terça-feira, 1 de novembro de 2022

Natalia "Naty" Revuelta: a mulher que ajudou Fidel na revolução cubana

E a filha, pra donde foi?

Observador Miguel Santos Carrapatoso, 03/03/2015

De burguesa a peça-chave no movimento revolucionário: é este o percurso de Naty Revuelta, a mulher por quem Castro se apaixonou e que vendeu as jóias para financiar um golpe para derrubar Batista.

Natalia ‘Naty’ Revuelta in Havana in 2003. Photograph: Sven Creutzmann/Mambo Photo/Getty Images

Natalia Revuelta Clews era casada com o cardiologista Orlando Fernández e pertencia à burguesia cubana que assistia à distância às lutas pelo poder político na ilha. Mas o golpe militar de Fulgencio Batista viria alterar a vida de Naty, como era conhecida, e a alterar o curso da história de Cuba: a mulher tornou-se ativista política, vendeu jóias para financiar a revolução e aproximou-se de Fidel Castro, por quem viria a apaixonar-se e ter uma filha, Alina Fernández. Morreu com 89 anos, vítima de um enfisema pulmonar.

Alina Fernández, fruto da relação extraconjugal entre Naty e Castro, conta como a mãe teve um papel fundamental no assalto ao quartel de Moncada a 26 de julho de 1953, data que viria a dar origem ao movimento revolucionário com o mesmo nome. Foi na casa de Naty e Fernández que a conspiração para derrubar Fulgencio Batista começou a ganhar forma e foi também nessa altura que Natalia Revuelta Clews “deixou de ser uma burguesa com preocupações sociais para se tornar uma radical”, conta. Na altura, circulavam rumores de que Naty terá vendido as suas joias para ajudar financeiramente a operação, algo confirmado por Alina Fernández ao jornal espanhol: “[A minha mãe] contribui com esforços, dinheiro e contactos”.

No entanto, e apesar de todos os esforços, o assalto ao quartel de Moncada viria a revelar-se um desastre: a maioria dos homens de Fidel Castro foi morta ou capturada e o futuro líder cubano julgado e condenado a 15 anos de prisão. Foi nesse período que começou o romance entre Naty Revuelta e Castro, como contou a filha ao ABC em 1997.

“Pensando na mãe do condenado, [a minha mãe] enviou um bilhete anónimo de solidariedade. A mãe [de Castro] mostrou o bilhete ao filho numa das visitas à prisão. Fidel reconheceu a letra de Naty e respondeu. Foi assim que começou troca de correspondência, que cresceu e se tornou uma relação amorosa. Fidel foi libertado da prisão sob a condição de deixar a ilha. Uma curta estadia em Havana fez com Fidel se aproximasse novamente de Naty Revuelta. Nasci desta união em 1956 e o marido de Naty reconheceu-me como sendo sua”.

Apesar de reconhecer Alina Fernández, o cardiologista viria a divorciar-se de Naty Revuelta e partiu para os Estados Unidos com a outra filha do casal, Natalie. Também Alina Fernández – que descreveu Fidel Castro como um homem “cruel” – viria a abandonar Cuba em 1993, disfarçada de turista e com um passaporte falso. Só regressou à ilha quando a saúde da mãe começou a dar os primeiros sinais de fraqueza. Esteve com ela no último sábado, quando Naty Revuelta morreu, contaram fontes próximas da família ao jornal espanhol.

Quanto a Naty, depois da revolução que derrubou Fulgencio Batista (1959), manteve-se sempre fiel a Castro – ocupou, por exemplo, vários cargos em organismos oficiais, desde o Instituto Nacional da Reforma Agrária e o Ministério do Comércio Exterior, de onde se aposentou em 1980.

A 21 de fevereiro de 1997 o jornal espanhol publicou seis cartas que Fídel Castro enviou a Naty Revuelta, escritas desde a sua cela entre 1953 e 1954. Nas cartas, conversam sobre livros, revoluções, amor e nostalgia. Pode lê-las aqui


Sobre Alina Fernández, a filha de Fidel 

Achei um ótimo texto de Humberto Werneck publicado na Mitsubishi de junho de 2004 e reproduzido no Caderno 2 de O Estado de S. Paulo em 5/6/2004. Vale a pena. Peguei no arquivo do jornalista e escritor Renato Modernell. É sobre Alina Fernández Revuelta (na foto, com a mãe; na outra, mais jovem, ao lado do pai), a filha de Fidel Castro, que por pouco não saiu nua na Playboy. Na época, Werneck era o redator-chefe da revista. Leia a história contada por ele:

“Na noite de 19 de dezembro de 1993, uma espanhola espalhafatosa cruzou os severíssimos controles do aeroporto José Martí, em Havana, e, envolta num espesso halo de Chanel nº 5, embarcou rumo à Europa. Horas mais tarde, quando o avião da Iberia pousou em Madri, soube-se que a moça não era, de seu natural, tão espalhafatosa assim, e muito menos espanhola. Tratava-se da ex-modelo cubana Alina Fernández Revuelta — ninguém menos que a filha de Fidel Castro (há outros sete, todos varões, apenas um ‘oficial’, o primogênito Fidelito), fruto da escaramuça galante que o futuro guerrilheiro viveu, ainda imberbe, entre o cárcere e a Sierra Maestra, nos braços de Natalia ‘Naty’ Revuelta, bela e rica mulher casada de Havana.

Alina com Fidel

Alina com a mãe

Finalmente liberta da nuvem de perfume, das inumeráveis demãos de maquiagem, das botas bege, do sobretudo marrom e da encachoeirada peruca, sobre a qual depositara, qual cereja sobre pudim, um absurdo boné, Alina, rompida com o pai desde os 26 anos, iniciava sua vida de exilada, que dura até hoje. Algum tempo depois, em aflições bancárias, ela aceitaria despir roupas mais convencionais — e posar nua, ante as lentes de J. R. Duran, para a edição brasileira da revista Playboy, num episódio que aqui se vai contar pela primeira vez.

O autor destas linhas tem algo a ver com a história, pois era, à época, redator-chefe da publicação. Dirigida então por um dos melhores jornalistas do país, Ricardo A. Setti, a revista volta e meia retomava fatos e personagens que a imprensa tem o mau hábito de abandonar pelo caminho tão logo arrefece o impacto inicial da notícia. Foi assim com a filha de Fidel, logo esquecida pela mídia que dela se ocupara na estrepitosa chegada a Madri. Que fim levou Alina? — perguntou o Setti, aí por novembro de 1994.

Decidi investigar e, ao cabo de várias semanas, consegui localizá-la nos Estados Unidos. Não em Miami, destino óbvio dos exilados cubanos, mas em Columbus, Geórgia. Foi necessário um tempo, além de muita paciência, para trazê-la ao telefone — e mais ainda para convencê-la a me receber. Para lá me mandei, em fevereiro de 1995, com a dupla missão de escrever uma reportagem (que seria publicada em abril, sob o título A filha do homem) e, no embalo, perguntar se ela topava posar para a revista.” (Leia a matéria completa aqui).




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