segunda-feira, 31 de outubro de 2022

Resultados das eleições para governadores (2º turno) em 2022

Alagoas

Paulo Dantas (MDB)

Natural de Maceió (AL), Paulo Dantas (MDB) tem 43 anos e é administrador de empresas formado pelo Centro Universitário Cesmac. Em 2018, foi eleito deputado estadual de Alagoas, mas, em maio deste ano, por eleição indireta, assumiu o governo do estado, uma vez que o então governador Renan Filho deixou o cargo para disputar as eleições para o Senado.

A vida política de Paulo Dantas começou em 2004, quando foi eleito prefeito de Batalha (AL) e, tendo alcançado a reeleição em 2008. Foi reeleito este ano ao governo alagoano pela coligação Alagoas Daqui pra Melhor (MDB/Federação Brasil da Esperança – FE Brasil/PDT/PSC/Pode/Solidariedade). Seu vice é o atual vice-prefeito de Maceió, Ronaldo Lessa. 

Amazonas

Wilson Lima (União)

Wilson Miranda Lima (União) tem 46 anos, é casado e nasceu na cidade de Santarém, no Pará. Ele é o atual governador do estado do Amazonas, tem Tadeu de Souza (Avante) como vice e concorreu à reeleição pela coligação Aqui é Trabalho (Republicanos/PP/PTB/PSC/PL /PRTB/PMN/União/Patriota/Avante).

Bahia

Jerônimo Rodrigues (PT)

Jerônimo Rodrigues (PT) é indígena, natural de Aiquara (BA) e tem 57 anos. Atua como engenheiro agrônomo e professor da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS). Já ocupou o cargo de assessor da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação da Bahia, secretário executivo adjunto do Ministério do Desenvolvimento Agrário, secretário nacional do Desenvolvimento Territorial, secretário executivo do Programa Pró Territórios/Cumbre Ibero Americana, assessor especial do ministro do Desenvolvimento Agrário e secretário estadual de Educação da Bahia.

Foi eleito governador do estado pela coligação Pela Bahia, Pelo Brasil (Federação Brasil da Esperança – FE Brasil/PSB/PSD/Avante/MDB). Seu vice é o atual vereador de Salvador Geraldo Júnior.

Espírito Santo

Renato Casagrande (PSB)

Esta é a terceira vez que José Renato Casagrande (PSB), 61 anos, é eleito ao governo do estado. O engenheiro florestal e bacharel em Direito foi governador capixaba em 2010, mas não se reelegeu em 2014. Em 2018, foi escolhido novamente para o cargo e, agora, reeleito. Concorreu neste pleito pela coligação Juntos por um Espírito Santo mais Forte (MDB/PP/Pros/PSB/Pode/Federação Brasil da Esperança/Federação PSDB Cidadania/PDT). Seu vice é o ex-senador Ricardo Ferraço (PSDB).

Mato Grosso do Sul

Eduardo Riedel (PSDB)

Eduardo Correia Riedel (PSDB) tem 53 anos, é empresário e nasceu no Rio de Janeiro (RJ). Ele concorreu pela coligação Trabalhando por um novo futuro (Federação PSDB Cidadania/Republicanos/PP/PSB/PL/PDT). Seu vice é José Carlos Barbosa (PP), de 58 anos, advogado e deputado estadual eleito em 2018.

Paraíba

João Azevêdo (PSB)

João Azevêdo Lins Filho (PSB) tem 69 anos, nasceu em João Pessoa (PB) e, atualmente, é governador do estado. Graduado em Engenharia Civil pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB), é professor aposentado do Instituto Federal do estado (IFPB) e já atuou como diretor da Divisão de Planejamento Habitacional do IPEP, chefe da Assessoria de Planejamento Econômico da Urban, secretário de Serviços Urbanos de João Pessoa e secretário estadual da Infraestrutura, Recursos Hídricos, Meio Ambiente e Ciência e Tecnologia, entre outros.

Concorreu à reeleição pela coligação Juntos pela Paraíba (PSB/Agir/PP/Avante/PMN/PSD/Solidariedade/Pode/Republicanos/Patriota/Pros). Seu vice é Lucas Ribeiro.

Pernambuco

Raquel Lyra (PSDB)Advogada com pós-graduação em Direito Econômico e de Empresas, Raquel Lyra (PSDB), 43 anos, é ex-prefeita de Caruaru, sua cidade natal. Deixou o mandato para concorrer ao governo de Pernambuco (PE) pelo PSDB. Lyra já foi delegada da Polícia Federal, chefe da Procuradoria de Apoio Jurídico e Legislativo do governo de Eduardo Campos e deputada estadual por dois mandatos consecutivos, sendo eleita em 2010 e reeleita em 2014. Elegeu-se prefeita de Caruaru em 2016 e conseguiu a reeleição em 2020. Nas Eleições 2022, concorreu pela coligação Pernambuco Quer Mudar (Federação PSDB Cidadania/PRTB). Tem como candidata a vice Priscila Krause (Cidadania).

Rio Grande do Sul

Eduardo Leite (PSDB)

Eduardo Leite (PSDB) tem 37 anos e foi governador do Rio Grande do Sul entre 2019 e 2022. Foi prefeito de Pelotas (RS). Foi candidato pela coligação Um Só Rio Grande (Federação PSDB Cidadania/MDB/PSD/Pode/União). Seu vice é o veterinário e deputado estadual Gabriel Souza (MDB).

Ele havia renunciado ao cargo de governador em março deste ano para concorrer à Presidência da República, mas desistiu após perder as prévias do partido.

Rondônia

Coronel Marcos Rocha (União)

Natural da cidade do Rio de Janeiro (RJ), Marcos José Rocha dos Santos (União) é casado e tem 54 anos. Mais conhecido como Coronel Marcos Rocha, ele alcançou a reeleição ao governo de Rondônia junto com seu vice, Sérgio Gonçalves da Silva, também do partido União. Ambos concorreram aos cargos pela coligação Compromisso, Trabalho e Fé (União/Republicanos/Avante/MDB/Patriota/PSC/Federação PSDB – Cidadania).

Santa Catarina

Jorginho Mello (PL)

Com 66 anos, Jorginho Mello (PL) ocupa hoje o cargo de senador por Santa Catarina. Foi deputado federal pelo estado de 2011 a 2019 e concorreu ao governo catarinense pelo Partido Liberal de forma isolada. Sua vice na chapa, eleita com ele, é a delegada Marilisa (PL).

São Paulo

Tarcísio de Freitas (Republicanos)

Tarcísio Gomes de Freitas (Republicanos), 47 anos, é engenheiro e servidor público federal. Natural do Rio de Janeiro (RJ), foi ministro da Infraestrutura do governo Jair Bolsonaro e chefe da seção técnica da Companhia de Engenharia do Brasil durante a Missão das Nações Unidas (ONU) para a estabilização no Haiti (Minustah). Foi eleito governador de São Paulo pela coligação São Paulo Pode Mais (Republicanos/PL/PSD/PTB/PSC/PMN). Seu vice é Felicio Ramuth (PSD).

Sergipe

Fábio Mitidieri (PSD)

Administrador de empresas, Fábio Cruz Mitidieri (PSD), 45 anos, é deputado federal por dois mandatos, eleito em 2014 e em 2018. Também foi vereador de Aracaju (SE), sua cidade natal. Ainda na capital sergipana, ocupou os cargos de secretário municipal de Esportes e de estado de Trabalho. Em 2022, concorreu ao governo de Sergipe pela coligação Novo Tempo pra Sergipe (PDT/PSC/União/Republicanos/PP/PSD/Avante). Seu vice é o empresário Zezinho, do PDT.



Governadores eleitos no 1º turno


Fontes

TSE 

UOL 

Estado de Minas


Resultados - eleição presidencial em 2022

Eleição mais apertada da história tem virada pró-Bolsonaro em 248 cidades e nenhuma para Lula

Maior avanço foi em municípios de MG, apesar de petista ter prevalecido no estado 

Cristiano Martins, Daniel Mariani, Diana Yukari, FSP, 31/10/2022

Segundo colocado na eleição presidencial, Jair Bolsonaro (PL) conseguiu ampliar sua votação a ponto de virar sobre Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no estado do Amapá e em 248 cidades onde o petista havia vencido no primeiro turno. Isso representa 4,5% dos 5.570 municípios brasileiros.

Lula, por sua vez, não teve maioria em nenhuma cidade onde Bolsonaro prevaleceu na primeira rodada.

No geral, Bolsonaro conseguiu encurtar a desvantagem em relação ao adversário de 6,2 milhões de votos no primeiro turno para 2,1 milhões nesta segunda rodada. O crescimento foi insuficiente para garantir uma virada inédita no pleito. O atual presidente tornou-se neste domingo (30) o primeiro a não conseguir a reeleição no cargo.

Segundo a apuração do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Lula alcançou 50,90% dos votos válidos, e Bolsonaro, 49,10%. Foi a eleição mais apertada desde a redemocratização.

No primeiro turno, Lula havia sido o mais votado em 3.376 cidades. Bolsonaro, por sua vez, saiu na frente em 2.191— houve empate em Coronel Sapucaia (MS), Alecrim (RS) e Ribeirão do Sul (SP). Prova da elevada polarização desde o início da disputa, os outros candidatos não conseguiram sequer o segundo lugar em nenhum município do país. Com a disputa restrita aos dois finalistas, o petista acabou como o mais votado em 3.123 municípios neste domingo, e o atual presidente, em 2.445. Houve também dois empates, em Guará (SP) e Irati (SC).

Estado considerado estratégico pelas duas campanhas, por ter o segundo maior colégio eleitoral e o maior número de municípios do país –além de ser um espelho histórico da eleição presidencial–, Minas Gerais foi palco de 66 viradas pró-Bolsonaro.

A principal reviravolta bolsonarista aconteceu em Grupiara, no Triângulo Mineiro, onde o presidente saltou de 46% dos votos válidos no primeiro turno para 59,4% no segundo.

Minas recebeu seis visitas presenciais de Bolsonaro durante a segunda parte da campanha. Além de Belo Horizonte, Uberlândia e Governador Valadares, apostou também em três localidades onde havia perdido para Lula: Montes Claros, Teófilo Otoni e Juiz de Fora, palco da facada sofrida por ele em 2018. Destas, só conseguiu reverter o resultado do primeiro turno em Montes Claros. A votação do presidente subiu de 44,9% para 51,2% na cidade-polo do Norte mineiro, região com perfil similar ao Nordeste brasileiro e marcada por vitórias petistas desde 2006.

Além do próprio presidente, a primeira-dama Michelle Bolsonaro, a ex-ministra Damares Alves (Republicanos), eleita ao Senado pelo Distrito Federal, e o vereador de Belo Horizonte Nikolas Ferreira (PL), campeão de votos para a Câmara dos Deputados neste ano, foram algumas figuras que reforçaram a campanha do presidente no estado.

Bolsonaro também contou com o apoio engajado do governador reeleito Romeu Zema (Novo), escalado para mobilizar os prefeitos mineiros. "Nenhuma região e nenhuma parte desse estado ficará para trás", declarou Bolsonaro ao lado de Zema em Montes Claros.

Mesmo com um crescimento de 6,2 pontos percentuais no estado, o presidente não conseguiu reverter a vitória petista. O estado manteve a sua tradição de refletir os resultados da disputa nacional, com vitória de Lula por apertados 50,2%.

Integrantes da campanha do presidente creditaram a derrota para Lula a falhas da estratégia em Minas e em São Paulo.

No maior colégio eleitoral do Brasil, Bolsonaro conseguiu 10,5 pontos de vantagem neste domingo (55,24% a 44,76%), o equivalente a 2,7 milhões de votos a mais entre os paulistas.

Foi pouco para compensar os 12,6 milhões eleitores a mais conquistados pelo petista entre os nordestinos. Depois de vencer no primeiro turno em apenas 15 das 1.794 cidades na região, Bolsonaro conseguiu aumentar esse número para somente 20 municípios no maior reduto lulista.

Na capital paulista, Bolsonaro aumentou sua votação em relação ao primeiro turno, de 37,9% para 46,5% dos votos válidos, mas voltou a ser derrotado, desta vez com uma diferença de 486,4 mil eleitores paulistanos a mais para Lula.

O PT não virou o resultado em nenhuma das cidades conquistadas pelo PL na primeira rodada. Garantiu a vitória nacional com aumentos, ainda que menos expressivos, nos locais onde conseguiu repetir as vitórias do primeiro turno. "Foi a campanha mais difícil da minha vida", declarou Lula ao discursar para seus eleitores que comemoravam a vitória do ex-presidente na avenida Paulista, no centro de São Paulo.

O maior salto de Lula foi observado em Sobral (CE), berço político de Ciro Gomes (PDT), quarto colocado no primeiro turno. O petista já havia vencido na primeira parcial e aumentou sua votação na cidade, de 55,4% para 69% na segunda rodada.

Nova Pádua (RS) manteve o título de cidade mais bolsonarista do país, com aumento de 83,97% dos votos no primeiro turno para 88,99% no segundo.

Guaribas (PI) também conservou o posto de município mais lulista do Brasil. A votação do novo presidente eleito subiu de 92,14% para 93,85% na cidade piauiense.

Em nível estadual, Lula saiu vitorioso em 13 unidades da federação, uma a menos que Bolsonaro, contando o Distrito Federal.

Considerando os três maiores colégios eleitorais, o resultado deste domingo repetiu o do primeiro turno. O petista venceu em Minas Gerais, e o atual presidente, em São Paulo e Rio de Janeiro.

Em mais um capítulo da polarização regional, Lula foi o mais votado em todos os estados do Nordeste, e Bolsonaro, em todos das regiões Sul e Centro-Oeste.

O Amapá, que também vinha refletindo os resultados nacionais desde a redemocratização ao lado de Minas Gerais e Amazonas, saiu dessa lista ao ser o único estado com virada bolsonarista neste ano em relação ao primeiro turno.

Em nível nacional, nunca houve uma virada entre o primeiro e o segundo turno das eleições presidenciais. Fernando Collor (1989), Lula (2002 e 2006) e Dilma Rousseff (2010 e 2014) também conseguiram confirmar a vitória após terem largado em vantagem nas edições anteriores decididas em duas rodadas.

No pleito realizado há quatro anos, apenas 147 das 5.570 cidades brasileiras (3%) haviam registrado vencedores diferentes entre a primeira e a segunda rodada da eleição presidencial, com 121 viradas a favor do então candidato petista Fernando Haddad, derrotado na ocasião por Bolsonaro.


NB1: TSE resultados - 2022

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA: 60.345.825 · 50,90%

JAIR MESSIAS BOLSONARO: 58.206.322 · 49,10%

Diferença 2.139.503 (1,8%)

.....

Total de votos: 124.252.587

Votos Válidos: 118.552.147

Nulos: 3.930.762 · 3,16%

Em branco: 1.769.678 · 1,43%

99,99 % dos votos apuradosl

.....

NB2: Em 2018 Bolsonaro teve 57.797.847 votos, 408.475 menos que 2022. Cresceu 0,7 % de 2018 para 2022. Evoluiu pouquíssimo. Ou melhor, avaliação de governo.

Lula teve 52,7 milhões de votos em 2002, 58,2 milhões de votos em 2006 (10,4 % a mais que em 2002) e agora 60,3 milhões. Lula ganhou a reeleição em 2006, Bolsonaro perdeu em 2022.



Abstenção cai pela primeira vez no 2º turno da eleição

Não comparecimento foi de 20,57%, contra 20,95% no 1º turno; no Nordeste, região com mais operações da PRF, houve queda com relação a outras eleições 

A taxa de abstenção no segundo turno da eleição deste ano foi menor do que no primeiro turno. É a primeira vez desde 2002 que o comparecimento cresce em relação à primeira rodada de votação do mesmo ano.

De acordo com dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) de todas as urnas apuradas, não compareceram para votar 20,58% dos eleitores. No primeiro turno, a taxa foi de 20,95%.

O percentual de votos em branco e nulos somados (4,59%) também foi o menor dos últimos 20 anos, repetindo marca já registrada no primeiro turno. O número caiu à metade em relação à eleição passada.

O maior interesse pelas urnas coincide com a estreia do passe livre nos ônibus para facilitar a votação, adotado em todas as capitais do país e em outros 167 municípios, segundo levantamento do Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor).

Atrair os eleitores para as seções eleitorais também foi uma preocupação das campanhas do presidente eleito Lula (PT) e do atual presidente Jair Bolsonaro (PL).

A equipe do petista temia o não comparecimento de eleitores mais pobres, grupo no qual as pesquisas indicavam seu favoritismo. O estafe do atual presidente, por sua vez, preocupava-se com a ausência dos mais velhos.










