O texto abaixo de A Gazeta corresponde a um relato quase institucional e ufanista dos 70 anos da UFES. Tem um pecado original. Não cita uma referência essencial sobre o tema: Ivantir Antônio Borgo, “UFES: 40 anos de história”, 2ª edição, EDUFES, 2014. Um livro essencial. O único registro histórico sobre a UFES, publicado em 1995 (1ª edição) . Disponível aqui
Quando dos 66 anos publiquei neste blog UFES (1954 – 2020), perdas e ganhos numa perspectiva histórica e crítica sobre a UFES. Mas a matéria de A Gazeta tem seus méritos. Dá um panorama atualizado da universidade.
No final tem a história de Emília Frasson Manhães, a primeira mulher a se formar na UFES (Engenharia Civil) numa área dominada por homens. Ela se formou em 1960. Tem o seu depoimento. Está com 94 anos
Aline Nunes, A Gazeta, 03/05/2024
Responsável pela formação de profissionais das mais diversas áreas e com significativa contribuição para o desenvolvimento econômico e social do Estado, a Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) completa, no próximo domingo (5), 70 anos de atividades. A princípio, tratava-se de uma instituição estadual, mas logo foi federalizada. Ao longo dessas sete décadas, grandes transformações aconteceram, não apenas para quem por lá estudava, mas para toda a sociedade.
Para marcar o começo dessa história, é curioso observar que, após movimentações políticas, no ano de 1954 foi criada, oficialmente, a Universidade do Espírito Santo, porém ela reunia faculdades que já funcionavam na região central de Vitória. O campus de Goiabeiras, que hoje conta com sete centros de ensino, só começou a ser vislumbrado 12 anos depois, quando a Ufes obteve a desapropriação da área do então Victoria Golf & Country Club para a sua construção.
Em 1968, as antigas escolas e faculdades que integravam a universidade foram extintas e transformadas em centros de ensino. Então, estima-se que a inauguração tenha sido entre os anos de 1968 e 1970.
Atualmente, a Ufes tem quatro campi — Goiabeiras e Maruípe, em Vitória; São Mateus, no Norte; e Alegre, no Sul — e oferece 109 cursos de graduação, seis dos quais a distância, e 100 de pós-graduação (mestrado e doutorado). Todos gratuitos. Há ainda programas de pesquisa, projetos desenvolvidos para a comunidade, espaços culturais abertos ao público, atendimento em saúde pelo SUS com os serviços do Hospital Universitário Cassiano Antonio de Moraes (Hucam). Difícil citar todos. Então, neste levantamento feito por A Gazeta, foram reunidos 70 fatos, número que simboliza o aniversário da universidade. Confira um pouco dessa trajetória.
História
1. Uma ideia - Na década de 1950, começou a ser idealizada a criação de uma universidade no Espírito Santo. Era uma das prioridades do governador Jones dos Santos Neves. Naquele período, haviam sido criadas diversas faculdades, tais como a Escola Politécnica, a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, e a Escola de Belas Artes, em 1951; o Instituto de Música, em 1952; e a Faculdade de Odontologia, a Escola de Auxiliares de Enfermagem e o Instituto de Tecnologia, em 1953.
2. Ensino público - Mas o governador planejava uma universidade pública que oferecesse formação em várias áreas do conhecimento e, então, decidiu reunir instituições de ensino. Ainda em 1953, foi instituído o Conselho do Ensino Superior, que preparou um anteprojeto de lei propondo a criação da universidade.
3. Tramitação - A proposta foi encaminhada para a Assembleia Legislativa em janeiro de 1954. Na sessão de 20 de abril daquele ano, o projeto foi aprovado. Na sequência, foi sancionado por Santos Neves e transformado em lei no dia 5 de maio de 1954. Estava, então, criada a Universidade do Espírito Santo.
