Batman, The Batman, 2022, Matt Reeves
Cicatrizes honrosas
Finalmente um filme de super-herói não infestado de CGI (Computer Graphic Imagery) como em. Homem-Aranha: Sem Volta para Casa, Spider-Man: No Way Home, 2021, Jon Watts
"Batman": o hiper noir épico e opressivo de Matt
Reeves - vídeo
Crítica: 'Batman' tem abordagem corajosa ao sair do padrão blockbuster
Mario Abbade, 02/03/2022
Toda vez que se anuncia um novo filme do Batman, muitos questionam: por que mais um? A resposta é óbvia ao se levar em conta que o Homem-Morcego, como confirmou pesquisa do Discovery Channel, é o super-herói de HQ mais conhecido no mundo — o que torna provável um bom retorno financeiro. Além disso, Batman traz consigo um vasto universo de personagens criados por diferentes autores em seus 83 anos de existência. São milhares de histórias com abordagens variadas. Desta vez, na visão do diretor e corroteirista Matt Reeves, estava na hora de focar no início da jornada do Cavaleiro das Trevas, num filme tão sombrio que beira o terror, e em que sobressai a vocação detetivesca do herói.
A trama mostra Batman mobilizado com a perda dos pais e à procura de um criminoso sádico que deixa pistas enigmáticas. São claras as influências do Assassino do Zodíaco, culpado por uma matança no fim dos anos 60 na Califórnia. Percebe-se também a presença neonoir de “Chinatown” (1974), de Roman Polanski, de “Seven” (1995), de David Fincher, e de “Klute: o passado condena” (1971), de Alan J. Pakula, que inspirou o romance entre Batman e a Mulher-Gato — em sua melhor versão com o olhar de Matt Reeves.
O que garante a qualidade num filme de Batman é a capacidade de criar personagens de carne e osso vivendo histórias críveis, mas sem a perda dos elementos característicos das HQs. E Reeves faz o dever de casa. No longa, o Cavaleiro das Trevas vem tentando há dois anos acabar com o crime em Gotham City. No entanto, quanto mais ele age, mais as coisas pioram, reforçando a ideia de que a força bruta não é a solução. O filme apresenta um Batman com falhas e dúvidas, bem diferente da maneira como o personagem foi retratado anteriormente.
Para isso, Matt Reeves criou uma versão extremamente contida do personagem, em que Robert Pattinson ilustra, pela primeira vez, o sofrimento de Batman. O público pode até estranhar a abordagem densa e pesada. Abre-se ainda um debate sobre as causas do terrorismo e, principalmente, sobre as consequências de se querer fazer justiça com as próprias mãos.
Reeves faz escolhas dramatúrgicas que corroboram temas como a aceitação das frustrações e o enfrentamento dos próprios demônios. E acerta ao posicionar a câmera como uma moldura, por meio de portas, janelas, móveis, para restringir o espaço e criar a ideia de personagens presos num destino inescapável. A câmera também se movimenta de modo a sugerir que os personagens têm dúvidas existenciais e certo desconforto diante do mundo, com uma mise-en-scène que remete ao noir de “Emboscada” (1947), de Douglas Sirk, antes de sua fase nos melodramas.
Matt Reeves foi corajoso em entregar um filme longo e que foge dos padrões dos atuais blockbusters. Soa como uma resposta às críticas feitas ao subgênero filme de super-herói por Martin Scorsese e Francis Ford Coppola. A temática foi pinçada por Reeves em três revistinhas que lhe servem de espinha dorsal: “Ano um”, “O longo Dia das Bruxas” e, sobretudo, “Ego e outras histórias”. É uma gota num oceano de milhares de HQs, sinal que ainda teremos muito Batman no cine.
Bonequinho aplaude sentado o novo longa de Matt Reeves, que criou uma versão extremamente contida do Homem-Morcego
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