FOTOS


Avanço no Sudeste e menor votação no Nordeste: como Lula ganhou 


sábado, 29 de outubro de 2022

Eleição presidencial: Agregador de Pesquisas do Estadão

Quem está na frente? Lula ou Bolsonaro? Veja as últimas pesquisas para presidente das eleições 2022

Por Natália Santos, 28/10/2022, O Estado

Confira o resultado dos levantamentos de Datafolha, Ipec, Quaest, Paraná Pesquisas, PoderData e Ipespe

Na véspera do segundo turno da eleição presidencial, disputada por Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL), o ex-presidente está à frente do presidente.

Média em 29/10/2022: Lula 53% - Bolsonaro 47%

O Estadão separou os resultados dos principais levantamentos de intenção de voto.

Confira as principais pesquisas eleitorais

Datafolha

Divulgada neste sábado, 29, a mais recente pesquisa Datafolha apontou Lula com 52% dos votos válidos ante 48% de Bolsonaro. A margem de erro do levantamento é de dois pontos para mais ou para menos. Confira a pesquisa (BR-08297/2022)

Ipec

Na última pesquisa Ipec antes do segundo turno, também deste sábado, 29, Lula tem 54% dos votos válidos; Bolsonaro, 46%. A margem de erro é de 2 pontos porcentuais. Confira a pesquisa (BR-05256/12).

CNT/MDA

Segundo pesquisa CNT/MDA deste sábado, 29, o ex-presidente Lula aparece empatado tecnicamente com o presidente Bolsonaro. O petista tem 51,1% dos votos válidos enquanto o atual chefe do Executivo tem 48,9%. A margem de erro do levantamento é de 2,2 pontos porcentuais. Confira a pesquisa (BR-01820/2022).

Quaest

A pesquisa Quaest divulgada no dia 29 de outubro indicou o ex-presidente Lula com 52% dos votos válidos. O presidente Bolsonaro, segundo o levantamento, teria 48%. A margem de erro é de dois pontos porcentuais. (BR-05765/2022).

Paraná Pesquisas

O mais recente levantamento do instituto Paraná Pesquisas, divulgado no dia 25 de outubro, mostrou um empate técnico entre os adversários: o petista com 50,4% dos votos válidos para retornar ao Planalto e o atual chefe do Executivo com 49,6% para a reeleição. A pesquisa conta com uma margem de erro de 2 pontos porcentuais. (BR-09573/2022).

PoderData

A PoderData, divulgada no dia 26 de outubro, registrou o ex-presidente petista com 53% dos votos válidos e o atual chefe do Executivo com 47%. A margem de erro de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos. Confira a pesquisa (BR-01159/2022).

Ipespe/Abrapel

A Ipespe/ABRAPEL, divulgada no dia 25 de outubro, mostrou também um cenário de empate técnico na disputa presidencial ,com Lula com 53% dos votos válidos e Bolsonaro com 47%. A margem de erro estimada é de 3 pontos porcentuais para mais ou para menos. Confira a pesquisa (BR-08044/2022).

As pesquisas selecionadas para essa matéria são as mesmas utilizadas no Agregador de Pesquisas do Estadão, que calcula o cenário mais provável da disputa a cada dia com metodologia própria do Estadão Dados.


Quaest, presidente, 29/10/2022

Quaest com empate técnico nos votos válidos: Lula tem 52%; Bolsonaro, 48%.

Beatriz Gomes, UOL, 29/10/2022

Pesquisa Quaest realizada de forma presencial, contratada pela Genial Investimentos e divulgada hoje, aponta que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) está à frente para o segundo turno eleitoral, com 52% das intenções para votos válidos. O presidente Jair Bolsonaro (PL) tem 48%.

A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos, o que aponta um empate técnico entre os candidatos. Votos válidos são calculados com a exclusão de brancos, nulos e indecisos. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos.

Em votos totais, Lula tem 45% das intenções, e Bolsonaro, 42%, no cenário estimulado — quando os eleitores recebem uma lista com os nomes dos candidatos. Na sondagem de quarta-feira (26), o petista tinha 48%, e o presidente, 42%. Portanto, Lula caiu três pontos percentuais, enquanto Bolsonaro se manteve estável.

Na apuração das urnas na primeira rodada eleitoral, Lula terminou com 48,43% (57.259.504) dos votos válidos, e Bolsonaro ficou com 43,20% (51.072.345). O segundo turno eleitoral acontece amanhã (30).
O instituto entrevistou duas mil pessoas pessoalmente entre os dias 28 e 29 de outubro. O nível de confiança, segundo o instituto, é de 95%. A pesquisa foi registrada no TSE sob o número BR-05765/2022 e custou R$ 198.200,00.

Votos válidos
Lula (PT): 52% (53% no levantamento anterior) Jair Bolsonaro (PL): 48% (47% no levantamento anterior) 

Votos totais Lula (PT): 45% (48% no levantamento anterior) Jair Bolsonaro (PL): 42% (42% no levantamento anterior) 

Branco/nulo/não vai votar: 5% (5% no levantamento anterior) Não sabe: 8% (5% no levantamento anterior).

Ipec, presidente 29/10/2022

Ipec: Lula tem 54% das intenções para votos válidos; Bolsonaro, 46% 

Anna Satie, UOL, 29/10/2022

Pesquisa Ipec, contratada pela TV Globo e divulgada hoje, aponta o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na liderança para a corrida presidencial com oito pontos de vantagem sobre o presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL). O petista aparece com 54% das intenções para votos válidos (excluindo brancos, nulos e indecisos), enquanto o candidato do PL, 46%. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos.

Esta é a última pesquisa presidencial do instituto antes do segundo turno das eleições, que acontece amanhã em todo o Brasil. Em 2018, as pesquisas da véspera da votação acertaram qual seria o resultado das urnas. Os números são os mesmos da rodada anterior, divulgada na segunda-feira (24).
Em votos totais, Lula tem 50%, e Bolsonaro, 43% no cenário estimulado —ou seja, quando os entrevistados recebem uma lista com o nomes dos candidatos. Brancos e nulos foram 5%, enquanto os que não sabem ou não responderam, 5%. Os percentuais são idênticos aos do levantamento do início da semana. No primeiro turno, Lula terminou com 48,43% (57.259.504 votos), e Bolsonaro, 43,2% (51.072.345 votos).

O Ipec entrevistou 4.272 eleitores pessoalmente em todo o país entre os dias 23 e 29 de outubro, ao custo de R$ 514.446,81. O nível de confiança, segundo o instituto, é de 95%, e o número de registro no TSE (Tribunal Superior Eleitoral), BR-05256/2022. 

Votos válidos
Lula (PT): 54% (tinha 54% no início da semana) Jair Bolsonaro (PL): 46% (tinha 46%)
Votos totais (estimulado) Lula (PT): 50% (tinha 50%) Jair Bolsonaro (PL): 43% (tinha 43%)
Branco/nulo: 5% (eram 5%) Não sabe: 2% (eram 2%) 

Votos totais (estimulado)
Lula (PT): 50% (tinha 50%) Jair Bolsonaro (PL): 43% (tinha 43%)
Branco/nulo: 5% (eram 5%) Não sabe: 2% (eram 2%).

Datafolha, presidente, 29/10/2022

Datafolha: Lula tem 52% dos votos válidos contra 48% de Bolsonaro na véspera da eleição

Votos válidos são a métrica de contagem do resultado final do pleito pela Justiça Eleitoral

Igor Gielow, FSP, 29/10/2022

Luiz Inácio Lula da Silva (PT) chega à véspera do segundo turno da eleição presidencial deste ano com 52% dos votos válidos, aponta a derradeira pesquisa do Datafolha sobre esta campanha. Seu rival, Jair Bolsonaro (PL), tem 48%.

Na rodada anterior, publicada na quinta (28), o ex-presidente tinha 53% e o incumbente, 47% neste critério.

A margem de erro é de dois pontos para mais ou menos. Votos válidos são a métrica de contagem do resultado final do pleito pela Justiça Eleitoral. Eles excluem os brancos e nulos no dia do voto e, para fins da pesquisa, os indecisos.

Nos chamados votos totais, que abarcam todas as categorias, Lula tem 49% (tinha 49% na anterior) e Bolsonaro, 45% (44% antes). Aqui estão os contingentes mais propensos a definir o resultado final: 4% de quem diz votar branco ou anular (eram 5%) e os indecisos, 2% (eram 2%). Os resultados podem ser diferentes de 100% por causa de arredondamentos.

O Datafolha ouviu 8.308 pessoas em 253 municípios, em um levantamento encomendado pela Folha e pela TV Globo. Feito na sexta (28) e no sábado (29), ele está registrado sob o número BR-08297/2022.
A pesquisa é a última fotografia feita pelo Datafolha antes do pleito, e não configura uma previsão de resultado. Mudanças de rumo de última hora não são incomuns, com fenômenos como a própria votação de Bolsonaro no primeiro turno, acima do nível declarado pelos eleitores na véspera, apesar da alta rejeição do mandatário.

Isso dito, desde que o instrumento da reeleição foi instituído em 1997, com efeito no pleito do ano seguinte, nunca um perdedor do primeiro turno conseguiu chegar à frente do vencedor na segunda rodada. A disputa mais acirrada até aqui foi entre Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB) em 2014, na qual o tucano alternou a liderança ao longo do segundo turno com a então presidente, mas acabou derrotado por 51,64% a 48,36% dos votos.

Neste segundo turno de 2022, Lula até aqui se manteve à frente, embora Bolsonaro tenha registrado oscilação positiva que foi invertida no levantamento feito nesta semana, além de um crescimento da aprovação de seu governo.

O presidente viu um Congresso eleito mais próximo de si, e recebeu apoios de governadores do Triângulo das Bermudas da política nacional: São Paulo (o tucano derrotado Rodrigo Garcia), Rio (do aliado reeleito Cláudio Castro, do PL) e Minas Gerais (to também aliado Romeu Zema, reeleito pelo Novo).
Lula, por sua vez, agregou a terceira colocada no primeiro turno, Simone Tebet (MDB), à sua campanha.

Entre os motivos possíveis para o estancamento estão episódios negativos para Bolsonaro: a revelação da Folha sobre o plano da pasta da Economia de não repassar a inflação mais a aposentadorias e ao mínimo, seu aliado Roberto Jefferson dando tiros e jogando granadas contra policiais federais que foram prendê-lo e a campanha do presidente fazendo uma tentativa mambembe de acusar o TSE de favorecer Lula numa disputa sobre inserções de rádio.

A pesquisa também captou no seu levantamento deste sábado o humor do eleitorado após o debate final da disputa, realizado na noite de sexta (28) pela TV Globo. O evento foi agressivo, mas inconclusivo: ambos os rivais trocaram acusações duras e não se fixaram em discussões de fato.
Com efeito, Bolsonaro correu para dizer que Jefferson não era seu aliado e que nada mudaria na correção do mínimo e das aposentadorias, que haviam corroído ainda mais sua posição entre os mais pobres.


Pesquisas Datafolha e Ipec (29/10): veja últimos resultados e repercussão
Institutos divulgam às 18h últimas pesquisas eleitorais entre Lula e Bolsonaro no 2º turno. Veja resultados

Datafolha aponta 6 pontos a mais para Tarcísio contra Haddad em SP; Ipec, 4
Datafolha: 94% afirmam já estar totalmente decididos sobre voto à Presidência
Datafolha: 50% dizem não votar em Haddad de jeito nenhum, ante 46% em Tarcísio
Datafolha: No Rio, Bolsonaro lidera com 57% dos votos válidos, contra 43% de Lula
Datafolha: Em Minas, Lula tem 53% dos votos válidos, e Bolsonaro, 47%
Datafolha: Tarcísio tem 53% dos votos válidos, e Haddad, 47%, em SP
Datafolha: Em SP, Bolsonaro tem 51% dos votos válidos, contra 49% de Lula
Datafolha: 50% dizem não votar em Bolsonaro de jeito nenhum, ante 46% em Lula
Datafolha: Lula tem 52% dos votos válidos contra 48% de Bolsonaro na véspera da eleição
Quaest: Lula tem 52%, Bolsonaro, 48%

CNT/MDA, pesquisa eleitoral para presidente, 29/10/2022

CNT/MDA: Lula tem 51,1% dos votos válidos; Bolsonaro, 48,9%; cenário é de empate técnico

Por Natália Santos, O Estadão, 29/10/2022

Pesquisa para presidente no segundo turno mostra que os candidatos estão em empate técnico, uma vez que a margem de erro do levantamento é de 2,2 pontos porcentuais

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL) estão empatados tecnicamente segundo pesquisa do instituto MDA, financiada pela Confederação Nacional de Transportes e divulgada neste sábado 29. O levantamento mostra o petista com 51,1% dos votos válidos no segundo turno, cenário em que os votos brancos e nulos não são considerados. O atual chefe do Executivo aparece com 48,9%.

Considerando a margem de erro de 2,2 pontos porcentuais, ambos os presidenciáveis podem estar empatados. Lula tem entre 53,3% e 48,9% dos votos válidos, e Bolsonaro, entre 51,1% e 46,7%.
Em comparação com a última edição da pesquisa, divulgada dia 16 de outubro, Lula oscilou para baixo dentro da margem de erro: indo de 53,5% votos válidos para 51,1%. Bolsonaro cresceu um pouco acima da margem de erro: foi de 46,5% para 48,9%.

O levantamento, que teve a coleta de dados estimulada, ou seja, na qual é apresentada a lista de candidatos aos entrevistados, também considerou o cenário de votos totais. Nessa situação, Lula tem 46,9% da preferência, enquanto Bolsonaro tem 44,9%. Votos brancos e nulos somam 5,6%. Indecisos são 2,6%.

A pesquisa CNT/MDA realizou 2.002 entrevistas presencialmente entre os dias 26 a 28 de outubro de 2022. A margem de erro é de 2,2 pontos porcentuais para mais ou para menos e o nível de confiança é de 95%. O registro do levantamento no TSE é BR-01820/2022.

Pra lá de Marrakesch

Mario Prata

Na noite anterior havia trabalhado feito um mouro.

Acordei e estava um verdadeiro calor senegalês. Depois de tomar uma boa duma ducha escocesa, quase dormitar num banho turco, fazer a minha ginástica sueca, passar a minha água de colônia, vesti meu terno azul turquesa de casimira inglesa (que fora um presente de grego de uma amante argentina), cuidei do meu pastor alemão, do pequinês, do dinamarquês, do meu gato siamês e, com uma pontualidade britânica, deslizando sobre o tapete persa, sai para fazer um negócio da china.

Logo voltei. Deveria ter saído com a minha refrescante bermuda, minhas sandálias havaianas e o autêntico chapéu panamá. Evitaria o calor, aquela tortura chinesa que só um bom sorvete de creme holandês refrescaria.

Ou teria sido melhor o terno príncipe de Gales, para evitar uma gripe espanhola ou uma febre asiática? A polaca gostaria mais.

Foi bom ter voltado. Meu periquito australiano e o meu canário belga, famintos, pediam semente de maconha colombiana. E minha galinha de angola, o resto da linguiça calabresa, resquício de um sanduíche americano com um pouco de salada russa e molho inglês, cortado com o meu afiado canivete suíço. Hambúrguer, nem pensar, que é para inglês ver.

Acabei me atrasando, chupei uma mexerica (ou era uma tangerina ou, ainda, uma bergamota?). Brinquei de sombra chinesa e quase dormi.

Para acordar, ligo a televisão, vejo um pouco do esporte bretão, descasco uma lima da pérsia, fico em dúvida entre o pão sírio e o pão francês, conto até dez em algarismos romanos e depois em algarismos arábicos e resolvo fazer um filé a parmegiana. Abro a janela veneziana, preparo um uísque paraguaio e ali, numa autêntica noite americana, tal e qual um tigre asiático, dou um sorriso amarelo, brinco com o porquinho da índia de porcelana inglesa e me sirvo à francesa.

Depois, balanço na poltrona de cana da índia com a cuba libre. Mas, como o pato vai ser à Califórnia, com pimenta malagueta ou pimenta-do-reino, misturado com arroz marroquino (ou à grega?), preparo a milanesa e tudo bem. Vai cravo da índia? Será que o melhor mesmo não seria um filé à cubana, para depois enfrentar uma montanha russa, arrotando couve-de-bruxelas?

Com a chave inglesa abro a porta emperrada, levo no bolso o meu soco igualmente inglês e saio ao encontro da minha cidade, do meu Brasil paraguaio.

Coisa de primeiro mundo.

