O Último Samurai do Oeste, Il bianco il
giallo il nero, 1975, Sergio Corbucci
Marcados pela Vingança, The Revengers,
1972, Daniel Mann
Justiça de um Bravo, The Jack Bull, 1999,
John Badham
Sétimo Céu, 7th Heaven, 1927, Frank Borzage
O Anjo das Ruas, Street Angel, 1928
Estrela Ditosa, Lucky Star, 1929, Frank
Borzage
Pinóquio, Pinocchio, 2022, Robert Zemeckis
Pinóquio, Pinocchio, 2019, Matteo Garrone
Poder e Luxúria, Los Borgia, 2006, Antonio
Hernández
Páginas da Vida, O. Henry's Full House,
1952, Henry Koster, Henry Hathaway, Jean Negulesco, Howard Hawks, Henry King
A Embriaguez do Sucesso, Sweet Smell of
Success, 1957
O Vingador Silencioso, Il grande silenzio,
1968, Sergio Corbucci
Os Cruéis, I crudeli, 1967, Sergio Corbucci
O Especialista - O Vingador de
Tombstone, Gli specialisti, 1969, Sergio Corbucci
Keoma, 1970, Enzo G. Castellari
Django, 1966, Sergio Corbucci
Corre Homem, Corre, Corri uomo corri, 1968,
Sergio Sollima
E Deus Disse a Caim, E Dio disse a
Caino...,1970, Antonio Margheriti
Django Vem Para Matar, Se sei vivo spara,
1967, Giulio Questi
The West, Minissérie de televisão, 1996,
Stephen Ives
Vidas Secas, 1963, Nelson Pereira dos
Santos
Gringo, Quién sabe?, 1967, Damiano Damiani
Longe do Vietnã, Loin du Vietnam, 1967,
Direção: Joris Ivens William Klein Claude Lelouch
Reinado do Terror, Terror in a Texas Town,
1958, Joseph H. Lewis
Um Homem Dificil de Matar, Monte Walsh,
1970, William A. Fraker
A Guerra dos Botões, War of the Buttons,
1994, John Roberts
12/09/22
O Último Samurai do Oeste, Il bianco il giallo
il nero, 1975, Sergio Corbucci
Século 19. Um grupo da delegação japonesa chega aos EUA para entregar um
pônei de presente do imperador do Japão para o presidente norte-americano. Para
os japoneses o pônei é algo divido e ele é protegido por um samurai. Contudo,
um grupo de índios renegados ataca o comboio e rouba o animal. A delegação
oferece aos índios um milhão de dolares em dinheiro que será entregue por
Gideon (Eli Wallach), o xerife local e Sakura (Tomas Milian), um servente
japonês que acredita ser um samurai. Adorocinema
14/09/22
Marcados pela Vingança, The Revengers, 1972, Daniel Mann
No iutubi aqui
Vaqueiro vê a família ser massacrada por bando de índios e ladrões de
cavalos, liderados por dois homens brancos, que fogem para o México e escapam
da polícia americana. O vaqueiro arregimenta seis fugitivos da prisão e parte
para a vingança. Filmow
15/09/22
Justiça de um Bravo, The Jack Bull, 1999, John Badham
No iutubi aqui
A violência está tomando conta do interior americano na virada do
século. A falta de justiça está obrigando famílias a usarem suas armas para
garantir a sobrevivência. Homens como Myrl Reddings, um jovem criador de
cavalos foi obrigado a deixar parte de sua criação como pagamento de um
pedágio, e conseguir passar com seus animais nas terras de um ganancioso
fazendeiro. Cansado desse absurdo e sem ver nenhuma ajuda do governo, Myrl
declara guerra contra o fazendeiro. Para Myrl só existe um meio de fazer
justiça: a bala. Filmow
16/09/22
Tempo para Frank Borzage
Sétimo Céu, 7th Heaven, 1927, Frank Borzage
No iutubi aqui
Sobre Frank Borzage (1894–1962)
Estar no sétimo céu significa estar pleno de felicidade, estar no
paraíso. A expressão é usada por muitas pessoas, mas são poucos os que sabem de
sua origem religiosa. Para os judeus, o sete é considerado um número perfeito.
No cristianismo e no Islã, religiões que sofreram influências do judaísmo,
também há essa visão. Por isso no Alcorão o mundo espiritual é dividido em sete
camadas, sendo a sétima a mais alta, ou o trono de Alá. Culturamix
O SÉTIMO CÉU - DO CINEMA MUDO AO FALADO
A obras primas do cinema lançou "Sétimo céu", drama romântico
adaptado pelo menos duas vezes, versões estas neste incrível lançamento, uma
dirigida por Frank Borzage e outra por Henry King. Borzage era especialista de
dramas românticos. Seu "Sétimo céu" é quase um melodrama de Douglas
Sirk.
Existe uma diferença básica entre as duas produções: um é mudo, o outro
não. E com isto, no filme mudo, havia a necessidade de maior ênfase na expressão
corporal e facial, para que a audiência compreendesse melhor a representação.
Isto causa certa estranheza nas plateias atuais, mas que favoreceu muito as
comédias (a maioria dos grandes comediantes eram desta época), o fazia com que
os dramas (como o sétimo céu) fossem preferencialmente baseados em peças
teatrais, pois eles pegavam as referências do que fazer em cena e como aturar,
de forma que a audiência entendesse cada expressão.
O público obviamente entendeu, tornando o filme a 13ª maior bilheteria
do cinema mudo nos EUA, além do filme ter arrebatado alguns Oscars (Melhor
atriz - Janet Gaynor; Melhor diretor - Frank Borzage; Melhor roteiro adaptado -
Benjamin Glazer)
O céu de Borzage
O filme é baseado em uma das peças de teatro mais famosas da Broadway na
década de 1920, e conta a história de Chico (Charles Farrell), que trabalha nos
esgotos de Paris. Ele sonha conseguir um emprego melhor, assim como sonha em
conhecer uma mulher com se case. E aparece Diane (Janet Gaynor), uma bela
mulher que está sendo procurada pela polícia por crimes pequenos. Chico a ajuda
a se esconder e logo os dois se apaixonam. Apesar das dificuldades, eles estão
felizes e se casam, mas Chico é chamado para lutar na I Guerra Mundial. Por um
mal entendido, chega a notícia de que ele teria morrido, fazendo com que ela
entre em colapso, ao mesmo tempo em que Chico, vivo mas ferido e cego, precisa
retornar para casa.
Borzage consegue algumas cenas sensacionais. Achei interessante demais
como cada tomada do filme pede James Stewart, mas ele só estará na segunda
versão. O final do filme simboliza, não só que a luta nunca acabará, como é
necessário amor para o fardo ficar mais leve.
O céu de King
Por outro lado, King faz o mesmo filme parecer diferente. Menos
melodramático, não menos emocionante. King tinha mais ou menos a mesma
experiência que Borzage, ambos realizando em torno de 100 filmes, sendo King um
dos fundadores da Academia de Artes Cinematográficas (o Oscar).
O filme conta a mesma história: um rapaz trabalhador nos esgotos de
Paris, passa o tempo tentando mudar de vida e encontrar uma bela esposa, já
começa a perder as esperanças e transformar-se em um cínico. Um dia resgata uma
jovem da polícia e leva-a para viver com ele, em um pequeno apartamento situado
no sétimo andar. Mas ele abre espaço
para James Stewart, que é perfeito para o papel. Aliás, tanto ele quanto Henry
serviram na segunda guerra.
Mas afinal, qual é melhor?
Bom, o segundo filme tem meia hora a menos, e é impressionante como faz
diferença na tela. Menos informações limitaram a história. O famoso "menos
é mais" aqui não funcionou. Por outro lado, a dupla King e Stewart é
melhor. James tinha mais da aura do personagem central. Mas mesmo que Henry
King tenha feito filmes melhores e mais importantes, esta história favorecia
Borzage com relação ao estilo de direção. Borzage fez vários similares. Mas no
final, quem ganha são os colecionadores, com esta edição maravilhosa que é um
prato cheio para os cinéfilos e curiosos perceberem as diferenças e julgarem
qual é o melhor.
16/09/22
O Anjo das Ruas, Street Angel, 1928
Anjo das Ruas (Street Angel/ 1928), Isabel Wittmann, 06/02/2013
A tarefa de assistir esse filme foi muito proveitosa. Anjo das Ruas é um
filme de transição do cinema mudo para o cinema falado. Embora o filme ainda
não tenha as falas propriamente ditas, ele já foi distribuído com o som,
incluindo trilha sonora composta de forma sincronizada com as cenas, alguns
ruídos e assobios (que possuem papel importante na história).
