Prólogo
O tema Inteligência Artificial (IA) tem sido tratado neste Blog desde 2014. Foi em "O cinema versus IA" (ler aqui)
Outras menções neste Blog: A polêmica no universo blade runner , ChatGPT: pro-bem? menos, pro-mal? mais , Ignorância Artificial , IA tem controle? , IA e a barbárie
Recentemente me deparei com uma entrevista do cineasta Fernando Meirelles (ver aqui) em que diz sobre as consequências da IA na produção audio-visual e seu impacto no desemprego da área.
Amparado na máxima de que a tecnologia não é má nem boa, mas não é neutra vamos tratar IA numa perspectiva histórica e num contexto da acumulação capitalista.
Intermission
O filme 2001 uma odisseia no espaço de 1968 já tratava de IA: o computador HAL 9000 (Heuristically programmed ALgorithmic computer, ou Computador Algorítmico Heuristicamente Programado). HAL é um computador com avançada inteligência artificial, instalado a bordo da nave espacial Discovery e responsável por todo seu funcionamento. É o vilão do filme
O filme Solaris de 1972, baseado no livro homônimo de Stanisław Lem, tem outro enfoque. Mais existencial e emocional em se tratando da ciência e tecnologia. O homem é o único agente que faz da ciência algo imoral. Não se esqueça de Hiroshima. (em fala da personagem do astronauta/psicólogo Kris Kelvin)
Mais sobre estes dois filmes ler aqui.
A Revolução Industrial na visão de Eric Hobsbawn
In: A Era das Revoluções. São Paulo: Paz &Terra, 1996, p. 43-70
(...) 2. As condições gerais para a “explosão” da Revolução Industrial. Na primeira parte do texto, Hobsbawm procura definir a Revolução Industrial e começa a tratar das condições que permitiram que esta tivesse acontecido na Grã-Bretanha, especialmente aquelas condições internas do país.
Como Hobsbawm definiu Revolução Industrial?
Segundo Hobsbawm, por volta de 1780, pela primeira vez na história, o poder produtivo do homem se tornou capaz de se multiplicar de forma rápida, constante e ilimitada. Hobsbawm identifica nas transformações tecnológicas causa suficiente para a revolução industrial?
Sobre as razões para que a revolução tivesse ocorrido na Grã-Bretanha, ele argumenta que isso não se deveu à superioridade tecnológica e científica, o que não era o caso da Inglaterra. Não houve, segundo ele, necessidade de um quadro de grande “refinamento intelectual” para que a revolução industrial ocorresse, pois seus inventos tecnológicos foram bastante modestos e se fizeram por conta própria. As primeiras condições identificadas por Hobsbawm para que a Revolução tivesse ocorrido na Inglaterra dizem respeito às condições sociais e políticas internas do país. Quais eram elas?
As condições adequadas estavam visivelmente presentes na Grã-Bretanha. Na agricultura, uma relativa quantidade de proprietários com espírito comercial já quase monopolizava a terra e a agricultura já estava preparada para levar a termo suas três funções fundamentais numa era de industrialização: aumentar a produção e a produtividade de modo a alimentar uma população não agrícola em rápido crescimento; fornecer um grande e crescente excedente de recrutas em potencial para as cidades e as indústrias; fornecer um mecanismo para o acúmulo de capital a ser usado nos setores mais modernos da economia.
Além disso, o governo já vinha fazendo os necessários e caros investimentos de infraestrutura, principalmente na construção de uma frota mercante e de facilidades portuárias e na melhoria das estradas e vias navegáveis. Como ele observa, a política já estava engatada ao lucro.
3. Industrialização e política externa: a indústria têxtil e o imperialismo colonial inglês. Na segunda parte do texto, Hobsbawm identifica outros fatores ainda mais fundamentais para que a Revolução tivesse ocorrido na Inglaterra. Eles estão ligados à relação desse país com o mundo e sua influência seria mais diretamente sentida na indústria têxtil. Quais são esses fatores e por que a indústria têxtil inglesa foi sua principal beneficiária?