4. No começo - A nova universidade era composta pelas faculdades de Filosofia, Ciências e Letras, de Odontologia, de Química Industrial e Farmácia, Politécnica, de Música, de Belas Artes, de Educação Física, e de Medicina – esta foi instalada em 1960. A Faculdade de Ciências Econômicas foi criada em 1957, por meio de decreto estadual, e incorporada à universidade em 1961. No mesmo ano, também foi incorporada a Faculdade de Direito, fundada em 1930, e federalizada em 1950.
5. Federalização - Com dificuldades para se manter, entre outras razões, pela falta de investimentos, houve mobilizações políticas para federalizar a universidade. Até que, em 30 de janeiro de 1961, o presidente Juscelino Kubitschek, em um ato administrativo, sancionou a mudança, já aprovada no Congresso Nacional. Nascia a Universidade Federal do Espírito Santo.
6. Centros de ensino - Em 1968, as escolas e faculdades que integravam a Ufes são transformadas em oito centros de ensino: Agropecuário; Artes; Biomédico; Ciências Jurídicas e Econômicas; Educação Física e Desportos; Estudos Gerais; Pedagógico; e Tecnológico.
7. Interiorização - A interiorização da Ufes foi iniciada em 1976, com a criação do Centro Agropecuário (Caufes), nos municípios de Alegre e São José do Calçado, no sul do Espírito Santo, e da Coordenação Universitária do Norte do Espírito Santo, nos municípios de São Mateus e Nova Venécia.
Estrutura
8. Campi - Atualmente, a Ufes tem quatro campi: Goiabeiras e Maruípe, em Vitória; São Mateus, no Norte; e Alegre, no Sul do Espírito Santo. Cada campus é dividido em centros de ensino. Agora, são 11.
9. Estruturação - Entre 1981 e 1990, foram inaugurados, no campus de Goiabeiras, o Restaurante Universitário, a Biblioteca Central, o atual prédio da Reitoria e o Núcleo de Processamento de Dados (atual Superintendência de Tecnologia da Informação). Esse campus tem 140 edificações.
10. Oferta - A universidade oferece ensino de graduação presencial e a distância, e de pós-graduação (mestrado e doutorado acadêmico e profissional), e mantém cerca de 25 mil estudantes nessas modalidades.
11. Servidores - Dos 4.042 servidores de carreira — técnico administrativo em educação, professor e outras categorias — 43,44% têm doutorado, 20% têm especialização e 18% têm mestrado.
12. Equipamentos - A Ufes dispõe de vários equipamentos culturais, como galerias de arte, museu, teatro e cinema, com atividades voltadas para o público interno e externo.
13. Comunicação - A Rádio Universitária, sintonizada no dial 104.7, entrou no ar em 1985. Já a TV da Ufes foi criada no ano 2000.
14. Recursos - O Orçamento da Ufes tem sido arrochado ao longo dos anos. Na última década, o maior valor foi registrado em 2015, quando foram destinados R$ 232 milhões para a instituição. No ano seguinte, caiu para R$ 152,8 milhões. De lá para cá, a redução foi gradativa, chegando ao pior resultado em 2021 (R$ 102,29 milhões). Houve uma leve recuperação em 2023 (R$ 135,2 milhões), mas nova queda neste ano, com previsão de R$ 122,41 milhões para custeio e investimentos.
15. Implantação - A Ufes coordenou, em 2003, o processo de implantação da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), com sedes nos Estados de Pernambuco, Bahia e Piauí.
16. Adesão - A Ufes aderiu ao Sistema Universidade Aberta do Brasil (UAB), do Ministério da Educação (MEC), em 2006. Um ano depois, a Ufes também passou a integrar o Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni).
17. Veterinário - Já em 2008, a Ufes inaugurou o Hospital Veterinário, o único de instituição pública do Estado, no campus de Alegre.
18. Indígena - Em 2015, começou o curso de Licenciatura Intercultural Indígena, para atender demandas apresentadas pelos povos Tupinikim e Guarani por formação de seu quadro de professores em nível superior, garantindo o reconhecimento de seus direitos diferenciados, a valorização de seus saberes e práticas, e sua qualificação como educadores e sujeitos políticos. A primeira turma se formou em 2022.