Trata-se de um melodrama em que uma jovem, Angela, com sua mãe doente,
precisa ir às ruas se prostituir para conseguir pagar o remédio. Apesar disso
sua mãe falece e ela se une a uma trupe de circo, tornando-se desiludida com o
amor. Até conhecer Gino, um pintor de rua que pretende casar-se com ela. A
trama se passa na Itália.
Visualmente o filme é muito bonito: apela para luzes e sombras quase
expressionistas. A atriz encarna bem a beleza das mocinhas da década de 1920,
com rostos delicados e boca pintada em forma de coração. A história, que tem
uma pitada de simbolismo religioso, pode parecer piegas, água com açúcar ou
exagerada se não desligarmos nosso cinismo do século XXI ao assistir. Eu fiz
isso e mergulhei no que vi e me emocionei.
Mas o mais impressionante mesmo é o uso do som. Tudo parece
perfeitamente sincronizado, mostrando emoções e ilustrando ambientes. Em nenhum
momento os diálogos fazem falta. Nunca havia visto um filme dessa forma: os
filmes mudos que eu assisti não possuíam som projetado para eles, apenas aquela
trilha sonora genérica que deveria acompanhá-los. Foi uma experiência muito
interessante e o filme vale a pena.
17/09/22
Estrela Ditosa, Lucky Star, 1929, Frank Borzage
Sobre Janet Gaynor (1906–1984)
"In September 1982, Ms. Gaynor, who was 75, was seriously injured in a
San Francisco taxi cab accident which also injured her husband, executive
producer Paul Gregory, and actress Mary Martin. The accident proved fatal for
Martin's agent, Ben Washer. Gaynor suffered 11 broken ribs, a ruptured bladder,
a broken collar bone, a bleeding kidney, and multiple pelvic fractures. She was
to endure a number of operations in the next year and grew weaker until her
death in 1984."
Estrela Ditosa (1929) / Lucky Star (1929)
A Primeira Guerra Mundial é um período fantástico para ser estudado – e
uma experiência terrível para ser vivida. Muitos soldados que sobreviveram
voltaram para casa desfigurados ou permanentemente incapacitados. “Estrela
Ditosa” conta a história de um destes soldados – e também é provavelmente o
único filme da história a ter uma briga entre duas pessoas no topo de um poste
de telefonia.
Em uma área rural pobre vivem Mary e Tim. Mary (Janet Gaynor) é uma
garota que precisa cuidar dos irmãos mais novos e ainda ajudar a mãe com as
tarefas da fazenda. Tim (Chares Farrell) trabalha consertando postes de
telefonia, e com ele trabalha o preguiçoso Martin Wrenn (Guinn Williams). Mary
e Tim se conhecem quando ela entrega dois galões de leite para os rapazes, e
enquanto ela está lá tentando arrancar cinco centavos a mais de Wrenn, Tim ouve
a notícia de que foi declarada guerra.
O primeiro encontro deles não foi muito agradável. Quando Tim percebe
que Mary estava mentindo sobre não receber os cinco centavos de Wrenn, ele dá
uma surra nela, e a deixa possessa. Mesmo assim, ela sente falta dele e dos
outros homens quando eles vão para a França. Ela escreve para Tim e Wrenn, mas
é mais educada com Wrenn. Mesmo na guerra, Wrenn não mudou: ele não está
interessado em seu dever cívico, mas sim em conhecer moças francesas. O
contraste é claro quando temos cortes rápidos entre Wrenn, dirigindo um
caminhão para encontrar mulheres, e Tim, usando um vagão movido a cavalo para
levar sopa para os soldados nas trincheiras.
Depois de um ano a França e outro ano no hospital, Tim volta para casa
em uma cadeira de rodas. Mary se surpreende ao vê-lo assim, e fica mais
surpresa ainda ao ver como ele já se adaptou à cadeira de rodas – ele gira, vai
para todo canto dentro de casa e até dá marcha à ré. Mary começa a visitá-lo
sempre, animada para ver as coisas que ele está inventando. Tim primeiro quer
protegê-la e zoá-la, como se faz com uma irmãzinha, mas depois ele percebe que
está apaixonado por ela.
E Wreen ainda não aprendeu nada. Ele foi expulso do exército, mas ainda
usa seu uniforme – pior, ele diz à mãe de Mary que foi promovido de sargento a
major. Ele usa o uniforme e promessas falsas de casamento para enganar garotas,
e escolheu Mary como a próxima vítima.
Tim se entristece porque se sente solitário. Ele fica em casa 24 horas
por dia porque não há acessibilidade do lado de fora. As coisas ficam ainda
piores quando começa a nevar – algo que é um desafio para as pessoas em
cadeiras de rodas ainda hoje. Logo após a Primeira Guerra Mundial, as cadeiras
de rodas eram só cadeiras modificadas, e fica claro que o modelo usado por Tim
se popularizou a partir de 1880, por causa da roda traseira. É prática, sim,
mas não é suficiente para promover a socialização, como o filme mostra.
Tim não quer que as pessoas tenham pena dele. E esta é a primeira coisa
que precisamos saber ao lidar com deficientes: eles não querem pena. Tratá-los
de maneira diferente, especial, é mais um insulto que um favor. Eles não querem
privilégios. Eles querem ser tratados como seres humanos, com algumas
necessidades especiais. Mesmo que o termo “necessidades especiais” não seja bem
aceito, é a verdade: alguém como Tim, em uma cadeira de rodas, precisa de
algumas mudanças no local em que vivem para que possam viver normalmente. Estas
mudanças são pequenas, coisas que podem ser feitas facilmente e que beneficiam
a todos, porque conviver com pessoas diferentes é enriquecedor para todos.
Além de termos Tim convivendo com a deficiência, temos Mary vivendo em
uma família abusiva. Ela é explorada pela mãe (Hedwiga Reicher) e apanha com
frequência. A mãe também detesta Tim e o chama de “aleijado”. Ela só está
interessada nos presentes que Wrenn traz e nas falsas promessas dele de
dinheiro para a família se Mary se casar com ele.
Charles Farrell era um ator muito bonito, mas hoje está quase esquecido.
Em “Estrela Ditosa”, ele mostra que também era excelente ator. Seus esforços
com as muletas me lembraram da atuação de Lon Chaney, ao mesmo tempo difícil de
ver e hipnotizante. Obviamente, para que o roteiro funcione, o progresso de Tim
é muito rápido, mas “Estrela Ditosa” foi feito para ganhar dinheiro em cima da
química da dupla Farrell e Gaynor, e não para dar esperança para as pessoas que
se tornaram deficientes após a guerra.
A direção de arte é hipnotizante desde o primeiro segundo de projeção.
As casas podem ser pobres, mas são construídas de maneira estilizada, e criam
um contraste interessante com as montanhas e o céu ao fundo. Borzage fez alguns
filmes visualmente maravilhosos nos anos 20 e 30 – eu particularmente aprecio o
subestimado “Liliom”, de 1930. “Estrela Ditosa” é mais um desses belos filmes.
A “Estrela Ditosa” que conhecemos hoje não é a versão original entregue
pelo mestre Frank Borzage. De acordo com resenhas de 1929, o filme era parcialmente
falado, com efeitos sonoros e diálogos perto do final. Entretanto, “Estrela
Ditosa” foi considerado perdido durante muitas décadas. Felizmente, uma cópia
foi encontrada em um arquivo da Holanda, e os intertítulos foram reconstruídos
através de pesquisa e com ajuda do roteiro original. Uma nova trilha sonora foi
composta, mas infelizmente a trilha original com diálogos ainda não foi
encontrada.
“Estrela Ditosa” é uma das 12 colaborações entre Charles Farrell e Janet
Gaynor. Eles eram tão convincentes como um casal que vários presentes chegavam
todas as semanas aos estúdios da Fox para o “aniversário de casamento” deles.
Obviamente, eles não eram casados. E obviamente, um homem em uma cadeira de
rodas não consegue se recuperar com aquela rapidez. Mas “Estrela Ditosa” é um
destes filmes em que devemos suspender o senso muito crítico para apreciá-lo
por completo. É belo, romântico e nos dá esperança. Ditosos somos nós!
