sábado, 19 de março de 2022

Sobrevivência na Amazônia

Irmãos comeram fruto típico do AM para sobreviverem na floresta por 26 dias

Dyepeson Martins, UOL, em Macapá, 18/03/2022

Os irmãos de 7 e 9 anos que passaram 26 dias desaparecidos na floresta amazônica improvisaram e se alimentaram de sorva - um fruto típico da região - para não morrerem de fome na mata, segundo o coordenador do DSEI (Distrito Sanitário Indígena) de Manaus (AM), Januário Carneiro Neto, que acompanha o caso. 

Irmãos Gleison e Glauco passaram 26 dias desaparecidos só bebendo água de chuvas e foram encontrados nesta terça-feira (15). Imagem: Divulgação 

Eles foram encontrados na terça-feira (15), por um cortador de lenha, e estão em tratamento especializado na capital amazonense. Segundo o coordenador, o irmão mais velho era quem procurava as árvores que tivessem o fruto, muito consumido por comunidades tradicionais da Amazônia. A sorva é uma espécie pequena, de formato arredondado, com sabor adocicado e cor esverdeada.

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Em tempo

Sorva, fruta comestível típica do Amazonas Imagem: Pixabay
 
Sorva ou sorveira (Sorbus domestica L.) é uma árvore da família das Rosaceae. É também conhecida pelos sinónimos botânicos de Cormus domestica (L.) Spach. e Pyrus sorbus (Gaertn.), surgindo ainda a Sorbus maderensis que é uma das espécie endêmicas da ilha da Madeira. Wiki
 

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"Conversei com o irmão mais velho, e foi isso que os salvou. Não foi uma ideia, foi um instinto de sobrevivência. Se eles sentiam fome, iam lá e comiam. É uma frutinha pequenininha que estava de fácil acesso para eles, era o que tinha", frisou o coordenador, corrigindo uma informação inicial de que eles haviam ficado sem comer durante o sumiço. De acordo com ele, os irmãos Glaucon e Gleison, encontrados em grave estado de desnutrição e desidratação, ainda estão muito assustados e falam pouco sobre o período em que estiveram perdidos na selva. O coordenador classificou o resgate como um "milagre".

"Isso foi um milagre de Deus, proteção dos espíritos da floresta", comemorou ele. Uma foto enviada pelo DSEI, na manhã de hoje, mostra os garotos sentados no leito de uma enfermaria. Eles aparentam estar mais magros e abatidos. Na imagem, é possível perceber lesões no rosto e na perna esquerda do menino de 7 anos. "Eles estão com os pais, e em plena recuperação alimentar", ressaltou Neto.

Menino carregou irmão nas costas 

Uma das enfermeiras que atendeu os meninos disse que o irmão mais velho contou que precisou carregar o mais novo nas costas, por vários momentos, na floresta. Segundo ela, o garoto de 7 anos tinha dificuldades para andar, por causa de feridas nos pés, provocadas pelo contato com o solo. Ainda segundo a enfermeira, os meninos relataram que usavam folhas de árvores para coletar a água que caía das chuvas e, assim, não morrerem de sede. O tio dos garotos disse ao UOL que, para a família, "a maior aflição já passou".

Busca por tratamento especializado As crianças permanecem internadas no HPSC (Hospital e Pronto-socorro da Criança) da Zona Oeste de Manaus. Elas foram transferidas de Manicoré, a 390 km de Manaus, em uma UTI (Unidade de Terapia Intensiva) aérea, após o Ministério Público expedir um ofício determinando o deslocamento, caso não fosse possível atendimento especializado - em até quatro horas - no Hospital Regional de cidade. 

A SES (Secretaria de Estado da Saúde) informou hoje que os meninos estão clinicamente estáveis e que recebem os cuidados necessários para reverter o quadro de desnutrição e escoriações. Eles ainda não podem ingerir alimentos sólidos.
"Ambos apresentaram melhora considerável do quadro e boa recuperação das funções renais. Já houve introdução alimentar, com dieta pastosa, para reequilíbrio e fortalecimento da flora intestinal, para posteriormente receber dieta sólida", detalhou o órgão.

Resgate 

Os irmãos desapareceram no dia 18 de fevereiro após saírem de casa para caçar passarinhos, informou o Corpo de Bombeiros, à época. A guarnição anunciou o encerramento das buscas no dia 25 de fevereiro, mas familiares e moradores continuaram a procura pelos garotos. Eles foram encontrados em uma região localizada a cerca de 35 quilômetros da comunidade onde moram, em Manicoré.

Resgate dos irmãos Gleison e Glauco - vídeo




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