Escolas de SP reveem regras para afastar alunos após caso de covid na turma
Secretário Rossieli e colégios particulares dizem que o protocolo agora é de isolar apenas o aluno infectado
Renata Cafardo, O Estado de S.Paulo, 03 de fevereiro de 2022
Em uma tentativa de não inviabilizar a volta às aulas neste terceiro ano de pandemia, escolas públicas e particulares de São Paulo têm flexibilizado os protocolos no combate à covid-19. Nesta quarta-feira, 2, primeiro dia de aulas da rede estadual, o secretário de educação Rossieli Soares disse que a orientação é “não fechar mais turmas por conta de um ou dois casos e observar se é caso de surto”. Colégios privados de elite também mudaram suas diretrizes para ter menos interrupções.
O Colégio Santa Cruz, na zona oeste, mandou nesta quarta-feira novas orientações para os pais sobre suspensão de turmas. Diferentemente do que ocorria até então, o grupo ficará isolado só “a partir do 2º caso positivo na mesma sala, em um período de 7 dias”, diz o comunicado.
Segundo o diretor do Santa Cruz, Fabio Aidar, a mudança foi decidida pela direção depois de avaliação do comitê de saúde que tem a participação dos especialistas Caio Rosenthal e Mário Scheffer. Seguindo as novas recomendações do Ministério da Saúde, o comunicado diz ainda que "o retorno pode ser antecipado para o 6º dia mediante testagem negativa a partir do 5º dia, desde que não apresente sintomas".
“O que sabemos é que contaminação das crianças se dá em casa e atividades sociais e não na escola, se todos os cuidados forem usados, higiene, máscara, ventilação”, diz o coordenador da saúde escolar do Hospital Sírio Libanês, Ricardo Fonseca. Na consultoria que o hospital faz para escolas, há a recomendação também de não afastar uma turma após o primeiro caso de covid. “A gente acompanha, monitora, para não fechar sem motivo e prejudicar o ensino.”
Segundo Rossieli, as turmas só serão isoladas na rede estadual se houver surto. “Vai ser analisado caso a caso, vamos avaliar quais são os contactantes”, disse. “O maior risco para a criança é ficar fora da escola”.
O Colégio Vera Cruz, também na zona oeste, tem a mesma postura. “No ano passado, em todos os casos de covid, não houve transmissão interna. Ainda mais considerando o contexto diferente da pandemia, com alunos vacinados e ausência de restrições de circulação”, diz a diretora Regina Scarpa. No Colégio Itatiaia, que tem oito unidades, a turma vai para a casa quando há mais de dois casos. “Se apenas uma ou duas crianças testarem positivo, elas são afastadas e poderão fazer as atividades na plataforma, mas não vai haver a aula em tempo real”, afirma a diretora Adriana Iassuda Nogueira.
As escolas têm levado em consideração pesquisas que mostraram que a educação não é uma área em que há grande trasmissão de covid, desde que mantidos os protocolos. Diferentemente de ambientes como bares, restaurantes e festas, por exemplo.
Organismos internacionais também têm alertado para os prejuízos das crianças fora da escola ou com ensino remoto durante a pandemia no mundo todo. Pesquisa divulgada recentemente pela Unesco em 11 países mostrou que mais de 50% dos professores consideraram que os estudantes não avançaram para os níveis esperados nesse período. Há ainda alertas para graves perdas emocionais e sociais.
Rossieli diz que é preciso dois sintomas para faltar à escola
No Colégio Bandeirantes, quando aparece um segundo caso de covid numa sala, há uma avaliação com a equipe consultora do Sírio para decidir o que fazer. No primeiro infectado, a sala permanece. Segundo o presidente da Associação Brasileira de Escolas Particulares (Abepar), Artur Fonseca Filho, a tendência agora é que as escolas não migrem imediamente para o online quando há um infectado. O colégio deve acompanhar o aluno, mas o restante da turma continua. "Neste começo de ano, as crianças estão ainda conhecendo o professor, uma interrupção pode ser um desastre", diz.