17/09/22
Pinóquio, Pinocchio, 2022, Robert Zemeckis
ANÁLISE
Dentre todas as animações clássicas da Disney, Pinóquio é facilmente uma
das que mais possui destaque. Sendo a primeira produção a receber dois Oscars e
tendo sua música tema como um marco da história do cinema, o desenho de 1940
vive em nossa memória até os dias atuais.
A beleza de Pinóquio está na simplicidade de sua história e na
ingenuidade do boneco de madeira, que tem como seu único objetivo se tornar um
menino de verdade. As desventuras vividas por ele e seu amigo Grilo Falante são
angustiantes, mas ao mesmo tempo instigantes, nos fazendo torcer para que eles
consigam encontrar logo o caminho de casa.
Todas as lições proporcionadas por Pinóquio são conduzidas, na animação,
pela emoção. Saber que uma pequena criança precisa fazer diversas escolhas que,
algumas vezes, até os adultos têm dúvidas, é algo imersivo. E há um certo
terror em algumas passagens da história, o que causava impacto nas crianças que
assistiam.
De certa forma, Pinóquio ajudou a pavimentar o caminho para outras
grandes animações da Disney que vieram depois dele. Se Branca de Neve foi o
grande breakout, Pinóquio manteve o público interessado pelos próximos
capítulos que o mundo mágico do Mickey poderia oferecer.
Dito isso, o live-action de Pinóquio é, infelizmente, muito aquém do
esperado. Apenas o seu primeiro arco funciona com eficácia, fruto da fidelidade
à animação de 1940. A partir do momento em que Pinóquio deixa a casa de Gepeto
e ganha o mundo, o roteiro de Robert Zemeckis e Chris Weitz adapta situações em
uma escala exagerada, e o CGI que caminha no vale da estranheza não ajuda em
nada a criarmos uma conexão com o famoso boneco de pinho.
Mesmo com Tom Hanks dando vida a Gepeto, que é claramente uma excelente
escalação, todo o restante que envolve Pinóquio não parece funcionar. É
impossível não reparar nos cenários, que parecem ser todos feitos de CGI. Por
vezes, parece que a escala dos atores em relação a Pinóquio se torna
desproporcional, principalmente no arco da Ilha dos Prazeres.
Os momentos em que Pinóquio interage com Sabina, a marionete que ganha
vida pelas mãos de Jaquita Ta’le e com o Grilo, dublado por Joseph
Gordon-Levitt, são os únicos que realmente tem alguma sinergia, mas o restante
passa a ideia de uma história mal lapidada.
Por se tratar de uma adaptação live-action é compreensível que os
realizadores queiram trazer elementos novos, pois é uma forma de criar
surpresas para o público. Entretanto, as escolhas criativas de Zemeckis e Weitz
não são boas, tornando o final do filme muito anticlimático.
Um ótimo storyteller, com grandes feitos em sua carreira, Zemeckis era
uma ótima escolha para essa adaptação, mas infelizmente o resultado final está
muito abaixo de sua trajetória no cinema. Pode ser, também, que o modelo de
live-action não seja a melhor escolha para Pinóquio, e que sua história esteja
melhor preservada no formato de animação. O fato é que o personagem merecia um
filme melhor, que preservasse seu encanto e realmente pavimentasse o caminho
para que uma nova geração se apaixonasse por suas desventuras.
Ao término da produção, a sensação é que, nesse caso, menos seria mais.
O excesso de CGI e mudanças na história acaba fazendo com que Pinóquio não
funcione da maneira que deveria, o que é uma lástima.
VEREDITO
Pinóquio é um live-action que não consegue encantar. Com um uso extremo de
CGI, a produção perde por não se ater à simplicidade e doçura da história do
boneco que queria se tornar um menino.
Pinóquio (2022) - Crítica: remake mentiroso (Disney +) vídeo
18/09/22
Pinóquio, Pinocchio, 2019, Matteo Garrone
“PINÓQUIO” E A REINTERPRETAÇÃO DE UM CLÁSSICO
LARISSA VASCONCELOS, 21 DE JANEIRO DE 2021
As adaptações em live-action estão cada vez mais comuns e criam novas
interpretações de animações clássicas, o que nem sempre dá certo. Mas não é o
caso deste “Pinóquio”, produção italiana dirigida por Matteo Garrone
(“Gomorra”, “Dogman”) e protagonizada pelo garoto Federico Ielapi (que estreou
no cinema na comédia “Funcionário do Mês”, de 2016).
Nesta versão da história criada pelo também italiano escritor Carlo
Collodi, em 1883, somos levados a um vilarejo devastado pela pobreza e pela
fome, onde conseguimos entender melhor a vida de Gepeto, um marceneiro que,
mesmo solitário, possui muita esperança pela vida. Parte desse sentimento se
deve à atuação sempre otimista e profunda de Roberto Benigni (“A Vida é Bela”),
atuação esta que marca o seu retorno ao cinema após um hiato de oito anos. Vale
lembrar, o mesmo Benigni dirigiu (e protagonizou) uma adaptação de “Pinóquio”,
em 2002, que foi muito mal recebida.
Os estranhamentos com este novo longa começam com a caracterização e a
maquiagem dos personagens animais, como o Grilo Falante, o Gato, a Raposa e a
Caracol. O trabalho é muito bem realizado e traz um ar sombrio e um tanto
exagerado, fazendo o design das criaturas lembrar o universo de Tim Burton.
Porém, mesmo com o possível desconforto que esse visual possa causar, é
possível adentrar naquele mundo de imaginação que traz a ideia de um boneco se
transformar em um “menino de verdade” — e a textura da maquiagem feita em
Ielapi é particularmente eficaz, dando a impressão de que há mesmo madeira na
composição de seu rosto.
Mesmo sendo uma reinterpretação, o longa mantém os valores da animação
da Disney, de 1941, como a importância de valorizar o estudo e de não mentir,
aspectos mais essenciais do que nunca em um mundo com tantas notícias falsas.
Além disso, é um filme que traz a inocência dos contos de fada, daqueles que
nos teletransportam para nossa infância e criam a esperança de um mundo mais
puro, como o olhar do nosso herói.
Mas fica também um alerta para os fãs da animação clássca: o ritmo deste
novo “Pinóquio” é bastante lento, o que pode ser incômodo. A montagem é de
Marco Spoletini, frequente colaborador de Garrone, e determinados momentos
podem gerar cansaço no espectador, devido à pouca ação entre os atos. Por outro
lado, o longa chama a atenção pela fotografia de Nicolai Brüel (que trabalhou
com Garrone em “Dogman”), que faz bom proveito da luz em suas várias nuances,
principalmente nas cenas da Fada Azul (interpretada pela francesa Marine Vacth,
de “Jovem e Bela” e “O Amante Duplo”). A trilha sonora também é uma marca
importante, assinada por Dario Marianelli (vencedor do Oscar por “Desejo e
Reparação”). A música torna o longa mais intimista e acolhedor, contrastando
com as dificuldades vividas por Pinóquio durante sua jornada.
“Pinóquio” deixa uma divisão de sentimentos entre a nostalgia de
revisitar um clássico da infância e a construção de um novo ponto de vista para
narrar a história do personagem no cinema. Um ponto de vista mais consciente,
mais duro e mais triste. Uma realidade que, infelizmente, era mais comum na
época em que Carlo Colodi escreveu a história original e que, muitas vezes, é
esquecida a fim de amenizar um conto infantil.
19/09/22
Poder e Luxúria, Los Borgia, 2006, Antonio Hernández
Itália, século XV. Rodrigo Borgia
é um maquinador astuto. Por trinta anos ele trabalhou na Igreja Católica Romana
e agora foi eleito papa pelo Colégio de Cardeais. Borgia não tem motivos
religiosos, é tudo uma questão de poder para ele. Com seu poder papal, ele
inicia um reinado de terror, eliminando rivais. Uma nova era vai começar para a
família Borgia, ele pensa, e seus quatro filhos são os peões mais importantes.