Segundo Hobsbawm, além dos fatores já apontados, duas coisas eram necessárias para explicar a Revolução Industrial na Inglaterra: primeiro, a existência de uma indústria que recompensasse excepcionalmente aqueles que pudessem expandir sua produção de forma rápida, e, segundo, a presença de um mercado mundial monopolizado por uma nação apenas. Ele mostra que essas condições estiveram presentes na expansão da indústria algodoeira inglesa.
Isso foi possível, segundo ele, porque o comércio colonial, ao prometer uma expansão não apenas grande, mas também rápida e imprevisível, encorajou o empresário a adotar as técnicas revolucionárias que tornassem isso possível.
Assim, indústria algodoeira britânica se criou e desenvolveu com esse comércio, que forneceu sua matéria-prima, os tecidos indianos de algodão que seriam imitados, e seu mercado consumidor. Além disso, o industrial se beneficiou do comércio de escravos africanos, comprados, em parte, com produtos de algodão. Além disso, as plantações escravagistas que forneciam o algodão para a indústria compravam, em troca, tecidos.
Segundo o autor, foram astronômicos os lucros para o homem que pudesse entrar primeiro nesse mercado com as maiores quantidades de algodão. Agora, se esse produtor fosse cidadão de um país, como a Inglaterra, que, por meio de guerras e domínio imperial, conseguiu monopolizar todos ou quase todos os seus setores desse mercado internacional, então, as possíveis recompensas eram ilimitadas.
Ao final dessa parte, ele trata de outras características da indústria têxtil inglesa que tornaram este o primeiro ramo industrial moderno. Quais foram?
Como observa Hobsbawm, os inventos necessários para revolucionar a indústria, simples e baratos, se pagavam nos primeiros ganhos. Isso foi determinante, uma vez que os homens abastados do século XVIII ainda não estavam muito seduzidos a investir vultuosamente na indústria. Além disso, tal característica permitiu que a indústria se expandisse por conta própria. Outra vantagem foi que sua demanda crescente por matéria-prima podia ser atendida por meio dos métodos coloniais – como a escravidão e a abertura de novas áreas de cultivo – mais radicais, rápidos e eficazes do que os da agricultura europeia.
A produção colonial estava livre dos interesses agrários que atravancavam a produção na Europa.
4. O impacto econômico e social da nova indústria, a algodoeira.
A seguir, Hobsbawm trata das consequências socioeconômicas da indústria têxtil. Por que, nesse aspecto, o peso dela seria também distinto das demais indústrias?
Em primeiro lugar, era a única indústria britânica na qual predominava a fábrica e empregava muito mais pessoal. Em segundo lugar, seu poder de transformação era muito maior, por conta das exigências do ramo, que demandavam mais construções e novas atividades relacionadas a ele e a seu comércio. Esse aspecto foi suficiente para que se identificasse nela a principal causa do crescimento econômico da Grã-Bretanha até meados de 1830. Em terceiro lugar, a expansão da indústria algodoeira foi tão vasta e seu peso no comércio exterior da Grã-Bretanha tão grande que dominou os movimentos de toda a economia. Se o algodão florescia, a economia florescia; se ele caía, também caía a economia.
Ele lembra, não obstante, que a indústria seria responsável por graves consequências socioeconômicas. Quais foram elas?
Segundo Hobsbawm, seu progresso produziu uma severa desaceleração no crescimento da renda nacional da Gra-Bretanha e outras consequências sociais mais sérias. Em suma, o período de transição para a economia industrial gerou a miséria e o descontentamento, resultando nas revoluções de 1848 no Europa e nos amplos movimentos cartistas que ocorreram na Grã-Bretanha. Isso porque a exploração da mão-de-obra, achatando renda dos trabalhadores em nível de subsistência, não apenas possibilitava o acúmulo dos lucros por parte dos industriais, como fomentava o conflito social. Além disso, havia também pequenos homens de negócios, fazendeiros e outras categorias que, por saber o suficiente sobre dinheiro e crédito, nutriam uma ira pessoal em relação aos grandes financistas, dada sua situação de desvantagem nos negócios.
