A utopia de LOBATO assenta-se sobre uma solidariedade básica possível somente na vida cotidiana. O ‘Sítio’ e seus personagens compõem seu refúgio. Sim, refúgio diante da ordem internacional esboroada na Europa pela Segunda Guerra Mundial. Refúgio onde os liames da vida entrelaçam as pessoas numa relação de fé e confiança mútua e que pareciam irremediavelmente abalados. E por que não admitir? refúgio do guerreiro LOBATO perante os violentos embates sofridos nas campanhas empreendidas ao longo da vida.” (MELLONI, 1995, pp. 520–521).

Foi a partir deste livro, A menina do nariz arrebitado, que surgiu o Sítio do Picapau Amarelo, e nasceu Emília, a personagem mais famosa do escritor. Como porta-voz de Lobato, a personagem transmitia críticas políticas e sociais, pensamentos e ideais do autor. Emília é uma boneca de pano que adquire vida. Com personalidade, ela é “atrevida para muitos, mal-educada para outros, ‘pitada de pimenta’ para terceiros” (MELLONI, 1995, p. 521). Emília critica a sociedade, é mandona e possui um espírito de líder. Essa forma que Lobato criou em transmitir para as crianças o que não consegue falar para os adultos, misturar o real com o imaginário e dar vida a um boneco, pode ser comparada com o italiano Carlo Collodi, criador de Pinóquio.

Um dos grandes achados de Lobato, tal como o de seus antecessores L. Carroll e Collodi, foi mostrar o maravilhoso como possível de ser vivido por qualquer um. Misturando o imaginário com o cotidiano real, mostra, como possíveis, aventuras que normalmente só podiam existir no mundo da fantasia.” (COELHO, 2000, p. 138).

Emília e Pinóquio são dois bonecos da literatura maravilhosa que criaram vida. Apesar das semelhanças, eles possuem uma diferença de personalidade e na forma de encarar o mundo. Enquanto no livro de Collodi o papagaio diz para o boneco: “Hoje (mas é tarde demais!) eu tive que me convencer que, para juntar honestamente um pouco de dinheiro, é preciso saber ganhar com o trabalho das próprias mãos e com as capacidades da própria inteligência.” (COLLODI, 2004, p. 93). Emília diz para o Visconde:

Perfeitamente, Visconde! Isso é que é o importante. Fazer coisas com a mão dos outros, ganhar dinheiro com o trabalho dos outros, pegar nome e fama com a cabeça dos outros. Ganhar dinheiro com o trabalho da gente, ganhar nome e fama com a cabeça da gente, é não saber fazer as coisas. Olhe, Visconde, eu estou no mundo dos homens há pouco tempo, mas já aprendi a viver. Aprendi o grande segredo da vida dos homens na terra: a esperteza! Ser esperto é tudo. O mundo é dos espertos. Se eu tivesse um filhinho dava-lhe um só conselho: ‘Seja esperto, meu filho.’” (LOBATO, 1977, p. 198).

Esta diferença de lidar com a honestidade, inteligência, trabalho e esperteza está ligada à época e localidade em que cada um dos dois autores viveu. Emília foi criada por Monteiro Lobato quarenta anos depois que Collodi criou Pinóquio e em países diferentes. Porém, eles têm muitas coisas em comum, a começar por criarem um boneco (de madeira ou de pano) que fala.

Mas o elo entre estes dois autores, que viraram um mito em seus respectivos países, se torna muito maior quando, em seu mesmo livro A menina do nariz arrebitado, Lobato idealiza um irmão de Pinóquio. A ideia de se criar um irmão do boneco de madeira surgiu quando Emília, junto com as outras crianças do sítio, ouvia a história italiana contada por D. Benta.

- Pois minha idéia é esta: Se Pinóquio foi feito de um pedaço de pau vivente, bem pode ser que ainda haja mais pau dessa qualidade no mundo.

- E que tenho eu com isso?

- Tem que, se houver mais pau dessa qualidade, você poderá arranjar um pedaço e fazer um irmão de Pinóquio!” (LOBATO, 1977, p. 103).

Depois que o boneco ficou pronto, Emília o batizou de João Faz-de-conta e explica o por quê:

- João, porque ele tem cara de João. Todo sujeito desajeitado é mais ou menos João. E faz-de-conta, porque só mesmo fazendo de conta se pode admitir uma feiúra desta. Faz de conta que não é feio. Faz de conta que não tem ponta de pregos nas costas. Faz de conta que…” (LOBATO, 1977, p. 108).