Sua linda filha Lucrécia Bórgia
e o filho passivo Jofré se casam para estreitar os laços com famílias rivais. O
mesmo vale para Juan, que também foi nomeado capitão do exército do Vaticano. O
primogênito de Rodrigo, César Bórgia, agora é cardeal. Ele não gosta de tudo. Como o lutador nato da família, ele
se vê mais adequado à posição de Juan. Cesare fica cada vez mais insatisfeito
como cardeal e cada vez mais agitado com a família. Então Juan morre
repentinamente após uma agressão. Looke
Sobre César Bórgia: Recebeu o título de gonfaloneiro da igreja pelo
seu pai após conquistar Imola e Forlì e foi uma forte influência no livro OPríncipe , de
Maquiavel, com o qual conviveu diversas vezes e o qual elogiou abertamente
César na sua obra
20/09/22
Páginas da Vida, O. Henry's Full House, 1952, Henry Koster, Henry
Hathaway, Jean Negulesco, Howard Hawks, Henry King
Cine Antiqua
apresenta um antológico filme hollywoodiano, composto por cinco histórias
baseados nos contos de O. Henry, importante literato norte-americano. Produzido
por André Hakim, cada episódio é dirigido por um grande diretor: Henry
Hathaway, Howard Hawks, Henry King, Henry Koster, Jean Negulesco. A trilha
sonora foi composta por Alfred Newman e o filme é narrado pelo autor John
Steinbeck, que faz uma rara aparição em câmera para introduzir cada história. -
O Policial e o Hino (The Cop and the Anthem) Um sem-teto fica frustrado pelas
inúmeras tentativas de ser preso e encarcerado por 90 dias em uma cela quente
ao invés de enfrentar os rigores de um inverno de Nova Iorque. Direção: Henry
Koster - Estrelando: Charles Laughton, Marilyn Monroe e David Wayne. - O Toque
do Clarim (The Clarion Call) Um detetive da Policia de Nova Iorque tem uma
crise de consciência quando fica dividido entre o dever de prender um amigo de
infância por um crime que só ele sabe e a dívida de honra que ainda tem para
com o amigo. Direção: Henry Hathaway - Estrelando: Dale Robertson e Richard
Widmark. - A Última Folha (The Last Leaf) Uma jovem ingênua pega pneumonia
depois de ser seduzida e abandonada por ator venal. Quando perde a vontade de viver,
sua irmã e um excêntrico artista de Greenwich Village tentam ajudá-la a
sobreviver. Direção: Jean Negulesco - Estrelando: Anne Baxter, Jean Peters e
Gregory Ratoff. - O Resgate do Chefe Vermelho (The Ransom of Red Chief) Dois
vigaristas trapalhões sequestram o filho de um xerife rural, mas começam a
achar que pegaram mais do que podem lidar. Direção: Howard Hawks - Estrelando:
Fred Allen, Oscar Levant e Lee Aaker. - O Presente dos Reis Magos (The Gift of
the Magi) Um jovem casal pobre luta para pagar presentes de Natal dignos de seu
amor. Direção: Henry King - Estrelando: Jeanne Crain e Farley Granger. Título:
Páginas da Vida Título Original: Full House País de Produção: Estados Unidos
Ano de Produção: 1952 Gênero: Drama Direção: Henry Koster, Henry Hathaway, Jean
Negulesco, Howard Hawks, Henry King. Elenco: Charles Laughton, Marilyn Monroe,
Richard Widmark, Anne Baxter, Fred Allen, Jeanne Crain, David Wayne, Dale
Robertson, Jean Peters, Gregory Ratoff, Oscar Levant, Lee Aaker, Farley
Granger.
“Páginas da Vida”, a linda adaptação dos contos de O. Henry
PÁGINAS DA VIDA (1952)
23/09/22
A Embriaguez do Sucesso, Sweet Smell of Success, 1957
O doce odor do sucesso, Sergio Augusto, O Estado, 14/09/2002
In Sergio Augusto, Vai começar a sessão – ensaios sobre cinema, p. 113,
2019, Objetiva
26/09/22
O Vingador Silencioso, Il grande silenzio, 1968, Sergio Corbucci
No iutubi
aquiCrítica | O Vingador Silencioso por Guilherme Coral, 27 de outubro de
2014
Mais uma vez, nas mãos de Sergio Corbucci, somos colocados diante de um
impactante western spaghetti. Deixando os floreios e o heroísmo do apogeu do
gênero para trás, o diretor constrói uma obra impactante e desoladora, que
procura nos mostrar, de relance, a violência, a brutalidade do Velho Oeste. O
filme, contudo, não nos leva aos cenários típicos, que já estamos acostumados,
do faroeste. Ao invés disso, nos vemos diante de planícies gélidas, cobertas
pela neve, trazendo uma nítida sensação de desolação e solidão, se encaixando
perfeitamente com o título original da obra Il Grande Silenzio, ou “O Grande
Silêncio”.
Vemos, portanto, que a projeção é sobre muito mais que apenas um homem
mudo que procura vingar os injustiçados. Sim, O Vingador Silencioso coloca em
cheque os motivos por trás da violência em tais regiões, culpando não só os
ensandecidos caçadores de recompensa, como os banqueiros, o sistema judicial e
a própria falta de ação por parte do governo. Para criar esse vívido palco,
Corbucci opta por diminuir seu foco no protagonista, distribuindo-o por todos
os personagens centrais exibidos. Portanto, pode-se dizer que o personagem
principal é o homem mudo conhecido como Silencio (Jean-Louis Trintignant) ou,
em seu lugar, o matador Loco (Klaus Kinski), que, definitivamente conta com
maior tempo em tela. De fato, pouco importa quem é ou não é o protagonista,
pois o que vemos aqui, na neve, muito bem se estende para as cidades e estados
pouco mais ao sul do país.
Nos prendendo neste cenário, temos uma trama bastante simples, que sabe
exatamente quais simbólicos elementos utilizar. A chegada de um novo xerife na
cidade de Snow Hill, onde a maior parte do filme se passa, indica o pouco poder
que a lei ali, de fato, exerce. Temos nele o ensejo pela mudança, sendo um dos
poucos personagens que procuram meios alternativos à costumeira violência.
Sergio sabe utiliza-lo idealmente para construir seu drama, ocupando um papel
central na narrativa, que, aos poucos, indica o que veremos nos minutos finais
da projeção.
O Silêncio, por mais que pareça subutilizado ao longo da história,
consegue demonstrar uma interessante profundidade. A princípio ele é aquele
velho pistoleiro, o strong silent type. Aos poucos, contudo, vemos que há mais
por trás disso, uma constante tristeza parece assolá-lo e os constantes closes
conseguem transmitir isso sem o menor problema. O crescente afeto entre ele e a
mulher que recentemente perdera o marido, por mais que pareça artificial em
determinados pontos, cumpre o papel de deixar clara a solidão do personagem –
aquele é seu momento de entrega, que, também funciona como a calmaria antes da
tempestade.
O fatídico desfecho chega de forma imprevisível, por mais que marcas
anteriores já deixassem claro o rumo que iríamos tomar. Aqui, a falta de
identificação que temos com o Silencio prejudica o momento dramático.
Felizmente, a memorável trilha de Ennio Morricone preenche esse vazio com
melodias que perfeitamente reiteram o caráter desolador da região, daquele
silêncio constante, que paira no ar, como a morte, que apenas espera para fazer
sua triunfal entrada em cena.
Com esses inesquecíveis minutos finais, Sergio Corbucci encerra esse seu
grande western, de caráter, ao mesmo tempo, épico e intimista. O Velho Oeste é
mostrado de forma assustadoramente crua e violenta, nos deixando com um
distinto nó no estômago após o término da projeção. Apesar de seus pontuais
deslizes, O Vingador Silencioso certamente é uma obra que merece ser vista e
revista.
O Vingador Silencioso, Il Grande Silenzio – Itália/ França, 1968
Direção: Sergio Corbucci, Roteiro: Mario Amendola, Bruno Corbucci, Sergio Corbucci, Vittoriano
Petrilli, Elenco: Jean-Louis Trintignant, Klaus Kinski, Frank Wolff, Luigi
Pistilli, Vonetta McGee, Mario Brega
A sádica morte do western spaguetti pelas mãos de um de seus criadores.