19. Seleção - A Ufes aprovou a utilização do Enem, como primeira etapa da seleção para ingresso na universidade, em 2013. A segunda etapa era composta de provas discursivas e redação. A Ufes aderiu integralmente ao Sistema de Seleção Unificada (Sisu), do MEC, a partir de 2018.
20. Pós-graduação - Em 1978, foi implantado o mestrado em Educação, primeiro programa de pós-graduação da Ufes. Atualmente, há 61. Já o primeiro doutorado foi em Ciências Fisiológicas, em 1993. Hoje são 39. No primeiro semestre de 2024, 2.589 alunos se matricularam em pós-graduação na Ufes.
21. Ranking - Em 2019, a Ufes passou a integrar a lista do Times Higher Education (THE), um dos principais rankings universitários do mundo, que avalia critérios como ensino, pesquisa, citações, visão internacional e transferência de conhecimento como indicadores de desempenho das universidades.
22. Padrão internacional - Em setembro de 2022, a Ufes alcançou, pela primeira vez, nota 6 na avaliação da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), referente aos programas de pós-graduação em Biotecnologia e em Política Social. O conceito 6 indica desempenho equivalente a padrões internacionais de excelência. Em dezembro do mesmo ano, após uma revisão da Avaliação Quadrienal 2017-2020 da Capes, o Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE) também recebeu nota 6.
Pioneirismo e inovação
23. Ouvidoria - No ano de 1992, foi criada a Ouvidoria da Ufes, a primeira ouvidoria pública universitária no Brasil, instituindo a função de Ombudsman.
24. Reserva de vagas - A Ufes aprovou em 2005, de forma pioneira no Brasil, a política de reserva de vagas para estudantes da rede pública e de baixa renda familiar.
25. Esportes - A Ufes inaugurou, em 2016, uma pista de atletismo de padrão internacional, a primeira do Espírito Santo.
26. Acervo único - Em 2018, foi inaugurado, no campus de Goiabeiras, o Museu de Ciências da Vida (MCV), cujo acervo é único em todo o Brasil, tornando a Ufes referência nacional em museus de anatomia e correlatos.
27. Autônomos - Iara, veículo autônomo desenvolvido na Ufes, trafegou pela primeira vez, em vias urbanas e rodovias sem intervenção humana, entre o campus de Goiabeiras e a praia de Meaípe, em Guarapari, em 2017. Dois anos depois, a Ufes, em parceria com a Embraer, conduziu o primeiro teste de aeronave autônoma no Brasil, realizado no interior de São Paulo. Dois anos mais tarde e em primeiro teste, um caminhão autônomo desenvolvido pela universidade percorreu grande parte do campus de Goiabeiras (aproximadamente 3,5 quilômetros) sem motorista.
Parcerias
28. Planetário - Instalado no campus de Goiabeiras em 1995, em parceria com a Prefeitura de Vitória, o planetário funciona como um laboratório de ensino e difusão científica, de forma integrada à comunidade.
29. Pesquisa - Em 2004, foram iniciadas as operações no Laboratório de Pesquisa e Desenvolvimento de Metodologias para Caracterização de Óleos Pesados (LabPetro), resultado de uma parceria entre a Ufes e a Petrobras e um dos mais importantes complexos de pesquisa do mundo na área de química do petróleo.
30. Prefeituras - Após seis anos do início do curso de graduação, foi inaugurada, em 2006, a Base Oceanográfica, em Aracruz, por meio de parceria com a prefeitura do município. Outra parceria foi estabelecida com a Prefeitura de Jerônimo Monteiro, que doou uma área de 55 mil metros quadrados, transformada em Unidade Experimental Florestal do campus de Alegre.
31. Intercâmbio - No mesmo ano, iniciou-se o Acordo de Cooperação Acadêmica entre a Ufes e a Universidade de Coimbra (Portugal), a fim de manter intercâmbio de estudantes, docentes e pesquisadores.