Estadão, 08/05/1996 

sexta-feira, 28 de outubro de 2022

Não precisa ser petista para votar no Lula

Não precisa ser petista

Passei a achar o Felipe Neto mais sexy que o Chico Buarque 

Tati Bernardi, FSP, 27/10/2022

Você não precisa ser petista, lulista ou esquerdista para votar no Lula. Você não precisa ser indigenista, antropólogo ou ideólogo para se indignar com crianças indígenas assassinadas. Você não precisa ser de nenhuma ONG pela paz para entender que armar a sociedade é política de extermínio. Você não precisa ser feminista para ter nojo de homem que chama a filha de fraquejada e diz que uma colega não merecia nem ser estuprada.

Você não precisa deixar de defender a família para notar que, neste governo, milhares delas foram dizimadas pela fome e pela Covid. Você não precisa ser contra os bancos para saber que os banqueiros enriqueceram muito mais quando Lula era presidente. Você não precisa ser comunista para votar no mesmo candidato do Persio Arida.

Você não precisa ter pós-doutorado em sociologia para entender que, se uma mulher trans se apresenta como mulher —e é uma mulher—, você precisa chamá-la de mulher. E você não precisa usar boné, adesivo ou bóton a favor de travestis para ter vergonha de morar no país que mais as mata.

Você não precisa ser mente aberta para reconhecer que em 2022 a gente aprendeu, depois de muita porrada, a flexibilizar o que antes eram convicções. Este foi um ano em que eu ajoelhei e chorei em um culto evangélico com o pastor Henrique Vieira. Este foi o ano em que me tornei uma tchuchuca absoluta do Janones, uma tchuchones. Fora que passei a achar o Felipe Neto mais sexy que o Chico Buarque.

Você não precisa ser romântico para se emocionar com Simone Tebet e Marina Silva dividindo um palanque. A Amazônia e o agronegócio de mãos dadas pelo seu voto. Você não precisa contratar um coach para entender o tamanho da sua importância.

Você não precisa ser petista, lulista ou esquerdista para votar no Lula. Você não precisa ser pediatra ou pedagogo para se preocupar com a saúde mental dos seus filhos. O que será deles se você votar em uma pessoa que só defende os interesses da própria prole?

Você não precisa ser namastê das árvores ou militante das embalagens de iogurte lavadas e secas antes de irem para o lixo para saber que sem natureza não dá nem para jogar videogame. Você não precisa gostar de teatro ou cinema ou livros para compreender que nem o Danilo Gentili sobreviveria ao sucateamento completo da cultura.

Você não precisa ser o maior chupador de vulvas da América Latina para entender que o falocentrismo tem que acabar. E que se a sua mulher não gozar pelo menos três vezes por semana ela poderá te largar. E você terá merecido.

Você não precisa saber nada sobre a disputa elegante e justa entre esquerda e direita para perceber que a vulgaridade repugnante e criminosa pregada pela extrema direita está acabando com o que nos resta de dignidade, liberdade e oxigênio.

Você não precisa ter lido Marx para sofrer com tanta gente passando fome. Você não precisa ser PhD em história para ter ideia do que são tortura e nazismo.

Você não precisa ser contra a privatização e o neoliberalismo para ser a favor da democracia e da liberdade de imprensa.

Você não precisa chorar vendo o filme novo do Darín para saber que numerosas mães perderam seus filhos na ditadura.

Neste domingo, você não precisa se achar um herói patético vestido de pimentão vermelho (deixa que eu faço isso), basta que você não seja um babaca desinformado usando as cores da bandeira. Por fim, você não precisa ser militante dos direitos humanos para ser humano.

Ah, e talvez você não precise desta coluna óbvia e propositalmente escrita em linguagem simples para se informar, mas talvez seu tio do zap precise. Repasse (incluindo a parte da chupada, pois sua tia merece um país melhor)!


Popularidade digital na eleição

Popularidade digital: Lula e Bolsonaro crescem nas redes sociais na reta final da eleição
Apesar de disputa acirrada, petista supera presidente em 18 dos 23 dias de campanha de 2º turno

Júlia Barbon, FSP, 25/10/2022

Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) crescem nas redes sociais na reta final da campanha de segundo turno. Desde o último sábado (20), os dois rivais têm registrado uma curva ascendente no Índice de Popularidade Digital (IPD). A disputa continua acirrada e indica um resultado próximo entre os dois nas urnas no próximo domingo (30). O petista, porém, segue à frente do presidente: se desempenhou melhor na internet em 18 dos 23 dias que sucederam a primeira votação.
Nesta segunda (24), data da última medição, Lula marcou 84,09 contra 83,34 do rival no indicador, que vai de zero a cem. O número é calculado diariamente pela empresa de pesquisa e consultoria Quaest e publicado pela Folha desde junho.

Ambos vêm numa tendência de alta há pelo menos cinco dias, quando eles marcavam 80,02 e 76,03, respectivamente. O mesmo aconteceu uma semana antes do primeiro turno, momento em que os dois bateram seus recordes em popularidade digital até então.


"Me parece ser o efeito da reta final da campanha. Os candidatos estão mobilizados e os eleitores também", analisa Felipe Nunes, diretor da Quaest e professor de métodos quantitativos da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais).

Lula saltou de 81,15 para 84,06 de sábado (22) para domingo (23), dia em que o ex-deputado bolsonarista Roberto Jefferson (PTB) foi preso pela Polícia Federal depois de tentar resistir à ordem judicial, disparando mais de 20 tiros de fuzil e lançando duas granadas contra agentes.
Na mesma data, também geraram alto engajamento ao petista uma postagem da artista Maísa, dizendo que "vai de 13" e chamando "primos jovens" a votar, e outra do streamer Casimiro desmentindo montagem compartilhada pelo senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ).

Bolsonaro teve uma subida mais leve nesse dia, de 80,17 para 81,86, apesar de ter sido sabatinado sozinho pela TV Record. A emissora chamou Lula para um debate com o adversário naquele domingo, mas ele declinou o convite.

O IPD é publicado mensalmente pela Folha e ajuda a medir a temperatura da corrida eleitoral. Ele é calculado desde 2018 por meio de um algoritmo de inteligência artificial que coleta e processa 152 variáveis dos sites Twitter, Facebook, Instagram, YouTube, Wikipedia e Google.
São monitoradas seis dimensões: presença digital (perfis ativos), fama (número de seguidores), engajamento (comentários e curtidas por postagem), mobilização (compartilhamentos), valência (proporção de reações positivas e negativas) e interesse (volume de buscas).
A conta inclui também os resultados de eleições passadas, com o acompanhamento de milhares de candidaturas, e é atualizada a cada pleito.

No primeiro turno, o indicador mostrou quadros próximos aos resultados das urnas. Apontou, por exemplo, maior aproximação de Bolsonaro a Lula, assim como Simone Tebet (MDB) à frente de Ciro Gomes (PDT).

A correlação entre o desempenho dos candidatos nas redes sociais e nas urnas chegou a 99% na disputa presidencial. Também ficou acima de 82% em seis das sete disputas estaduais analisadas, como São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, exceto no Rio Grande do Sul.
O IPD foi criado para fazer esse tipo de prognóstico, diferentemente das pesquisas de intenção de voto realizadas por institutos tradicionais como Datafolha e Ipec —que não têm como objetivo antever o resultado do pleito, mas medir como o eleitor pretende agir no momento das entrevistas.

 

Popularidade digital: ranking indica virada nos governos de 4 estados; veja evolução
Índice aponta que Rio Grande do Sul, Pernambuco, Paraíba e Espírito Santo devem eleger candidatos que ficaram atrás no 1º turno 

Júlia Barbon, FSP, 27/10/2022

Ao menos 4 dos 12 estados que terão segundo turno podem sofrer viradas nas disputas para governador, aponta o Índice de Popularidade Digital (IPD), que mede o desempenho dos candidatos nas redes sociais. Políticos que ficaram em segundo lugar na votação de 2 de outubro agora lideram, na reta final, os rankings de performance na internet no Espírito Santo, Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Sul, o que indica possibilidade de vitória.

O índice, calculado diariamente pela empresa Quaest e publicado pela Folha desde junho, foi criado para fazer esse tipo de previsão — diferentemente das pesquisas de intenção de voto realizadas por institutos como Datafolha e Ipec, que estimam como o eleitor pretende agir apenas no momento das entrevistas.
No primeiro turno, o indicador apresentou forte correlação com os resultados das urnas. A relação chegou a 99% na disputa presidencial e ficou acima de 82% em seis das sete eleições estaduais analisadas, com maior erro no Rio Grande do Sul.


Agora, os rankings de segundo turno mostram Carlos Manato (PL) à frente no Espírito Santo, após descolar do líder Renato Casagrande (PSB) em meados de outubro. Na Paraíba, Pedro Cunha Lima (PSDB) superou João Azevêdo (PSB) o mês todo, apesar de ter perdido nas urnas.

Em Pernambuco, a disputa nas redes sociais segue mais acirrada, com Raquel Lyra (PSDB) e Marília Arraes (Solidariedade), que venceu na primeira votação, se alternando no primeiro lugar. A tucana, porém, cresceu e registrou o melhor índice na última medição, na segunda-feira (24).

No Rio Grande do Sul, os resultados são ainda mais próximos, tornando a competição mais imprevisível. O bolsonarista Onyx Lorenzoni (PL) liderou à distância desde o primeiro turno, mas foi ultrapassado nesta segunda pelo ex-governador Eduardo Leite (PSDB), ficando os dois agora colados.
Já em outros seis estados que vão decidir seus governantes no próximo domingo (30), os mais votados no primeiro turno são também os mais populares na internet. A análise não incluiu Rondônia e Sergipe, onde os dados foram insuficientes.

Consolidaram suas vantagens sobre os adversários durante todo o mês Paulo Dantas (MDB), em Alagoas; Jerônimo Rodrigues (PT), na Bahia; Capitão Contar (PRTB), em Mato Grosso do Sul; Jorginho Mello (PL), em Santa Catarina; e Tarcísio de Freitas (Republicanos), em São Paulo.


O Amazonas foi o único desses locais que teve alternância na liderança no período. Wilson Lima (União Brasil), que recebeu mais que o dobro de votos de Eduardo Braga (MDB) no primeiro turno, chegou a ser ultrapassado pelo rival em dois períodos no IPD, mas ainda lidera.

O histórico das eleições para governador aponta que 19 das 85 das disputas que foram para segundo turno desde 1998 tiveram viradas (22%). Na corrida presidencial, isso nunca ocorreu.
Apenas 7 dos que venceram na primeira votação e perderam na segunda haviam recebido mais de 45% dos votos no primeiro turno. Desses, só 2 tinham adversários que registraram menos que 45% dos votos no primeiro turno.

O Índice de Popularidade Digital vai de 0 a 100 e é calculado desde 2018 pela Quaest, por meio de um algoritmo de inteligência artificial que coleta e processa 152 variáveis dos sites Twitter, Facebook, Instagram, YouTube, Wikipedia e Google.

São monitoradas seis dimensões: presença digital (perfis ativos), fama (número de seguidores), engajamento (comentários e curtidas), mobilização (compartilhamentos), valência (proporção de reações positivas e negativas) e interesse (volume de buscas).

O peso que cada dimensão terá na conta é determinado por um modelo assimilado pela máquina a partir dos resultados reais de eleições anteriores, com milhares de candidaturas monitoradas pela empresa.
 

quinta-feira, 27 de outubro de 2022

Eleição presidencial - Datafolha ouviu de 25 a 27 de outubro

Datafolha: Lula tem 49%, e Bolsonaro, 44%; brancos e nulos são 5%, e indecisos, 2%

Ex-presidente alcança 53% em votos válidos, e atual mandatário registra 47%, de acordo com a nova pesquisa

Joelmir Tavares, FSP, 27/10/2023

A três dias do segundo turno, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) permanece à frente do presidente Jair Bolsonaro (PL) em intenções de voto, com 49% dos votos totais, ante 44% do candidato à reeleição, segundo pesquisa Datafolha divulgada nesta quinta-feira (27).

Brancos e nulos somam 5%, e indecisos, 2%.

No levantamento da semana passada, o petista registrava 49% dos votos totais, e o atual presidente, 45%. Brancos e nulos eram 4%, e indecisos, 1%. A margem de erro é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos.

Com isso, permanece altamente estável o quadro para a disputa final da corrida à Presidência, cuja votação será neste domingo (30).

Em votos válidos — que é o critério adotado pela Justiça Eleitoral para declarar o vencedor, excluindo votos em branco e nulos —, Lula teria hoje 53% e Bolsonaro, 47%. Na semana passada, os percentuais eram de, respectivamente, 52% e 48%.


O instituto ouviu 4.580 pessoas em 252 municípios entre terça (25) e esta quinta-feira (27). A pesquisa foi encomendada pela Folha e pela TV Globo e está registrada sob o código BR-04208/2022 no Tribunal Superior Eleitoral. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou menos.

O levantamento não tem como finalidade prever o resultado, mas registrar a intenção de voto do eleitor no momento em que ele foi entrevistado. Somas podem ficar acima ou abaixo de 100% em razão de arredondamentos nos valores.

A perenidade dos índices ao longo do segundo turno, com oscilações apenas dentro da margem de erro, torna ainda mais dramático para as campanhas o próximo fim de semana e eleva as expectativas sobre o que sairá das urnas em termos de votos nulos e brancos, além da abstenção, algo de difícil previsão.

A decisão de não comparecer às urnas, embora o voto no Brasil seja obrigatório entre 18 e 70 anos, é tida como mais prejudicial a Lula caso atinja percentual negativo. O eleitorado mais identificado com o petista está em segmentos de menor renda e menos escolaridade, que historicamente são os mais faltosos.

O combate à abstenção foi reforçado neste segundo turno com uma pressão para que prefeituras e governos estaduais liberassem o transporte público gratuito no domingo, no intuito de facilitar o deslocamento até as seções eleitorais. O STF (Supremo Tribunal Federal) autorizou a medida.

Segundo organizações e ativistas que lideraram uma campanha pelo passe livre neste segundo turno, ao menos 218 cidades, sendo 26 capitais, implementaram a política de gratuidade. Uma delas é a capital paulista, que também colocará 2.000 ônibus extras para circularem no domingo. O governo paulista também anunciou a liberação no metrô, trens e ônibus intermunicipais.


quarta-feira, 26 de outubro de 2022

Eleição Pesquisa Genial/Quaest 26/10/2022

Pesquisa Genial/Quaest: diferença entre Lula e Bolsonaro no 2º turno agora é de 6 pontos
Levantamento mostra que o petista oscilou de 47% para 48% das intenções de voto; atual presidente segue com 42%

26/10/2022

O instituto entrevistou duas mil pessoas pessoalmente entre os dias 23 e 25 de outubro.

A mais recente pesquisa eleitoral Genial/Quaest para o segundo turno das eleições presidenciais de 2022, divulgada na manhã desta quarta-feira (26/10), mostra uma oscilação positiva das intenções de voto do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Ele subiu um ponto e marcou 48% das intenções de voto ante 42% do presidente Jair Bolsonaro (PL), que registrou a mesma pontuação da pesquisa de uma semana atrás.

Brancos, nulos e abstenções caíram de 6% para 5%, enquanto indecisos seguem sendo 5% do eleitorado, segundo estima a Quaest. 

Descontando esses números, Lula teria 53% dos votos válidos e Bolsonaro ficaria com 47%, caso as eleições fossem hoje. As cifras são as mesmas da semana passada.
Ponderados pelo modelo de likely voter (eleitor provável), Lula tem 52,1%, contra 47,9% de Bolsonaro. Esse modelo, adotado no segundo turno da eleição, identifica os eleitores com maior probabilidade de ir votar no dia 30 de outubro.

Além disso, 92% dos entrevistados dizem que seu voto é definitivo. Na pesquisa, 45% das pessoas ouvidas dizem ter mais medo da continuidade de Bolsonaro, dois pontos a mais em comparação com a pesquisa anterior. Já 42% temem mais a volta do PT ao governo, um ponto a menos do que uma semana atrás.

A 24ª rodada da pesquisa Genial/Quaest ouviu 2.000 pessoas com mais de 16 anos entre os dias 23 e 25 de outubro, em entrevistas nas casas dos eleitores em 123 municípios de 27 estados. O nível de confiança é de 95%, com margem de erro máxima de 2%, para cima ou para baixo, em relação ao total da amostra. A pesquisa foi registrada no TSE sob o número BR-00470/2022.