Victor Ramos | 04 de Abril de 2015
O Vingador Silencioso (Grande silenzio, Il, 1968) é uma obra
cabalística: trata-se da morte do western spaguetti justamente pelas mãos de um
dos nomes que o fizeram nascer, sob uma trilha sonora bastante familiar (não
minta: você não precisou puxar o nome de Ennio Morricone para saber que ele
assinou) e em um contexto em que o subgênero já não vingava muito. O cenário
não é tomado por tonalidades quentes; ainda que a técnica do Eastmancolor se
faça presente em suas cores mortas (uma das principais características daqueles
filmes italianos, a fotografia), a neve toma conta – se outrora todo aquele
ambiente poeirento, cheio de montanhas, construía a visão de uma terra selvagem
em um sentido mais histórico do homem e sua relação com a violência como forma
de conseguir seus objetivos, a neve (mais à frente irei discutir melhor) no
chamativo filme de Corbucci acrescenta um tom de melancolia, propondo algo mais
intimista pelo constante uso do branco. Era uma vez no Oeste (C'era una Volta
il West, 1968) e Pat Garrett & Billy The Kid (idem, 1973) cantaram o fim de
um momento histórico e de um gênero, mas vale lembrar que O Vingador Silencioso
é uma leitura mais voltada para o estilo, para as raízes estabelecidas na
Itália, utilizando o contexto histórico dos EUA como superfície para algo mais
pessoal – ou seja, é um trabalho que visa representar o trágico fim de um
estilo tipicamente italiano; pura desculpa para Sergio Corbucci imprimir sua
visão da coisa. Ao considerarmos que a torta imagem do herói do western
spaguetti foi cativada em Django (idem, 1966), fica melhor compreensível essa
relação simbólica de Corbucci com seu outro filme – sua grande obra-prima.
A desconstrução não ocorre apenas pelo cenário. Reparem na arma
utilizada por Jean-Louis Trintignant sob a pele do justiceiro mudo; automática,
sem permissões para a imagem de estilo que boa parte das figuras esboçou
durante clássicos momentos de tiroteio; porque a imagem exposta por Trintignant
é quase como se fosse a de um mensageiro da morte, que está ali não para
mostrar o quão bom é em manejar armas de fogo, mas apenas para realizar seu
automático e quase impessoal trabalho de tirar vidas. Mas O Vingador Silencioso
(cujo roteiro foi escrito a oito mãos) é tão sacana que, não contente em
utilizar um personagem subversivo dentro de um cenário subversivo, o coloca em
próprio processo de desconstrução. Algo doentio, diga-se de passagem. Não
existe espaço algum para o sentimento de esperança; é tudo tão direto, frio,
que a narrativa cria uma atmosfera de densa tensão. Aquela imagem extraída na
cena de abertura, nos créditos iniciais, com o justiceiro mudo sobre seu
cavalo, que afunda as patas na grossa camada de gelo, já nos deixa em alerta
para o que vem a seguir. E citar Morricone mais uma vez é obrigação; a coisa
deve muito a ele – é um desafio assistir e não se arrepiar com a ambientação
proposta pelo diretor, sob a companhia da música-tema.
O espetáculo de horrores é composto principalmente pelo que há de mais
sujo que o western spaguetti sempre se comprometeu: desvirtuamento de valores
éticos convencionais e a violência como algo inerente ao homem (Klaus Kinski,
maravilhoso, expondo por palavras o tipo de homem que o Loco é, quando o Xerife
é executado por suas mãos). E o aditivo do branco, o elemento que intensifica
tudo. Sergio Corbucci descobriu que somar o branco da neve à condição de morte
da qual todos os personagens compartilham (algo que parece ter inspirado
Joaquín Luis Romero Marchent no chocante Condenados a Viver [Condenados a
vivir, 1972]) daria a ele a carga psicológica precisa para narrar a morte do
velho herói do Oeste – ou ao menos como passamos a conhecê-lo. O sangue
manchando a neve cria um efeito incrível de fragilidade carnal, uma
vulnerabilidade que está nos olhos e, sobretudo, no silêncio do justiceiro –
dolorosa a cena em que pegam sua mão para colocar no fogo; notem em todo o
cuidado de direção ao exprimir a agonia do personagem, tentando gritar, mas
impossibilitado de realizar tal ato (momento sádico que termina por ser tonar
mais árduo que o próprio fogo em si; as feições do Trintignant, se contorcendo,
anulam qualquer necessidade de palavra).
O Vingador Silencioso é uma tragédia. É explícita a necessidade de
utilizar o sofrimento para fins catárticos: o amor que é construído do nada,
somente para ser terminado por meio de um banho de sangue, e a representativa
morte do protagonista. Klaus Kinski, ao final, mata o justiceiro silencioso, e
chora. A câmera enquadrada nos olhos de Kinski é uma coisa belíssima, pois
transfere a pessoalidade de Sergio Corbucci para o olhar do homem responsável
por matar o “herói” clássico, quase que um momento de abstração em relação à
própria narrativa: ele atira, sem hesitar, sob o contexto mais imoral possível;
mas ainda assim sente, pois sabe que aquela imagem acabou-se assim, como um
lixo (sem voz, sem mãos, desarmado, impotente), e jamais voltará – é o
reconhecimento de um antagonista em relação à importância icônica de seu
inimigo numa relação de completude. Peguem personagens memoráveis como Django e
Blonde, e mate-os; sob a ótica do Cinema, não são homens, mas sim símbolos –
algo poderoso. É construído um funeral; sem o calor da vida (suja, errante, mas
ainda vida), apenas o frio da morte de um grande símbolo, segundo um de seus
criadores.
O Vingador Silencioso
Alexandre Guimarães | 24 de Julho de 2013
É fato que Leone foi o maior diretor que já passou pelo western – talvez
o maior diretor que já passou pelo cinema -, mas Corbucci também merece nosso
respeito pelas suas obras que são no mínimo plausíveis. A mais famosa película
do diretor é Django (Idem, 1966), um excelente exemplar do western à italiana,
porém apesar de menos conhecido o seu melhor filme é O Vingador Silencioso. Um
filme de dramaticidade e aspectos impares.
Um homem misterioso e mudo (Jean-Louis Trintignant) chega a uma pequena
cidade em uma diligência com um xerife (Frank Wolff) e um caçador de recompensa
(Klaus Kinski) e alguns cadáveres. Lá na cidade o mudo recebe uma proposta de
uma mulher para que mate o caçador de recompensas, já que o mesmo assassinou o
seu marido. O xerife, por sua vez, quer que a cidade siga em paz e faz e tudo
para impedir confusões, mas a violência irá tomar de conta da cidade.
Os opositores do western spaghetti na época denominavam o gênero de
“lixos de sangue”. O fato é que este é um dos filmes de maior nível de
violência do spaguetti, e que de lixo não tem nada, apenas as revelações da
podridão da sociedade americana em séculos passados que vem se estendendo até
os dias de hoje. A ambição pelo poder, pelo dinheiro, o preconceito, e a grande
revelação final que causa grande impacto, são temas tratados na maioria dos
faroestes italianos, que resultam em protestos americanos que ficam contra o
sub-gênero, por conta de revelarem a escória da sociedade americana do qual
teimam em conter os fatos.
Corbucci é um diretor acima da média. Sabe muito bem como conduzir um
clímax e uma história, suas cenas violentas intensamente dirigidas nos
impulsionam a um resultado de extrema eficiência. O diretor sempre preserva a
mística por trás do personagem principal, anexando o seu passado, os motivos –
apesar de já telegrafados -, e o Silencioso é de uma estranheza abissal. Em
Django, diretor conseguiu como nunca preservar o mistério do caixão, no qual
havia uma metralhadora, mas o modo como o diretor criou um mistério em torno
daquilo foi extraordinário. Direção formidável de Corbucci, principal
responsável pelo excelente resultado do filme.
O responsável pela trilha sonora foi novamente o grande colaborador com
o faroeste italiano Ennio Morricone. Por ser ele o compositor da trilha sonora
do filme nem precisa dizer que a trilha é excelente, tem um dom natural e
exuberante. Neste filme sua trilha é impactante, perturbadora e incomum
resultando no que já foi citado no inicio do texto, em um tom de dramaticidade.
Montanhas quentes, arejadas, cenários em que a poeira toma conta de
tudo. Não, O Vingador Silencioso não conta com estes aspectos tradicionais
vistos na maioria dos westerns vistos. Os ambientes aqui retratados são frios,
na neve. Deste modo o anti-herói consegue ainda mais enaltecer sua figura. Por
falar no anti-herói, o ator responsável pelo papel, Trintignant, consegue de
maneira magnífica exaltar sua personalidade. De poucas palavras, ou melhor, de
nenhuma palavra, é de se elogiar sua interpretação assustadora, que resulta em
um personagem do estilo perfeito de um pistoleiro exigido pelo público.
Por fim, O Vingador Silencioso consegue transmitir toda a adrenalina que
carrega. O melhor filme do italiano Sergio Corbucci, que demonstra sua
capacidade em roteiros e direção. Mesmo Django sendo mais conhecido, este
consegue ser mais eficiente e explora mais os seus temas.