Além disso, ele vai mostrar que a crise econômica desencadeada por essa indústria explicitaria os problemas econômicos de seu crescimento. Qual seria a reação?
Ela explicitará algumas falhas inerentes ao processo que ameaçavam o lucro. Uma delas era a constatação do ciclo de boom e depressão, mas não era considerada séria ou que refletisse qualquer problema estrutural do sistema, exceto pelos críticos do capitalismo. A segunda era a decrescente margem de lucros, causada pela perda gradativa das vantagens iniciais de que a indústria havia se beneficiado. Em primeiro lugar, por conta das quedas dramáticas e constantes no preço dos produtos acabados (não acompanhadas pelos vários custos de produção) provocadas pela própria revolução industrial e sua consequente competição. Em segundo lugar, porque a situação dos preços no geral seria de deflação. Assim, os lucros se viram sem o impulso extra que a inflação costumava propiciar.
Nessas condições, era grande a pressão para que a indústria se mecanizasse (baixando os custos por meio da diminuição da mão-de-obra), racionalizasse e aumentasse a produção, compensando com um aumento global nas vendas o que se perdia individualmente por produto.
5. O fundamento para um desenvolvimento continuado: a indústria de bens de produção, o trabalho e capital
a. A indústria de bens de capital
Hobsbawm esboça como se deu a construção de uma indústria básica de bens de capital. Aqui, ele mostra como um elemento não econômico foi fundamental para o desenvolvimento da indústria de bens de produção. Qual foi esse elemento?
Segundo ele, as condições para o desenvolvimento da indústria de bens de produção só passaram a existir quando a revolução industrial já estava em curso e esse desenvolvimento teve como patrocinadores “especuladores, aventureiros e sonhadores”, e não “verdadeiros homens de negócios”. Isso se dava especialmente com a metalurgia. Mas não era tanto o caso da mineração do carvão, que tinha a vantagem de ser não somente a principal fonte de energia industrial e doméstica do século XIX.
As modestas, mas eficazes inovações nessa área estimularam a produção e a invenção que iriam transformar radicalmente as indústrias de bens de capital – a ferrovia –, dada a necessidade de transporte para trazer grandes quantidades de carvão do fundo das minas até a superfície e dali aos pontos de embarque. Essa invenção teve enorme poder de sedução, pois revelava cabalmente para o leigo o poder e a velocidade da nova era. Assim, antes mesmo de se provar lucrativa, eram feitos planos para a sua construção na maioria dos países do mundo ocidental. Ela significou, economicamente, um enorme estímulo à produção de ferro e aço, carvão, maquinaria pesada, mão-de-obra e investimentos de capital, necessários à produção e funcionamento das ferrovias. Sua demanda por esses produtos permitiu às indústrias de bens-de-capital se revolucionarem.
b. O problema da mão-de-obra
Em seguida, Hobsbawm trata de outros fatores fundamentais para manter o novo curso revolucionário. O primeiro era o da mão-de-obra. Nesse momento, o autor tem oportunidade de voltar aos efeitos sociais negativos associados ao primeiro surto industrial. Um deles não era resultado, mas sim causa da revolução industrial. Qual era esse efeito?
Ele lembra que uma economia industrial implica em brusco declínio proporcional da população rural, em proveito da população urbana, e rápido aumento geral da população. Isso tudo demandou um crescimento radical na produção de alimentos, ou seja, uma “revolução agrícola”. Isso foi possível, porque o crescimento urbano já tinha estimulado a agricultura que, de tão arcaica, mudanças muito pequenas produziram resultados absolutamente grandes e incetivaram rápidos aumentos populacionais.
Além disso, houve também a transformação na estrutura social agrária que, mais do que racionalizar e ampliar a área cultivável, fez da Grã-Bretanha um país de alguns grandes proprietários e um enorme número de trabalhadores contratados. Se em termos econômicos essa transformação foi um sucesso, em termos de “sofrimento humano”, foi uma tragédia, reduzindo os camponeses a uma população destituída e desmoralizada. Daí, viria a mão-de-obra necessária à indústria.