Votos válidos:
distância é de 6 pontos percentuais Lula (PT): 53% (era 53%) Jair Bolsonaro (PL): 47% (era 47%) 


Votos totais Lula (PT):
Lula 48% (tinha 47% na semana passada) Jair Bolsonaro (PL): 42% (tinha 42%) Branco/nulo/não vai votar: 5% (era 6%) Não sabe: 5% (era 5%).

terça-feira, 25 de outubro de 2022

Índio do buraco

Enterro do ‘índio do buraco’, que viveu isolado por duas décadas, se transforma em impasse 

Por Leonencio Nossa, O Estado, 25/10/2022

Morto há dois meses, indígena ainda não foi enterrado. Funai e Polícia Federal não fornecem previsões

Há dois meses, o corpo do indígena que viveu mais de duas décadas isolado na mata do Sul de Rondônia, permanece insepulto. A Funai e a Polícia Federal não informam quando vão enterrar os restos mortais do “Índio do Buraco”, um homem de idade, língua e costumes desconhecidos, último sobrevivente de um grupo étnico envenenado e fuzilado por grileiros e madeireiros.

A saga do corpo do indígena começou a 23 de agosto, quando a equipe da Frente de Proteção Etnoambiental mantida pela Funai em Guaporé o encontrou morto numa rede, ornado de penas de araras, como se tivesse se preparado para a morte, dentro de uma maloca. Levado para Vilhena, cidade a 50 quilômetros, o corpo foi transportado em seguida num avião da FAB para Brasília. Na capital federal, passou por exames no Instituto de Criminalística. Um mês depois, retornou a Rondônia. Agora, está na sede da Polícia Federal.

Imagens de índio isolado na Amazônia. "Índio do buraco" é o último sobrevivente de sua etnia. Índio da Terra Indígena Tanaru vive isolado há pelo menos 22 anos. Foto: Reprodução / Acervo Funai

Em meio à demora das autoridades em dar resposta sobre o sepultamento, a terra onde o isolado resistia, sem aceitar contatos com órgãos oficiais, entidades civis ou mesmo xamãs de aldeias vizinhas, voltou a despertar a cobiça externa. Em 1998, um dos últimos trechos de floresta nas margens do Rio Tanaru foi reservado pela União exclusivamente para a sobrevivência dele. 

Registro de habitações construídas pelo "índio do buraco" na Terra Indígena Tanaru. Foto: Reprodução / Acervo Funai

O governo classificou o Território Tanaru, de 8.070 hectares, equivalente a oito mil campos de futebol, como área de restrição de uso, isto é, para estudos e demarcação e homologação. De lá para cá, o lugar tornou-se um oásis numa região de desmatamento e expansão econômica, mesmo com clareiras abertas no passado por ruralistas.

Indigenistas, antropólogos e procuradores se mobilizam para garantir que o corpo possa ser enterrado na terra em que o indígena vivia e onde seus ancestrais foram mortos. Seria um passo decisivo para garantir a proteção do lugar. É o primeiro caso de território em processo de demarcação em que morreram todos os indígenas que nele habitavam. O prazo de restrição de uso expira em 2025.

“O Estado Brasileiro deve ter o cuidado com a memória desse indígena que resistiu aos seus algozes”, afirma Bruno Biagio, que chefiou o Coordenação de Índios Isolados e Recente Contato da Funai. Ele observa que, desde os anos 1980, quando foi implantada a política de proteção dos isolados, o País avançava na garantia de direitos. Mas, nos últimos anos, a situação ficou “grave” – três indigenistas foram mortos.

Biagio refere-se a Maxwell Pereira, assassinado à queima roupa em Tabatinga (AM), em 2019, Rieli Franciscato, flechado por um isolado que estava sob pressão de grileiros em Seringueiras (RO), em 2020, e Bruno Pereira, emboscado por pescadores ilegais, em Atalaia (AM), neste ano. “Os isolados não identificam quem está na defesa deles.”

Veneno

Na área de floresta cercada de pastagens e grandes plantações, o “Índio do Buraco”, de idade estimada de 60 anos quando morreu, construiu exatos 53 tapiris –malocas cobertas de palha – nos últimos 26 anos, sempre fugindo de madeireiros e grileiros. Ele mudava sempre de lugar dentro do território para não ser morto, numa vida de guerrilha. Assim, construía tapiris com uma entrada. Dentro, abria um buraco em forma ovalada, de meio metro de largura, um de comprimento e até três de profundidade.

Em 1995, os indigenistas Marcelo Santos e Altair José Algayer estiveram pela primeira vez frente a frente com o “Índio do Buraco”. Foram recepcionados com uma flechada, que quase acertou o documentarista Vincent Carelli. No tempo mais antigo, os integrantes desse povo eram conhecidos como exímios guerreiros. “Quem entrava na terra deles não saía”, conta Marcelo. Com o tempo, os indígenas passaram a acreditar no pessoal das fazendas e manter relação pacífica. A aproximação foi fatal.

Depoimentos coletados por Marcelo indicam que esse grupo sofreu dois massacres. No primeiro, nos anos 1980, os indígenas trocaram produtos de suas roças por açúcar com pistoleiros de uma fazenda. Os homens puseram veneno no açúcar e mataram parte da aldeia. Na década seguinte, um fazendeiro mandou atacar a tiros os sobreviventes, incendiar as casas restantes e passar o trator. Foi quando Marcelo encontrou seis buracos de antigas residências.

Assim, restou apenas um indígena no Tanaru. “Não conheço outro grupo que fazia buracos dentro de casas. Tem significado místico e religioso”, relata o indigenista. “Também faziam covas em trilhas, mas como armadilha de queixadas”, ressalta. “Eu era chamado de mentiroso, diziam que eu plantava índios, que não existiam aldeias.”

Durante anos, a indigenista Ivaneide Bandeira atuou no monitoramento da área onde o “Índio do Buraco” vivia. Participava de expedições para evitar invasões. “Ele nunca quis ser contatado por ninguém”, relata. “Vivia fugindo, estava cercado por grandes fazendas”, relata. Ivaneide reclama da demora em sepultar o corpo. “A Funai não deixa sepultar. Para mim, é assustador. Não consigo entender. Ele enfrentou todo o massacre de seu povo, resiste, morre e agora a Funai não deixa descansar. É desumano.”

Há 40 anos no trabalho de defesa de comunidades indígenas, ela avalia que a cobiça pelo território está por trás da demora no sepultamento. Ivaneide defende a criação de uma reserva florestal e o sepultamento do indígena na área. “Enterrá-lo lá é impedir a grilagem”, avalia. “Não se pode negar a ele ser enterrado em sua terra.”

É a história de um corpo que, mesmo morto, impede a destruição da floresta. Ivaneide questiona o motivo de os restos mortais terem sido levados para Brasília já que própria Funai descartou assassinato. “Ao que tudo indica a morte do indígena se deu por causas naturais”, destacou nota da entidade. O informativo de 27 de agosto relatou que sua equipe encontrou o corpo dele numa rede. “Não havia vestígios da presença de pessoas no local”, destacou. “Também não havia sinais de violência ou luta.”

O delegado Marcelo Xavier, que recebeu do presidente Jair Bolsonaro a missão de implantar uma política anti-indígena na Funai, chegou a desmarcar o enterro do “Índio do Buraco”. Na semana passada, o Jornal Nacional informou que a inumação estava prevista para o dia 14. Procurada pelo Estadão, a assessoria dele limitou-se a informar que “aguarda os laudos para definir os melhores procedimentos quanto ao sepultamento”. A reportagem ainda pediu um esclarecimento sobre o motivo do envio do corpo para Brasília, as condições em que está e o processo do território indígena. Por sua vez, a PF não se pronunciou.

O indigenista Altair José Algayer foi quem encontrou o corpo do “Índio do Buraco” numa inspeção. Ele observa que jamais se saberá a origem, a língua e os costumes do homem do Tanaru e seria evasivo tentar elucidar o que pensava sobre a sociedade da qual fugia. Ainda assim, observa que, no final, mesmo precisando de ajuda, não quis fazer contato. “Foi algo muito ruim que ocorreu com ele e seu povo para ter resistência de lutar mesmo sozinho, por anos.”

 

Procuradoria pede que Justiça obrigue Funai a enterrar corpo de 'índio do buraco' em 24h
Presidente do órgão barrou sepultamento horas antes do horário previsto para a cerimônia

Vinicius Sassine, FSP, 26/10/2022

O MPF (Ministério Público Federal) apresentou uma ação na Justiça Federal para obrigar a Funai (Fundação Nacional do Índio) a enterrar o corpo do "índio Tanaru" –ou "índio do buraco", como era mais conhecido– no mesmo local onde ele viveu e morreu, num prazo de 24 horas a partir de eventual sentença. A ação civil pública foi protocolada na Justiça em Rondônia no começo da tarde de terça-feira (25). Segundo o MPF, a Funai já foi intimada a se manifestar num prazo de 48 horas.
O órgão não respondeu aos questionamentos da reportagem.

A Folha mostrou na sexta (21) que o presidente da Funai, Marcelo Augusto Xavier da Silva, barrou o sepultamento do "índio Tanaru" mesmo com todas as coletas de material já feitas e com todos os exames já concluídos pela Polícia Federal.
O ofício de Xavier à PF em Vilhena (RO), que fica a 160 km de Corumbiara (RO), o município mais próximo dos acessos à terra indígena onde "Tanaru" vivia, foi enviado horas antes do momento planejado para o sepultamento.

O ofício foi assinado às 20h03 do último dia 13. O enterro estava previsto para o dia 14.
O "índio do buraco" era um indígena isolado, que vivia na terra indígena Tanaru, no sul de Rondônia. Ele optou pelo isolamento após seus familiares serem mortos por madeireiros na década de 1990. Segundo a Funai, o grupo tinha seis pessoas e existiu até 1995. O órgão passou a monitorá-lo, e a respeitar seu modo de vida, a partir de 1996.

O presidente da Funai decidiu contrariar os profissionais envolvidos no tratamento dado ao "índio Tanaru" após a morte e segurou o sepultamento do indígena, que deu mostras do lugar e da forma como gostaria de ser sepultado, conforme indícios deixados por ele no momento do óbito.
O corpo foi encontrado em 23 de agosto. Depois dos exames feitos por peritos da PF, o enterro estava previsto para o último dia 14, no mesmo lugar onde foi encontrado na terra indígena. Horas antes, na noite do dia 13, o presidente da Funai interveio e barrou o sepultamento.

O acerto com a Funai era que o enterro ocorreria no mesmo lugar onde o corpo foi encontrado. Esse acerto existiu até a véspera do enterro. O ofício de Xavier não especifica onde ocorrerá o enterro. A suspeita de indigenistas é que, com o gesto, o presidente da Funai busca atender a interesses de fazendeiros que circundam a área protegida onde vivia o indígena.

A terra indígena não é demarcada. Por haver incidência de um isolado, o território conta com uma restrição de uso, definida em portaria da própria Funai. Ela vigora até 2025.
Segundo o MPF, quando o corpo foi encontrado, a morte já havia ocorrido de 30 a 40 dias atrás. Assim, o óbito ocorreu em julho e, até agora, mais de três meses depois, não houve o sepultamento.

A Procuradoria afirma na ação que "Tanaru" é a última vítima de um "genocídio nunca apurado"
Quando o corpo foi encontrado, estava com um ‘chapéu’ na cabeça e plumagens de penas de arara na nuca, "fatos que indicam consciência e preparativos para a morte ou pós-morte".
"Todos os seus pertences permaneciam nos seus devidos lugares, com seu arco e flechas escorados ao lado da rede", dizem os procuradores.

A PF descartou que tenha ocorrido morte violenta.
Na ação civil pública, o MPF cita ofícios da PF que afirmam que todos os exames de perícia já haviam sido concluídos, após os restos mortais terem sido levados para o Instituto Nacional de Criminalística, em Brasília. Esses restos voltaram a Rondônia e já estava tudo certo para o sepultamento, quando o presidente da Funai interveio. A ação cita a reportagem da Folha e a resposta dada pela Funai aos questionamentos da reportagem.

"A Funai aguarda os laudos para definir os melhores procedimentos quanto ao sepultamento do indígena Tanaru", disse o órgão em nota na ocasião.
"A ausência de sepultamento de Tanaru, tendo sido levado seu corpo há quase dois meses, tempo mais do que o necessário para a realização de todos os exames necessários, fatos confirmados pela própria PF, com as coletas das amostras necessárias, configura nítido desrespeito à sua memória e à sua história", diz a ação do MPF.

"A inexistência de destinação adequada e digna ao corpo de Tanaru também está provocando grande comoção na comunidade indígena e repercussão no Brasil", completa.
Na ação, os procuradores pedem que o indígena seja sepultado na mesma palhoça onde seu corpo foi encontrado, por haver indícios suficientes de que era ali que ele queria ser enterrado.

"Há profundo temor de que o local seja invadido por madeireiros e fazendeiros da região, o que pode inviabilizar o enterro no seu território, que em vida defendeu e se recusou a deixar", afirmam os procuradores.


Conflito entre desmate e preservação manteve um índio morto na geladeira da Funai

Sepultamento de índio que vivia isolado em território de Rondônia se transformou em disputa local. Justiça determinou enterro em local da morte

Fernando Reinach, O Estado, 05/11/2022 

Esta coluna foi escrita antes da confirmação do sepultamento, que ocorreu nesta sexta-feira, 4

Existe um índio morto nas geladeiras da Funai desde 23 de agosto. Eu soube desse índio em 2010, quando li sua história num livro do jornalista Monte Reel, na época o correspondente do Washington Post no Brasil. Quando foi descoberto em 1996, vagando pela floresta, já era o último sobrevivente de sua tribo. O restante foi morto antes que sua existência tivesse sido notada pela Funai. É por isso que a tribo e o índio não têm nome.

Todas as tentativas de comunicação fracassaram. Ele não compreendia nenhuma das línguas faladas na região e recusava qualquer contato com os indigenistas da Funai. Quem se aproximava era recebido a flechadas. Seus hábitos eram distintos de todas as outras tribos, principalmente o de cavar buracos nos locais em que acampava.

Imagens de índio isolado na Amazônia. "Índio do buraco" é o último sobrevivente de sua etnia. Índio da Terra Indígena Tanaru vive isolado há pelo menos 22 anos.

Vivia nas florestas do município de Curumbiara, em Rondônia. O livro conta como um grupo de indigenistas e ativistas se mobilizou para demarcar o território onde esse índio pudesse viver sem risco de ser morto. Apesar da resistência de parte da população local, e como a constituição brasileira garante a demarcação de reservas indígenas para os povos nativos, o grupo conseguiu delimitar uma área de 8.070 hectares para o índio viver. Em 1998, a Terra Indígena de Tanaru foi classificada como sujeita a “restrição de uso”.

Desde 1998 a Funai visita a área, onde já identificou mais de 50 acampamentos construídos pelo índio solitário. Em uma ou duas oportunidades foi possível fotografar e filmar o índio, mas ele sempre se mostrou agressivo e nunca foi possível estabelecer contato. Após ter presenciado a morte de todo seu povo, por 26 anos ele se tornou o homem mais solitário do mundo.

Em 23 de agosto de 2022, funcionários da Funai encontraram o índio morto. Ele deitou na sua rede e se cobriu com penas de aves. Provavelmente sabia que ia morrer. Não havia sinais de violência e uma necropsia confirmou esse fato. Se houvesse outros membros da sua tribo, ele teria sido enterrado na própria aldeia após os rituais fúnebres. Mas seu corpo permaneceu na rede por quase dois meses até ser encontrado.

Nesses últimos 26 anos grande parte da floresta da região foi cortada e queimada. Hoje a Terra Indígena de Tanaru é uma das poucas áreas preservadas. E como sempre na Amazônia, onde existe floresta, existem interesses opostos: os que querem preservar e os que querem derrubar. São essas duas forças que mantêm o índio na geladeira.

As pessoas que querem extinguir a reserva argumentam que, sem índios, ela perde sentido, deve ser extinta e a área entregue à agricultura e à pecuária. Os que querem preservar argumentam que a reserva deve continuar a existir, preservando a memória desse povo desconhecido.

Para os que defendem os direitos indígenas, se o índio for enterrado na reserva ela fica caracterizada como uma área ocupada por um povo ancestral e portanto tem mais chances de ser protegida. A tribo viveu na região por um longo tempo, mas não existem outros restos dessa cultura que demonstrem esse fato. O túmulo seria uma evidência importante. As pessoas que desejam ocupar e desmatar a área querem evitar que o túmulo desse único índio caracterize a reserva como terra indígena. Para eles, o índio deveria ser enterrado em um cemitério local.

Mas por debaixo dessa disputa existe uma outra muito mais importante: que destino deve ser dado a reservas indígenas em que não existem mais índios. Dado o desmatamento descontrolado que impera na Amazônia, me parece que qualquer área já protegida deve ser preservada de forma permanente. E existe um outro argumento importante. Se a ausência de população indígena puder ser utilizada para justificar a extinção de reservas, isso pode levar posseiros a exterminar populações indígenas com o intuito de descaracterizar as reservas e, em seguida, pedir sua revogação.

