'Velho' radinho de pilha salva a comunicação e vira item de segurança no RS
Camila Corsini, Tilt, em São Paulo, 11/05/2024
Os rádios de pilha se tornaram itens essenciais na comunicação com pessoas afetadas pelas enchentes no Rio Grande do Sul. É por meio deste "item de museu" que essa parcela da população consegue se inteirar da situação do estado e recebe informações complementares.
"Estamos vendo pessoas há dias sem energia, sem contato ou acesso a qualquer fonte de informação digital. O rádio acaba sendo a forma de conexão com o mundo", afirma o professor universitário Willian Araújo, de 36 anos.
Uma campanha idealizada por ele e outros profissionais da Unics (Universidade de Santa Cruz do Sul) busca arrecadar aparelhos para distribuição nas áreas afetadas pela enchente — a princípio, as comunidades da região central do estado. "Nos dias de grande confusão, eu me vi com o meu radinho de pilha", diz. "Rádios locais não tinham transmissão online no horário que eu queria ouvir, eu estava sem internet e sem luz. E eu não tinha outro rádio que não fosse o de pilha." Willian Araújo
Estruturas são vulneráveis
A cidade de Santa Cruz do Sul é considerada de porte médio e, apesar de ter uma área urbana bastante industrializada, ela também é forte na agricultura familiar. A população está acostumada com o uso do rádio, mas sempre atrelado ao celular, internet ou carro.
"A emergência climática configurada nessa enchente nos mostrou que as nossas infraestruturas comunicacionais são muito vulneráveis. O rádio de pilha acabou se tornando uma forma segura de ter acesso a informação sem depender das mídias sociais." Willian Araújo
Para o professor, a imprensa local tem feito um bom trabalho de orientação, produção de conteúdo e prestação de serviço —e o rádio é o meio de comunicação que possibilita que todo esse material atinja, principalmente, as comunidades rurais e mais afastadas.
A campanha arrecada rádios de pilha e recursos para comprá-los. Em paralelo, o núcleo de comunicação da Unics produz boletins informativos que são transmitidos nas rádios locais.
Entre os conteúdos estão dicas de cuidado com a saúde nas enchentes ou como identificar sintomas de leptospirose, por exemplo. Também foi criado um canal no WhatsApp, para a equipe receber áudios e vídeos e fazer checagem das notícias.
Rádio é resiliente
"O rádio vem anunciando sua morte desde os anos 50 e vemos a resiliência do meio de comunicação se atualizar a cada desafio tecnológico. Os podcasts e a transmissão ao vivo mostram como a oralidade é importante para a sociabilidade humana." Willian Araújo
"O que estava caindo em desuso é a tecnologi de transmissão de FM (frequência modulada), assim como a AM (amplitude modulada) estava obsoleta. Elas ganharam um outro significado no Rio Grande do Sul a partir dessa tragédia", complementa Willian.
Willian acredita que o rádio de pilha é o "item de segurança" que todos deveriam ter em casa. Apesar de não ser o mais prático ou tecnológico, é o meio de comunicação que funciona quando a estrutura essencial entra em colapso.
Embora a ideia tenha nascido através da Unics, a iniciativa cresceu e já conta com apoio da UFSM (Universidade Federal de Santa Maria) e diversas associações ligadas à radiodifusão.
O grupo busca apoio da Defesa Civil na distribuição dos aparelhos na região central do estado. "Queremos expandir para a região metropolitana, mas ainda é difícil garantir que vamos conseguir porque depende de logística. E o emergencial agora é água, comida e roupa."
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