O segundo, sim, foi consequência da revolução industrial. Qual foi?
Outro desafio para os industriais era conseguir trabalhadores com as necessárias qualificações e habilidades. Primeiramente, aptos a trabalharem num ritmo regular e ininterrupto e que fossem receptivos aos incentivos monetários.
A resposta foi encontrada na extremamente severa disciplina da mão-de-obra e, acima de tudo, no pagamento de salários tão baixos que obrigassem o operário a trabalhar incansavelmente para obter uma renda mínima. Além disso, recorreu-se ao emprego de mulheres e crianças, mais dóceis.
c. O capital
Por fim, ele trata do capital e mostra como as desvantagens iniciais da industrialização foram compensadas por outros fatores presentes na Inglaterra. Quais foram essas dificuldades e suas compensações?
Quanto ao fornecimento de capital, a maior dificuldade era que os que controlavam a maior parte desse capital no século XVIII relutavam em investi-lo nas novas indústrias. Nessas condições, as indústrias se viam condenadas a ser iniciadas com pequenas economias ou empréstimos e desenvolvidas pela lavra dos lucros.
Por outro lado, os ricos do século XVIII estavam preparados para investir seu dinheiro em certas atividades cuja existência era necessária à industrialização, como é caso dos transportes e das minas. Outra vantagem inglesa, segundo o autor, é que nesse período já não havia na Inglaterra qualquer dificuldade quanto aos saberes técnicos, comerciais e financeiros, seja na esfera pública ou privada. Por fim, ele lembra que, por volta do final do século XVIII, a política governamental decididamente trabalhou pela expansão dos negócios.
Bibliografia sugerida
ASHTON, T. S. A Revolução Industrial. Mira-Sintra: Publicações Europa-América, 1973.
HOBSBAWM, Eric. Da Revolução Industrial Inglesa ao Imperialismo. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2000.
LANDES, David. Prometeu desacorrentado: transformação tecnológica e desenvolvimento industrial na Europa Ocidental, de 1750 até os dias de hoje. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005.
MANTOUX, Paul. A Revolução Industrial no Século XVIII. São Paulo: Ed. Unesp, 1985.
Revoluções de 1848
Revoluções de 1848, conhecidas em alguns países como a Primavera dos Povos ou Primavera das Nações, foram uma série de revoluções em toda a Europa ao longo de mais de um ano, de 1848 a 1849. Continua a ser a onda revolucionária mais generalizada na história europeia até hoje.
Dinamarca
A Primeira Guerra do Eslésvico também chamada Guerra dos Três Anos, foi o primeiro dos conflitos militares no sul da Dinamarca e no norte da Alemanha provocados pela Questão dos Ducados, uma disputa pelo controle dos ducados do Eslésvico e Holsácia.
França
Lamartine em frente à Câmara Municipal de Paris rejeita a bandeira vermelha em 25 de fevereiro de 1848, por Henri Félix Emmanuel Philippoteaux. Revolução Francesa de 1848, às vezes conhecida como a Revolução de Fevereiro, foi uma onda de revoluções em 1848 na Europa. Na França, os eventos revolucionários encerraram a Monarquia de Julho (1830-1848) e levaram à criação da Segunda República Francesa.
Após a queda do rei Luís Felipe I da França em fevereiro de 1848, o governo eleito da Segunda República governou a França. Nos meses que se seguiram, esse governo se tornou mais conservador. Em 23 de junho de 1848, o povo de Paris entrou em insurreição, que se tornou conhecida como Revoltas de Junho — uma rebelião sangrenta mas malsucedida pelos trabalhadores parisienses contra uma mudança conservadora no caminho da República. Em 2 de dezembro de 1848, Luís Napoleão Bonaparte foi eleito presidente da Segunda República, em grande parte com apoio camponês. Exatamente três anos depois, suspendeu a assembleia eleita, estabelecendo o Segundo Império Francês, que durou até 1870. Luís Napoleão passaria a se tornar o último monarca francês de facto.