O VINGADOR SILENCIOSO
Dentro do que se convencionou chamar de Western Spaghetti ou Faroeste à
Italiana, o cineasta Sergio Corbucci era conhecido como “o outro Sergio”. Isso
se devia pela fato de seu grande amigo, Sergio Leone, ser o “Sergio” titular
dessa leva de faroestes feitos na Itália entre 1964 e 1973. Leone começou tudo
com a famosa Trilogia dos Dólares, estrelada por Clint Eastwood. Mas Corbucci
definiu alguns parâmetros com seu Django, de 1966 e, principalmente, dois anos
depois com este O Vingador Silencioso. O roteiro dos irmãos Bruno e Sergio
Corbucci, escrito junto com Vittoriano Petrilli e Mario Amendola, nos apresenta
o justiceiro mudo vivido pelo francês Jean-Louis Trintignant. Ele é contratado
por Pauline (Vonetta McGee), uma das vítimas do bando liderado por Loco (Klaus
Kinski). A partir daí temos uma grande caçada nas terras geladas do estado de
Utah, nos Estados Unidos. Diferente do pistoleiro que falava pouco na pele de
Eastwood, a personagem de Trintignant não fala por conta de uma situação
traumática do passado. Mais isso não é a única ruptura narrativa de O Vingador
Silencioso. Há também a presença de Vonetta McGee e sua Pauline, uma mulher
negra que se envolve com o herói, algo que nunca tinha sido mostrado nas telas
até então. Isso, para muitos estudiosos, teria sido a razão principal para que
a obra não fosse bem aceita no mercado americano. O futuro se encarregou de
provar como Corbucci estava bem à frente de seu tempo. Inclusive pela maneira
que a história é concluída. Por fim, uma curiosidade: a “neve” do filme era, na
verdade, creme de barbear.
The Great Silence
O Western Spaghetti, a variante italiana do gênero, Maurício Oliveira,
05/06/2021
Ennio Morricone – Il Grande Silenzio (Dalla
Colonna Sonora Originale Del Film)
27/09/22
Os Cruéis, I crudeli, 1967, Sergio Corbucci
Sobre Norma Bengell (1935–2013)
Jonas (Joseph Cotten), um antigo oficial da Confederação, deseja
reorganizar as suas antigas tropas no sudoeste para reavivar as lutas da Guerra
Civil Americana. Com uma grande quantia de dinheiro roubado ele elabora uma
rota para explorar o território inimigo. Enquanto isso, um de seus filhos viaja
com uma viúva contratada em direção à um novo começo. Adorocinema
Norma Bengell and Julián Mateos in Os Cruéis (1967)
28/09/22
O Especialista - O Vingador de Tombstone, Gli specialisti, 1969,
Sergio Corbucci
Sobre Sergio Corbucci (1926–1990)
O solitário Hud volta à Blackstone, buscando vingança contra o irmão,
que foi erroneamente acusado de roubar um banco. Em busca do verdadeiro ladrão
para limpar o nome do irmão ele se encontra em grande perigo com pessoas
poderosas. Adorocinema
DVD Sergio Corbucci
Conversando sobre o faroeste italiano
Não se deve esquecer que o western corresponde não apenas à história
dos Estados Unidos – para os europeus, representa à saga dos nibelungos. ('Afinal quem faz os
filmes', Peter Bogdanovich, p. 234, Companhia das Letras, 2000).
No período de 1966 a 1975 o cinema italiano foi
contaminado pelo faroeste. Já nos estertores do neorrealismo, apareceram estes
filmes com uma cinematografia diferente do western USA. Aproveitavam-se da
linguagem, mas queriam algo diferente do bem e mal, mocinho e bandido e ação
pela ação. Inseriam as questões sociais, o existencialismo, o barroco e até o
surrealismo. Almería, na Espanha, se tornou
o cenário da roliudi do western com seus desertos e montanhas. O equivalente a
Monument Valley dos faroestes de John Ford.
Alguns destaques relevantes desta onda de
faroestes italianos: os três Sérgios – Corbucci, Leone e Sollima, Damiano
Damiani, Enzo G. Castellari e outros
Abaixo, alguns filmes clássicos destes nibelungos italianos. Dicas
para iniciar esta revisão: O Vingador Silencioso, Keoma, Corre Homem, Corre e Gringo, Quién sabe?
O Vingador Silencioso, Il
grande silenzio, 1968, Sergio Corbucci
No iutubi aqui
Os Cruéis, I crudeli, 1967,
Sergio Corbucci
O Especialista - O Vingador de
Tombstone, Gli specialisti, 1969, Sergio Corbucci
Sobre Sergio Corbucci(1926–1990)
Keoma, 1970, Enzo G. Castellari
No iutubi aqui
Django, 1966, Sergio Corbucci
No iutubi aqui
Corre Homem, Corre, Corri uomo
corri, 1968, Sergio Sollima
No iutubi aqui
Era uma Vez no Oeste, C'era una volta il West, 1968, Sergio
Leone
Gringo, Quién sabe?, 1967, Damiano Damiani
No iutubi aqui ou aqui
E Deus Disse a Caim, E Dio
disse a Caino...,1970, Antonio Margheriti
No iutubi aqui
Django Vem Para Matar, Se sei
vivo spara, 1967, Giulio Questi
No iutubi aqui
30/09/22
The West, Minissérie de televisão, 1996, Stephen Ives
The west série
The west
No iutubi
Ken Burns - The West. Ep. 06 - Fight No More Forever (1874 - 1877)
Ken Burns - The West. Ep. 02: Empire Upon The Trails (1806 - 1848)
Outros episodios em Michel
O verdadeiro velho oeste, Sérgio Augusto, O Estadão, 30/06/2001 10/10/22
Vidas Secas, 1963, Nelson Pereira dos Santos
No iutubi aqui
‘Vidas Secas’, um clássico do cinema brasileiro, 11/04/2018
Em 2018, o filme ‘Vidas Secas’ completa 55 anos de história. Rodada na
segunda metade do século 20, a produção de Nelson Pereira dos Santos é
fundamental para entender a cultura brasileira
Ao longe, um horizonte. Vegetação rasteira e seca, com apenas uma única
árvore, igualmente desolada. Longo tempo se passa, até que um pequeno grupo de
pessoas surge, em meio a uma luz estourada. Eles andam de maneira lenta, sem
rumo. Aos poucos, tem-se uma ideia melhor: trata-se de uma família perdida que
se aproxima, tendo um cachorro à frente. O único som é seco e árido, semelhante
ao barulho emitido pelo carro de boi.
Com pouco mais de 3 minutos de duração, essa abertura feita em um único
plano-sequência (imagem sem cortes de câmera) se tornou uma das mais famosas do
cinema brasileiro. Dirigido por Nelson Pereira dos Santos, o filme Vidas Secas
entrou para a história em 1963 ao adaptar um clássico da literatura brasileira:
o romance homônimo de Graciliano Ramos.
Em 2018, a produção de Santos completa 55 anos e o livro de Ramos, 80
anos. A temática sobre a indústria da seca que corrói milhões de brasileiros no
Nordeste ainda continua contemporânea e comovente.
Tanto no filme quanto no livro, Vidas Secas conta a história de uma família
formada por cinco integrantes: Fabiano, sinhá Vitória, menino mais velho,
menino mais novo e a cachorra Baleia. Havia um papagaio, mas que foi devorado
logo no início da narrativa. Afinal, os viventes precisavam se alimentar,
tamanha era a fome até aquele momento.
Após a cena inicial de grande impacto visual, a família do vaqueiro
Fabiano (Átila Iório) encontra um local para fixar residência, enquanto a chuva
retorna ao sertão nordestino. Nesse meio tempo, o personagem consegue emprego e
passa a ser explorado pelo Patrão (vivido pelo ator Jofre Soares) e depois pelo
Estado.
As crianças, sinhá Vitória (Maria Ribeiro) e até mesmo a cachorra Baleia
ganham momentos singelos durante a narrativa do filme. Assim como o livro, a
versão cinematográfica também trata das agruras do homem; mas, claro, sem o
mesmo mergulho na consciência das personagens feito na literatura de Graciliano
Ramos.
Para muitos espectadores, o que salta aos olhos no filme é a denúncia
das condições de exploração dos trabalhadores em um contexto de vantagens para
quem ocupa as posições superiores, caso do Patrão e do Soldado Amarelo.
