segunda-feira, 12 de setembro de 2022

100 anos de rádio

Machado de Assis não conheceu o rádio, mas quando morreu (1908) Guglielmo Marconi (1874 – 1937) já patenteara o invento e se realizara em Berlim a primeira conferência radiotelegráfica internacional (1903). O ano da sua morte é também o da primeira emissão radiofônica, do alto da torre Eiffel, ouvida em posto militares da região e até em Marselha.

No ano seguinte a voz do tenor Enrico Caruso (1873 – 1021) foi transmitida do Opera House, em Nova York, mas foi preciso esperar o fim da primeira Grande Guerra (1914 - 1918) para nascerem emissoras regulares, o mais parecido com o que chamamos rádio: radiodifusão (não mais radiotelefonia, para comunicações pessoais) destinada a uma grande massa de ouvintes, munidos de aparelhos receptores produzidos em escala industrial, com programas regulares (de música, de notícias, de entrevistas, proclamações, radioteatro etc) previamente anunciados e veiculando publicidade privada. 

Aqui, a primeira emissão radiofônica foi a 7 de setembro de 1922, apenas dois anos após a norte-americana, sete meses após a Semana dos literatos e artistas (semana da arte moderna em São Paulo). A Westinghouse Eletric International, em parceria com a Companhia Telefônica Brasileira (e este fato é também significativo) transmitiu música e discurso do presidente Epitácio Pessoa para oitenta rádios (receptores) trazidos dos Estados Unidos. A Coca-Cola chegará depois (1941), os rádios Phillips (Figura 1), de válvula, chegaram antes. Os fílipes e os telefones: “Alô, boy, alô Johny, isto é conversa mole de telefone”, Noel Rosa ironizou. (Joel Rufino dos Santos, “Quem ama a literatura não estuda literatura”, p. 172, Rocco, 2008)

As faixas de frequência alocadas para a radiodifusão (broadcasting). FM: de 88 a 108 MHz e AM: de 530 a 1600 MHz. As faixas SW são as ondas curtas

“Todos os lares espalhados pelo imenso território do Brasil receberão o conforto moral da ciência e da arte... pelo milagre das ondas misteriosas que transportam, no espaço, silenciosamente as harmonias” dizia Roquette Pinto em 1923, otimista e exagerado, sobre o advento do rádio. Não mencionava a língua que as “ondas misteriosas” começariam unificar, mas se insinuava o projeto de concluir a nação por novos meios, que não a escola e o livro. 

Com o rádio era formada também a primeira comunidade nacional de informação. A notícia da proclamação da Independência chegara ao Rio dias depois, o tempo a cavalo de São Paulo – é de imaginar o que levou para chegar à Bahia, ao Pará. Já em 1865, quando estourou a guerra do Paraguai, a notícia correu rapidamente – fora inventado o telégrafo, o telegrama aparecia nos jornais do dia seguinte, lido pelas pouquíssimas pessoas que sabiam ler, depois corria de boca em boca. Com o rádio não se precisava ler. Em 1938, por exemplo, quando morreu Lampião, o Brasil inteiro soube imediatamente (Joel Rufino dos Santos)

Como os pioneiros (Roquette Pinto) sua vida é misto de história e estórias. De sua própria casa teria feito um estúdio. Toda manhã irradiava notícias de jornais e o poema “Caçador de Esmeralda” de Bilac: “Foi em março, ao findar da chuva...” Mandava também ao ar vozes de personalidades que visitassem o Rio como Einstein em 1925. Em pequenas cidades espalhadas pelo país, heróis da radiofonia irradiavam nesse esquema caseiro – locutores falando como fidalgos, Vossa Excelência pra cá, Vossa Excelência pra lá. De vez em quando se ouviam, no fundo, um cacarejo de galinhas, um coaxar de sapos. Os receptores, artesanais, se chamavam galenas (dentro de uma caixa de charutos se enfiava um cristal do metal galena, um improvisado regulador de contato, um indutor, um condensador de sintonia e fones de ouvido; como antena, um fio de cobre entre dois bambus, no quintal ou jardim) (Joel Rufino dos Santos)

A estimativa mais conservadora dá conta de que pelo menos 95 milhões de brasileiros ouvem rádio diariamente, 90,2% dos domicílios possuem rádio, o que equivale a 38 milhões e 400 mil casas com aparelhos de rádio. Enquanto o Ministério das Comunicações divulga o registro de 3.232 emissoras de radiodifusão na atualidade, mais de 20 milhões de automóveis da frota brasileira estão sintonizados no veículo de comunicação que um dia deslumbrou Edgard Roquete Pinto, o precursor da radiodifusão no Brasil. 

...........

Em tempo

Audiência da Rádio: No atual cenário da comunicação do Brasil, a rádio se diferencia pelo seu conteúdo e programação exclusiva. De acordo com uma pesquisa, realizada no Brasil, sobre audiência da rádio, afirma que ela é ouvida por 86 % da população. E 3 a cada 5 pessoas tem o costume de escutar todos os dias! BrasilStream, 04/06/2019 

...........

Em 1886, 22 anos após os trabalhos de Maxwell, Hertz observou que durante descargas de uma Garrafa de Leyden, centelhas secundárias foram observadas em um local afastado dentro do Laboratório, as quais não podiam ser explicadas pela indução clássica. Ele inferiu que estas descargas eram oscilatórias na freqüência aproximada de 80 MHz, que permitia a irradiação de energia em forma de ondas eletromagnéticas como predito por Maxwell. Hertz expôs suas descobertas na Academia de Berlin em 1887 e ganhou o prêmio Berlin. Seus experimentos mostraram que essas radiações recentemente descobertas, comportavam-se como a luz, sendo parte do mesmo espectro eletromagnético. Em experimentos subsequentes, Hertz provou que as ondas se propagavam com a velocidade da luz e que possuíam propriedades similares às da luz (reflexão, difração, polarização). Nas palavras do próprio Hertz: "The results are fatal to any and every theory which assumes that electric force acts across space independent of time. They mark a brilliant victory for Maxwell's Theory".

Já em 4 de outubro de 1957 no Cosmódromo de Baikonur, na URSS (a Rússia atual), é lançado Sputinik. O Sputnik era uma esfera de aproximadamente 50 cm e pesando 83,6 kg. Ele não tinha nenhuma função, a não ser transmitir um sinal de rádio, "beep" que podia ser sintonizado por qualquer radioamador. O satélite orbitou a Terra por seis meses antes de cair. 

MILTON JUNG X HERÓDOTO BARBEIRO | WEBSÉRIE COMEMORATIVA DOS 100 ANOS DE RÁDIO NO BRASIL 

Nenhum comentário:

Postar um comentário