A revolução de fevereiro estabeleceu o princípio do "direito ao trabalho", e seu governo recém-criado criou "Oficinas Nacionais" para os desempregados. Ao mesmo tempo, uma espécie de parlamento industrial foi estabelecido no Palácio do Luxemburgo, sob a presidência de Louis Blanc, com o objetivo de preparar um esquema para a organização do trabalho. Essas tensões entre liberalistas liberais e republicanos radicais e socialistas levaram à Revoltas de Junho.
Alemanha
As Revoluções de 1848 nos Estados alemães, também chamada de Revolução de Março — parte das Revoluções de 1848 que eclodiram na Europa — foram uma série de protestos coordenados e rebeliões nos Estados da Confederação Germânica, incluindo o Império Austríaco. As revoluções salientaram o pangermanismo, enfatizaram o descontentamento popular com a tradicional estrutura amplamente autocrática dos 39 Estados independentes da Confederação, que havia herdado o território alemão do Sacro Império Romano-Germânico. Além disso, demonstraram o desejo popular para uma maior liberdade política, junto com políticas liberais, a liberdade de expressão, democracia e nacionalismo. Os elementos da classe média estavam preenchidos com princípios liberais, enquanto a classe trabalhadora buscou melhorias radicais em suas condições de trabalho e de vida. No entanto, a classe média e os componentes da classe trabalhadora foram divididos durante a Revolução, e no final, a aristocracia conservadora havia derrotado ambas as partes, forçando muitos liberais para o exílio.
Itália
As revoluções de 1848 nos estados italianos, parte das revoluções mais amplas de 1848 na Europa, foram revoltas organizadas nos estados da península italiana e da Sicília, lideradas por intelectuais e agitadores que desejavam um governo liberal. Como nacionalistas italianos, procuraram eliminar o controle reacionário austríaco. Durante esse período, a Itália não era um país unificado e era dividida em muitos estados, os quais os do norte da Itália eram governados pelo Império Austríaco. O desejo de ser independente do domínio estrangeiro e a liderança conservadora dos austríacos levaram os revolucionários italianos a encenar a revolução para expulsar os austríacos. A revolução foi liderada pelo estado do Reino da Sardenha. Além disso, os levantes no Reino Lombardo-Vêneto, principalmente em Milão, forçaram o general austríaco Radetzky a recuar para as fortalezas do Quadrilátero.
O rei Carlos Alberto, que governou Piemonte-Sardenha de 1831 a 1849, aspirava unir a Itália sob a liderança do bispo de Roma, também conhecido como papa. Ele declarou guerra à Áustria em março de 1848 e lançou um ataque total ao Quadrilátero. Na falta de aliados, Carlos Alberto não era páreo para o Exército do Império Austríaco. Ele foi derrotado na Batalha de Custoza em 24 de julho de 1848, assinou uma trégua e retirou suas forças da Lombardia. Por fim, a Áustria permaneceu dominante sobre uma Itália dividida, e a revolução se perdeu.
Áustria
As Revoluções de 1848 no Império Austríaco foram um conjunto de revoluções ocorridas no Império Austríaco de março de 1848 a novembro de 1849. Grande parte da atividade revolucionária teve caráter nacionalista: o Império, governado a partir de Viena, incluía alemães étnicos, húngaros, eslovenos, poloneses, tchecos, eslovacos, rutenos (ucranianos), romenos, croatas, venezianos e sérvios; todos os quais tentaram, no curso da revolução, alcançar autonomia, independência ou mesmo hegemonia sobre outras nacionalidades. A imagem nacionalista foi ainda mais complicada pelos eventos simultâneos nos estados alemães, que se moveram em direção a uma maior unidade nacional alemã. Além desses nacionalistas, correntes liberais e mesmo socialistas resistiam ao antigo conservadorismo do Império.