NEORREALISMO
Não por sinal, Nelson Pereira dos Santos é apontado como um dos grandes
representantes da influência do Neorrealismo italiano no Brasil. Surgido na
Europa após a Segunda Guerra Mundial, esse movimento cinematográfico encabeçado
por nomes como Roberto Rosselini, Vittorio De Sica e Luchino Visconti
caracterizou-se pelo uso de elementos da realidade numa peça de ficção,
aproximando-se até certo ponto, em algumas cenas, das características do filme
documentário. Ao contrário do cinema tradicional de ficção, o Neorrealismo
buscou representar a realidade social e econômica de uma época.
No Brasil, a historiografia do cinema costuma dizer que Santos foi um
dos precursores do movimento neorrealista em versão tupiniquim ao rodar Rio, 40
Graus (1955) e Rio, Zona Norte (1957). São dois filmes que desconstroem o mito
da cidade maravilhosa em relação ao Rio de Janeiro. Logo em seguida, viria
Vidas Secas (1963), que revela os mecanismos de opressão social nos rincões do
Brasil profundo.
Além da temática, a adaptação de Nelson Pereira dos Santos tem uma
linguagem própria no contexto do cinema: fotografia estourada, sem filtros para
amenizar a luz (mérito do fotógrafo e produtor Luiz Carlos Barreto, o
Barretão); longos planos-sequência; atores amadores; eliminação de trilha
sonora; câmera na mão; poucos diálogos; narrativa guiada pelas imagens; entre
outros.
Pode-se dizer que o diretor utilizou a linguagem cinematográfica para
fazer a sua leitura pessoal da obra-prima do escritor alagoano.
CINEMA NOVO
Versão imortal do monumento literário Vidas Secas, o filme de Nelson
Pereira dos Santos também faria à sua época escola dentro do mercado
brasileiro. Na verdade, isso já havia ocorrido com Rio, 40 Graus e Rio, Zona
Norte. O diretor fora apontado como o ponta de lança do Cinema Novo, um
movimento cinematográfico no país que recebia influências das vanguardas
europeias, caso da Nouvelle Vague francesa e do Neorrealismo italiano.
O diretor baiano Glauber Rocha (autor de clássicos como Deus e o Diabo
na Terra do Sol) dizia que bastava uma câmera na mão e uma ideia na cabeça para
fazer filmes que repensavam a realidade brasileira. Para essa turma, Santos
conseguiu isso em Vidas Secas.
Mais do que isso, essa produção se tornou um dos filmes mais importantes
para entender a cultura brasileira do século 20.
Antologia da Crítica Cinematográfica em Vidas Secas
Atílio AVANCINI e Juliana PENNA
13/10/22
Gringo, Quién sabe?, 1967, Damiano Damiani
Quien sabe? (1966 / Realizador: Damiano Damiani), 13/10/2009
Motivado pela interessante interacção que se desenvolveu com a
publicação da resenha de Vamos a matar, compañeros (1970) no blogue irmão
Dementia 13, decidi abordar agora o filme Quien sabe?, mais conhecido por aí
como A bullet for the general. Quien Sabe? é um excelente filme de contornos
políticos realizado em 1966 pelo reconhecido intelectual de esquerda italiano,
Damiano Damiani. A acção do filme desenrola-se no epicentro da revolução
mexicana, condição que haveria de servir como elemento diferenciador dentro do
género, carregando este tipo de filmes o rótulo de Zapata westerns. Pois bem,
neste campo este título merece especial destaque já que terá sido o pioneiro!
Numa tentativa de rentabilização do sucesso que Quien Sabe? alcançaria,
muitos outros Zapata westerns seriam lançados pelas produtoras cinematográficas
ítalo-espanholas, mas só Damiani conseguiu fazer á primeira tentativa o que
muitos outros cineastas jamais lograram nas suas carreiras - conceber um filme
de fortes convicções políticas e ao mesmo tempo uma poderosa obra de
entretenimento. O realizador sempre refutou a ideia de que Quien Sabe? é um
western-spaghetti, mas sim uma critica ás incursões americanas na América do
Sul, nomeadamente através dos conhecidos esquemas ilegais da CIA. O facto de a
acção decorrer num ambiente western seria portanto uma mera casualidade. Teimas
à parte, para a maioria dos mortais, Quien Sabe? contém todos os elementos do
género, sendo por isso logicamente metido no grande saco do western-spaghetti.
E se nos restringirmos ao subgénero Zapata, arrisco-me mesmo a considerá-lo o
melhor de todos!
O elenco aqui compilado é todo ele de grande qualidade, o papel principal
(El Chuncho) foi muito bem entregue ao magnífico actor italiano Gian Maria
Volontè, certamente o único actor italiano que nunca deixou créditos por mãos
alheias no cinema spaghetti, participando apenas em filmes dirigidos por
realizadores comprometidos com as suas ideologias de esquerda. Terá porventura
por isso ter perdido a hipótese de enriquecer rapidamente, mas por outro lado
conseguiu um registo imaculado, com presença em filmes que se poderão todos
eles considerar de topo (Per un pugno di dollari, Per qualche dollaro in più,
Faccia a faccia).
A Lou Castel, que também teve uma curta mas interessante passagem pelo
western-spaghetti (em que se destaca Requiescant), coube o papel de Bill “Niño”
Tate, um gringo algo misterioso que transporta consigo uma bala de ouro e cujo
único interesse parece ser o de enriquecer muito rapidamente. O terceiro nome
do cartaz foi entregue ao arrepiante Klaus Kinski (Il grande silenzio, E Dio
disse a Caino, Prega il morto e ammazza il vivo), um dos actores europeus que
mais presenças teve neste tipo de cinema, e que pelas características físicas e
tipo de interpretação demencial, tem um lugar especial nas minhas preferências.
Kinsky desempenha aqui a personagem de Santo (meio-rmão de El Chuncho) um
indivíduo cujas motivações religiosas não impediram o empunhar das armas em
nome da libertação do povo mexicano.
Na vida real, Lou Castel foi parte activa no movimento maoista
italiano
Damiani precisou de quase duas horas para contar esta excelente
história, que não terá sido por acaso co-escrita com outro conhecido
esquerdista italiano, Franco Solinas (que chegou a ser nomeado para um Óscar).
O inicio das hostilidades não poderia ser mais violento, com um brutal
fuzilamento de um grupo de peones pelo exército do governo mexicano. É aqui que
nos cruzamos pela primeira vez com Tate, o gringo americano de intenções pouco
claras. Fazendo-se passar por prisioneiro, o americano junta-se aos supostos
revolucionários após o assalto feito por estes ao comboio militar em que seguia.
Comboio esse que o próprio Tate faz deter - sem que isso o impeça de limpar o
sebo quer a um soldado quer a um bandido.
A dualidade e falta de escrúpulos do personagem demarca-se em cada uma
das suas acções, não obstante consegue cair nas graças de El Chuncho, o alegre
homem do tambor e também líder do grupo de saqueadores revolucionários. Estes
parecem no entanto importar-se muito pouco com os ideais revolucionários,
estando mais interessados em roubar o máximo de armas aos soldados do exército
para de seguida as vender à Revolução, encabeçada pelo General Elias. Este
esquema interessa a Tate, cujo objectivo cedo se perceberá consistir em chegar
suficientemente perto do General Elias, para assim lhe tirar a vida. Tate
engendra assim uma série de assaltos a guarnições militares, que permitirá aos
pseudo-revolucionários engrossar o seu stock e assim levá-lo ao quartel-general
secreto do General Elias quanto antes…
Quien sabe?, que em Portugal foi lançado como "O mercenário” – por
favor não confundir com Il Mercenario (1968) de Sergio Corbucci – teve honras
de edição em formato DVD pela Prisvideo, fazendo parte da “Colecção western” da
editora. Esta colecção foi lançada em caixas (mais ou menos) temáticas de duas
unidades e peca apenas pela sua curta amplitude. Quien sabe? aparece incluído
na designada “caixa spaghetti”, lado a lado com Il bianco, il giallo, il nero
(1975), com o qual não vislumbro qualquer ponto de contacto. O conjunto vale
sobretudo por este de que agora vos falo. O filme é apresentado em formato 16:9
com excelente qualidade de imagem e idioma original em italiano (curiosamente a
informação do booklet indica o inglês). Vale a compra!