32. Patente - Em 2018, a Ufes obtém sua primeira patente concedida pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi): Resina supressora de pó de minérios e uso da resina, em parceria com a Vale. A invenção permite obter a resina supressora do pó de minério por meio da reciclagem química do polímero termoplástico Poli (Tereftalato de Etileno) ou PET.
Extensão
33. Saúde - O primeiro programa de extensão da Ufes, intitulado “Promoção de Cuidados Primários de Saúde em uma Comunidade”, foi criado em 1984 e ainda está em funcionamento.
34. Plataforma - No ano passado, foi lançada a Plataforma Moocqueca, que abriga cursos livres e de curta duração no formato Massive Online Open Courses (Mooc), voltados para a atualização profissional e abertos ao público do Brasil e do exterior.
Alimentação
35. Refeições - O Restaurante Universitário (RU) foi inaugurado em 1º de março de 1968, no Centro de Vitória, e chegou a fornecer no período 1.200 refeições diárias. A construção do prédio central, no campus de Goiabeiras, só foi iniciada 11 anos depois.
36. Ampliação do RU - Em 2008, foi criado o Plano Nacional de Assistência Estudantil (Pnaes) para apoiar a permanência de estudantes de baixa renda nas instituições federais de ensino superior. Entre as medidas adotadas, com recursos da nova iniciativa, foi a ampliação do restaurante da Ufes, o que permitiu aumentar a oferta de assentos e refeições.
37. Isenção - A alimentação adequada, como estratégia de permanência universidade, ganhou um reforço com a criação do benefício RU-Ufes em 2023. Além dos alunos cadastrados no Programa de Assistência Estudantil (Proaes) já contemplados com isenção, estudantes de graduação presencial, com renda familiar bruta mensal per capita média de até dois salários mínimos, passaram a ter concessão de subsídio de 100% do valor cobrado para acesso ao restaurante.
Estudantes
38. Cursos de A a Z - De Administração a Zootecnia, a Ufes oferta 109 cursos de graduação — 103 presenciais.
39. Matrículas - No primeiro semestre de 2024, 17.918 alunos se matricularam. Desses, 50,38% eram pretos e pardos, 47,44% brancos, 0,65% amarelos e 0,11% indígenas.
40. Faixa etária - A maioria dos alunos se concentra na faixa de 18 a 24 anos. Eles representam 63,28% dos estudantes. Mas há também uma parcela que ainda não entrou na maioridade (0,57%) e uma turma dos mais de 50 anos (1,87%).
41. Gênero - Mais da metade dos universitários se identifica pelo gênero feminino. As mulheres representam 57,02% dos matriculados na Ufes.
42. Assistência estudantil - O número de alunos assistidos na Ufes chegou a 4,9 mil no primeiro semestre de 2023. Boa parte dos auxílios é para permanência dos estudantes na instituição.
43. Bolsas - A Ufes concedeu 2.357 bolsas em 2023, algumas ligadas a entidades, como Sebrae, Fapes e CNPq.
44. Intercâmbio - A Ufes tem 157 alunos estrangeiros, de mais de 30 nacionalidades (das Américas, Europa, Ásia e África), em turmas de cursos de graduação, mestrado e doutorado.
45. Expansão - O Reuni foi implementado em Maruípe. O Centro de Ciências da Saúde aderiu ao programa, em 2014, resultando na criação de quatro cursos: Fisioterapia, Fonoaudiologia, Nutrição e Terapia Ocupacional. O CCS ainda oferece graduação em Enfermagem, Farmácia, Medicina e Odontologia.
46. Nome social - Estudantes da Ufes passaram a exercer, em 2014, o direito de uso e de inclusão do nome social nos registros acadêmicos, sempre que o nome civil não refletir a identidade de gênero ou implicar algum tipo de constrangimento.
Educação a Distância (EaD)
47. Oferta - Em 2001, foi criado o Núcleo de Educação Aberta e a Distância (Ne@ad), atual Superintendência de Educação a Distância (Sead), e o primeiro curso na modalidade EaD, o de Pedagogia.