Hungria
A revolução húngara de 1848 foi uma das muitas revoluções desse ano, fortemente ligada às revoluções na área sob domínio dos Habsburgos. A revolução na Hungria chegou a degenerar em guerra pela independência do Império Austríaco. Muitos dos seus líderes, incluindo Lajos Kossuth e Sándor Petőfi, estão entre as maiores figuras da história da Hungria, e o aniversário do dia de início da revolução (começou em 15 de março) é um dos três feriados nacionais.
Romênia
A Revolução Valáquia de 1848 foi uma revolta liberal e nacionalista romena no Principado da Valáquia. Parte das Revoluções de 1848, e intimamente ligado à revolta fracassada no Principado da Moldávia, procurou derrubar a administração imposta pelas autoridades imperiais russas sob o regime orgânico Regulamentul, e, através de muitos de seus líderes, exigiu a abolição do privilégio boiardo. Liderado por um grupo de jovens intelectuais e oficiais da milícia valaquiana, o movimento conseguiu derrubar o príncipe governante Gheorghe Bibescu, a quem substituiu por um governo provisório e uma regência, e aprovar uma série de grandes reformas progressistas, anunciadas na Proclamação de Islaz.
Apesar de seus rápidos ganhos e apoio popular, o novo governo foi marcado por conflitos entre a ala radical e forças mais conservadoras, especialmente sobre a questão da reforma agrária. Dois golpes abortados sucessivos foram capazes de enfraquecer o governo, e seu status internacional sempre foi contestado pela Rússia. Depois de conseguir reunir um certo grau de simpatia dos líderes políticos otomanos, a Revolução foi finalmente isolada pela intervenção de diplomatas russos e reprimida por uma intervenção comum dos exércitos otomano e russo, sem qualquer forma significativa de resistência armada. No entanto, na década seguinte, a realização de seus objetivos foi possível graças ao contexto internacional, e os ex-revolucionários se tornaram a classe política original na Romênia unida.
Reino Unido
A Revolta de Tipperary foi uma revolta nacionalista irlandesa fracassada liderada pelo movimento Young Ireland, parte das revoluções mais amplas de 1848 que afetaram a maior parte da Europa. Ocorreu em 29 de julho de 1848 em Farranrory, um pequeno assentamento a cerca de 4,3 km ao norte-nordeste da vila de Ballingarry, South Tipperary. Depois de ser perseguido por uma força de jovens irlandeses e seus apoiadores, uma unidade da polícia irlandesa se refugiou em uma casa e manteve os que estavam dentro como reféns. Seguiu-se um tiroteio de várias horas, mas os rebeldes fugiram depois que um grande grupo de reforços policiais chegou.
Às vezes é chamada de Rebelião da Fome (uma vez que ocorreu durante a Grande Fome Irlandesa), a Batalha de Ballingarry ou a Batalha do Repolho da Viúva McCormack .
Suíça
A Guerra de Sonderbund é uma guerra civil que iniciou-se depois da constituição adoptada entre 1830-1831 no princípio da "Régénération" — período entre as revisões constitucionais cantonais e a fundação do Estado Federal Suíço em 1848 — onde onze cantões se tinham dotado de um regime liberal representativo. A questão da revisão do Pacto Federal de 1815 passa para primeiro plano. O conflito entre liberais-radicais e conservadores conduziu à formação de duas primeiras alianças separadas, ambas supra-confessionais (os aspectos religiosos não tiveram importância em princípio): em março de 1832, sete cantões liberais fundaram a Concordata dos Sete; em novembro, seis cantões conservadores criam a Liga de Sarnen, dissolvida pela Dieta federal em agosto de 1833, pois que entrava em conflito com o Pacto Federal. Quando em 1845, os sete cantões conservadores e católicos de Lucerna, Uri, Schwytz, (Unterwald que no caso é um cantão com dois semicantões que são Nidwald e Obwald), Zug, Friburgo e também o de Valais concluem uma associação defensiva visando sobretudo salvar a religião católica e a soberania cantonal.
