terça-feira, 3 de agosto de 2021

Feliz abandono

Me acostumei
A ocupar toda a cama ao dormir,
A não cozinhar aos domingos
E a voltar na hora que me der na telha.

Me acostumei
A não dar explicações
E fazer o que eu gosto.
Sem que ninguém me critique.

Me acostumei
responder mensagens muito tarde,
A sair com amigos

Me acostumei
A comer no meio da noite.
E a ver os meus programas favoritos,
A cantar em voz alta
E dançar por toda a casa.

Me acostumei
Ao cheiro do café de manhã.
E a andar descalça pelo jardim,
A demorar quando quero me arrumar
E cancelar encontros no último momento.
Só porque sim.

Me acostumei
A mim,
Às minhas coisas,
Para a minha vida
A ficar sozinho...
aprendi a não mais sofrer e saber que você pode e deve ser feliz também sozinho
Isso não é solidão, isso é só ser feliz consigo mesmo.
E é simplesmente maravilhoso...

Notas

1. Texto (com modificações) de autoria atribuída a Arnaldo Jabor

2. Feliz abandono é do livro Baixo Esplendor", 2021, Marçal Aquino, p.17, Companhia Das Letras.
"A casa em que Miguel estava morando era um sobrado discreto, com garagem descoberta e um jardim em estado de feliz abandono na frente, onde crescia até mesmo um tomateiro."

3. Leitura complementar:



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