O irmão de Pinóquio era um boneco de madeira feio, confeccionado por Tia Anastácia. Por um tempo ele falou e participou de aventuras de Narizinho, mas depois ficou mudo e se tornou, novamente, um pedaço de pau. “Os outros personagens do sítio são inanimados, embora excelentes pessoas. Existe aquele João Faz-de-conta que por uns tempos foi animado, falou, agiu e soube portar-se tão heroicamente nas nossas aventuras com Capinha Vermelha. Mas quebrou-se por dentro e emudeceu. Ficou um pedaço de pau à-toa.” (LOBATO, 1994, p. 58).

Em maio de 1927, Lobato conseguiu do governo de Washington Luis a sua nomeação como Adido Comercial em Nova York. Então, foi com sua família para os Estados Unidos. Um dos seus planos era produzir e negociar livros. Por isso, “além de informar-se sobre produção de ferro e petróleo, tentou, sem sucesso, fundar uma editora, a Tupy Publishing Co.” (MOMENTOS, 1998, p. 52). Nos quatro anos que Lobato morou em Nova York escreveu algumas cartas para os pequenos leitores que ele havia deixado no Brasil. Em uma delas, escrita provavelmente em 1928, ele anuncia o livro O Irmão de Pinóquio que iria ser publicado.

Carta a um amiguinho

De Nova York, provavelmente em 1928, Lobato responde a um “Prezado amigo deste tamanho,

Recebi sua carta com um menino pescando uma botina velha em cima. Recebi também os retratos que você mandou. Já remeti esses retratos para São Paulo, para o desenhista que vai fazer desenhos para o livro que eu fiz e que se chama — Circo de Cavalinhos (a Emília, que é uma burra, diz Circo de Escavalinho.) Mas estou com medo que o desenhista não faça você parecido e mamãe vai ficar danada. A Emília vive se queixando dos desenhistas, que nunca pintam como ela é.

O sítio de Dona Benta está ficando uma beleza. Agora apareceu um outro freguês, o João Faz-de-conta, que é um boneco irmão do tal Pinocchio. É muito feio o coitado, como você vai ver no fim do ano num livro chamado “O irmão de Pinocchio” que vai sair. Narizinho está crescendo e cada vez com o nariz mais arrebitado.

A casa dos pinguins vai bem. É meio triste porque só tem dois habitantes, dois pingüins, que passa o dia inteiro um olhando para o outro. Já devem estar enjoados de tanto olhar, não? Enquanto não aparecer por lá um pinqüinzinho há de ser isso.

A casa de Alarico é alegre porque tem um pingüinzinho sabido que é você.

Adeus meu caro amigão e diga a papai que quando vier cá outra vez não deixe de trazer você para ver a máquina que a gente põe um níquel e sai um pedacinho de chewing gum.

Até logo. Lembranças a papai, mamãe e ao Presidente.” (MONTEIRO)

Então, em junho de 1929, Lobato publica o livro O irmão de Pinóquio pela Companhia Editora Nacional, com tiragem de cinco mil exemplares. Este livro teve a tiragem esgotada em 1933 e não possui segunda edição. Conforme o catálogo de 1929 da própria editora, o livro possuía belas ilustrações.

Lobato voltou para o Brasil em 1931, falido, mas cheio de ideias. Com o intuito de traduzir para as crianças a obra de Collodi, a Companhia Editora Nacional, em 9 de Julho de 1932, comprou os direitos autorais da editora italiana R. Bemporad & Piglio. E, por duas mil liras italianas, a editora de Monteiro Lobato tornou-se a única proprietária da obra de Pinóquio para a língua portuguesa.

Assim, Monteiro Lobato, em 1933, alguns anos antes da Disney produzir o longa do personagem (1940), faz uma tradução revisada de As aventuras de Pinóquio registrada sob o nº 5.461 na Biblioteca Nacional no mesmo ano, com o título Pinocchio.