O epidemiologista Wanderson Oliveira, que fez parte do Ministério da Saúde e assessora escolas, acredita que o conhecimento adquirido nesses dois anos de pandemia levou à mudança de protocolos. “Não há mais sentido colocar toda a sala de aula em isolamento. Quando se identifica o primeiro caso sintomático ou contato de sintomático (pais infectados), é o melhor momento da testagem da sala. Caso não esteja disponível a testagem, se isola o caso sintomático”, diz. Para ele, a vacinação dos profissionais, crianças e adolescentes, a manutenção do uso de máscaras e a higienização ajudaram a mudar o quadro. “A escola é um ambiente seguro.”
Em janeiro, houve explosão da demanda por testes com o espalhamento da variante Ômicron no País. Muitas prefeituras ficaram sem estoque, hospitais privados e farmácias tinham fila para a testagem.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou na sexta-feira, 28, a liberação de autotestes de covid-19 no Brasil. A expectativa de entidades do setor é de que o produto chegue ao mercado só em março - é preciso ainda que cada empresa interessada peça à Anvisa registro de seus produtos.
Por causa da escassez de testes e valor alto na rede privada, alguns especialistas acreditam que é mais seguro afastar todos que tiveram contato com a pessoa infectada. Cleber de Moraes Motta, consultor médico de projetos em saúde do Hospital Albert Einstein, diz que o grupo de alunos só não precisa ser isolado se o colega ou professor que testou positivo não esteve na escola dois dias antes ou até 10 dias após o início dos sintomas.
Rossieli ainda afirmou nesta quarta-feira, 2, que as crianças e os professores não devem deixar de ir à escola quando tiverem apenas um sintoma relacionado à covid. “Não pode ser, estou com dor de cabeça, então eu sou sintomático de covid, não, não é. Eu tenho dois sintomas daqueles que são ditos como da covid, aí você não deve ir obviamente à escola, especialmente até fazer o teste.
O coordenador do centro de contingência ao coronavírus do governo de São Paulo, Paulo Menezes, concordou com o secretário Rossieli em coletiva. “Dois sintomas são necessários para levantar suspeitas e fazer isolamento e testagem, alguns sintomas são tão inespecíficos que as pessoas apresentam por diversas razões.” Os protocolos das escolas, no entanto, feitos sob orientação médica, reforçam aos pais desde o início da pandemia que deixem os filhos em casa ao primeiro sinal de sintoma.
No exterior, muitos países deixaram de determinar o isolamento de turmas que tenham casos de covid. Segundo o protocolo do Reino Unido, crianças acima de 5 anos que tiveram contato com alguém infectado devem fazer testes diariamente durante 7 dias e “continuar a ir para a escola, a não ser que teste positivo”. Os alunos não precisam ficar em bolhas separadas nem usar máscaras. Os testes são disponibilizados gratuitamente pelo governo. Além disso, professores e estudantes mais velhos precisam fazer auto-testes em casa regularmente, com intervalos de 3 a 4 dias.
Nos Estados Unidos, os auto-testes passaram recentemente a serem altamente recomendados em caso de colegas de alunos infectados com covid. O Centers for Disease Control (CDC), órgão de controle de doenças no País, recomendou a política chamada test-to-stay (teste para ficar) nas escolas. Ela substituiu as quarentenas impostas no passado às crianças que estudavam numa mesma sala de um colega infectado. Os Estados fornecem testes gratuitamente, mas já há casos de falta de produtos. /COLABOROU RENATA OKAMURA
Em um mês, Ômicron faz média de mortes por covid subir 566% no Brasil
Média avançou nesta quarta-feira a 653 óbitos diários, ante 98 no início de janeiro; expectativa é de que o avanço em óbitos, internações e novos casos continue pelas próximas duas semanas
João Ker e Emílio Sant'Anna, O Estado de S.Paulo, 03 de fevereiro de
Apesar de considerada menos letal, a variante Ômicron do coronavírus fez a média móvel de mortes pela doença aumentar 566% no último mês, saltando de 98 para 653 óbitos diários nesta quarta-feira. Mesmo com mais de 70% da população brasileira já imunizada com duas doses ou a vacina de aplicação única, a alta transmissibilidade da cepa tem aumentado as internações em leitos de enfermaria e UTI, enquanto gestores de saúde apontam que a maioria dos quadros graves está concentrada em idosos, pessoas com comorbidades e não vacinados.