O destino do índio que aguarda na geladeira é simbólico: ele vai indicar em que direção o Brasil quer caminhar. Na última quinta-feira (3 de novembro) um juiz decidiu que o índio deve sair da geladeira e ser enterrado no local em que seu cadáver foi encontrado. Resta ver se a Funai vai cumprir a ordem.

MAIS INFORMAÇÕES: MONTE REEL: THE LAST OF THE TRIBE: THE EPIC QUEST TO SAVE A LONE MAN IN THE AMAZON. SCRIBNER (USA) 2010

Fernando Reinach

Biólogo, PHD em Biologia Celular e Molecular pela Cornell University e autor de "A Chegada do Novo Coronavírus no Brasil"; "Folha de Lótus, Escorregador de Mosquito"; e "A Longa Marcha dos Grilos Canibais"


‘Índio do buraco’ é sepultado em sua terra, em Rondônia, após 74 dias

 Por Redação, 04/11/2022, O Estado

O sepultamento atendeu a uma determinação da Justiça Federal em Vilhena. A saga do corpo do indígena se desenrolava desde 23 de agosto

Após ficar 74 dias sob a guarda da Fundação Nacional do Índio (Funai), o último sobrevivente da terra indígena Tanaru foi sepultado nesta sexta-feira, 4, no mesmo local onde foi encontrado morto. De acordo com informações da TV Globo, os ritos fúnebres foram feitos por indígenas da região na última área em que viveu o chamado “índio do buraco”.

O sepultamento atendeu a uma determinação da Justiça Federal em Vilhena (RO), após pedido urgente do Ministério Público Federal (MPF). Na ação de número 1002480-07.2022.4.01.4103, o MPF argumentou que a demora no sepultamento desrespeitava a dignidade e a memória do indígena, de seu povo, das tribos de Rondônia e do Brasil e dos servidores da Funai que o salvaram do extermínio e atuaram por décadas na sua proteção. A Funai alegou não ter obrigação legal de sepultar o indígena, mas esse argumento não foi aceito.

A saga do corpo do indígena começou a 23 de agosto, quando a equipe da Frente de Proteção Etnoambiental mantida pela Funai em Guaporé o encontrou morto numa rede, ornado de penas de araras, como se tivesse se preparado para a morte, dentro de uma maloca. Levado para Vilhena, cidade a 50 quilômetros, o corpo foi transportado em seguida num avião da FAB para Brasília.
Na capital federal, passou por exames no Instituto de Criminalística. Um mês depois, retornou a Rondônia, indo para a sede da Polícia Federal.

Há 26 anos, o indígena era monitorado pela Funai, que registrou as habitações de palha ocupadas por ele durante esse tempo. Foram 53. Todas seguiam o mesmo padrão arquitetônico: uma única porta de entrada e saída e um buraco cavado no interior da casa.

Há quatro anos, a fundação divulgou imagens do índio isolado. Na época, informou que em algum momento na década de 1980 a colonização desordenada, a instalação de fazendas e a exploração ilegal de madeira em Rondônia provocaram sucessivos ataques aos povos indígenas isolados, em um constante processo de expulsão de suas terras e de morte.

Filmes parte 26

O Último Samurai do Oeste, Il bianco il giallo il nero, 1975, Sergio Corbucci

Marcados pela Vingança, The Revengers, 1972, Daniel Mann

Justiça de um Bravo, The Jack Bull, 1999, John Badham

Sétimo Céu, 7th Heaven, 1927, Frank Borzage

O Anjo das Ruas, Street Angel, 1928

Estrela Ditosa, Lucky Star, 1929, Frank Borzage

Pinóquio, Pinocchio, 2022, Robert Zemeckis

Pinóquio, Pinocchio, 2019, Matteo Garrone

Poder e Luxúria, Los Borgia, 2006, Antonio Hernández

Páginas da Vida, O. Henry's Full House, 1952, Henry Koster, Henry Hathaway, Jean Negulesco, Howard Hawks, Henry King

A Embriaguez do Sucesso, Sweet Smell of Success, 1957

O Vingador Silencioso, Il grande silenzio, 1968, Sergio Corbucci

Os Cruéis, I crudeli, 1967, Sergio Corbucci

O Especialista - O Vingador de Tombstone, Gli specialisti, 1969, Sergio Corbucci

Keoma, 1970, Enzo G. Castellari

Django, 1966, Sergio Corbucci

Corre Homem, Corre, Corri uomo corri, 1968, Sergio Sollima

E Deus Disse a Caim, E Dio disse a Caino...,1970, Antonio Margheriti

Django Vem Para Matar, Se sei vivo spara, 1967, Giulio Questi

The West, Minissérie de televisão, 1996, Stephen Ives

Vidas Secas, 1963, Nelson Pereira dos Santos

Gringo, Quién sabe?, 1967, Damiano Damiani

Longe do Vietnã, Loin du Vietnam, 1967, Direção: Joris Ivens William Klein Claude Lelouch

Reinado do Terror, Terror in a Texas Town, 1958, Joseph H. Lewis

Um Homem Dificil de Matar, Monte Walsh, 1970, William A. Fraker

A Guerra dos Botões, War of the Buttons, 1994, John Roberts 


12/09/22

O Último Samurai do Oeste, Il bianco il giallo il nero, 1975, Sergio Corbucci

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Século 19. Um grupo da delegação japonesa chega aos EUA para entregar um pônei de presente do imperador do Japão para o presidente norte-americano. Para os japoneses o pônei é algo divido e ele é protegido por um samurai. Contudo, um grupo de índios renegados ataca o comboio e rouba o animal. A delegação oferece aos índios um milhão de dolares em dinheiro que será entregue por Gideon (Eli Wallach), o xerife local e Sakura (Tomas Milian), um servente japonês que acredita ser um samurai. Adorocinema 

14/09/22

Marcados pela Vingança, The Revengers, 1972, Daniel Mann

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Vaqueiro vê a família ser massacrada por bando de índios e ladrões de cavalos, liderados por dois homens brancos, que fogem para o México e escapam da polícia americana. O vaqueiro arregimenta seis fugitivos da prisão e parte para a vingança. Filmow 

15/09/22

Justiça de um Bravo, The Jack Bull, 1999, John Badham

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A violência está tomando conta do interior americano na virada do século. A falta de justiça está obrigando famílias a usarem suas armas para garantir a sobrevivência. Homens como Myrl Reddings, um jovem criador de cavalos foi obrigado a deixar parte de sua criação como pagamento de um pedágio, e conseguir passar com seus animais nas terras de um ganancioso fazendeiro. Cansado desse absurdo e sem ver nenhuma ajuda do governo, Myrl declara guerra contra o fazendeiro. Para Myrl só existe um meio de fazer justiça: a bala. Filmow 

16/09/22

Tempo para Frank Borzage

Sétimo Céu, 7th Heaven, 1927, Frank Borzage

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Sobre Frank Borzage (1894–1962)

Estar no sétimo céu significa estar pleno de felicidade, estar no paraíso. A expressão é usada por muitas pessoas, mas são poucos os que sabem de sua origem religiosa. Para os judeus, o sete é considerado um número perfeito. No cristianismo e no Islã, religiões que sofreram influências do judaísmo, também há essa visão. Por isso no Alcorão o mundo espiritual é dividido em sete camadas, sendo a sétima a mais alta, ou o trono de Alá. Culturamix

O SÉTIMO CÉU - DO CINEMA MUDO AO FALADO 

A obras primas do cinema lançou "Sétimo céu", drama romântico adaptado pelo menos duas vezes, versões estas neste incrível lançamento, uma dirigida por Frank Borzage e outra por Henry King. Borzage era especialista de dramas românticos. Seu "Sétimo céu" é quase um melodrama de Douglas Sirk.

Existe uma diferença básica entre as duas produções: um é mudo, o outro não. E com isto, no filme mudo, havia a necessidade de maior ênfase na expressão corporal e facial, para que a audiência compreendesse melhor a representação. Isto causa certa estranheza nas plateias atuais, mas que favoreceu muito as comédias (a maioria dos grandes comediantes eram desta época), o fazia com que os dramas (como o sétimo céu) fossem preferencialmente baseados em peças teatrais, pois eles pegavam as referências do que fazer em cena e como aturar, de forma que a audiência entendesse cada expressão.

O público obviamente entendeu, tornando o filme a 13ª maior bilheteria do cinema mudo nos EUA, além do filme ter arrebatado alguns Oscars (Melhor atriz - Janet Gaynor; Melhor diretor - Frank Borzage; Melhor roteiro adaptado - Benjamin Glazer)

O céu de Borzage

O filme é baseado em uma das peças de teatro mais famosas da Broadway na década de 1920,  e conta a história  de Chico (Charles Farrell), que trabalha nos esgotos de Paris. Ele sonha conseguir um emprego melhor, assim como sonha em conhecer uma mulher com se case. E aparece Diane (Janet Gaynor), uma bela mulher que está sendo procurada pela polícia por crimes pequenos. Chico a ajuda a se esconder e logo os dois se apaixonam. Apesar das dificuldades, eles estão felizes e se casam, mas Chico é chamado para lutar na I Guerra Mundial. Por um mal entendido, chega a notícia de que ele teria morrido, fazendo com que ela entre em colapso, ao mesmo tempo em que Chico, vivo mas ferido e cego, precisa retornar para casa.

Borzage consegue algumas cenas sensacionais. Achei interessante demais como cada tomada do filme pede James Stewart, mas ele só estará na segunda versão. O final do filme simboliza, não só que a luta nunca acabará, como é necessário amor para o fardo ficar mais leve.

O céu de King

Por outro lado, King faz o mesmo filme parecer diferente. Menos melodramático, não menos emocionante. King tinha mais ou menos a mesma experiência que Borzage, ambos realizando em torno de 100 filmes, sendo King um dos fundadores da Academia de Artes Cinematográficas (o Oscar).

O filme conta a mesma história: um rapaz trabalhador nos esgotos de Paris, passa o tempo tentando mudar de vida e encontrar uma bela esposa, já começa a perder as esperanças e transformar-se em um cínico. Um dia resgata uma jovem da polícia e leva-a para viver com ele, em um pequeno apartamento situado no sétimo andar.  Mas ele abre espaço para James Stewart, que é perfeito para o papel. Aliás, tanto ele quanto Henry serviram na segunda guerra.

Mas afinal, qual é melhor?

Bom, o segundo filme tem meia hora a menos, e é impressionante como faz diferença na tela. Menos informações limitaram a história. O famoso "menos é mais" aqui não funcionou. Por outro lado, a dupla King e Stewart é melhor. James tinha mais da aura do personagem central. Mas mesmo que Henry King tenha feito filmes melhores e mais importantes, esta história favorecia Borzage com relação ao estilo de direção. Borzage fez vários similares. Mas no final, quem ganha são os colecionadores, com esta edição maravilhosa que é um prato cheio para os cinéfilos e curiosos perceberem as diferenças e julgarem qual é o melhor.

16/09/22

O Anjo das Ruas, Street Angel, 1928

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Anjo das Ruas (Street Angel/ 1928), Isabel Wittmann, 06/02/2013

A tarefa de assistir esse filme foi muito proveitosa. Anjo das Ruas é um filme de transição do cinema mudo para o cinema falado. Embora o filme ainda não tenha as falas propriamente ditas, ele já foi distribuído com o som, incluindo trilha sonora composta de forma sincronizada com as cenas, alguns ruídos e assobios (que possuem papel importante na história).

Trata-se de um melodrama em que uma jovem, Angela, com sua mãe doente, precisa ir às ruas se prostituir para conseguir pagar o remédio. Apesar disso sua mãe falece e ela se une a uma trupe de circo, tornando-se desiludida com o amor. Até conhecer Gino, um pintor de rua que pretende casar-se com ela. A trama se passa na Itália.

Visualmente o filme é muito bonito: apela para luzes e sombras quase expressionistas. A atriz encarna bem a beleza das mocinhas da década de 1920, com rostos delicados e boca pintada em forma de coração. A história, que tem uma pitada de simbolismo religioso, pode parecer piegas, água com açúcar ou exagerada se não desligarmos nosso cinismo do século XXI ao assistir. Eu fiz isso e mergulhei no que vi e me emocionei.

Mas o mais impressionante mesmo é o uso do som. Tudo parece perfeitamente sincronizado, mostrando emoções e ilustrando ambientes. Em nenhum momento os diálogos fazem falta. Nunca havia visto um filme dessa forma: os filmes mudos que eu assisti não possuíam som projetado para eles, apenas aquela trilha sonora genérica que deveria acompanhá-los. Foi uma experiência muito interessante e o filme vale a pena.

17/09/22

Estrela Ditosa, Lucky Star, 1929, Frank Borzage

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Sobre Janet Gaynor (1906–1984) 

"In September 1982, Ms. Gaynor, who was 75, was seriously injured in a San Francisco taxi cab accident which also injured her husband, executive producer Paul Gregory, and actress Mary Martin. The accident proved fatal for Martin's agent, Ben Washer. Gaynor suffered 11 broken ribs, a ruptured bladder, a broken collar bone, a bleeding kidney, and multiple pelvic fractures. She was to endure a number of operations in the next year and grew weaker until her death in 1984."

Estrela Ditosa (1929) / Lucky Star (1929)

A Primeira Guerra Mundial é um período fantástico para ser estudado – e uma experiência terrível para ser vivida. Muitos soldados que sobreviveram voltaram para casa desfigurados ou permanentemente incapacitados. “Estrela Ditosa” conta a história de um destes soldados – e também é provavelmente o único filme da história a ter uma briga entre duas pessoas no topo de um poste de telefonia.

Em uma área rural pobre vivem Mary e Tim. Mary (Janet Gaynor) é uma garota que precisa cuidar dos irmãos mais novos e ainda ajudar a mãe com as tarefas da fazenda. Tim (Chares Farrell) trabalha consertando postes de telefonia, e com ele trabalha o preguiçoso Martin Wrenn (Guinn Williams). Mary e Tim se conhecem quando ela entrega dois galões de leite para os rapazes, e enquanto ela está lá tentando arrancar cinco centavos a mais de Wrenn, Tim ouve a notícia de que foi declarada guerra.

O primeiro encontro deles não foi muito agradável. Quando Tim percebe que Mary estava mentindo sobre não receber os cinco centavos de Wrenn, ele dá uma surra nela, e a deixa possessa. Mesmo assim, ela sente falta dele e dos outros homens quando eles vão para a França. Ela escreve para Tim e Wrenn, mas é mais educada com Wrenn. Mesmo na guerra, Wrenn não mudou: ele não está interessado em seu dever cívico, mas sim em conhecer moças francesas. O contraste é claro quando temos cortes rápidos entre Wrenn, dirigindo um caminhão para encontrar mulheres, e Tim, usando um vagão movido a cavalo para levar sopa para  os soldados nas trincheiras.

Depois de um ano a França e outro ano no hospital, Tim volta para casa em uma cadeira de rodas. Mary se surpreende ao vê-lo assim, e fica mais surpresa ainda ao ver como ele já se adaptou à cadeira de rodas – ele gira, vai para todo canto dentro de casa e até dá marcha à ré. Mary começa a visitá-lo sempre, animada para ver as coisas que ele está inventando. Tim primeiro quer protegê-la e zoá-la, como se faz com uma irmãzinha, mas depois ele percebe que está apaixonado por ela.

E Wreen ainda não aprendeu nada. Ele foi expulso do exército, mas ainda usa seu uniforme – pior, ele diz à mãe de Mary que foi promovido de sargento a major. Ele usa o uniforme e promessas falsas de casamento para enganar garotas, e escolheu Mary como a próxima vítima.

Tim se entristece porque se sente solitário. Ele fica em casa 24 horas por dia porque não há acessibilidade do lado de fora. As coisas ficam ainda piores quando começa a nevar – algo que é um desafio para as pessoas em cadeiras de rodas ainda hoje. Logo após a Primeira Guerra Mundial, as cadeiras de rodas eram só cadeiras modificadas, e fica claro que o modelo usado por Tim se popularizou a partir de 1880, por causa da roda traseira. É prática, sim, mas não é suficiente para promover a socialização, como o filme mostra.

Tim não quer que as pessoas tenham pena dele. E esta é a primeira coisa que precisamos saber ao lidar com deficientes: eles não querem pena. Tratá-los de maneira diferente, especial, é mais um insulto que um favor. Eles não querem privilégios. Eles querem ser tratados como seres humanos, com algumas necessidades especiais. Mesmo que o termo “necessidades especiais” não seja bem aceito, é a verdade: alguém como Tim, em uma cadeira de rodas, precisa de algumas mudanças no local em que vivem para que possam viver normalmente. Estas mudanças são pequenas, coisas que podem ser feitas facilmente e que beneficiam a todos, porque conviver com pessoas diferentes é enriquecedor para todos.