Mercado Editorial

Monteiro Lobato foi o primeiro escritor brasileiro a traduzir o personagem italiano para o português. Porém, obviamente, não foi o único. Ao longo desses anos, muitas editoras nacionais também publicaram a história do boneco de madeira, fazendo com que ele se tornasse um ícone na cultura popular. Elas descobriram em Pinóquio um nicho e cada uma a seu modo, cada uma no seu estilo, fez com que Pinóquio tomasse conta do mercado editorial brasileiro.

Assim, depois de mais de um século, As aventuras de Pinóquio continua com lugar cativo no mercado. No site da revista Época, do dia 22 de outubro de 2005, a obra de Collodi estava na 119ª posição dos 581 livros de ficção mais vendidos na semana. (LISTA, 2005)

Sem dúvida, os livros voltados para as crianças têm uma importância expressiva no mercado editorial brasileiro. E os livros de Pinóquio são, somente, mais um título nessa imensidão de publicações para as crianças. Porém, existem, hoje, no mercado, muitas traduções, adaptações, versões e continuações da história do boneco, nos mais diversos títulos, criando assim, um Pinóquio contemporâneo.

Veja alguns exemplos:

Nariz do Pinóquio (editora Eko — 2000)

O novo Pinóquio (Martins Fontes — 1989)

Pinóquio, a ilha encantada (Manole — 1996)

Pinóquio, peça para a estrela (Melhoramentos — 1996)

Pinóquio, a surpresa de Gepeto (Manole — 1997)

Pinóquio às avessas — uma história sobre crianças e escolas para pais e professores (Verus — 2005)

Com quem, afinal, Pinóquio se casou? (LGE — 2005)

Síndrome de Pinóquio (Planeta — 2005)

Pinóquio no país dos paradoxos (Zahar — 2014)

Pinóquio do Asfalto (Uirapuru — 2013)

Pinóquio no divã de Emília (Reflexão — 2015)

As novas aventuras de Pinóquio (Instituto Piaget, 1990)

Essas inúmeras edições usam como título o nome do boneco de madeira, mas não, necessariamente, se baseiam na história de Carlo Collodi. Muitos desses livros extraem apenas uma característica do personagem, que serve de instrumento para a criação uma outra história.

Existem, também, outros livros que sofreram adequações para crianças pré-alfabetizadas ou no seu início de alfabetização. Eles foram adaptados e resumidos, apresentando somente as partes mais importantes. Personagens como Mestre Cereja e o pescador, e passagens como a morte do grilo e o enforcamento e prisão de Pinóquio são banidas dessas edições.

A história de Pinóquio, da editora Girassol, por exemplo, foi editada em 16 páginas coloridas para crianças que estão iniciando a sua alfabetização. Como se pode perceber, o texto é curto e a história, resumida. Esta historinha foi traduzida por Maria Luisa Lima Paz e pertence à coleção Algodão-doce, que inclui outras historietas clássicas como: A bela e a fera, Mogli e Os três porquinhos.

Como a edição da Girassol, existem muitas outras que são lançadas sem se preocupar com a profundidade da história e sequer informam o nome de Collodi como o autor da obra. Apesar da obra ter caído em domínio público, não se pode usar o nome do personagem dizendo ser criação de outra pessoa, ou pior, de um autor anônimo. Muitas vezes, nem o nome do adaptador é informado nestes pequenos livros. Isso é ruim para a imagem de Pinóquio, que perde suas origens no decorrer dos anos. No entanto, no outro extremo, existem edições muito bem-acabadas tanto na sua forma como no conteúdo.

A editora Companhia Editora Nacional, por exemplo, relançou, em 2004, dentro de uma coleção chamada “Clássicos da Nacional”, o Pinóquio traduzido por Monteiro Lobato. O livro possui 136 páginas, é destinado para crianças a partir de onze anos e apresenta apenas uma ilustração, a mesma da capa, que serve como vinheta para a abertura de cada capítulo. Dentro desta coleção da editora existem outros títulos consagrados, como A Ilha do Tesouro, de Robert Louis Stevenson, As Aventuras de Robinson Crusoé, de Daniel Defoe, Mowgli, O Menino-Lobo, de Rudyard Kipling, e Pollyanna, de Eleanor H. Porter.

Há notas de rodapé que explicam o significado de palavras ou termos antigos, como, “falar com os seus botões”, “cambaia”, “em vão”, “em mangas de camisa”, “passar sebo nas canelas” e “fantoche”. Sem interferir e sem perder a sua essência, Lobato uniu passagens de menor importância, deixando o livro com somente 20 capítulos e não com os 36 originais.

