Em MG, há quem receba dinheiro para produzir água em chácaras e fazendas
Marcelo Rubens Paiva, O Estado de S.Paulo, 05 de novembro de 2021
Sobre a crise climática, o cientista brasileiro Paulo Artaxo costuma dizer: “Não existe plano B”. O desastre está instalado entre nós. Não é legado para filhos e netos, é parte da nossa rotina atual: falta de ar, água, luz e vergonha na cara.
O Estado de São Paulo sente com o avanço da fronteira agrícola no Norte. Agronegócio é pop e problema. Traz tempestades de poeira apocalípticas, crise hídrica, falta de chuvas e até nuvem negra no ano passado; no céu da antiga terra da garoa, fuligens de queimadas do Pantanal.
No país em que 60% da energia vem de hidrelétricas, uma profissão em alta hoje é a do produtor de água. Em MG, recebem dinheiro para produzi-la em chácaras e fazendas. Na Zona da Mata, produtores rurais ganham ajuda e participam de programas de municípios com a Agência Nacional de Águas.
Segundo o Globo Rural, mais de mil estão cadastrados em todo o País e recebem para produzir água. Plantam árvores, cercam nascentes, fazem barragens e preservam matas. Assim, realimentam o lençol freático.
A empresa mista Furnas Centrais Elétricas entrou no programa. Financia fazendeiros e pequenos produtores ao redor do chamado “mar de Minas”, o Lago da Represa de Furnas, para reflorestarem parte de suas terras. A iniciativa trabalha diretamente com as escolas; alunos aprendem a plantar árvores frutíferas. Proprietários de fazendas centenárias de cana, como a Fazenda da Ilha, e café são incentivados a criar corredores de matas.
A iniciativa que começou em 2001 na Fazenda Bulcão, de Sebastião Salgado, e recuperou 608 hectares de Mata Atlântica em MG, não é mais exceção. Em 2008, em Extrema, sul de MG, um trabalho de recuperação das encostas ganhou prêmio da ONU de conservação de água. Agricultores recebiam da prefeitura para que capoeiras e pastos fossem trocados por mudas de árvores em cabeceiras de rios e riachos.
Mudas de jacarandá, acácia, araucária, copaíba, pau-brasil, mirindiba, jambolão, pinheiro e goiabeira plantadas em áreas restauradas viraram floresta, aumentando o volume de água. Recuperam grotas. Nascentes reaparecem onde antes era pasto.
Se a soja sobe para o norte do País, a iniciativa de se produzir água se ampliou no sudeste. Foi para o Triângulo Mineiro. Com curva de nível em plantações, a água se infiltra no solo. Em Uberaba, ao conectar bolsões com canos de PVC, plantações viram fábricas de água.
O lençol fica abastecido durante a seca. A ideia nasceu do uso de gesso agrícola descartado para recuperar áreas desgastadas. O Plano B? Virarmos fósseis.
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