sábado, 30 de agosto de 2025

Veríssimo

Diz-se que quem morreu "já era", o que é o mesmo que dizia o Beckett com mais sensibilidade. Mas Beckett queria dizer mais. Os personagens de narrativas literárias mudam do tempo presente para o tempo passado mas continuam no mundo, mesmo que no mundo restrito dos livros e das estantes. Salvo, talvez, os cupins e as traças, nada ameaça a sua perenidade. "São" eternamente. (A morte, Veríssimo, O Estado de São Paulo, de 12 de Julho de 2012) 

O escritor Luis Fernando Verissimo tornou-se mais uma estrela no céu, hoje, 30 de agosto de 2025. De há muito leio Verissimo. Neste blog estão Gerônimo: não basta abater o homem para anular o exemplo , A mãe do Freud ,  Nava  (uma das melhores que li) e Socialismo ou barbárie 


Morre aos 88 Luis Fernando Verissimo, um dos maiores escritores brasileiros

Splash, UOL, 30/08/2025

 
O cronista Luis Fernando Verissimo publicou mais de 60 livros ao longo da vida Imagem: Eduardo Anizelli/Folhapress

Morreu hoje, aos 88 anos, o escritor, cartunista e humorista Luis Fernando Verissimo, filho do também escritor Érico Verissimo e de Mafalda Verissimo. Segundo a assessoria do Hospital Moinhos de Vento, onde o escritor estava internado, Verissimo morreu às 0h40 deste sábado (30), em decorrência de complicações causadas por uma pneumonia.

Luis Fernando Verissimo nasceu em Porto Alegre em 26 de setembro de 1936. Viveu nos Estados Unidos em parte da infância e juventude porque seu pai foi professor da Universidade da Califórnia em Berkeley e diretor cultural da União Pan-americana em Washington. Na fase final da vida, Luis Fernando só falava curtas frases em inglês, disse sua esposa à Folha de S. Paulo em agosto.
Nos Estados Unidos, aprendeu a tocar saxofone. Ele era parte do grupo Jazz 6, que se intitulava o menor sexteto do mundo por ter apenas cinco integrantes. "Escrever não deixa de ser uma obrigação. Tocar é muito mais divertido - mesmo eu não tocando muito bem", disse Luis Fernando Verissimo ao site gaúcho nd+ em 2010.

Em 1956, retornou ao Brasil e começou a trabalhar em jornais. Começou a assinar uma coluna própria no jornal Zero Hora após se destacar cobrindo as férias do colunista Sérgio Jockymann. Escreveu crônicas sobre futebol, cinema, literatura e comportamento com o humor e ironia que se tornaram característicos de sua obra.

Em 1963, casou-se com Lúcia Helena Massa, sua companheira até o fim da vida. Da união, nasceram três filhos: Fernanda, em 1964, Mariana, em 1967, e Pedro, em 1970.

Luis Fernando Verissimo lançou seu primeiro livro em 1973. "O popular: crônicas, ou coisa parecida" é uma coletânea de textos que ele havia publicado em jornais, acompanhados de desenhos feitos pelo próprio autor. Luis Fernando guardou uma cópia da primeira edição com uma dedicatória a si mesmo: "Para o autor dos meus dias e outras grandes obras? Um abraço, Luis Fernando. Porto Alegre, 11/12/73". O exemplar hoje faz parte do acervo da Universidade do Vale do Rio dos Sinos, na capital gaúcha.

Publicou mais de 60 livros ao longo da vida. Alguns dos títulos mais famosos são "A Mesa Voadora" (1982), "O jardim do diabo" (1988, seu primeiro romance), "As Mentiras que os Homens Contam" (2000) e "Comédias para Se Ler na Escola" (2001).

Consagrou-se com personagens que representavam setores da sociedade brasileira. Dentre eles, o Analista de Bagé, que aplica um "joelhaço" em seus pacientes para fazê-los se esquecerem das dores emocionais, e a Velhinha de Taubaté, descrita como "a última pessoa no Brasil que ainda acredita no governo" — criada no contexto da decadência da ditadura militar.

Nos últimos anos, enfrentou problemas de saúde. Em 2020, teve um câncer ósseo na mandíbula, que tratou com uma cirurgia bem-sucedida. No ano seguinte, no entanto, sofreu um AVC que o fez parar de escrever. As sequelas, combinadas com o avanço da doença de Parkinson, aceleraram a deterioração de sua saúde.

Nenhum comentário:

Postar um comentário