Já editora Paulinas, lançou, em 2004, a sua tradução de Pinóquio. Com um belíssimo acabamento, o livro, de capa dura. Uma outra edição da editora Paulinas, lançada também em 2004, pode ser considerada como o livro mais fiel ao original de Carlo Collodi que o Brasil possui.

Com o conteúdo integral aos cuidados da Fundação, esta edição restabelece um texto fiel à vontade e à escrita do autor. Para isso, a Fundação contou com a ajuda da pesquisadora Ornella Castellani Pollidori para continuar com o trabalho de revisão do autor. Já que, como já vimos no início desde livro, Collodi possuía o costume de fazer alterações de uma edição para outra e no decorrer das décadas, a modernização da língua fez com que palavras fossem modificadas ou eliminadas da história.

“Para obter um texto livre das intervenções estranhas ao escrito de Carlo Collodi, e já que não existe um manuscrito completo ao qual se referir, Ornella Castellani Pollidori pegou a última edição publicada no ano da morte de Collodi (1890) e corrigiu palavras e grafias que não correspondiam às formas normalmente usadas por ele, modificou ou eliminou vocábulos e frases que, inexplicavelmente, mudaram nas edições sucessivas. Baseou-se, para isto, na escrita, original e reconhecível, que Carlo Collodi aperfeiçoou e praticou na sua longa carreira.” (FUNDAÇÃO, 2004, p. 8).

Então, Ornella reconstruiu a história As aventuras de Pinóquio e a Fundação a publicou como uma edição crítica, que tem como objetivo levar ao conhecimento da população a verdadeira história do boneco de madeira. A obra possui ilustrações coloridas do milanês Alvaro Marin Burocchi, já vistas no capítulo anterior, distribuídas nas suas 208 páginas em 36 capítulos. Cada um é iniciado com uma pequena vinheta colorida de certas passagens da história.

Porém, enquanto o livro da Fundação é considerado a edição nacional que mais se aproxima da obra original do autor, uma outra publicação, editada pela editora Martins Fontes, é uma adaptação moderna da história As aventuras de Pinóquio. Ela explica para as crianças e adultos algumas discrepâncias às quais Collodi não deu muita importância em sua obra. Uma hora, por exemplo, Gepeto percebe que esqueceu de fazer as orelhas do boneco; em outra Pinóquio já aparece com elas. Esses “erros de continuismo”, talvez, fossem, realmente, uma distração do autor, já que se tratava de um seriado, mas, talvez, esse fosse o jeito descompromissado do autor escrever. Ou ainda, Gepeto fez, depois, as orelhas de Pinóquio ou autor simplesmente não contou. O livro, intitulado O novo Pinóquio e escrito por Christine Nöstlinger em 1989, propõe algumas explicações para esses supostos erros.

Na história original, Pinóquio, no capítulo IX, quer ler um cartaz e diz que justamente “hoje” ele não sabe ler. Depois vende a cartilha, foge da escola e mais tarde aparece como sabendo ler. Aqui a autora canadense deixa a imaginação fluir e “explica” que enquanto Pinóquio ficou na prisão, ele aprendeu a ler. Tinha uma hora de aula por dia, mas aprendeu metade do abecedário, pois “[…] o guarda só conhecia treze das vinte e seis letras do alfabeto […]” (Nöstlinger, 1989, p. 100).

Este livro de Nöstlinger é ilustrado pelo alemão Nikolaus Heidelbach, que preenche o livro com mais de cem ilustrações coloridas, algumas chegando a ocupar uma página inteira. Com relação aos capítulos, a autora permanece com o formato original italiano, porém os intitula de forma mais explicativa.

Por exemplo, enquanto na história original o capítulo XVIII vem com o título de “Pinóquio encontra a Raposa e o Gato, e vai com eles semear as quatro moedas no Campo dos Milagres”, Christine o coloca como “Pinóquio encontra a raposa e o gato, e cai de novo na conversa deles”. Ela, também, condensa os dois últimos capítulos, denominando “A história de Pinóquio termina bem”.

Nesta nova versão o tempo é deixado de lado. Enquanto na original a Menina dos Cabelos Azuis envelhece para mostrar que o tempo passou, todos ficaram mais velhos e Pinóquio continua uma “criança”, aqui a Menina brinca de ficar mais nova ou velha e ainda pede para Pinóquio escolher a idade que ele prefere.