“A subida foi bem lenta na primeira (onda), rápida na segunda e meteórica com a Ômicron”, explica Luiz Carlos Zamarco, secretário adjunto de Saúde de São Paulo. “A partir daí, a curva de internações e infecções se estabilizou, com casos de menor complexidade, o que facilitou o giro de leitos”, diz. “Hoje temos de maneira clara que podemos estar muito próximos do chamado platô, para que entre 15 e 20 de fevereiro haja estabilidade”, explica o secretário municipal de Saúde, Edson Aparecido. Segundo ele, um terço dos óbitos pelo coronavírus é de pessoas que não completaram o esquema vacinal. O restante ele atribui a pacientes com alguma comorbidade grave, cujo quadro é agravado pela covid.
Esse é o mesmo perfil dos óbitos que têm impulsionado a média móvel da Bahia. Nesta quarta, o Estado registrou 45 mortes por covid, o maior total diário desde 7 de agosto – e a média móvel de casos ativos e novas notificações gira em torno dos 30 mil, o maior patamar de toda a pandemia. “Temos mais casos, porém um quarto dos óbitos de março do ano passado”, observa Izabel Marcílio, coordenadora de Operações de Emergência.
O cenário se repete no Distrito Federal, onde a letalidade é menor, mas a alta nas transmissões tem pressionado as unidades de atendimento primário e desfalcado equipes médicas. “Essa característica avassaladora de transmissibilidade é sem precedentes”, diz Fernando Erick Damasceno, secretário adjunto de Saúde. Dos 40 óbitos por covid deste ano, Damasceno afirma que 34 foram em pessoas que não completaram o esquema vacinal.
No Mato Grosso do Sul, a onda de transmissão tem forçado o Estado a abrir novos leitos para dar conta da demanda. Cerca de 30% dos profissionais da saúde se infectaram com a nova variante. “Para um Estado pequeno como o nosso, isso é muito”, diz Geraldo Resende, secretário estadual de Saúde.
Incerteza
Em todos os Estados, a expectativa é de que esse aumento em óbitos, internações e novos casos permaneça pelas próximas duas semanas, até atingir um platô. Mas isso não significaria o fim da pandemia. “Estaríamos mais uma vez vencendo uma etapa, fazendo com que todas as pessoas sejam atendidas e medicadas”, frisa Aparecido.
A incerteza se explica pela ausência de parâmetros como a taxa de positividade, explica Isaac Schrarstzhaupt, analista de dados e coordenador na Rede Análise Covid-19, formada por pesquisadores voluntários. Essa taxa é obtida quando se divide o número de testes positivos pelo número de testes realizados. “Isso permite prever a tendência do comportamento da doença. Se tivéssemos, poderíamos apostar no pico ou no platô”, diz. No País, porém, a testagem é baixa
Para a epidemiologista e professora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) Ethel Maciel, a desigualdade nos índices de vacinação entre os Estados é outro fator a dificultar predição. “Acredito que em alguns Estados como o Rio já passamos pelo pico, mas há uma diferença de desenvolvimento da Ômicron e da vacinação pelo País de pelo menos de duas a três semanas”, afirma. “Acabamos olhando para dados de outros países em que essa variante levou de 25 dias a 45 dias para atingir o pico.”
A falta de investimentos federais em campanhas de divulgação da necessidade de reforço na vacinação também não contribui, diz a epidemiologista . “A gente já sabia que seria preciso a dose de reforço para essa variante e ainda estamos muito atrás, com porcentual muito baixo quando comparado com outros países como o Reino Unido e a Dinamarca, que começam a retirar as restrições”, afirma.
Síndrome Respiratória Aguda Grave
O diagnóstico do Infogripe, da Fiocruz, divulgado ontem, também não é animador. Os casos de síndrome respiratória aguda grave (SRAG) têm sinal forte de crescimento nas tendências de longo prazo (seis semanas) e de curto prazo (três semanas). Essa tendência deve se manter em 23 Estados brasileiros. Do total, quase 80% dos casos neste ano são decorrentes da covid-19.
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