48. Graduação - Há seis cursos com 517 estudantes.
49. Gênero - Assim como nos cursos presenciais, as mulheres representam a maioria dos estudantes: são 397 estudantes do gênero feminino.
50. Etnia - Os negros (pretos e pardos) somam 317 estudantes na EaD, isto é, 61,31% dos matriculados. O grupo é formado, ainda, por 186 brancos, seis amarelos e oito que não declararam etnia.
51. Faixa etária - A maioria dos alunos tem entre 36 e 40 anos. Nessa faixa etária, são 111 estudantes, mas há universitários na EaD de 20 a mais de 50 anos.
52. Especialização - Há, ainda, 539 alunos em quatro cursos de especialização lato sensu EaD.
Inclusão
53. Reserva de vagas - Em 2008, a Ufes implementou um sistema próprio de reserva de vagas contemplando, exclusivamente, estudantes egressos de escolas públicas que possuíam renda familiar de até 7 salários mínimos mensais. Naquele ano, 40% das vagas de cada curso de graduação foram reservadas, mas a meta era alcançar 50% em até dois anos. Na primeira seleção, 1,3 mil alunos ingressaram na Ufes pelo programa.
54. Secretaria - No mesmo ano, foi criada a Secretaria de Inclusão Social para promover a permanência e o bom desempenho acadêmico dos estudantes de origem popular.
55. Substituição - A iniciativa própria de reserva de vagas foi substituída, em 2012, pela Lei Federal 12.711, por meio da qual a Ufes reservou, em cada processo seletivo para ingresso nos cursos de graduação, por curso e turno, 50% de suas vagas para estudantes que tivessem cursado integralmente o ensino médio em escolas públicas.
56. Nova inclusão - Alteração da Lei n. 12.711, em 2018, estabelece a inclusão, por curso e turno, da subcategoria de reserva de vagas para pessoas com deficiência, em proporção igual à proporção respectiva na população do Espírito Santo, onde está instalada a Ufes.
57. Pós-graduação - Programas de pós-graduação stricto sensu da Ufes passaram a adotar, em 2021, o sistema de cotas para pessoas negras, com deficiência e alguns estendem a reserva para pessoas trans (travestis, transexuais e transgêneros) e refugiados políticos, conforme os critérios de cada programa. Em abril de 2024, foi aprovada resolução que institui a Política de Ações Afirmativas nos cursos e programas de pós-graduação da Ufes. As vagas serão reservadas em todas as seleções para mestrado e doutorado.
58. Mais acesso - Em 2023, foi criada a Secretaria de Inclusão Acadêmica e Acessibilidade (Siac), a fim de contribuir para o avanço das políticas de inclusão.
59. Concurso - Também no ano passado, o Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão da Ufes regulamentou a oferta de vagas nas modalidades de reserva (20% para pessoas pretas e pardas e de 20% para pessoas com deficiência) em concursos públicos para os cargos efetivos da carreira do Magistério Federal e em processos seletivos para contratação temporária de professores substitutos e visitantes.
Entidades
60. Servidores - A Associação dos Servidores da Ufes (Asufes) é criada em 1977, que passou a se chamar Sindicato dos Trabalhadores da Ufes (Sintufes), em 1992.
61. Professores - Em 1978, foi criada a Associação dos Docentes da Ufes (Adufes).
62. Estudantes - Naquele mesmo ano, foi reconstituído o Diretório Central dos Estudantes da Ufes (DCE), que havia sido extinto pela ditadura militar.
63. Aposentados - Em 1985, é criada a Associação dos Aposentados da Ufes (Asaufes).
Hospital Universitário
64. Criação - O prédio original do Hospital Universitário Cassiano Antônio de Moraes (Hucam) foi fundado na década de 40 como um sanatório para atender a um problema de saúde específico, a tuberculose. Com o surgimento de novas tendências terapêuticas para o tratamento dos pacientes, a internação deixou de ser necessária, e o chamado Sanatório Getúlio Vargas transformou-se em 20 de dezembro de 1967 em Hospital das Clínicas (HC), após um acordo entre a Ufes e o governo estadual.
