sábado, 29 de janeiro de 2022

A volta às aulas com a ômicron em alta

Pais e escolas se preparam para volta às aulas em meio à alta de casos da ômicron 

ISABELLA MENON E ISABELA PALHARES

Em meio ao avanço da variante ômicron no Brasil e à alta de ocupações de UTI por pacientes com Covid, o retorno às aulas gera preocupações. A explosão de casos faz com que escolas mantenham protocolos de segurança rigorosos para evitar a propagação do vírus. Por um lado, os pais relatam medo da infecção ao mandar os filhos aos colégios. Ao mesmo tempo, reconhecem que o isolamento prejudicou tanto a aprendizagem quanto o desenvolvimento de crianças e adolescentes.
Para a maioria, não há outra alternativa a não ser mandar os filhos para a escola, já que os pais trabalham de forma presencial. É o que acontece com Iraci Alexandre de Almeida, 38, que trabalha em uma fábrica de roupas e mora na Brasilândia, zona norte de São Paulo. 

"Tenho medo, mas preciso mandar porque não tenho outra saída. Entregamos nas mãos de Deus", diz ela, que é mãe do Hugo, 9, e Manoella, 1. Almeida afirma que não tem condições de pagar alguém para cuidar dos filhos. O mais velho, que estuda na rede pública, já recebeu a primeira dose da vacina contra a Covid-19 e retorna para a escola na semana que vem, enquanto a caçula passa o dia em uma creche.
A social mídia Licia Albuquerque, 33, tem duas filhas, Giovanna, 5, e Liz, 1 e vive com a família em Duque de Caxias, região metropolitana do Rio de Janeiro. O início das aulas da mais velha, matriculada na rede privada, está previsto para o dia 7 de fevereiro, mas os pais ainda não sabem se vão levá-la à escola logo no início ou esperar alguns dias após ela receber a primeira dose da vacina. 

Giovanna, diz a mãe, adora ir para a escola e ficou animada quando soube do retorno às aulas presenciais em meados de 2021. Durante o período de isolamento, ela precisou de terapia.
Na hora de tomar uma decisão, a falta que o colégio faz à filha, no entanto, se mistura ao receio do adoecimento. "A gente sabe que o número de crianças graves é pequeno, mas mãe não precisa de vários casos para ficar com medo, basta um. Estou nervosa e a sensação é de não saber qual é a melhor decisão", afirma Albuquerque. 

Já a bióloga Kelly Cristina Santos Montanare, 36, é mãe de duas meninas, Pietra, 10, e Sarah, 5. As duas retornaram às aulas nesta semana, também da rede privada, em São Paulo. Como a caçula tem síndrome de Down e o pulmão mais sensível, ficou dois anos afastada das aulas presenciais.
A mãe afirma que está tranquila com a ida das meninas ao colégio e confia que, assim como ela, tanto os pais dos outros alunos quanto a escola seguem os protocolos de segurança. Apesar de o isolamento ter resguardado as filhas do vírus, elas sofreram consequências. "A Sarah regrediu no desenvolvimento da fala, e a parte emocional da Pietra ficou muito abalada", relata a mãe. Apesar do retorno às aulas ser recente, ela afirma que já nota melhora no desenvolvimento.

 Para Renato Kfouri, pediatra e diretor da Sbim (Sociedade Brasileira de Imunizações), as escolas devem fazer o possível para reduzir o risco de contaminação, com o reforço do distanciamento, uso de máscara e incentivo à testagem constante. Apesar da alta de casos, ele frisa que a falta das aulas presenciais traz um risco bem maior ao desenvolvimento dos pequenos. "As escolas não incrementam um risco na pandemia e as curvas não mudam com os colégios abertos ou fechados", diz ele. 

Kfouri descarta ainda o raciocínio de alguns pais que pensam em esperar 15 dias depois de o filho ser vacinado com a segunda dose da vacina para então ir à escola. "É uma bobagem. Se a criança receber a vacina da Pfizer [que tem intervalo maior entre as doses], vai retornar só em abril? Não faz sentido."
A fala do médico vai ao encontro da visão da Opas (Organização Pan-americana da Saúde). A entidade diz que a garantia do retorno seguro para as escolas no início deste ano é urgente e refuta a ideia de que, para isso, seja necessária uma alta taxa de vacinação contra a Covid-19 entre as crianças.