Os liberais não viram outra coisa do que uma nova aliança separara, em alemão Sonderbund, termo que se impôs para designar este fato. A crise toma tais proporções que se transforma em 1847 numa guerra civil.
América latina
Na América espanhola, as revoluções de 1848 surgiram em Nova Granada, onde estudantes, liberais e intelectuais colombianos exigiram a eleição do general José Hilario López. Ele assumiu o poder em 1849 e lançou grandes reformas, abolindo a escravidão e a pena de morte, e garantindo liberdade de imprensa e de religião. A turbulência resultante na Colômbia durou três décadas; de 1851 a 1885, o país foi devastado por quatro guerras civis gerais e 50 revoluções locais.
No Chile, as revoluções de 1848 inspiraram a revolução chilena de 1851.
No Brasil, a Revolução Praieira, movimento em Pernambuco, durou de novembro de 1848 a 1852. Conflitos não resolvidos do período da regência e a resistência local à consolidação do Império Brasileiro proclamado em 1822 ajudaram a plantar as sementes da revolução.
No México, o governo conservador liderado por Santa Anna perdeu a Califórnia e metade do território para os Estados Unidos na Guerra Mexicano-Americana de 1845-1848. Em decorrência dessa catástrofe e dos problemas crônicos de estabilidade, o Partido Liberal iniciou um movimento reformista. Este movimento, por meio de eleições, levou os liberais a formularem o Plano de Ayutla. O Plano escrito em 1854 tinha como objetivo remover o presidente conservador e centralista Santa Anna do controle do durante o período da Segunda República Federal do México. Inicialmente, parecia pouco diferente de outros planos políticos da época, mas é considerado o primeiro ato da Reforma Liberal. Foi o catalisador de revoltas em muitas partes do país, o que levou à renúncia de Santa Anna da presidência, para nunca mais concorrer a um cargo. Os próximos presidentes do México foram os liberais Juan Álvarez, Ignacio Comonfort e Benito Juárez . O novo regime então proclamaria a Constituição Mexicana de 1857, que implementou uma variedade de reformas liberais. Entre outras coisas, estas reformas confiscaram propriedades religiosas, tinham como objectivo promover o desenvolvimento económico e estabilizar um governo republicano nascente.
Legado
"Fomos espancados e humilhados... dispersos, presos, desarmados e amordaçados. O destino da democracia europeia escapou de nossas mãos." Pierre-Joseph Proudhon
A historiadora Priscilla Robertson postula que muitos objetivos foram alcançados na década de 1870, mas o crédito vai principalmente para os inimigos dos revolucionários de 1848, comentando: "A maior parte do que os homens de 1848 lutaram foi concretizado em um quarto de século e os homens que o realizaram foram, em sua maioria, inimigos específicos do movimento de 1848. Thiers inaugurou uma Terceira República Francesa, Bismarck uniu a Alemanha e Cavour, a Itália. Deák conquistou autonomia para a Hungria dentro de uma monarquia dual; um czar russo libertou os servos; e as classes manufatureiras britânicas se moveram em direção às liberdades da Carta do Povo."
Os democratas liberais consideraram 1848 como uma revolução democrática que, a longo prazo, garantiu a liberdade, igualdade e fraternidade. Para os nacionalistas, 1848 foi a primavera da esperança, quando as novas nacionalidades emergentes rejeitaram os antigos impérios multinacionais, mas os resultados finais não foram tão abrangentes quanto muitos esperavam. Os comunistas denunciaram 1848 como uma traição aos ideais da classe trabalhadora por uma burguesia indiferente às demandas legítimas do proletariado. A visão das Revoluções de 1848 como uma revolução burguesa também é comum em estudos não marxistas. Ansiedade da classe média e as diferentes abordagens entre os revolucionários burgueses e os radicais levaram ao fracasso das revoluções.