A menina linda era uma fada que já morava naquele lugar havia mais de mil anos. Nem sempre ela tinha a aparência de menina linda. Às vezes ela tomava a forma de vovozinha. Outras vezes virava roseira ou nuvem. Ela virava o que dava vontade na hora.” (Nöstlinger, 1989, p 77).

Pinóquio deseja virar menino de carne e osso para "combinar"com a Fada, que não é mais uma menina. A Fada diz que ele nunca irá crescer e nem ser um adulto porque é um boneco de pau e bonecos de pau não crescem mais, depois que são retirados da árvore. Mas promete falar com uma amiga fada que pode transformar a sua madeira em carne e osso. Para Pinóquio se transformar em um menino de carne e osso, tem que ir para a escola, como teste, para ver se ele tem algum talento para ser criança.

Porém, no decorrer da história, a Fada fica inconformada com o sofrimento e situação do boneco e diz: “Meu pobre Pinóquio, isso não pode continuar assim! Só porque você é de madeira, todo mundo acha que pode fazer gato e sapato de você! Hoje mesmo vou falar com aquela minha amiga, a fada que tem o poder de transformar você em menino de carne e osso! Na sua vida tão curta você já sofreu mais do que cem crianças de carne e osso juntas!” (Nöstlinger, 1989, p. 150).

Assim, no último capítulo, Pinóquio se transforma em menino de verdade. Ele só se deu conta desta metamorfose quando percebeu que seu polegar sangrava. Pinóquio havia se espetado em um espinho da rosa azul-turquesa — a Menina dos Cabelos Azuis disfarçada. Já como um menino, no final do livro, a fada murmura para ele: 'Sabe, é melhor assim. Boneco de pau não cresce. Você nunca iria se tornar um homem adulto. E eu nunca poderia me casar com você. Dá para entender?'

‘Claro que dá!’, exclamou Pinóquio. Ele ficou tão feliz, que deu treze saltos mortais, um atrás do outro, e no fim caiu sentado no chão. ‘Ai!’, ele gritou, passando a mão no traseiro. É que criança de carne e osso não pode fazer os mesmos malabarismos que boneco de pau.” (Nöstlinger, 1989, pp.196–197).

Nesta história, a autora deixa bem claro a relação que Pinóquio tem com a fada. O boneco de madeira deseja virar um menino de carne e osso para namorar, e a fada fica contente quando ele se transforma dizendo que agora eles podem se casar.

O novo Pinóquio é mais realista, persistente e esperto. A autora deixa bem claro que o personagem principal não é um mentiroso e sim um “adaptador do sistema”. Ele confiou nas pessoas, mas elas o enganaram com a existência da árvore de dinheiro. Então, passa a não acreditar mais em ninguém.

“Pinóquio não queria mais viver! Já que não podia confiar em ninguém, a vida para ele não tinha mais graça. ‘Se a vida é tão cruel, nunca é cedo demais para morrer!’, pensava o boneco.” (Nöstlinger, 1989, p. 74).

Quando a fada lhe pergunta onde estão as moedas, como mostra o capítulo anterior, Pinóquio mente por já ter sido enganado uma vez. Porém, seu nariz cresce e a fada tenta explicar o porquê.

“‘É porque você mentiu’, disse a fada. Ela deu tanta risada, que ficou com soluço. ‘Sabe’, disse ela, ‘existem… hic… mentiras de perna curta… hic. E existem… hic… mentiras de nariz comprido. As mentiras de… hic… nariz comprido fui eu que inventei… hic. É que nariz comprido é mais engraçado que perna curta!’

‘Mas eu só estava querendo ser prudente’, disse Pinóquio, soluçando. ‘Se eu confio em alguém, dá errado! Se eu não confio, também dá errado. Isso não é justo!’.” (Nöstlinger, 1989, p. 88).

No livro, Christine deixa claro a difícil decisão que temos de tomar em confiar ou não nas pessoas. Em outro trecho, Pinóquio fica com esta dúvida quando uma cobra o alerta do perigo.

“‘Pare’, gritou a cobra. ‘Fique onde está!’

‘Bem que você gostaria’ pensou Pinóquio. ‘Para poder me engolir!’

