Num tour de force implacável resolvi encarar o filme Duna (Dune: Part One, 2021, Denis Villeneuve). Pelo título vê-se que terá continuação. Implacável porque depois assisti o Duna de David Lynch (Dune, 1984). O primeiro, numa cinematografia suntuosa com efeitos visuais e computação gráfica a torto e direito. O segundo nem tanto, mas encontramos o surrealismo próprio de Lynch. Esta versão foi elogiada pelo autor do livro Frank Patrick Herbert (1920 - 1986) . As duas versões cinematográficas referem-se a apenas o primeiro livro da saga Duna.
O livro
A saga de Frank Herbert, no Brasil, publicada pela editora Aleph, tem seis livros.
Livro 1 (680 páginas) Duna , Livro 2 (272), Messias de Duna, Livro 3 (528), Filhos de Duna, Livro 4 (512), Imperador Deus de Duna, Livro 5 (568) Hereges de Duna, Livro 6 (528) Herdeiras de Duna.
Para quem deseja conhecer Duna basta enfrentar as 3.178 páginas da saga. Quase certo que a leitura será muito mais profícua que os dois filmes acima citados.
Como "Duna", de Frank Herbert, desconstrói o mito do herói
Os filmes
Dune: Part One, 2021, Denis Villeneuve
Duna, de Denis Villeneuve, é um monumento à morosidade
Em entrevista ao IndieWire, o diretor Denis Villeneuve explicou que o seu Duna não seria uma "adaptação obscura para fãs do livro", mas um longa “pop”. Pensado, segundo o próprio cineasta, para ser visto no IMAX como uma experiência imersiva, Duna é um projeto que carrega as piores características da sua carreira: a grandiloquência visual vazia, pseudo planos contemplativos e o pouco interesse por criar cenas realmente interessantes.
É uma tarefa difícil transformar o romance homônimo de Frank Herbert em algo enfadonho, principalmente para quem terá o primeiro contato com a obra através do filme. Para resumir, Duna se passa num futuro distante (ano 10.191) onde o universo é administrado por um imperador espacial e algumas “casas nobres” que auxiliam governando planetas e estrelas. A colonização espacial é feita a partir de uma espécie de organização feudal entre duques, barões e lordes. Não é preciso dizer que toda essa política gira em torno de pequenos jogos de poder e traição. No centro está Arrakis, ou Duna, um mundo desértico onde se encontra a especiaria que sustenta o universo, e é habitado por uma singular raça de humanos e vermes gigantes. É aí que chegamos em Paul Atreides, herdeiro da Casa Atreides, e peça chave em toda a trama. Acompanhamos a sua jornada rumo a um destino que parece ter sido traçado antes mesmo do seu nascimento... (João Rêgo)
DUNA - É REALMENTE TUDO ISSO QUE ESTÃO FALANDO?? Refúgio Cult
Continuando as análises de João Rego
... De fato, Duna é uma obra tão singular que é impossível fugir da fidelidade ao andamento da trama literária. No entanto, a forma como esse material se transfigura em “cinema” diz mais sobre quem o está conduzindo, do que o próprio livro em si.
Para testar essa teoria, basta colocar o projeto de Villeneuve ao lado da conturbada adaptação do cineasta David Lynch. Polêmicas à parte, Duna (1984) é um filme de caráter histriônico, uma ficção científica incomum que seduz o espectador pelo um emaranhado narrativo que nunca tenta se explicar. São tantos elementos, personagens aleatórios e visualmente inventados por Lynch (um deles é um bizarro cérebro gigante), que todo aquele universo é germinado nas próprias particularidades do filme. O resultado é uma abordagem, no mais simples adjetivo, cafona, mas uma cafonice prolífica, que dá vida própria a um mundo excêntrico por essência.
Em um lado oposto, Duna (2021) é um filme que se leva a sério demais, ou pelo menos acha que isso significa ter “profundidade”. As paisagens desérticas, os maquinários futurísticos e as roupas exóticas são coloridas por tonalidades frias, sem qualquer inventividade na concepção visual. Mais protocolar que isso são as cenas de ação ou os momentos ápices da trama, recheados de gimmicks dramáticos e soluções tão presentes em blockbusters recentes...
DUNE (1984) - Brian Eno - Prophecy Theme
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