Publicado por Pedro Pereira
19/10/22
Longe do Vietnã, Loin du Vietnam, 1967, Direção: Joris Ivens William
Klein Claude Lelouch
Roteiristas: Jean-Luc Godard (segment Camera-Eye) Chris
Marker(supervising writer) Jacques Sternberg (segment Claude Ridder)
Crítica | Longe do
Vietnã
por FredericoFranco, 6 de maio de 2020
A década de 1960
foi um período turbulento da história da humanidade. Cresciam as tensões entre
as potências mundiais, EUA e URSS, e grandes conflitos armados se iniciaram ao
redor do mundo. As nações mais importantes do planeta encontravam-se em
contextos políticos delicados e as massas reagem contra tiranos governos que
haviam instaurado regimes tiranos em seus países. Desde a França até o Brasil,
ocorriam importantes revoltas civis-populares que desafiavam a ordem vigente.
Dentro de uma
lógica de desobediência de duvidosas regras normativas, insurgem nos quatro
cantos do mundo movimentos cinematográficos dispostos a quebrar com paradigmas
impostos pela indústria hollywoodiana. Batizados de nouvelle vague (“nova
onda”), estas novas propostas estéticas ganharam força e popularidade. Na Ásia,
a nouvelle vague japonesa marcou época com Toshio Matsumoto; Djibril Diop
Mambéty marcou o cinema senegalês com seus inovadores filmes; já no Brasil, o
cinema novo, capitaneado por Glauber Rocha, representa uma fundamental luta
política de classes sociais no país tupiniquim. Contudo, a França é onde
reuniram-se os membros mais famosos das nouvelle vague: Jean-Luc Godard, Agnès
Varda, Alain Resnais e François Truffaut.
A partir de meados
dos anos 60 os dois primeiros diretores franceses se voltaram para uma outra
forma de crítica. Além de contrapor os paradigmas de Hollywood, inflamados pela
conjuntura social pré-maio de 68, os realizadores passaram a adotar uma postura
mais politizada em suas películas. Na companhia de Chris Marker, virtuoso
documentarista, Godard e Varda voltam suas energias para produções de forte
cunho político, tendo como principal referencial as ideias políticas de
esquerda – utilizando-se da filosofia maoísta e marxista.
Dentro dessa nova
tendência, algumas obras acabam se sobressaindo, sendo de caráter documental ou
não. Volta-se aos anos 1950 para apresentar Noite e Neblina e Guernica, ambos
assinados por Resnais, para entender um dos aspectos estudados na fase política
da nouvelle vague francesa: a denúncia de crimes de guerra. Ainda, retornando à
década de 1960, Varda realiza o excepcional Black Panthers, enquanto Godard
deixa sua marca com A Chinesa e Weekend à francesa.
O filme aqui em
questão, Longe do Vietnã, é construído a partir de diferentes visões de
diferentes diretores a respeito da brutal Guerra do Vietnã. Cada um dos
diretores resolve abordar um aspecto referente ao conflito. Enquanto, em um
trecho, são apresentados os horrores que ocorriam no Vietnã, do outro lado é
apresentada a sociedade estadunidense e as consequências sociais da batalha.
A grande maioria
das construções críticas de Longe do Vietnã são desenvolvidas por meio de um
recurso extremamente utilizado no cinema contemporâneo: o found footage. Nesse
micro-gênero experimental, o discurso está presente na ressignificação de
imagens de arquivo. Aqui, os diretores apresentam seus pontos de vista, também,
por meio de uma narração em off constante, permeando quase toda a película –
recurso que, por várias vezes, dá à obra um caráter mais historiográfico do que
analista.
Mesmo com sete
visões e focalizações distintas, o filme preza por uma unidade estilística
ímpar. A mise en scène é ponto chave para o espectador conectar-se diretamente
com o zeitgeist encontrado pelos realizadores do filme. A inquietude da câmera
e do discurso dos personagens é um perfeito simbolismo do fervor social
sessentista. A característica câmera na mão, aqui, possui apenas um momento de
descanso: durante a rápida entrevista do líder revolucionário Fidel Castro.
Aqui, o aparato fílmico se limita a contemplar a fala do presidente cubano.
Uma das mais
importantes teorias do documentários reside na URSS dos anos 1920, com Dziga
Vertov, o kino-pravda (cine-verdade) e o kino-glaz (cine-olho). Dentro dessa
estética, o diretor propunha a captura da verdade a partir de uma linguagem
livre de subjetividade e simbolismos. Contudo, a ausência de uma verdade
absoluta transforma esta vertente cinematográfica em algo completamente
utópico. E é a partir de tal constatação que se baseia que surge Longe do
Vietnã.
Os cineastas pouco
preocupam-se com uma inexistente imparcialidade no filme. Apresentam ao
espectador suas próprias verdades e opiniões, transformando a película em uma
ode a autoria. O cinema é uma arte de autor, como propunham os jovens turcos da
Cahiers du Cinéma, portanto: a sétima arte é fruto de o olhar de alguém sobre
alguma coisa. Exatamente o que ocorre no filme em questão. A questão do autor é
exposta, aqui, por meio da parcialidade do discurso dos diretores. O espectador
é levado ao universo próprio dos realizadores.
O tom de denúncia
do documentário é outro ponto forte de Longe do Vietnã. A sequência final,
filmada nos Estados Unidos da América, é, definitivamente, a mais impactante.
Com pouca interferência da narração, o público vê protestos que ocorreram nos
EUA. Lá, o discurso está presente única e exclusivamente na imagem. Com cenas
de xenofobia e racismo, somos conduzidos ao coração da burguesia estadunidense.
Ao mesmo tempo, vê-se uma efervescente juventude que luta pelos direitos dos
soldados, renunciando à violência praticada pela velha política. A simples
comparação entre aqueles que defendem o uso de napalm e os que mostram-se
contrários a isso é finalizada quando, em um rápido momento explicativo, um
entrevistado explica como funciona tal arma química. A denúncia está feita;
cabe ao espectador decidir de qual lado estará.
Neste documentário
caleidoscópico, a chave da narrativa está na sensibilidade desse. Por mais que
trate de temas delicados, os diretores dão ao espectador o juízo sobre o
conflito e os lados envolvidos. Com clara solidariedade ao povo vietnamita, não
há como tomar outro lado senão o do povo asiático. A importância social da
louvável força do Vietnã está exposta do na fala de Godard: “precisamos criar
um Vietnã dentro de nós.” Nesta outra batalha entre Davis e Golias do mundo
moderno, novamente, por meio da união popular, o subdesenvolvido vence. Longe
do Vietnã aproxima o espectador da luta vietnamita, criando empatia para com
eles. E é a própria parcialidade que constrói essa narrativa.
Longe do Vietnã (Loin
du Vietnam) – França, 1967, Direção: Jean-Luc
Godard, Agnès Varda, Alain Resnais, Chris Marker, Claude Lelouch, William
Klein, Joris Ivens, Com: Anne Bellec,
Karen Blanguernon, Bernard Fresson, Jean-Luc Godard, Ho Chi Minh, Fidel Castro
Frederico Franco
Estudante de cinema
de Porto Alegre, RS, que pretende ser professor de cinema. Ocupo meu tempo com
literatura, música e cinema. No mundo da literatura, Borges é meu padrinho; na
música, sou regido pelo sintetizador de Charly García; e, junto de Michael Snow
e Michelangelo Antonioni, caminho pelo mundo do cinema.
Guerra do Vietnã
Norman Morrison
Morrison levou sua filha Emily, então com um ano de idade, para o
Pentágono, e ou a colocou para baixo ou entregou-a a alguém na multidão antes
de se incendiar. As razões de Morrison para levar Emily não são inteiramente
conhecidas
20//10/22
Reinado do Terror, Terror in a Texas Town, 1958, Joseph H. Lewis
No iutubi aqui
Reinado do terror - resenha
22/10/22
Um Homem Dificil de Matar, Monte Walsh, 1970, William A. Fraker
No iutubi
aqui
Sobre Lee Marvin (1924–1987)
Sobre Jeanne Moreau(1928–2017)
Na fase final do Velho Oeste, um grupo de cowboys liderado por Monte
(Lee Marvin) enfrenta o envelhecimento e a falta de oportunidade oriunda do
desuso de sua profissão. Longe da liberdade que almejam, eles enventualmente
decidem se separar para tentar recomeçar suas vidas longe dali. Adorocinema
23/10/22
A Guerra dos Botões, War of the Buttons, 1994, John Roberts
No iutubi
aqui
Grupos rivais de crianças se preparam para uma guerra, na qual o troféu
são os botões dos adversários. Mentiras, amizades, lealdade e traições fazem
parte de um conflito que preocupa os pais, professores e policiais. Refilmagem
do clássico francês de 1961, baseado na obra de Louis Pergaud. Filmow