Além de termos Tim convivendo com a deficiência, temos Mary vivendo em uma família abusiva. Ela é explorada pela mãe (Hedwiga Reicher) e apanha com frequência. A mãe também detesta Tim e o chama de “aleijado”. Ela só está interessada nos presentes que Wrenn traz e nas falsas promessas dele de dinheiro para a família se Mary se casar com ele.

Charles Farrell era um ator muito bonito, mas hoje está quase esquecido. Em “Estrela Ditosa”, ele mostra que também era excelente ator. Seus esforços com as muletas me lembraram da atuação de Lon Chaney, ao mesmo tempo difícil de ver e hipnotizante. Obviamente, para que o roteiro funcione, o progresso de Tim é muito rápido, mas “Estrela Ditosa” foi feito para ganhar dinheiro em cima da química da dupla Farrell e Gaynor, e não para dar esperança para as pessoas que se tornaram deficientes após a guerra.

A direção de arte é hipnotizante desde o primeiro segundo de projeção. As casas podem ser pobres, mas são construídas de maneira estilizada, e criam um contraste interessante com as montanhas e o céu ao fundo. Borzage fez alguns filmes visualmente maravilhosos nos anos 20 e 30 – eu particularmente aprecio o subestimado “Liliom”, de 1930. “Estrela Ditosa” é mais um desses belos filmes.

A “Estrela Ditosa” que conhecemos hoje não é a versão original entregue pelo mestre Frank Borzage. De acordo com resenhas de 1929, o filme era parcialmente falado, com efeitos sonoros e diálogos perto do final. Entretanto, “Estrela Ditosa” foi considerado perdido durante muitas décadas. Felizmente, uma cópia foi encontrada em um arquivo da Holanda, e os intertítulos foram reconstruídos através de pesquisa e com ajuda do roteiro original. Uma nova trilha sonora foi composta, mas infelizmente a trilha original com diálogos ainda não foi encontrada.

“Estrela Ditosa” é uma das 12 colaborações entre Charles Farrell e Janet Gaynor. Eles eram tão convincentes como um casal que vários presentes chegavam todas as semanas aos estúdios da Fox para o “aniversário de casamento” deles. Obviamente, eles não eram casados. E obviamente, um homem em uma cadeira de rodas não consegue se recuperar com aquela rapidez. Mas “Estrela Ditosa” é um destes filmes em que devemos suspender o senso muito crítico para apreciá-lo por completo. É belo, romântico e nos dá esperança. Ditosos somos nós!

17/09/22

Pinóquio, Pinocchio, 2022, Robert Zemeckis

ANÁLISE 

Dentre todas as animações clássicas da Disney, Pinóquio é facilmente uma das que mais possui destaque. Sendo a primeira produção a receber dois Oscars e tendo sua música tema como um marco da história do cinema, o desenho de 1940 vive em nossa memória até os dias atuais.

A beleza de Pinóquio está na simplicidade de sua história e na ingenuidade do boneco de madeira, que tem como seu único objetivo se tornar um menino de verdade. As desventuras vividas por ele e seu amigo Grilo Falante são angustiantes, mas ao mesmo tempo instigantes, nos fazendo torcer para que eles consigam encontrar logo o caminho de casa.

Todas as lições proporcionadas por Pinóquio são conduzidas, na animação, pela emoção. Saber que uma pequena criança precisa fazer diversas escolhas que, algumas vezes, até os adultos têm dúvidas, é algo imersivo. E há um certo terror em algumas passagens da história, o que causava impacto nas crianças que assistiam.

De certa forma, Pinóquio ajudou a pavimentar o caminho para outras grandes animações da Disney que vieram depois dele. Se Branca de Neve foi o grande breakout, Pinóquio manteve o público interessado pelos próximos capítulos que o mundo mágico do Mickey poderia oferecer.

Dito isso, o live-action de Pinóquio é, infelizmente, muito aquém do esperado. Apenas o seu primeiro arco funciona com eficácia, fruto da fidelidade à animação de 1940. A partir do momento em que Pinóquio deixa a casa de Gepeto e ganha o mundo, o roteiro de Robert Zemeckis e Chris Weitz adapta situações em uma escala exagerada, e o CGI que caminha no vale da estranheza não ajuda em nada a criarmos uma conexão com o famoso boneco de pinho.

Mesmo com Tom Hanks dando vida a Gepeto, que é claramente uma excelente escalação, todo o restante que envolve Pinóquio não parece funcionar. É impossível não reparar nos cenários, que parecem ser todos feitos de CGI. Por vezes, parece que a escala dos atores em relação a Pinóquio se torna desproporcional, principalmente no arco da Ilha dos Prazeres.

Os momentos em que Pinóquio interage com Sabina, a marionete que ganha vida pelas mãos de Jaquita Ta’le e com o Grilo, dublado por Joseph Gordon-Levitt, são os únicos que realmente tem alguma sinergia, mas o restante passa a ideia de uma história mal lapidada.

Por se tratar de uma adaptação live-action é compreensível que os realizadores queiram trazer elementos novos, pois é uma forma de criar surpresas para o público. Entretanto, as escolhas criativas de Zemeckis e Weitz não são boas, tornando o final do filme muito anticlimático.

Um ótimo storyteller, com grandes feitos em sua carreira, Zemeckis era uma ótima escolha para essa adaptação, mas infelizmente o resultado final está muito abaixo de sua trajetória no cinema. Pode ser, também, que o modelo de live-action não seja a melhor escolha para Pinóquio, e que sua história esteja melhor preservada no formato de animação. O fato é que o personagem merecia um filme melhor, que preservasse seu encanto e realmente pavimentasse o caminho para que uma nova geração se apaixonasse por suas desventuras.

Ao término da produção, a sensação é que, nesse caso, menos seria mais. O excesso de CGI e mudanças na história acaba fazendo com que Pinóquio não funcione da maneira que deveria, o que é uma lástima.

VEREDITO

Pinóquio é um live-action que não consegue encantar. Com um uso extremo de CGI, a produção perde por não se ater à simplicidade e doçura da história do boneco que queria se tornar um menino.

Pinóquio (2022) - Crítica: remake mentiroso (Disney +) vídeo 

 18/09/22

Pinóquio, Pinocchio, 2019, Matteo Garrone

“PINÓQUIO” E A REINTERPRETAÇÃO DE UM CLÁSSICO

LARISSA VASCONCELOS, 21 DE JANEIRO DE 2021 

As adaptações em live-action estão cada vez mais comuns e criam novas interpretações de animações clássicas, o que nem sempre dá certo. Mas não é o caso deste “Pinóquio”, produção italiana dirigida por Matteo Garrone (“Gomorra”, “Dogman”) e protagonizada pelo garoto Federico Ielapi (que estreou no cinema na comédia “Funcionário do Mês”, de 2016).

Nesta versão da história criada pelo também italiano escritor Carlo Collodi, em 1883, somos levados a um vilarejo devastado pela pobreza e pela fome, onde conseguimos entender melhor a vida de Gepeto, um marceneiro que, mesmo solitário, possui muita esperança pela vida. Parte desse sentimento se deve à atuação sempre otimista e profunda de Roberto Benigni (“A Vida é Bela”), atuação esta que marca o seu retorno ao cinema após um hiato de oito anos. Vale lembrar, o mesmo Benigni dirigiu (e protagonizou) uma adaptação de “Pinóquio”, em 2002, que foi muito mal recebida.

Os estranhamentos com este novo longa começam com a caracterização e a maquiagem dos personagens animais, como o Grilo Falante, o Gato, a Raposa e a Caracol. O trabalho é muito bem realizado e traz um ar sombrio e um tanto exagerado, fazendo o design das criaturas lembrar o universo de Tim Burton. Porém, mesmo com o possível desconforto que esse visual possa causar, é possível adentrar naquele mundo de imaginação que traz a ideia de um boneco se transformar em um “menino de verdade” — e a textura da maquiagem feita em Ielapi é particularmente eficaz, dando a impressão de que há mesmo madeira na composição de seu rosto.

Mesmo sendo uma reinterpretação, o longa mantém os valores da animação da Disney, de 1941, como a importância de valorizar o estudo e de não mentir, aspectos mais essenciais do que nunca em um mundo com tantas notícias falsas. Além disso, é um filme que traz a inocência dos contos de fada, daqueles que nos teletransportam para nossa infância e criam a esperança de um mundo mais puro, como o olhar do nosso herói.

Mas fica também um alerta para os fãs da animação clássca: o ritmo deste novo “Pinóquio” é bastante lento, o que pode ser incômodo. A montagem é de Marco Spoletini, frequente colaborador de Garrone, e determinados momentos podem gerar cansaço no espectador, devido à pouca ação entre os atos. Por outro lado, o longa chama a atenção pela fotografia de Nicolai Brüel (que trabalhou com Garrone em “Dogman”), que faz bom proveito da luz em suas várias nuances, principalmente nas cenas da Fada Azul (interpretada pela francesa Marine Vacth, de “Jovem e Bela” e “O Amante Duplo”). A trilha sonora também é uma marca importante, assinada por Dario Marianelli (vencedor do Oscar por “Desejo e Reparação”). A música torna o longa mais intimista e acolhedor, contrastando com as dificuldades vividas por Pinóquio durante sua jornada.

“Pinóquio” deixa uma divisão de sentimentos entre a nostalgia de revisitar um clássico da infância e a construção de um novo ponto de vista para narrar a história do personagem no cinema. Um ponto de vista mais consciente, mais duro e mais triste. Uma realidade que, infelizmente, era mais comum na época em que Carlo Colodi escreveu a história original e que, muitas vezes, é esquecida a fim de amenizar um conto infantil.

19/09/22

Poder e Luxúria, Los Borgia, 2006, Antonio Hernández

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Itália, século XV. Rodrigo Borgia é um maquinador astuto. Por trinta anos ele trabalhou na Igreja Católica Romana e agora foi eleito papa pelo Colégio de Cardeais. Borgia não tem motivos religiosos, é tudo uma questão de poder para ele. Com seu poder papal, ele inicia um reinado de terror, eliminando rivais. Uma nova era vai começar para a família Borgia, ele pensa, e seus quatro filhos são os peões mais importantes. Sua linda filha Lucrécia Bórgia e o filho passivo Jofré se casam para estreitar os laços com famílias rivais. O mesmo vale para Juan, que também foi nomeado capitão do exército do Vaticano. O primogênito de Rodrigo, César Bórgia, agora é cardeal. Ele não gosta de tudo. Como o lutador nato da família, ele se vê mais adequado à posição de Juan. Cesare fica cada vez mais insatisfeito como cardeal e cada vez mais agitado com a família. Então Juan morre repentinamente após uma agressão. Looke 

Sobre César Bórgia: Recebeu o título de gonfaloneiro da igreja pelo seu pai após conquistar Imola e Forlì e foi uma forte influência no livro OPríncipe , de Maquiavel, com o qual conviveu diversas vezes e o qual elogiou abertamente César na sua obra

20/09/22

Páginas da Vida, O. Henry's Full House, 1952, Henry Koster, Henry Hathaway, Jean Negulesco, Howard Hawks, Henry King

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Cine Antiqua apresenta um antológico filme hollywoodiano, composto por cinco histórias baseados nos contos de O. Henry, importante literato norte-americano. Produzido por André Hakim, cada episódio é dirigido por um grande diretor: Henry Hathaway, Howard Hawks, Henry King, Henry Koster, Jean Negulesco. A trilha sonora foi composta por Alfred Newman e o filme é narrado pelo autor John Steinbeck, que faz uma rara aparição em câmera para introduzir cada história. - O Policial e o Hino (The Cop and the Anthem) Um sem-teto fica frustrado pelas inúmeras tentativas de ser preso e encarcerado por 90 dias em uma cela quente ao invés de enfrentar os rigores de um inverno de Nova Iorque. Direção: Henry Koster - Estrelando: Charles Laughton, Marilyn Monroe e David Wayne. - O Toque do Clarim (The Clarion Call) Um detetive da Policia de Nova Iorque tem uma crise de consciência quando fica dividido entre o dever de prender um amigo de infância por um crime que só ele sabe e a dívida de honra que ainda tem para com o amigo. Direção: Henry Hathaway - Estrelando: Dale Robertson e Richard Widmark. - A Última Folha (The Last Leaf) Uma jovem ingênua pega pneumonia depois de ser seduzida e abandonada por ator venal. Quando perde a vontade de viver, sua irmã e um excêntrico artista de Greenwich Village tentam ajudá-la a sobreviver. Direção: Jean Negulesco - Estrelando: Anne Baxter, Jean Peters e Gregory Ratoff. - O Resgate do Chefe Vermelho (The Ransom of Red Chief) Dois vigaristas trapalhões sequestram o filho de um xerife rural, mas começam a achar que pegaram mais do que podem lidar. Direção: Howard Hawks - Estrelando: Fred Allen, Oscar Levant e Lee Aaker. - O Presente dos Reis Magos (The Gift of the Magi) Um jovem casal pobre luta para pagar presentes de Natal dignos de seu amor. Direção: Henry King - Estrelando: Jeanne Crain e Farley Granger. Título: Páginas da Vida Título Original: Full House País de Produção: Estados Unidos Ano de Produção: 1952 Gênero: Drama Direção: Henry Koster, Henry Hathaway, Jean Negulesco, Howard Hawks, Henry King. Elenco: Charles Laughton, Marilyn Monroe, Richard Widmark, Anne Baxter, Fred Allen, Jeanne Crain, David Wayne, Dale Robertson, Jean Peters, Gregory Ratoff, Oscar Levant, Lee Aaker, Farley Granger.

“Páginas da Vida”, a linda adaptação dos contos de O. Henry 

PÁGINAS DA VIDA (1952) 

23/09/22

A Embriaguez do Sucesso, Sweet Smell of Success, 1957

O doce odor do sucesso, Sergio Augusto, O Estado, 14/09/2002

In Sergio Augusto, Vai começar a sessão – ensaios sobre cinema, p. 113, 2019, Objetiva

26/09/22

O Vingador Silencioso, Il grande silenzio, 1968, Sergio Corbucci

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Crítica | O Vingador Silencioso por Guilherme Coral, 27 de outubro de 2014

Mais uma vez, nas mãos de Sergio Corbucci, somos colocados diante de um impactante western spaghetti. Deixando os floreios e o heroísmo do apogeu do gênero para trás, o diretor constrói uma obra impactante e desoladora, que procura nos mostrar, de relance, a violência, a brutalidade do Velho Oeste. O filme, contudo, não nos leva aos cenários típicos, que já estamos acostumados, do faroeste. Ao invés disso, nos vemos diante de planícies gélidas, cobertas pela neve, trazendo uma nítida sensação de desolação e solidão, se encaixando perfeitamente com o título original da obra Il Grande Silenzio, ou “O Grande Silêncio”.

Vemos, portanto, que a projeção é sobre muito mais que apenas um homem mudo que procura vingar os injustiçados. Sim, O Vingador Silencioso coloca em cheque os motivos por trás da violência em tais regiões, culpando não só os ensandecidos caçadores de recompensa, como os banqueiros, o sistema judicial e a própria falta de ação por parte do governo. Para criar esse vívido palco, Corbucci opta por diminuir seu foco no protagonista, distribuindo-o por todos os personagens centrais exibidos. Portanto, pode-se dizer que o personagem principal é o homem mudo conhecido como Silencio (Jean-Louis Trintignant) ou, em seu lugar, o matador Loco (Klaus Kinski), que, definitivamente conta com maior tempo em tela. De fato, pouco importa quem é ou não é o protagonista, pois o que vemos aqui, na neve, muito bem se estende para as cidades e estados pouco mais ao sul do país.

Nos prendendo neste cenário, temos uma trama bastante simples, que sabe exatamente quais simbólicos elementos utilizar. A chegada de um novo xerife na cidade de Snow Hill, onde a maior parte do filme se passa, indica o pouco poder que a lei ali, de fato, exerce. Temos nele o ensejo pela mudança, sendo um dos poucos personagens que procuram meios alternativos à costumeira violência. Sergio sabe utiliza-lo idealmente para construir seu drama, ocupando um papel central na narrativa, que, aos poucos, indica o que veremos nos minutos finais da projeção.

O Silêncio, por mais que pareça subutilizado ao longo da história, consegue demonstrar uma interessante profundidade. A princípio ele é aquele velho pistoleiro, o strong silent type. Aos poucos, contudo, vemos que há mais por trás disso, uma constante tristeza parece assolá-lo e os constantes closes conseguem transmitir isso sem o menor problema. O crescente afeto entre ele e a mulher que recentemente perdera o marido, por mais que pareça artificial em determinados pontos, cumpre o papel de deixar clara a solidão do personagem – aquele é seu momento de entrega, que, também funciona como a calmaria antes da tempestade.