‘Pare!’, gritou a cobra de novo. Ela se erg

Pinóquio gritou apavorado, deu mais dois passos para trás e sentiu uma pontada terrível nas pernas. Tinha pisado numa armadilha. Dois ferros bem afiados prenderam suas pernas com toda a força, e ele começou a ver estrelas de tanta dor.

‘Por que não presta atenção ao que eu falo?’, perguntou a cobra. ‘Eu bem que avisei.’” (Nöstlinger, 1989, p.102–104).

Ela deixa claro, também, principalmente no final do livro, quando Pinóquio encontra o seu pai na barriga do peixe, que Pinóquio é bem mais persistente que Gepeto, que não passa de um pobre de espírito, pessimista e acomodado.

“‘Ainda estou vivo’, disse Gepeto. ‘E minha vida não é das piores, filho. Logo depois de mim, o tubarão engoliu um navio mercante inteiro. Nesse navio havia carne, pão, biscoito, passas, queijo, açúcar, café, velas e até caixas de fósforos. É dessas coisas que eu vou vivendo. Aliás, aqui minha vida é até melhor do que lá em casa, onde muitas vezes eu não tinha nem casca de pão para comer. Se a gente fizer economia, dá para viver mais uns dez anos das provisões do navio.’

‘Mas, papai’, disse Pinóquio, ‘nós não vamos ficar aqui. Nós temos de fugir!’

‘Você, pode ser’, suspirou com tristeza o velho Gepeto. ‘Eu não vou conseguir.’

‘Se deu para entrar, também dá para sair!’, disse Pinóquio.

‘Pode até ser’, disse o velho Gepeto, ‘mas para mim não adianta sair, pois eu não sei nadar.’” (Nöstlinger, 1989, p. 181–182).

Pinóquio enfrenta vários desafios que a vida coloca para as pessoas poderem um dia ser alguém. Na página 138 o boneco acha uma idiotice um cão de guarda ter que obedecer ao dono mesmo contra a sua vontade. Porém, mais adiante, na página 171, ele passa pela experiência de ser adestrado pelo homem do circo sob a ameaça de um chicote e, quando ele o obedece, ganha açúcar.

O Grilo-Falante é chamado de grilo sábio, mas Pinóquio o chama de grilo-ai-ai por não aguentar os seus ais. “Ai das crianças que fogem dos pais”, “Ai das crianças que saem de casa sem ordem”, “Ai das crianças que só pensam em brincadeiras e confusão” (p. 22). O boneco não “queria ouvir o grilo-ai-ai. Não tinha nenhuma vontade de ouvir o grilo dizer que tudo aquilo estava acontecendo porque Pinóquio não tinha dado ouvidos aos seus ais. Ninguém gosta de admitir que errou!” (p. 81).

Mesmo tendo diversas versões e adaptações, quase todas as editoras abordam sempre o mesmo tema: a mentira. Com sua enorme popularização e penetração no imaginário, hoje, pode-se dizer que Pinóquio é sinônimo de pessoa mentirosa. Exemplos disso estão no site da revista Época, onde Antônio Gonçalves Filho escreveu uma matéria com o título Discurso de Pinóquio, onde ele diz que “Políticos mentem mais que o boneco de madeira e o eleitor finge que acredita em suas fantasias”. Ou em uma outra matéria, não assinada, chamada Dirceu é vaiado na Assembléia de São Paulo, que mostra claramente o sinônimo de Pinóquio.

“O ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, enfrentou na Assembléia Legislativa de São Paulo uma barulhenta manifestação de servidores públicos. Convidado a falar sobre a proposta de reforma tributária encaminhada ao Congresso pelo governo, Dirceu falou mais sobre a reforma da Previdência e foi várias vezes interrompido com gritos de ‘Volta para o PT, ministro!’, ‘Pinóquio’ e ‘Alegria dos banqueiros’.” (DIRCEU, 2003).

Ser chamado de “Pinóquio”, pode-se dizer, virou um xingamento. Um site político chamado Pinóquio — desinformação total (http://www.pinoquio.net) havia um fórum chamado Quem merece o título de “Pinóquio 2005”? no qual as pessoas podiam deixar os seus comentários e indicações. Havia até uma imagem de uma medalha de mérito com o rosto do presidente americano George W. Bush com um nariz comprido idêntico ao do boneco.

