domingo, 8 de agosto de 2021

Cartola

 

Cartola desenhado por Lan

Acordo cedo às 5. Às 7 compro o jornal. Sento para ler o jornal com uma cerveja e um conhaque.

Revi o documentário "Cartola - Música para os Olhos" de 2007 realizado por Lírio Ferreira e Hilton Lacerda. Obrigatório. Para quem quiser conhecer Cartola. 

Cartola, música para os olhos no iutubi, ou aqui

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Cartola fala sobre o samba de SP

Samba na veia

"Cartola - Música para os Olhos", filme de Lírio Ferreira e Hilton Lacerda sobre a vida do compositor, estreia hoje nos cinemas e narra histórias do samba, do cinema e do país sob a ótica do fundador da Estação Primeira de Mangueira

Por Luiz Fernando Vianna

06 de abril de 2007, Folha de São Paulo

Depois de imagens do enterro de Cartola, surge uma cena da adaptação feita pelo cineasta Julio Bressane de "Memórias Póstumas de Brás Cubas", de Machado de Assis, com a voz de Jards Macalé lendo um trecho do romance.

Já no início, portanto, os diretores Lírio Ferreira e Hilton Lacerda mostram que "Cartola - Música para os Olhos" -produção de R$ 1,2 milhão que estreia hoje, após nove anos de trabalho- não é só mais um documentário sobre a vida de um artista.

"É a história do Cartola, que puxa uma história da Mangueira, uma história do samba, este se consolidando como símbolo de identidade nacional, e ainda o Rio de Janeiro como capital federal, as mudanças do país nos anos 60. São várias camadas", diz Ferreira.

A primeira superposição é a escolha de "Brás Cubas" para o começo do filme. Machado de Assis morreu em 1908, ano em que Cartola nasceu -"uma coincidência cabalística", para Ferreira; "uma passagem de bastão", para Lacerda.

"Machado, que foi menino pobre, saiu de um gueto para se tornar o maior escritor brasileiro, representando uma tradição culta. Já Cartola teve uma infância burguesa e, aos 11 anos, sua vida mudou, foi morar numa comunidade pobre e se tornou o maior representante da cultura popular brasileira", afirma Lacerda, pernambucano como Ferreira.

Angenor de Oliveira nasceu no Catete e aos oito anos foi para Laranjeiras, bairro de classe média da zona sul do Rio. Seu avô foi cozinheiro de um presidente da República, Nilo Peçanha. Morto o avô, acabou-se a bonança e a família migrou para a incipiente favela da Mangueira, na zona norte.

Chanchada e cinema novo

O filme de Bressane inicia outro diálogo fundamental no documentário: entre a vida de Cartola e o cinema brasileiro. A história do compositor é contada com o auxílio de trechos de filmes das respectivas épocas, como as chanchadas (anos 40) e cinema novo (anos 50/60), em engenhoso quebra-cabeça.

"Essa narrativa, que forma quase um caleidoscópio, cria um universo que fica entre o documentário e a ficção. Há momentos em que o "Cartola" parece mais ficção do que o "Baile Perfumado'", diz Ferreira, referindo-se a seu filme mais conhecido, dirigido ao lado de Paulo Caldas. Se o uso de cenas com Oscarito e José Lewgoy é humorístico, os pedaços de filmes políticos têm outra função.

"Cartola nunca foi um ser político, militante, mas o [bar] Zicartola acabou se tornando uma célula de resistência nos anos 60. Então, discursos que não caberiam na sua voz surgem nos filmes", diz Lacerda.

Aparecem ainda os três filmes de que Cartola participou: "Orfeu Negro" (59), "Ganga Zumba" (63) e "Os Marginais" (68).

Em sintonia com a linguagem ousada, não há narrador em off ou legendas didáticas.

Não se explica, por exemplo, o apelido Cartola, motivado pelo chapéu-coco que usava nos tempos de pedreiro. O espectador que souber muito pouco sobre o compositor pode engasgar em algumas partes, mas os capítulos principais da história estão no filme, inclusive sua relação com a Estação Primeira de Mangueira, escola de samba que fundou.

Como quase não há imagens de sua infância, os diretores escolheram o menino Marcos Paulo da Silva Simião, morador da Mangueira, para representá-lo. No período em que Cartola sumiu do morro e do meio musical (fins dos 40/início dos 50), a tela fica preta, retratando a fase nebulosa.

"Foi a solução que encontramos para essa época esquisita, em que ele desceu ao inferno", diz Lacerda.

Já dos anos 70, quando o Cartola sessentão gravou seus primeiros discos e se tornou uma figura popular, há muitas e boas imagens. São dessa época seus sambas mais conhecidos: "As Rosas Não Falam", "O Mundo É um Moinho", "Acontece". Fato raro em documentários, essas e as outras músicas são cantadas na íntegra. 


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