O fatídico desfecho chega de forma imprevisível, por mais que marcas anteriores já deixassem claro o rumo que iríamos tomar. Aqui, a falta de identificação que temos com o Silencio prejudica o momento dramático. Felizmente, a memorável trilha de Ennio Morricone preenche esse vazio com melodias que perfeitamente reiteram o caráter desolador da região, daquele silêncio constante, que paira no ar, como a morte, que apenas espera para fazer sua triunfal entrada em cena.

Com esses inesquecíveis minutos finais, Sergio Corbucci encerra esse seu grande western, de caráter, ao mesmo tempo, épico e intimista. O Velho Oeste é mostrado de forma assustadoramente crua e violenta, nos deixando com um distinto nó no estômago após o término da projeção. Apesar de seus pontuais deslizes, O Vingador Silencioso certamente é uma obra que merece ser vista e revista.

O Vingador Silencioso, Il Grande Silenzio – Itália/ França, 1968

Direção: Sergio Corbucci, Roteiro: Mario Amendola, Bruno Corbucci, Sergio Corbucci, Vittoriano Petrilli, Elenco: Jean-Louis Trintignant, Klaus Kinski, Frank Wolff, Luigi Pistilli, Vonetta McGee, Mario Brega

A sádica morte do western spaguetti pelas mãos de um de seus criadores.

Victor Ramos | 04 de Abril de 2015 

O Vingador Silencioso (Grande silenzio, Il, 1968) é uma obra cabalística: trata-se da morte do western spaguetti justamente pelas mãos de um dos nomes que o fizeram nascer, sob uma trilha sonora bastante familiar (não minta: você não precisou puxar o nome de Ennio Morricone para saber que ele assinou) e em um contexto em que o subgênero já não vingava muito. O cenário não é tomado por tonalidades quentes; ainda que a técnica do Eastmancolor se faça presente em suas cores mortas (uma das principais características daqueles filmes italianos, a fotografia), a neve toma conta – se outrora todo aquele ambiente poeirento, cheio de montanhas, construía a visão de uma terra selvagem em um sentido mais histórico do homem e sua relação com a violência como forma de conseguir seus objetivos, a neve (mais à frente irei discutir melhor) no chamativo filme de Corbucci acrescenta um tom de melancolia, propondo algo mais intimista pelo constante uso do branco. Era uma vez no Oeste (C'era una Volta il West, 1968) e Pat Garrett & Billy The Kid (idem, 1973) cantaram o fim de um momento histórico e de um gênero, mas vale lembrar que O Vingador Silencioso é uma leitura mais voltada para o estilo, para as raízes estabelecidas na Itália, utilizando o contexto histórico dos EUA como superfície para algo mais pessoal – ou seja, é um trabalho que visa representar o trágico fim de um estilo tipicamente italiano; pura desculpa para Sergio Corbucci imprimir sua visão da coisa. Ao considerarmos que a torta imagem do herói do western spaguetti foi cativada em Django (idem, 1966), fica melhor compreensível essa relação simbólica de Corbucci com seu outro filme – sua grande obra-prima.

A desconstrução não ocorre apenas pelo cenário. Reparem na arma utilizada por Jean-Louis Trintignant sob a pele do justiceiro mudo; automática, sem permissões para a imagem de estilo que boa parte das figuras esboçou durante clássicos momentos de tiroteio; porque a imagem exposta por Trintignant é quase como se fosse a de um mensageiro da morte, que está ali não para mostrar o quão bom é em manejar armas de fogo, mas apenas para realizar seu automático e quase impessoal trabalho de tirar vidas. Mas O Vingador Silencioso (cujo roteiro foi escrito a oito mãos) é tão sacana que, não contente em utilizar um personagem subversivo dentro de um cenário subversivo, o coloca em próprio processo de desconstrução. Algo doentio, diga-se de passagem. Não existe espaço algum para o sentimento de esperança; é tudo tão direto, frio, que a narrativa cria uma atmosfera de densa tensão. Aquela imagem extraída na cena de abertura, nos créditos iniciais, com o justiceiro mudo sobre seu cavalo, que afunda as patas na grossa camada de gelo, já nos deixa em alerta para o que vem a seguir. E citar Morricone mais uma vez é obrigação; a coisa deve muito a ele – é um desafio assistir e não se arrepiar com a ambientação proposta pelo diretor, sob a companhia da música-tema.

O espetáculo de horrores é composto principalmente pelo que há de mais sujo que o western spaguetti sempre se comprometeu: desvirtuamento de valores éticos convencionais e a violência como algo inerente ao homem (Klaus Kinski, maravilhoso, expondo por palavras o tipo de homem que o Loco é, quando o Xerife é executado por suas mãos). E o aditivo do branco, o elemento que intensifica tudo. Sergio Corbucci descobriu que somar o branco da neve à condição de morte da qual todos os personagens compartilham (algo que parece ter inspirado Joaquín Luis Romero Marchent no chocante Condenados a Viver [Condenados a vivir, 1972]) daria a ele a carga psicológica precisa para narrar a morte do velho herói do Oeste – ou ao menos como passamos a conhecê-lo. O sangue manchando a neve cria um efeito incrível de fragilidade carnal, uma vulnerabilidade que está nos olhos e, sobretudo, no silêncio do justiceiro – dolorosa a cena em que pegam sua mão para colocar no fogo; notem em todo o cuidado de direção ao exprimir a agonia do personagem, tentando gritar, mas impossibilitado de realizar tal ato (momento sádico que termina por ser tonar mais árduo que o próprio fogo em si; as feições do Trintignant, se contorcendo, anulam qualquer necessidade de palavra).

O Vingador Silencioso é uma tragédia. É explícita a necessidade de utilizar o sofrimento para fins catárticos: o amor que é construído do nada, somente para ser terminado por meio de um banho de sangue, e a representativa morte do protagonista. Klaus Kinski, ao final, mata o justiceiro silencioso, e chora. A câmera enquadrada nos olhos de Kinski é uma coisa belíssima, pois transfere a pessoalidade de Sergio Corbucci para o olhar do homem responsável por matar o “herói” clássico, quase que um momento de abstração em relação à própria narrativa: ele atira, sem hesitar, sob o contexto mais imoral possível; mas ainda assim sente, pois sabe que aquela imagem acabou-se assim, como um lixo (sem voz, sem mãos, desarmado, impotente), e jamais voltará – é o reconhecimento de um antagonista em relação à importância icônica de seu inimigo numa relação de completude. Peguem personagens memoráveis como Django e Blonde, e mate-os; sob a ótica do Cinema, não são homens, mas sim símbolos – algo poderoso. É construído um funeral; sem o calor da vida (suja, errante, mas ainda vida), apenas o frio da morte de um grande símbolo, segundo um de seus criadores.

O Vingador Silencioso

Alexandre Guimarães | 24 de Julho de 2013 

É fato que Leone foi o maior diretor que já passou pelo western – talvez o maior diretor que já passou pelo cinema -, mas Corbucci também merece nosso respeito pelas suas obras que são no mínimo plausíveis. A mais famosa película do diretor é Django (Idem, 1966), um excelente exemplar do western à italiana, porém apesar de menos conhecido o seu melhor filme é O Vingador Silencioso. Um filme de dramaticidade e aspectos impares.

Um homem misterioso e mudo (Jean-Louis Trintignant) chega a uma pequena cidade em uma diligência com um xerife (Frank Wolff) e um caçador de recompensa (Klaus Kinski) e alguns cadáveres. Lá na cidade o mudo recebe uma proposta de uma mulher para que mate o caçador de recompensas, já que o mesmo assassinou o seu marido. O xerife, por sua vez, quer que a cidade siga em paz e faz e tudo para impedir confusões, mas a violência irá tomar de conta da cidade.

Os opositores do western spaghetti na época denominavam o gênero de “lixos de sangue”. O fato é que este é um dos filmes de maior nível de violência do spaguetti, e que de lixo não tem nada, apenas as revelações da podridão da sociedade americana em séculos passados que vem se estendendo até os dias de hoje. A ambição pelo poder, pelo dinheiro, o preconceito, e a grande revelação final que causa grande impacto, são temas tratados na maioria dos faroestes italianos, que resultam em protestos americanos que ficam contra o sub-gênero, por conta de revelarem a escória da sociedade americana do qual teimam em conter os fatos.

Corbucci é um diretor acima da média. Sabe muito bem como conduzir um clímax e uma história, suas cenas violentas intensamente dirigidas nos impulsionam a um resultado de extrema eficiência. O diretor sempre preserva a mística por trás do personagem principal, anexando o seu passado, os motivos – apesar de já telegrafados -, e o Silencioso é de uma estranheza abissal. Em Django, diretor conseguiu como nunca preservar o mistério do caixão, no qual havia uma metralhadora, mas o modo como o diretor criou um mistério em torno daquilo foi extraordinário. Direção formidável de Corbucci, principal responsável pelo excelente resultado do filme.

O responsável pela trilha sonora foi novamente o grande colaborador com o faroeste italiano Ennio Morricone. Por ser ele o compositor da trilha sonora do filme nem precisa dizer que a trilha é excelente, tem um dom natural e exuberante. Neste filme sua trilha é impactante, perturbadora e incomum resultando no que já foi citado no inicio do texto, em um tom de dramaticidade.

Montanhas quentes, arejadas, cenários em que a poeira toma conta de tudo. Não, O Vingador Silencioso não conta com estes aspectos tradicionais vistos na maioria dos westerns vistos. Os ambientes aqui retratados são frios, na neve. Deste modo o anti-herói consegue ainda mais enaltecer sua figura. Por falar no anti-herói, o ator responsável pelo papel, Trintignant, consegue de maneira magnífica exaltar sua personalidade. De poucas palavras, ou melhor, de nenhuma palavra, é de se elogiar sua interpretação assustadora, que resulta em um personagem do estilo perfeito de um pistoleiro exigido pelo público.

Por fim, O Vingador Silencioso consegue transmitir toda a adrenalina que carrega. O melhor filme do italiano Sergio Corbucci, que demonstra sua capacidade em roteiros e direção. Mesmo Django sendo mais conhecido, este consegue ser mais eficiente e explora mais os seus temas.

O VINGADOR SILENCIOSO 

Dentro do que se convencionou chamar de Western Spaghetti ou Faroeste à Italiana, o cineasta Sergio Corbucci era conhecido como “o outro Sergio”. Isso se devia pela fato de seu grande amigo, Sergio Leone, ser o “Sergio” titular dessa leva de faroestes feitos na Itália entre 1964 e 1973. Leone começou tudo com a famosa Trilogia dos Dólares, estrelada por Clint Eastwood. Mas Corbucci definiu alguns parâmetros com seu Django, de 1966 e, principalmente, dois anos depois com este O Vingador Silencioso. O roteiro dos irmãos Bruno e Sergio Corbucci, escrito junto com Vittoriano Petrilli e Mario Amendola, nos apresenta o justiceiro mudo vivido pelo francês Jean-Louis Trintignant. Ele é contratado por Pauline (Vonetta McGee), uma das vítimas do bando liderado por Loco (Klaus Kinski). A partir daí temos uma grande caçada nas terras geladas do estado de Utah, nos Estados Unidos. Diferente do pistoleiro que falava pouco na pele de Eastwood, a personagem de Trintignant não fala por conta de uma situação traumática do passado. Mais isso não é a única ruptura narrativa de O Vingador Silencioso. Há também a presença de Vonetta McGee e sua Pauline, uma mulher negra que se envolve com o herói, algo que nunca tinha sido mostrado nas telas até então. Isso, para muitos estudiosos, teria sido a razão principal para que a obra não fosse bem aceita no mercado americano. O futuro se encarregou de provar como Corbucci estava bem à frente de seu tempo. Inclusive pela maneira que a história é concluída. Por fim, uma curiosidade: a “neve” do filme era, na verdade, creme de barbear.

The Great Silence

O Western Spaghetti, a variante italiana do gênero, Maurício Oliveira, 05/06/2021 

Ennio Morricone ‎– Il Grande Silenzio (Dalla Colonna Sonora Originale Del Film) 

27/09/22

Os Cruéis, I crudeli, 1967, Sergio Corbucci

Sobre Norma Bengell (1935–2013) 

Jonas (Joseph Cotten), um antigo oficial da Confederação, deseja reorganizar as suas antigas tropas no sudoeste para reavivar as lutas da Guerra Civil Americana. Com uma grande quantia de dinheiro roubado ele elabora uma rota para explorar o território inimigo. Enquanto isso, um de seus filhos viaja com uma viúva contratada em direção à um novo começo. Adorocinema 

 
Norma Bengell and Julián Mateos in Os Cruéis (1967)

28/09/22

O Especialista - O Vingador de Tombstone, Gli specialisti, 1969, Sergio Corbucci

Sobre Sergio Corbucci (1926–1990) 

O solitário Hud volta à Blackstone, buscando vingança contra o irmão, que foi erroneamente acusado de roubar um banco. Em busca do verdadeiro ladrão para limpar o nome do irmão ele se encontra em grande perigo com pessoas poderosas. Adorocinema  

 DVD Sergio Corbucci

Conversando sobre o faroeste italiano

Não se deve esquecer que o western corresponde não apenas à história dos Estados Unidos – para os europeus, representa à saga dos nibelungos. ('Afinal quem faz os filmes', Peter Bogdanovich, p. 234, Companhia das Letras, 2000).

No período de 1966 a 1975 o cinema italiano foi contaminado pelo faroeste. Já nos estertores do neorrealismo, apareceram estes filmes com uma cinematografia diferente do western USA. Aproveitavam-se da linguagem, mas queriam algo diferente do bem e mal, mocinho e bandido e ação pela ação. Inseriam as questões sociais, o existencialismo, o barroco e até o surrealismo. Almería, na Espanha, se tornou o cenário da roliudi do western com seus desertos e montanhas. O equivalente a Monument Valley dos faroestes de John Ford.

Alguns destaques relevantes desta onda de faroestes italianos: os três Sérgios – Corbucci, Leone e Sollima, Damiano Damiani, Enzo G. Castellari e outros

Abaixo, alguns filmes clássicos destes nibelungos italianos. Dicas para iniciar esta revisão: O Vingador Silencioso, Keoma, Corre Homem, Corre e Gringo, Quién sabe?

O Vingador Silencioso, Il grande silenzio, 1968, Sergio Corbucci

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Os Cruéis, I crudeli, 1967, Sergio Corbucci

O Especialista - O Vingador de Tombstone, Gli specialisti, 1969, Sergio Corbucci

Sobre Sergio Corbucci(1926–1990)

Keoma, 1970, Enzo G. Castellari

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Django, 1966, Sergio Corbucci

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Corre Homem, Corre, Corri uomo corri, 1968, Sergio Sollima

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Era uma Vez no Oeste, C'era una volta il West, 1968, Sergio Leone

Gringo, Quién sabe?, 1967, Damiano Damiani

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E Deus Disse a Caim, E Dio disse a Caino...,1970, Antonio Margheriti

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Django Vem Para Matar, Se sei vivo spara, 1967, Giulio Questi

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30/09/22

The West, Minissérie de televisão, 1996, Stephen Ives


The west série 

The west

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Ken Burns - The West. Ep. 06 - Fight No More Forever (1874 - 1877) 

Ken Burns - The West. Ep. 02: Empire Upon The Trails (1806 - 1848) 

Outros episodios em Michel


 
O verdadeiro velho oeste, Sérgio Augusto, O Estadão, 30/06/2001 


10/10/22

Vidas Secas, 1963, Nelson Pereira dos Santos

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‘Vidas Secas’, um clássico do cinema brasileiro, 11/04/2018

Em 2018, o filme ‘Vidas Secas’ completa 55 anos de história. Rodada na segunda metade do século 20, a produção de Nelson Pereira dos Santos é fundamental para entender a cultura brasileira

Ao longe, um horizonte. Vegetação rasteira e seca, com apenas uma única árvore, igualmente desolada. Longo tempo se passa, até que um pequeno grupo de pessoas surge, em meio a uma luz estourada. Eles andam de maneira lenta, sem rumo. Aos poucos, tem-se uma ideia melhor: trata-se de uma família perdida que se aproxima, tendo um cachorro à frente. O único som é seco e árido, semelhante ao barulho emitido pelo carro de boi.