De um autor desconhecido, a medalha possuía, logo abaixo, a seguinte descrição: “Distinção pela transparência e honestidade. George mereceu ser elevado ao cargo de grão-mestre da Ordem Pinóquio”.

No jornal O Estado de S. Paulo, em 1992, saiu uma matéria chamada Adeus ao Brasil-pinóquio.

O Brasil-pinóquio, que alimentou a classe política com o vírus do engodo e as mazelas da mistificação, está cedendo lugar ao Brasil-verdade. A crise, que teve como eicho o impeachment, ofereceu a mais importante contribuição à cultura política do país. Saem de cenário os famosos grotescos, os caciques dos grandes feudos, os perfis fisiológicos, os mandarins e os impressionistas com seus discursos demagógicos. Entra no palco os idealistas e uma tipologia comprometida com a racionalidade.” (REGO, 1992, p. 2).

Ou ainda, no Jornal do Brasil, o chargista Ique, em 2005, interpretou o deputado federal e ex-presidente do Partido dos Trabalhadores (PT), José Dirceu, com um nariz comprido dando um soco no novo presidente do partido, Tarso Genro. Essa metáfora é pregada na infância quando os pais, para testar se seus filhos estão ou não mentindo, vêem o tamanho do seu nariz.

Mas, Pinóquio é muito mais que isso. O personagem “transformou-se no símbolo da pessoa que erra e acerta tentando ser gente, amadurecer.” (DICIONÁRIO, 1984, p. 394). Pinóquio é fruto de uma literatura que trabalha com a ética, pedagogia, psicologia e educação das crianças e adultos.

“As interpretações de corte histórico-renascentista e de fundo ético-pedagógico são os pontos mais altos e contestados, mas o que fascina todas as crianças é a fantástica história do boneco constituído por amor e traído pela ingenuidade pessoal e pela maldade alheia.

A história de Pinóquio contém um ensinamento universal: em qualquer parte do mundo e em qualquer época, a vida do homem é marcada por vícios e virtudes, pela bondade e pela perfídia, pela honestidade e pela hipocrisia, mas, em todos os tempos, cada um deve agir pelo triunfo do bem.” (IANNACE, 2004, p. 13).

A história de Pinóquio se tornou um enorme sucesso por conter temas universais. “[…] a história do boneco que quer virar menino encanta o mundo por lidar com assuntos comuns a todos os seres humanos: solidão, amizade, respeito, honestidade, justiça, esperança.” (PAULINAS, 2004, p. 5).

Ao querer se transformar em um menino de verdade, Pinóquio corria o risco de passar por uma série de experiências que compõem o dia a dia das pessoas. Ele corria o risco de viver como um ser humano, viver de prováveis alegrias, como também enfrentar as temerosas tristezas da vida. Mas, mesmo assim, Pinóquio se propõe a uma existência mais rica que a de um simples pedaço de madeira. Pinóquio queria ousar ser feliz e, por isso, até hoje sua história encanta a tantos leitores.

O Reconhecimento

Ao contrário de Peter Pan, personagem da literatura infanto-juvenil que foge das responsabilidades de se tornar adulto, Pinóquio quer crescer. Peter Pan vive na Terra do Nunca, um mundo de fantasia onde as crianças permanecem crianças eternamente. Já Pinóquio vive no mundo real onde, para ser aceito, tem que lutar diariamente contra a exclusão social. "A narrativa de Collodi nos coloca frente às tensões vividas pelo personagem entre ‘agradar ao outro ou a si mesmo" (ROSA, 2014, p. 117). As pessoas enfrentam, constantemente, provas para entrarem em determinados grupos. Elas lutam contra os preconceitos e suas diferenças para serem aceitas em tribos cada vez mais segmentadas. Pinóquio quis vestir pele de homem, para se tornar igual aos outros meninos, mesmo sabendo que corria riscos.

Pinóquio pode ser encarado como um personagem que quer se tornar alguém, ser reconhecido e virar um cidadão de verdade como no documentário Pinóquio Negro, exibido pelo National Geographic, onde o italiano Marco Baliani, escritor, ator e diretor teatral, reúne um grupo de meninos de rua de Nairóbi, capital do Quênia, e os ensina a arte do teatro. Ele passa três anos com essas crianças desenvolvendo uma peça de teatro com base na história de Pinóquio, mais tarde encenada na Europa. No final da peça eles levantam os seus passaportes e gritam, cada um, o seu nome. Essas crianças de rua saíram da condição de discriminados e se tornaram meninos de verdade e ganharam nome, identidade, passaporte. Enfim, passaram a ser conhecidos, passando a ser reais.