Muitos governos se envolveram em uma reversão parcial das reformas revolucionárias de 1848-1849, bem como no aumento da repressão e da censura. A nobreza hanoveriana apelou com sucesso à Dieta Confederal em 1851 pela perda de seus privilégios nobres, enquanto os junkers prussianos recuperaram seus poderes policiais senhoriais de 1852 a 1855. No Império Austríaco, as Patentes Sylvester (1851) descartaram a constituição de Franz Stadion e o Estatuto dos Direitos Básicos, enquanto o número de prisões nos territórios dos Habsburgos aumentou de 70 mil em 1850 para um milhão em 1854. O governo de Nicolau I da Rússia após 1848 foi particularmente repressivo, marcado pela expansão da polícia secreta (Tretiye Otdeleniye) e por uma censura mais rígida; havia mais russos trabalhando para os órgãos de censura do que livros publicados no período imediatamente após 1848. Na França, as obras de Charles Baudelaire, Victor Hugo, Alexandre Ledru-Rollin e Pierre-Joseph Proudhon foram confiscadas.
Na década pós-revolucionária de 1848, pouca coisa mudou visivelmente, e muitos historiadores consideraram as revoluções um fracasso, dada a aparente falta de mudanças estruturais permanentes. Mais recentemente, Christopher Clark caracterizou o período que se seguiu a 1848 como dominado por uma revolução no governo. Karl Marx expressou decepção com o caráter burguês das revoluções. Marx elaborou no seu “Discurso do Comité Central à Liga dos Comunistas” de 1850 uma teoria da revolução permanente segundo a qual o proletariado deveria fortalecer as forças revolucionárias burguesas democráticas até que o próprio proletariado estivesse pronto para tomar o poder.
O primeiro-ministro prussiano Otto von Manteuffel declarou que o estado não poderia mais ser administrado como a propriedade fundiária de um nobre. Na Prússia, o jornal Preußisches Wochenblatt de August von Bethmann-Hollweg (fundado em 1851) atuou como um meio popular para modernizar estadistas e jornalistas conservadores prussianos contra a facção reacionária Kreuzzeitung. As Revoluções de 1848 foram seguidas por novas coligações centristas dominadas por liberais nervosos com a ameaça do socialismo da classe trabalhadora, como se viu no Conúbio piemontês sob Camillo Benso, Conde de Cavour .
A relação entre Karl Marx e o ano de 1948 é marcada por eventos significativos que refletem a influência de suas ideias na sociedade europeia. A Revolução de 1848, que Marx e Engels acompanharam e criticaram, foi um marco na luta dos operários e na busca por uma sociedade mais justa e igualitária. O Manifesto Comunista, redigido por Marx e Engels, foi um documento crucial que orientou os movimentos revolucionários e sociais na Europa e no mundo. A celebração do centenário do Manifesto do Partido Comunista em 1948 destacou a importância das ideias de Marx e Engels na luta contra a opressão e na busca por uma sociedade mais justa. Marx e a Revolução Europeia de 1848
Epílogo
Sem prejuízo de comparações entre IA e a Revolução Industrial tem-se aqui ideias dos prós, contras, prejuízos, efeitos e consequências nos dois eventos históricos. Se a motivação foi o desemprego da classe trabalhadora dito por Fernando Meirelles, o objeto deste post foi de esclarecimento e alerta.
Bernard Marr cita 15 riscos da IA: Falta de transparência, Preconceito e discriminação, Preocupações com a privacidade, Dilemas éticos, Riscos de segurança, Concentração de poder, Dependência de IA, Deslocamento de trabalho, Desigualdade econômica, Desafios legais e regulatórios, Corrida armamentista IA, Perda da conexão humana, Desinformação e manipulação, Consequências não intencionais e Riscos existenciais.
Aos fatos: o manifesto comunista de Marx e Engels é de 1848, assim como as revoluções de 1948 descritas neste texto. Tudo no olho do furacão da Revolução Industrial. A IA é da idade da computação ou década de 1950, um século após o olho do furacão citado. Os prós, contras, prejuízos, efeitos e consequências serão semelhantes? A história dirá.
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