Morre o cineasta Arnaldo Jabor aos 81 anos
Diretor de filmes como 'Toda Nudez Será Castigada' e ' Eu Sei Que Vou Te Amar', Jabor estava internado desde de dezembro, após sofrer um AVC
Ubiratan Brasil, O Estado de S.Paulo, 15 de fevereiro de 2022
O cineasta Arnaldo Jabor morreu na madrugada desta terça-feira, 15, em São Paulo. Ele completou 81 anos no dia 12 de dezembro e estava internado no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, desde o dia 16 de dezembro, depois de um acidente vascular cerebral (AVC) isquêmico. Em comunicado, o hospital informou que o cineasta chegou a ser submetido a um procedimento vascular para desobstrução de coágulo. No final de dezembro, outro comunicado dizia que Jabor estava consciente e se recuperando.
Cineasta que alcançou reconhecimento de público e crítica no final dos anos 1960, ainda sob os ecos do Cinema Novo, Jabor nasceu no Rio de Janeiro, em 1940, filho de um oficial da Aeronáutica e de uma dona de casa. Apesar de conhecido como diretor de filmes fundamentais, como Toda Nudez Será Castigada, ele também trabalhou como técnico de som, crítico teatral, roteirista e colunista de jornais e televisão.
Seu primeiro longa foi um documentário inovador, Opinião Pública (1967), em que realiza uma prospecção da mentalidade da classe média brasileira. Já nos anos 1970, com o aperto da censura política e social promovida pelo regime militar, envereda por caminhos metafóricos, como em Pindorama (1970), cujo excesso de barroquismo foi admitido por ele mesmo, anos depois.
Em 1973, dirige um de seus grandes filmes, Toda Nudez Será Castigada, a partir da peça de Nelson Rodrigues, ácida crítica à hipocrisia da moral burguesa e seus costumes. Dois anos depois, lança O Casamento, também adaptação da obra de Nelson, em que flertou com o grotesco e o histérico, sem, contudo, atingir a maestria do longa anterior. Com Tudo Bem (1978), inicia a chamada Trilogia do Apartamento, em que investiga novamente as contradições da sociedade brasileira, agora com forte ironia, especialmente as famílias vitimadas pelo fracasso do milagre econômico.
Eu sei que vou te amar 1986 - Trailer
No início da década de 1990, com o fim do fomento estatal para a produção cinematográfica patrocinado pelo governo Collor, Jabor iniciou um longo período sem filmar, momento em que alcançou grande sucesso popular como comentarista de jornais como Estadão, Folha e Globo, além de aparições constantes nos noticiários da TV Globo e participação no programa Manhattan Connection, da GloboNews.
O estilo irônico e libertário com que comentava as notícias lhe rendeu admiradores, mas também detratores, especialmente na política. Retomou a carreira de cineasta em 2010 com A Suprema Felicidade, filme em tom de memória, mas não pessoal: uma trajetória inventada com o que Jabor fez um retrato do Rio de Janeiro da sua infância.
Enveredou também pela música, assinando, ao lado de Rita Lee e Roberto de Carvalho, a canção Amor e Sexo (2003). Retomou a carreira de cineasta em 2010 com A Suprema Felicidade, filme em tom de memória, mas não pessoal: uma trajetória inventada com o que Jabor fez um retrato do Rio da sua infância. Deixou ainda um filme pronto, Meu Último Desejo, baseado em conto de Rubem Fonseca e protagonizado por Michel Melamed.
Nenhum comentário:
Postar um comentário