65. Estágio - A transformação previa que o hospital servisse de campo de estágio ao ser criado o curso de Medicina da Ufes. Em 1976, foi instalado o curso de Enfermagem da universidade, que passou a utilizá-lo também como campo de aprendizagem prática para seus estudantes.
66. Profissionais de saúde - Atualmente, é fundamental na formação dos profissionais das áreas de saúde de todos os 8 cursos de graduação que oferece, de programas de pós-graduação stricto sensu, da Residência Médica e da Residência Multiprofissional do Centro de Ciências da Saúde da Ufes. Todos os semestres, passam cerca de 800 alunos no Hucam.
67. Convênio - Em 1975, a partir de um convênio da Ufes com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), foi possível a construção de cinco novos ambulatórios, aumentando a oferta dos atendimentos à população.
68. Nome - Com a morte de Dr. Cassiano Antônio Moraes, um dos idealizadores da transformação do antigo sanatório em um espaço propício para a formação médica, a instituição conhecida como Hospital das Clínicas foi denominada “Hospital Universitário Cassiano Antônio Moraes”, em 1980.
69. Referência - O Hucam tem posição estratégica na rede do SUS e é referência em média e alta complexidades. Entre outros serviços, realiza diagnóstico e tratamento de tuberculose multirresistente, transplante de córnea, cirurgia geral e cardíaca, além de ter maternidade de alto risco, terapia intensiva neonatal e de adulto, hemodinâmica e outros atendimentos de maior complexidade. Possui vários programas e projetos que são referência no país, como o de Atenção à Saúde da Mulher, Banco de Leite, atenção às vítimas de violência sexual, realizando, também, cirurgias bariátricas.
70. Pacientes - Os pacientes são de todas as regiões do Espírito Santo e de Estados vizinhos, como de municípios do norte do Rio de Janeiro, leste de Minas Gerais e sul da Bahia. São realizadas 15 mil consultas e 800 internações por mês.
Fonte: Superintendência de Comunicação da Ufes, InfoUfes (site), Unidade de Comunicação do Hucam
Ufes 70 anos: a história da 1ª mulher formada em área dominada por homens
Aos 94 anos, Emilia Frasson Manhães relembra os desafios e as alegrias do período em que passou pela universidade
Aline Nunes, A Gazeta, 05/05/2024
De origem simples no município de Castelo, no Sul do Espírito Santo, Emilia Frasson Manhães, de 94 anos, construiu uma história de sucesso profissional. Mas o início dessa trajetória não foi fácil, tanto pela conjuntura social e econômica do período de sua juventude quanto pela ousadia de suas ambições. Na década de 1950, ela decidiu fazer Engenharia Civil, área dominada por homens. Mesmo com os desafios com os quais se deparou, foi a primeira mulher a se formar no curso na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), que, neste domingo (5), completa 70 anos de existência. Veja detalhes desta história no vídeo acima.
Depoimento de Emília Frasson Manhães
Muitas vezes chamada de "mulher-homem" porque optou por usar calça comprida durante o curso, algo incomum naquela época, Emilia Frasson lidava com o deboche de muitos colegas de turma e até a repreensão de um professor, que exigia o uso de saia em suas aulas. Mas, tendo que subir em pedras e realizar outras atividades que a deixavam exposta, a engenheira aposentada resistiu durante os cinco anos de curso com a roupa considerada inadequada.
"Sabe o que aconteceu no primeiro ano? Tinha uma matéria que chamava topografia e, na lateral do nosso prédio, tinha uma pedra alta e a gente até escorregava para subir nos nossos trabalhos práticos. Então, eu subia naquela pedra e eles (colegas da turma) queriam sempre que eu fosse na frente porque, quando eu virava, meu vestido subia e eles viam a minha calcinha. Eu passei a botar a minha calça comprida todos os dias."
Alguns estudantes também consideravam que ela, por ser mulher, não se encaixava naquele ambiente universitário. "Tinha os colegas que eu adorava, que me tratavam bem, me tratavam como igual, mas tinha os que ficavam debochando, fazendo bullying", conta.