Porém, meninos de verdade são aqueles com direito a entrar no mundo da fantasia, imaginação e criatividade, onde tudo é permitido bastando apenas a coerência com os seus desejos. Por que Pinóquio quer, ao contrário de Peter Pan, crescer? Por que ele quer se tornar um menino de verdade? Para ser igual a todos? Será que ser igual não significa realmente, virar uma marionete controlada pelo sistema? Para Rubem Alves, em Pinóquio às avessas, as crianças nascem como meninos de verdade, mas ao irem para a escola são corrompidos, se tornando uma mentira.

A história As aventuras de Pinóquio continua atual mesmo escrita há mais de 130 anos. Pessoas vivendo de mentiras e fingindo ser quem não são. É fácil imaginar crianças tendo, cada vez mais cedo, que adquirir certas responsabilidades de adultos e crescer precocemente. É pelo seu tema atualizado que o boneco de madeira ocupa um lugar significante no mercado editorial. Ele pode estar em livros, filmes, músicas, teatros ou em jogos, pois Pinóquio é, e sempre será, um nicho a ser explorado.

Não importa se as editoras publicam traduções, adaptações ou continuações da história. Não importa como Pinóquio será interpretado daqui pra frente. Talvez ele se torne um robô que queira virar um menino de verdade, como já existe. Talvez o personagem saia de vez da condição de boneco. Ou ainda, quem sabe, é Gepeto que acabe virando um boneco, como na As aventuras de Pinóquio 2 (1999), direção do americano Michael Anderson. Uma história onde o velho marceneiro, não aguentando a realidade da vida, onde é preciso trabalhar, pagar as contas e ter responsabilidade, prefere viver no mundo da imaginação.

Só não se pode, de nenhuma forma, como já vem acontecendo, esquecer que foi em 1881 na Itália que Carlo Collodi criou o Pinóquio.


Referências

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Anexo

Transcrição do instrumento de compra e venda de propriedade literária.

Companhia Editora Nacional

Rua dos Gusmões, 26/28

Caixa, 2734

São Paulo

INSTRUMENTO PARTICULAR DE TRANSFERENCIA DE PROPRIEDADE LITERARIA

Pelo presente instrumento particular de compra e venda de propriedade literária, declaramos que entre nós, R. BEMPORAD & PIGLIO, editores estabelecidos em Florença, Itália, e a COMPANHIA EDITORA NACIONAL, sociedade anonyma estabelecida em São Paulo, Brasil, ficou combinado e contractado o seguinte:

1º — R. BEMPORAD & PIGLIO cedem e transferem á COMPANHIA EDITORA NACIONAL os direitos autorais para a língua portuguesa do livro “Pinocchio”, de autoria de C. Collodi, cujo original em língua italiana, já publicado, lhe é entregue neste acto.

2º — R. BEMPORAD & PIGLIO declaram neste acto que a propriedade literária da citada obra lhes pertence, por compra feita ao autor.

3º — A COMPANHIA EDITORA NACIONAL paga neste acto a R. BEMPORAD & PIGLIO a importância de 2.000 (dois mil) liras italianas, pela propriedade literária do citado livro “Pinocchio”, a qual lhe é transferida neste acto.

4º — R. BEMPORAD & PIGLIO declaram neste acto que se dão por pagos e satisfeitos da importância de 2.000 (duas mil) liras italianas pela qual cedem e transferem à compradora COMPANHIA EDITORA NACIONAL a propriedade literária da referida obra “Pinocchio”, de C. Collodi, com todos os direitos decorrentes e capitulados nos artigos 649 a 673 e seu paragrapho único, e dão quitação da importância assim recebida.

5º — Fica, pois, a COMPANHIA EDITORA NACIONAL, em virtude deste contracto, a única proprietária da obra “Pinocchio” para a língua portugueza, e subrogada em todos os direitos e obrigações reconhecidas pela legislação brasileira e convenções internacionaes.

Para firmeza e como prova de se acharam assim combinadas e contractada, ambas as partes assignam este instrumento na presença de duas testemunhas.



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