quarta-feira, 22 de maio de 2024

Palestina já

Europeus reconhecem estado da Palestina e Israel retira diplomatas

Jamil Chade, UOL, 22/05/2024

 
18.out.2023 - Menino agita bandeira palestina enquanto manifestantes enfrentam soldados israelenses durante um protesto em Ramallah, na Cisjordânia Imagem: Thomas Coex/AFP

Num gesto coordenado e politicamente de grande impacto, os governos da Irlanda, Noruega e da Espanha começam a anunciar nesta manhã o reconhecimento da independência e soberania do estado palestino. O gesto deve ser seguido por outros países europeus, como a Eslovênia e Malta.
A lógica do anúncio é a de relançar a ideia de que a paz no Oriente Médio apenas poderá ocorrer com o estabelecimento de uma solução a dois estados. Se o projeto por anos era a única saída para a crise, críticos alertam que Israel fez de tudo para inviabilizar a existência de um estado palestinos nos últimos meses.

Jonas Gahr Store, primeiro-ministro da Noruega, foi o primeiro a fazer o anúncio e explicou que o reconhecimento tem como meta atingir a paz na região. Segundo ele, a solução a dois estados é de "interesse de Israel" também. No caso de Oslo, o reconhecimento começa a valer a partir do dia 28 de maio.

Instantes depois, Pedro Sanchez, presidente do governo espanhol, também anunciou nesta quarta-feira o reconhecimento palestino. "Pedimos um cessar-fogo. Mas não é suficiente. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu se faz de surdo e continua castigando a população palestina", disse, diante do Parlamento espanhol. "O que está claro é que Netanyahu não tem um projeto de paz. Lutar contra o Hamas é legítimo. Mas sua operação coloca a solução de dois estados em sério perigo. O que faz apenas amplia o ódio", criticou.

Sanchez anunciou, portanto, que vai aprovar o reconhecimento da Palestina também no dia 28 de maio. "Só há uma solução: a criação de dois estados", disse, insistindo que isso não significa o reconhecimento ou apoio ao Hamas. "Tomamos essa decisão por paz, por justiça e por coerência", explicou. "A comunidade internacional tem uma dívida histórica com o povo palestino", insistiu, lembrando de como as resoluções da ONU contra Israel foram ignoradas.

Israel convoca embaixadores para "consultas urgentes"

Não por acaso, a iniciativa dos europeus está sendo duramente atacada por Israel, que alega que os governos do Velho Continente estarão dando força ao Hamas ao agir desta forma. Imediatamente após o anúncio, o governo de Benjamin Netanyahu anunciou que está convocando de volta para Tel Aviv seus representantes na Irlanda e Noruega.
"Estou enviando uma mensagem clara à Irlanda e à Noruega: Israel não recuará contra aqueles que minam sua soberania e colocam em risco sua segurança", disse o ministro das Relações Exteriores, Israel Katz. "Israel não vai aceitar isso em silêncio - haverá outras consequências graves. Se a Espanha concretizar sua intenção de reconhecer um Estado palestino, uma medida semelhante será tomada contra ela", completou.

O Ministério das Relações Exteriores de Israel alertou que o reconhecimento "levaria a mais terrorismo, instabilidade na região e prejudicaria qualquer perspectiva de paz". Para o governo de Benjamin Netanyahu, o anúncio irá "alimentar o extremismo". "Não seja um peão nas mãos do Hamas", disse o ministério antes do anúncio dos governos europeus.
Desde 1988, 144 países dos 193 membros da ONU já reconheceram o estado palestino, entre eles o Brasil.

Com o patrocínio e voto do Itamaraty, a Assembleia Geral da ONU então aprovou uma resolução que pede o reconhecimento da Palestina como um Estado soberano, defende a entrada do país nas Nações Unidas e amplia os direitos dos palestinos nos trabalhos do organismo internacional.
Os palestinos conseguiram 143 votos. Votaram contra o projeto apenas 9 países: EUA, Israel, Argentina, Hungria, Nauru, Palau, Micronésia, República Tcheca e Papua-Nova Guiné. Outros 25 países optaram pela abstenção, entre eles Alemanha, Paraguai, Suíça, Itália e Reino Unido.
O ato, porém, ainda não garante a adesão, já que ela precisa passar pelo Conselho de Segurança, onde o governo dos EUA já vetou a proposta no mês passado.

Em abril, Joe Biden foi o único a vetar a resolução para autorizar a Palestina a ser membro pleno da ONU. O governo americano alega que a adesão palestina e seu status como país devem ser resultado de uma negociação com Israel, e não um ato por parte da comunidade internacional.
Com o veto dos EUA, o Conselho de Segurança não aprovou a adesão palestina. Pelas regras do órgão, basta que um dos cinco membros permanentes do conselho vete uma proposta para que o projeto seja engavetado.

Para Robert Wood, embaixador dos EUA, "medidas unilaterais dos EUA não vão ajudar" no processo de criação do estado palestino. "Esta resolução não resolve", insistiu.

Israelense compara palestinos aos nazistas e destrói Carta da ONU

Já o embaixador de Israel, Guilad Erdan, afirmou que o diplomata palestino "jorra lágrimas de crocodilo". "Esse é o dia da infâmia", disse. Ele acusou os apoiadores da resolução de serem "cegos". "Vocês vão aprovar um estado terrorista, liderado pelo Hitler de nosso tempo", disse o diplomata aos demais governos. "Vocês estão abrindo a ONU a um grupo terrorista. Isso me faz sentir doente", disse.
"Vocês estão tentando driblar o Conselho da ONU", disse o israelense. Ele terminou seu discurso com uma cena que entrará para a história da entidade — usou máquina de picar papéis para destruir a Carta da ONU, diante de todas as delegações. "Esse é o espelho de todos vocês", disse.

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