BBC usa rádio de ondas curtas para alcançar Ucrânia e provoca ira da Rússia. Método de transmissão aposentado há 14 anos na Europa é usado para chegar a ouvintes em zonas de conflito há décadas
Tiffany Hsu, FSP, 06/03/2022
The New York Time. Enquanto a Rússia tenta cortar o fluxo de informações na Ucrânia atacando sua infraestrutura de comunicação, a rede de notícias britânica BBC está reutilizando uma tática de transmissão muito popular na Segunda Guerra Mundial: o rádio de ondas curtas.
A BBC disse nesta semana que usaria frequências de rádio que podem percorrer longas distâncias e ser acessadas por rádios portáteis para transmitir suas notícias do Serviço Mundial em inglês durante quatro horas por dia em Kiev, a capital ucraniana, e em partes da Rússia. "É comum se dizer que a verdade é a primeira vítima da guerra", disse Tim Davie, diretor-geral da BBC, em comunicado. "Em um conflito em que a desinformação e a propaganda são pródigas, existe a clara necessidade de notícias factuais e independentes nas quais as pessoas possam confiar."
Na terça-feira (1º/03/2022), projéteis russos atingiram a principal torre de rádio e televisão de Kiev. Oleksii Reznikov, ministro da Defesa da Ucrânia, escreveu no Twitter que o objetivo da Rússia era "quebrar a resistência do povo e do exército ucranianos", começando com "uma ruptura de conexão" e "a disseminação maciça de mensagens falsas de que a liderança do país ucraniano aceitou desistir".
O rádio de ondas curtas tem sido um veículo útil para alcançar ouvintes em zonas de conflito há décadas, para entregar despachos crepitantes a soldados na Guerra do Golfo, enviar códigos para espiões na Coreia do Norte e informar através da Cortina de Ferro durante a Guerra Fria. Mas as formas mais modernas de rádio, juntamente com a internet, acabaram tirando de cena as ondas curtas; a BBC aposentou suas transmissões de ondas curtas na Europa há 14 anos.
Na última semana de fevereiro, a audiência do site em ucraniano da BBC mais que dobrou em relação ao ano anterior, para 3,9 milhões de visitantes, disse a emissora. A BBC também oferece cobertura de notícias no país por meio de seu site e de redes como YouTube, Facebook, Twitter, Telegram, Viber e Espreso TV.
Milhões de russos também estão recorrendo à BBC, disse a emissora. A audiência de seu site de notícias em russo atingiu um recorde de 10,7 milhões na semana passada, mais do que triplicando sua média semanal até agora em 2022, disse a empresa. Os visitantes do site em inglês da BBC dentro da Rússia aumentaram 252%, para 423 mil.
No país, a BBC também publica atualizações no Telegram, Instagram, Facebook e YouTube. Outros meios de comunicação ocidentais também experimentaram um aumento na audiência. As visitas às plataformas digitais do jornal inglês The Guardian pelos públicos russo e ucraniano aumentaram 180% em relação a janeiro.
A cobertura da BBC causou reclamações de autoridades russas. Maria Zakharova, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, disse durante uma entrevista coletiva transmitida pela RT, o meio de comunicação russo apoiado pelo Kremlin, que o país foi vítima de "terrorismo de informação sem precedentes", que era "dedicado a desacreditar as ações russas" e "criar histeria em torno de acontecimentos ucranianos".
A BBC "exerce um papel decidido a minar a estabilidade e a segurança russas", disse Zakharova, sem apresentar evidências. No início da sexta-feira (4), o serviço russo da BBC relatou problemas de acesso a seu site na Rússia. (Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves)
BBC Brasil festeja 70 anos da estréia em ondas curtas
LAURA MATTOS, São Paulo, sábado, 08 de março de 2008, Folha Ilustrada
Primeira transmissão, sobre avanço de Hitler, ocorreu em 14 de março de 1938
Após décadas de presença no rádio brasileiro, serviço em português da rede britânica busca ampliar produção para internet e parceria com a TV
"O Senhor Hitler entrou hoje à noite em Viena, no meio de um entusiasmo formidável. De pé, em seu carro aberto, respondeu repetidamente com saudações nazi às aclamações da multidão..." Foi essa a notícia que inaugurou, em 14 de março de 1938, as transmissões da BBC para o Brasil, por meio das ondas curtas do rádio.
Setenta anos depois, as OCs são coisa do passado. Desde 2004, não há mais transmissão da BBC Brasil pelas ondas curtas. No rádio, só permaneceram os boletins produzidos para CBN, Globo e Radiobrás.
O foco do serviço em português da rede britânica passou a ser produção de conteúdo jornalístico para novas mídias, concentrada no portal www.bbcbrasil.com, que em janeiro teve 4,2 milhões de visitantes, seu recorde de acessos. "Neste ano, vamos ampliar o número de vídeos para a internet e devemos vender conteúdo para celulares. Já fazemos reportagens para o "Jornal da Band", mas buscamos mais parcerias na TV", afirmou Rogério Simões, diretor da BBC Brasil.
Nesta semana, a comemoração do 70º aniversário terá eventos em Brasília e São Paulo, além da série de reportagens "O Gigante Vizinho - O Brasil e a América do Sul", produzida nos outros 11 países da América do Sul, a ser apresentada de segunda a sexta no portal e no "Jornal da Band". No Centro Britânico, em SP, serão realizados debates (ingressos já esgotados) com convidados como o correspondente da BBC na Venezuela, Carlos Chirinos, a correspondente da Al Jazeera em Buenos Aires, Lucia Newman, o ombudsman da Folha, Mario Magalhães, e o colunista do "La Nación" Ferman Saguier.
Império britânico
Além da BBC Brasil, a rede opera em 31 línguas estrangeiras, a maioria por meio da internet. O serviço em árabe, que concentra o maior investimento, lançará em abril um canal de TV para concorrer com a CNN em árabe e a Al Jazeera.
Inaugurado em 2006, o escritório da BBC Brasil em São Paulo conta com oito jornalistas. Em Londres, são 14, além de correspondentes em Brasília, Washington e no Cairo.
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