Emilia Frasson ingressou na Ufes em janeiro de 1956 e concluiu o curso no final de 1960, isto é, dentro do tempo regular de formação em Engenharia Civil. As dificuldades que enfrentou eram, majoritariamente, por ser mulher naquela área, e não pelos conteúdos. Ao contrário, segundo afirma, houve vezes em que foi bastante elogiada por professores por seu desempenho acadêmico. "Eu era muito esforçada."
O início de tudo
O esforço sempre foi da natureza da engenheira. De uma família de oito filhos, com poucos recursos financeiros, Emilia Frasson acabou sendo criada pela avó, a quem chamava de "mama", pela descendência italiana. Na cidade, em sua época, as crianças estudavam até o ginasial (equivalente ao ensino fundamental) porque não havia escola para fazer o chamado científico — hoje ensino médio.
“Tinha curso de professora, mas eu me neguei a fazer. Eu disse que não queria ser porque professora vai para a roça. Não queria ir para a roça. Queria ir para Vitória, para o Rio de Janeiro", relembra.
Então, a avó lhe conseguiu um trabalho na loja de tecidos de um vizinho. O primeiro de uma série de atividades que realizou em Castelo. De tudo o que fazia, guardava o dinheiro. Até que a avó decidiu viajar para Minas Gerais para visitar familiares e levou a neta junto. A viagem, estimada para um mês, teve estada na casa de tios de Emilia por um ano. Por lá, também precisou trabalhar.
"Meu tio Alfredo disse: 'Vou levar Emilia na prefeitura. Tem uma vaga e vou botar ela para trabalhar.' A mama perguntou: 'Por que você não bota seus três filhos para trabalhar?' E ele respondeu: 'Meus filhos não precisam trabalhar porque o pai deles é rico. Filho de pobre tem mais é que trabalhar!' Eles me consideravam pobre porque eu morava com a mama."
Da construção de bolos a prédios erguidos
Voltando dessa longa viagem, ao parar em Vitória, Emilia Frasson soube que um primo iria se casar e se ofereceu para fazer o bolo do casamento. Ao preparar as camadas e estruturar aquele presente aos noivos, despertou para o amor à construção. Depois da primeira experiência, Emilia retornou a Castelo e passou a oferecer seus serviços como confeiteira na cidade. A cada bolo erguido, uma surpresa com as "obras" realizadas.
Nesse período, o município finalmente ganhou uma turma de científico e Emilia foi a primeira a se inscrever para voltar a estudar. Depois, com o dinheiro que guardou, se mudou para Vitória.
Emilia foi morar em um pensionato de freiras no Parque Moscoso e, para se manter na Capital, começou a trabalhar como secretária no curso de Odontologia da Ufes. Mas ela queria chegar à Engenharia e guardava na memória uma conversa com o primo que se casou e para quem fez o primeiro bolo.
"Quando o meu primo falou que ia abrir o curso de Engenharia, eu ainda não tinha feito científico, não sabia nada. Perguntei o que engenheiro fazia e ele disse que constrói casa, faz isso, faz aquilo. Ele era advogado, mas tinha conhecimento, morava na Capital. Ele me perguntou se eu gostava de matemática e falei que adorava. Então, disse: 'Você devia fazer Engenharia'. E eu fui para casa com aquilo na cabeça. Comecei fazendo uma catedral (no bolo), uma boneca. Foi aí que começou a Engenharia."
Já em Vitória, Emilia fez o vestibular e foi aprovada. Outras duas jovens também passaram na seleção, mas não se mantiveram no curso, que era ofertado em um prédio na região de Maruípe, onde atualmente funciona a Casa do Cidadão, e cujo bairro hoje é chamado "Engenharia". O campus de Goiabeiras, o primeiro a ser implementado pela Ufes, ainda não existia.
Mesmo com os contratempos impostos, a engenheira aposentada não tem dúvidas: "Foi maravilhoso". Foi a época em que eu mais vivi feliz!"
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