Índice da Ookla põe país na 76ª posição de ranking sobre redes móveis
Paula Soprana, Folha de São Paulo, 31/10/2021
A velocidade da internet móvel brasileira está abaixo da média global, de 63.15Mbps para download. Um índice recente mostra que o país ocupa o 76º lugar entre 138 nações. Embora a conexão avance ano a ano, a baixa performance é reflexo da desigualdade de acesso, segundo analistas.
A velocidade média deriva, principalmente, da distribuição de antenas por habitantes - a alta demanda por dados tende a congestionar o tráfego.
O Brasil (com 33,92 Mbps) é o quarto da América Latina e Caribe, atrás de Suriname, Jamaica e Uruguai, segundo relatório trimestral da Speedest Global Index, da Ookla, empresa que faz medições de internet.
Os Emirados Árabes Unidos, com velocidade quase quatro vezes mais rápida que a média global, ficam em primeiro lugar, não apenas por investimento, mas porque as cidades mais povoadas estão concentradas em meio ao deserto. Dubai, com o maior número de habitantes, tem cerca de 3,4 milhões de pessoas.
Enquanto o bairro Itaim Bibi, na zona oeste, tem quase 50 antenas para 10 mil habitantes, em locais mais pobres como Cidade Tiradentes, José Bonifácio e Jardim Helena, a proporção cai para uma antena a cada 10 mil pessoas, de acordo com o Mapa da Desigualdade, divulgado em setembro.
Antena de transmissão de sinal na região rural da cidade de Itu, Zanone Freissat/Folhapress
A média da cidade, que está entre as mais conectadas, é de 2.500 habitantes por antenas. Um número aceitável, segundo padrões da UIT (União Internacional de Telecomunicações), varia de 1.000 a 1.500 habitantes por antenas. Considerando as pessoas que trafegam pela cidade todos os dias, supera 3.500. No caso de Cidade Tiradentes, são quase 17 mil por antena.
Além da velocidade, outros aspectos influenciam a qualidade de acesso. O país tem 87% de usuários de internet, segundo o Cetic.br, mas muitos possuem conexão apenas às redes sociais incluídas como bônus em planos pré-pagos vendidos pelas operadoras. Para a UIT, é considerado usuário quem se conectou ao menos uma vez nos últimos três meses.
"Não podemos chamar isso de conectado. Quase 75% dos usuários móveis usam pré-pago, com aplicativos para acessar livremente, claro, pagando com seus dados pessoais. Se a pessoa acessar Facebook e WhatsApp já é considerada usuário, mas não está conectada de forma abrangente", diz Luca Belli, professor da FGV Direito Rio e coordenador do Centro de Tecnologia e Sociedade da FGV.
Ele aponta, também, para o custo de conexão, que chega a 15% ou 20% do salário mínimo em muitos dos casos. Além de velocidade baixa nas regiões mais pobres, quem não possui capacidade de pagar um plano com acesso pleno à internet obtém o que Beli chama de "fake news subsidiada".
Para Flavia Lefèvre, advogada na área de telecomunicações, o desempenho do país em internet banda larga fixa é superior na comparação com internet móvel porque ele resultou de política pública. Muito do tráfego ainda está associado a contratos de concessão que estão no regime público, portanto atendem a metas de investimento. O setor móvel é exclusivamente atendido pelo setor privado, que prioriza investimento onde há retorno financeiro.
"É uma política pública de investimento em infraestrutura insuficiente, que não conseguiu estimular os investimentos necessários para atender a demanda de acesso, e isso ficou muito claro na pandemia", diz. Ela se refere aos acordos de operadoras com a Anatel para degradar um pouco o tráfego e permitir que todos tivessem acesso.
Na sua avaliação, os benefícios diretos da tecnologia 5G, cujo leilão está marcado para 4 de novembro, podem demorar em torno de oito anos para chegar à população mais pobre. "É preciso instalar muitas antenas e, também, implementar rede de fibra ótica, porque o 5G não funciona só com antena, é preciso fibra para ancorar o funcionamento das estações. As empresas vão fazer investimento em fibra nas periferias?"
O estudo da Ookla concluiu que a Claro tem, na média, a velocidade de internet móvel mais rápida, considerando o terceiro trimestre de 2021. Em segundo lugar vêm Vivo, Tim e Oi.
Já os smartphones considerados mais velozes foram o iPhone 12 5G, com o maior desempenho para fazer downloads. A Apple ocupou as três primeiras posições. Em quarto lugar, está o Galaxy Note20 Ultra 5G, com uma velocidade média de 37,73 Mbps.
Estudo de entidade ligada às operadoras considera legislação para a instalação de antenas; leilão está previsto para amanhã
Às vésperas do leilão do 5G, marcado para quinta-feira, 4, apenas sete das 27 capitais brasileiras estão totalmente preparadas para a nova tecnologia de comunicações, de acordo com o Conexis Brasil Digital, entidade que reúne as principais operadoras que atuam no País. A licitação prevê que as empresas comecem a oferecer o 5G até 31 de julho de 2022, mas o cumprimento desse compromisso e a qualidade do serviço dependem, também, dos próprios municípios, explicam as teles.
A avaliação do Conexis usa como referência a lei municipal de antenas de cada capital e o grau de aderência aos dispositivos da legislação federal sobre o tema – a Lei Geral de Antenas (LGA), de 2015. Esse texto traz uma série de regras que facilitam a instalação de antenas, que hoje possuem o tamanho de caixas de sapato. Outro critério usado pela entidade é o processo de liberação de antenas em cada municípios e o tempo de análise e liberação após o pedido das companhias.
A necessidade de antenas para o 5G é bem maior do que para frequências como o 2G, 3G e 4G, e, embora a competência sobre a instalação de antenas seja da União, muitos municípios avançam sobre o tema ao impor restrições a esse tipo de equipamento por meio de leis sobre uso e ocupação do solo. O resultado disso é a queda na qualidade dos serviços e sinais intermitentes, já que as antenas são cruciais para uma internet de qualidade e estável.
“Quanto mais adaptada a lei municipal à LGA e quanto mais célere o processo de avaliação dos pedidos de licença, mais rápido o 5G estará disponível para o município e para o consumidor”, afirmou o presidente do Conexis, Marcos Ferrari.
Lista
Por esses indicadores, as capitais mais preparadas para o 5G são Boa Vista, Brasília, Curitiba, Fortaleza, Palmas, Porto Alegre e Porto Velho. De acordo com Ferrari, a capital gaúcha se tornou referência para o 5G. “Além de ter uma legislação aderente à LGA, o processo de emissão de licenças para antenas é totalmente informatizado, sem intervenção humana, e é liberado uma hora após o pedido”, disse. Antes dessas mudanças, cada pedido levava até dois anos para ser processado.
Nessas cidades, a lei não impõe condicionamentos que afetem a topologia das redes e a qualidade ou impõe vedações para a prestação do serviço de telecomunicações. Esses municípios tampouco estabelecem limites de exposição humana à radiação não ionizante – uma competência da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) – ou licenciamento para miniantenas, nem cobram taxas por direito de passagem.
Quatro capitais estão em fase de adaptação para a nova legislação. São elas: Belo Horizonte, Florianópolis, Rio de Janeiro e São Paulo. Segundo Ferrari, esses municípios estão em diálogo com as operadoras e pretendem fazer mudanças em suas leis para que elas se tornem aderentes à legislação federal
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