 A diretora executiva do Unicef, Henrietta Fore, também defende as aulas presenciais. "Mantenham as escolas abertas, crianças não podem esperar", disse ela. O órgão defende que as crianças devem ser imunizadas, mas isso não deve ser um pré-requisito para o ensino presencial. 

De acordo com um levantamento realizado pela Unesco em 24 de janeiro, a maioria dos países do mundo estão com as escolas abertas. Ao todo, 135 estão com aulas presenciais. A organização destaca que países como Canadá, França, Reino Unido e Itália implementaram a política de testes rápidos em massa para a permanência nos ambientes escolares.

 No Brasil, não existe uma política de testagem semelhante. Quanto à vacinação, as escolas têm se organizado para realizar um mapeamento, perguntando se os alunos se vacinaram contra a Covid-19. Entretanto, apenas seis estados anunciaram que vão solicitar o cartão de vacinação aos estudantes para checar as doses contra o coronavírus, ainda que a falta de imunização não seja um impeditivo para frequentar as aulas na rede estadual. São eles Bahia, Ceará, Pará, Paraíba, Piauí e São Paulo.
Em São Paulo, até o momento, a maioria dos colégios particulares decidiu não cobrar o comprovante da vacina da Covid aos alunos. A exigência só vale para os professores e funcionários. É o caso do colégio Bandeirantes, na Vila Mariana, na zona sul da capital. 

Outras escolas decidiram que vão fazer uma consulta às famílias para identificar os vacinados, como o Colégio Anglo São Paulo, na região central da capital. Vinícius de Paula, coordenador da unidade, afirma que, ao identificar alunos não vacinados, fará um trabalho de convencimento com as famílias sobre a importância da imunização. 

No Colégio Santa Cruz, no Alto de Pinheiros, na zona oeste, onde as aulas começaram nesta quarta (26), a direção também decidiu fazer uma enquete para identificar o nível de cobertura vacinal entre os alunos. "Todos os funcionários foram vacinados e apresentaram o comprovante. Para os alunos não podemos obrigar, mas recomendamos fortemente", diz o diretor, Fabio Aidar. 

Para este ano letivo, a direção não vai mais aceitar que alunos usem máscaras de pano. Todos devem usar máscaras do tipo PFF2, N95 ou cirúrgica. "Estudos comprovaram que a máscara de pano não é segura. Entendemos que as famílias devem se adequar às recomendações científicas para nos ajudar a ter um ambiente mais seguro."

O colégio recebeu reclamações de pais em relação à nova exigência. Algumas famílias alegam não encontrar as máscaras desses modelos no tamanho infantil. Por isso, a direção decidiu vender as máscaras dentro da unidade. A Escola Mais, que possui oito unidades, orienta o uso da PFF2, N95 ou cirúrgica, mas não obriga. A instituição também não exige a vacinação e, se apenas uma criança for infectada, a turma não é mandada para casa. Já a partir de dois alunos com Covid-19, a classe passa a ter aulas online. 

O colégio Santa Maria, na zona sul, também não exige a apresentação do comprovante. Para tentar aumentar a cobertura vacinal entre seus alunos, a unidade pediu à prefeitura a instalação de um posto de vacinação dentro da escola. 

Para a rede municipal de ensino, a prefeitura de São Paulo informou que as unidades escolares solicitaram a carteirinha de vacinação durante a matrícula e rematrícula dos alunos, mas a falta de apresentação não impede que o estudante frequente as aulas. De acordo com a Secretaria Municipal da Saúde, uma nota técnica sobre os protocolos para escolas e creches está sendo atualizada e será publicada em breve.

 Já a rede estadual decidiu determinar que os alunos apresentem o comprovante de vacinação contra Covid a partir dos cinco anos. Nenhum estudante será barrado, segundo a gestão, mas, se a documentação não for mostrada em até 60 dias, deverá ser feita notificação ao Conselho Tutelar, ao Ministério Público e às autoridades sanitárias. 

Quanto às escolas privadas que funcionam no estado, o governo diz que elas podem seguir a mesma determinação, mas são autônomas para definirem um prazo.

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