Com pouco mais de 3 minutos de duração, essa abertura feita em um único plano-sequência (imagem sem cortes de câmera) se tornou uma das mais famosas do cinema brasileiro. Dirigido por Nelson Pereira dos Santos, o filme Vidas Secas entrou para a história em 1963 ao adaptar um clássico da literatura brasileira: o romance homônimo de Graciliano Ramos.

Em 2018, a produção de Santos completa 55 anos e o livro de Ramos, 80 anos. A temática sobre a indústria da seca que corrói milhões de brasileiros no Nordeste ainda continua contemporânea e comovente.

Tanto no filme quanto no livro, Vidas Secas conta a história de uma família formada por cinco integrantes: Fabiano, sinhá Vitória, menino mais velho, menino mais novo e a cachorra Baleia. Havia um papagaio, mas que foi devorado logo no início da narrativa. Afinal, os viventes precisavam se alimentar, tamanha era a fome até aquele momento.

Após a cena inicial de grande impacto visual, a família do vaqueiro Fabiano (Átila Iório) encontra um local para fixar residência, enquanto a chuva retorna ao sertão nordestino. Nesse meio tempo, o personagem consegue emprego e passa a ser explorado pelo Patrão (vivido pelo ator Jofre Soares) e depois pelo Estado.

As crianças, sinhá Vitória (Maria Ribeiro) e até mesmo a cachorra Baleia ganham momentos singelos durante a narrativa do filme. Assim como o livro, a versão cinematográfica também trata das agruras do homem; mas, claro, sem o mesmo mergulho na consciência das personagens feito na literatura de Graciliano Ramos.

Para muitos espectadores, o que salta aos olhos no filme é a denúncia das condições de exploração dos trabalhadores em um contexto de vantagens para quem ocupa as posições superiores, caso do Patrão e do Soldado Amarelo.

NEORREALISMO

Não por sinal, Nelson Pereira dos Santos é apontado como um dos grandes representantes da influência do Neorrealismo italiano no Brasil. Surgido na Europa após a Segunda Guerra Mundial, esse movimento cinematográfico encabeçado por nomes como Roberto Rosselini, Vittorio De Sica e Luchino Visconti caracterizou-se pelo uso de elementos da realidade numa peça de ficção, aproximando-se até certo ponto, em algumas cenas, das características do filme documentário. Ao contrário do cinema tradicional de ficção, o Neorrealismo buscou representar a realidade social e econômica de uma época.

No Brasil, a historiografia do cinema costuma dizer que Santos foi um dos precursores do movimento neorrealista em versão tupiniquim ao rodar Rio, 40 Graus (1955) e Rio, Zona Norte (1957). São dois filmes que desconstroem o mito da cidade maravilhosa em relação ao Rio de Janeiro. Logo em seguida, viria Vidas Secas (1963), que revela os mecanismos de opressão social nos rincões do Brasil profundo.

Além da temática, a adaptação de Nelson Pereira dos Santos tem uma linguagem própria no contexto do cinema: fotografia estourada, sem filtros para amenizar a luz (mérito do fotógrafo e produtor Luiz Carlos Barreto, o Barretão); longos planos-sequência; atores amadores; eliminação de trilha sonora; câmera na mão; poucos diálogos; narrativa guiada pelas imagens; entre outros.

Pode-se dizer que o diretor utilizou a linguagem cinematográfica para fazer a sua leitura pessoal da obra-prima do escritor alagoano.

CINEMA NOVO

Versão imortal do monumento literário Vidas Secas, o filme de Nelson Pereira dos Santos também faria à sua época escola dentro do mercado brasileiro. Na verdade, isso já havia ocorrido com Rio, 40 Graus e Rio, Zona Norte. O diretor fora apontado como o ponta de lança do Cinema Novo, um movimento cinematográfico no país que recebia influências das vanguardas europeias, caso da Nouvelle Vague francesa e do Neorrealismo italiano.

O diretor baiano Glauber Rocha (autor de clássicos como Deus e o Diabo na Terra do Sol) dizia que bastava uma câmera na mão e uma ideia na cabeça para fazer filmes que repensavam a realidade brasileira. Para essa turma, Santos conseguiu isso em Vidas Secas.

Mais do que isso, essa produção se tornou um dos filmes mais importantes para entender a cultura brasileira do século 20.


 

Antologia da Crítica Cinematográfica em Vidas Secas

Atílio AVANCINI e Juliana PENNA

13/10/22

Gringo, Quién sabe?, 1967, Damiano Damiani

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Quien sabe? (1966 / Realizador: Damiano Damiani), 13/10/2009

Motivado pela interessante interacção que se desenvolveu com a publicação da resenha de Vamos a matar, compañeros (1970) no blogue irmão Dementia 13, decidi abordar agora o filme Quien sabe?, mais conhecido por aí como A bullet for the general. Quien Sabe? é um excelente filme de contornos políticos realizado em 1966 pelo reconhecido intelectual de esquerda italiano, Damiano Damiani. A acção do filme desenrola-se no epicentro da revolução mexicana, condição que haveria de servir como elemento diferenciador dentro do género, carregando este tipo de filmes o rótulo de Zapata westerns. Pois bem, neste campo este título merece especial destaque já que terá sido o pioneiro!

Numa tentativa de rentabilização do sucesso que Quien Sabe? alcançaria, muitos outros Zapata westerns seriam lançados pelas produtoras cinematográficas ítalo-espanholas, mas só Damiani conseguiu fazer á primeira tentativa o que muitos outros cineastas jamais lograram nas suas carreiras - conceber um filme de fortes convicções políticas e ao mesmo tempo uma poderosa obra de entretenimento. O realizador sempre refutou a ideia de que Quien Sabe? é um western-spaghetti, mas sim uma critica ás incursões americanas na América do Sul, nomeadamente através dos conhecidos esquemas ilegais da CIA. O facto de a acção decorrer num ambiente western seria portanto uma mera casualidade. Teimas à parte, para a maioria dos mortais, Quien Sabe? contém todos os elementos do género, sendo por isso logicamente metido no grande saco do western-spaghetti. E se nos restringirmos ao subgénero Zapata, arrisco-me mesmo a considerá-lo o melhor de todos!

O elenco aqui compilado é todo ele de grande qualidade, o papel principal (El Chuncho) foi muito bem entregue ao magnífico actor italiano Gian Maria Volontè, certamente o único actor italiano que nunca deixou créditos por mãos alheias no cinema spaghetti, participando apenas em filmes dirigidos por realizadores comprometidos com as suas ideologias de esquerda. Terá porventura por isso ter perdido a hipótese de enriquecer rapidamente, mas por outro lado conseguiu um registo imaculado, com presença em filmes que se poderão todos eles considerar de topo (Per un pugno di dollari, Per qualche dollaro in più, Faccia a faccia).

A Lou Castel, que também teve uma curta mas interessante passagem pelo western-spaghetti (em que se destaca Requiescant), coube o papel de Bill “Niño” Tate, um gringo algo misterioso que transporta consigo uma bala de ouro e cujo único interesse parece ser o de enriquecer muito rapidamente. O terceiro nome do cartaz foi entregue ao arrepiante Klaus Kinski (Il grande silenzio, E Dio disse a Caino, Prega il morto e ammazza il vivo), um dos actores europeus que mais presenças teve neste tipo de cinema, e que pelas características físicas e tipo de interpretação demencial, tem um lugar especial nas minhas preferências. Kinsky desempenha aqui a personagem de Santo (meio-rmão de El Chuncho) um indivíduo cujas motivações religiosas não impediram o empunhar das armas em nome da libertação do povo mexicano.

Na vida real, Lou Castel foi parte activa no movimento maoista italiano

Damiani precisou de quase duas horas para contar esta excelente história, que não terá sido por acaso co-escrita com outro conhecido esquerdista italiano, Franco Solinas (que chegou a ser nomeado para um Óscar). O inicio das hostilidades não poderia ser mais violento, com um brutal fuzilamento de um grupo de peones pelo exército do governo mexicano. É aqui que nos cruzamos pela primeira vez com Tate, o gringo americano de intenções pouco claras. Fazendo-se passar por prisioneiro, o americano junta-se aos supostos revolucionários após o assalto feito por estes ao comboio militar em que seguia. Comboio esse que o próprio Tate faz deter - sem que isso o impeça de limpar o sebo quer a um soldado quer a um bandido.

A dualidade e falta de escrúpulos do personagem demarca-se em cada uma das suas acções, não obstante consegue cair nas graças de El Chuncho, o alegre homem do tambor e também líder do grupo de saqueadores revolucionários. Estes parecem no entanto importar-se muito pouco com os ideais revolucionários, estando mais interessados em roubar o máximo de armas aos soldados do exército para de seguida as vender à Revolução, encabeçada pelo General Elias. Este esquema interessa a Tate, cujo objectivo cedo se perceberá consistir em chegar suficientemente perto do General Elias, para assim lhe tirar a vida. Tate engendra assim uma série de assaltos a guarnições militares, que permitirá aos pseudo-revolucionários engrossar o seu stock e assim levá-lo ao quartel-general secreto do General Elias quanto antes…

Quien sabe?, que em Portugal foi lançado como "O mercenário” – por favor não confundir com Il Mercenario (1968) de Sergio Corbucci – teve honras de edição em formato DVD pela Prisvideo, fazendo parte da “Colecção western” da editora. Esta colecção foi lançada em caixas (mais ou menos) temáticas de duas unidades e peca apenas pela sua curta amplitude. Quien sabe? aparece incluído na designada “caixa spaghetti”, lado a lado com Il bianco, il giallo, il nero (1975), com o qual não vislumbro qualquer ponto de contacto. O conjunto vale sobretudo por este de que agora vos falo. O filme é apresentado em formato 16:9 com excelente qualidade de imagem e idioma original em italiano (curiosamente a informação do booklet indica o inglês). Vale a compra!

Publicado por Pedro Pereira

19/10/22

Longe do Vietnã, Loin du Vietnam, 1967, Direção: Joris Ivens William Klein Claude Lelouch

Roteiristas: Jean-Luc Godard (segment Camera-Eye) Chris Marker(supervising writer) Jacques Sternberg (segment Claude Ridder)

Crítica | Longe do Vietnã

por FredericoFranco, 6 de maio de 2020  

A década de 1960 foi um período turbulento da história da humanidade. Cresciam as tensões entre as potências mundiais, EUA e URSS, e grandes conflitos armados se iniciaram ao redor do mundo. As nações mais importantes do planeta encontravam-se em contextos políticos delicados e as massas reagem contra tiranos governos que haviam instaurado regimes tiranos em seus países. Desde a França até o Brasil, ocorriam importantes revoltas civis-populares que desafiavam a ordem vigente.

Dentro de uma lógica de desobediência de duvidosas regras normativas, insurgem nos quatro cantos do mundo movimentos cinematográficos dispostos a quebrar com paradigmas impostos pela indústria hollywoodiana. Batizados de nouvelle vague (“nova onda”), estas novas propostas estéticas ganharam força e popularidade. Na Ásia, a nouvelle vague japonesa marcou época com Toshio Matsumoto; Djibril Diop Mambéty marcou o cinema senegalês com seus inovadores filmes; já no Brasil, o cinema novo, capitaneado por Glauber Rocha, representa uma fundamental luta política de classes sociais no país tupiniquim. Contudo, a França é onde reuniram-se os membros mais famosos das nouvelle vague: Jean-Luc Godard, Agnès Varda, Alain Resnais e François Truffaut.

A partir de meados dos anos 60 os dois primeiros diretores franceses se voltaram para uma outra forma de crítica. Além de contrapor os paradigmas de Hollywood, inflamados pela conjuntura social pré-maio de 68, os realizadores passaram a adotar uma postura mais politizada em suas películas. Na companhia de Chris Marker, virtuoso documentarista, Godard e Varda voltam suas energias para produções de forte cunho político, tendo como principal referencial as ideias políticas de esquerda – utilizando-se da filosofia maoísta e marxista.

Dentro dessa nova tendência, algumas obras acabam se sobressaindo, sendo de caráter documental ou não. Volta-se aos anos 1950 para apresentar Noite e Neblina e Guernica, ambos assinados por Resnais, para entender um dos aspectos estudados na fase política da nouvelle vague francesa: a denúncia de crimes de guerra. Ainda, retornando à década de 1960, Varda realiza o excepcional Black Panthers, enquanto Godard deixa sua marca com A Chinesa e Weekend à francesa.

O filme aqui em questão, Longe do Vietnã, é construído a partir de diferentes visões de diferentes diretores a respeito da brutal Guerra do Vietnã. Cada um dos diretores resolve abordar um aspecto referente ao conflito. Enquanto, em um trecho, são apresentados os horrores que ocorriam no Vietnã, do outro lado é apresentada a sociedade estadunidense e as consequências sociais da batalha.

A grande maioria das construções críticas de Longe do Vietnã são desenvolvidas por meio de um recurso extremamente utilizado no cinema contemporâneo: o found footage. Nesse micro-gênero experimental, o discurso está presente na ressignificação de imagens de arquivo. Aqui, os diretores apresentam seus pontos de vista, também, por meio de uma narração em off constante, permeando quase toda a película – recurso que, por várias vezes, dá à obra um caráter mais historiográfico do que analista.

Mesmo com sete visões e focalizações distintas, o filme preza por uma unidade estilística ímpar. A mise en scène é ponto chave para o espectador conectar-se diretamente com o zeitgeist encontrado pelos realizadores do filme. A inquietude da câmera e do discurso dos personagens é um perfeito simbolismo do fervor social sessentista. A característica câmera na mão, aqui, possui apenas um momento de descanso: durante a rápida entrevista do líder revolucionário Fidel Castro. Aqui, o aparato fílmico se limita a contemplar a fala do presidente cubano.

Uma das mais importantes teorias do documentários reside na URSS dos anos 1920, com Dziga Vertov, o kino-pravda (cine-verdade) e o kino-glaz (cine-olho). Dentro dessa estética, o diretor propunha a captura da verdade a partir de uma linguagem livre de subjetividade e simbolismos. Contudo, a ausência de uma verdade absoluta transforma esta vertente cinematográfica em algo completamente utópico. E é a partir de tal constatação que se baseia que surge Longe do Vietnã.

Os cineastas pouco preocupam-se com uma inexistente imparcialidade no filme. Apresentam ao espectador suas próprias verdades e opiniões, transformando a película em uma ode a autoria. O cinema é uma arte de autor, como propunham os jovens turcos da Cahiers du Cinéma, portanto: a sétima arte é fruto de o olhar de alguém sobre alguma coisa. Exatamente o que ocorre no filme em questão. A questão do autor é exposta, aqui, por meio da parcialidade do discurso dos diretores. O espectador é levado ao universo próprio dos realizadores.

O tom de denúncia do documentário é outro ponto forte de Longe do Vietnã. A sequência final, filmada nos Estados Unidos da América, é, definitivamente, a mais impactante. Com pouca interferência da narração, o público vê protestos que ocorreram nos EUA. Lá, o discurso está presente única e exclusivamente na imagem. Com cenas de xenofobia e racismo, somos conduzidos ao coração da burguesia estadunidense. Ao mesmo tempo, vê-se uma efervescente juventude que luta pelos direitos dos soldados, renunciando à violência praticada pela velha política. A simples comparação entre aqueles que defendem o uso de napalm e os que mostram-se contrários a isso é finalizada quando, em um rápido momento explicativo, um entrevistado explica como funciona tal arma química. A denúncia está feita; cabe ao espectador decidir de qual lado estará.

Neste documentário caleidoscópico, a chave da narrativa está na sensibilidade desse. Por mais que trate de temas delicados, os diretores dão ao espectador o juízo sobre o conflito e os lados envolvidos. Com clara solidariedade ao povo vietnamita, não há como tomar outro lado senão o do povo asiático. A importância social da louvável força do Vietnã está exposta do na fala de Godard: “precisamos criar um Vietnã dentro de nós.” Nesta outra batalha entre Davis e Golias do mundo moderno, novamente, por meio da união popular, o subdesenvolvido vence. Longe do Vietnã aproxima o espectador da luta vietnamita, criando empatia para com eles. E é a própria parcialidade que constrói essa narrativa.

Longe do Vietnã (Loin du Vietnam) – França, 1967, Direção: Jean-Luc Godard, Agnès Varda, Alain Resnais, Chris Marker, Claude Lelouch, William Klein, Joris Ivens, Com: Anne Bellec, Karen Blanguernon, Bernard Fresson, Jean-Luc Godard, Ho Chi Minh, Fidel Castro

Frederico Franco

Estudante de cinema de Porto Alegre, RS, que pretende ser professor de cinema. Ocupo meu tempo com literatura, música e cinema. No mundo da literatura, Borges é meu padrinho; na música, sou regido pelo sintetizador de Charly García; e, junto de Michael Snow e Michelangelo Antonioni, caminho pelo mundo do cinema.

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