Inimigos à Força, Showdown, 1973, George Seaton
Argentina, 1985, 2022, Santiago Mitre
Nada de Novo no Front, Im Westen nichts Neues, 2022, Edward Berger
Sem Novidade no Front, All Quiet on the Western Front, 1930, Lewis Milestone
Última Hora, The Front Page, 1931, Lewis Milestone
Sete Dias de Maio, Seven Days in May, 1964, John Frankenheimer
Penoza: The Final Chapter, 2019, Diederik Van Rooijen
Os Donos da Noite, We Own the Night, 2007, James Gray
Rua Augusta, Série de TV, 2018– , Fábio Mendonça e Pedro Morelli
Transamazônica - Uma Estrada para o Passado, Minissérie de televisão, 2021, Fabiano Maciel, Jorge Bodanzky
Aconteceu num Apartamento, The Notorious Landlady, 1962, Richard Quine
Não Se Preocupe, Querida, Don't Worry Darling, 2022, Olivia Wilde
O Milagre, The Wonder, 2022, Sebastián Lelio
A Mulher Rei, The Woman King, 2022, Gina Prince-Bythewood
Enterrem Meu Coração na Curva do Rio, Bury My Heart at Wounded Knee, HBO, 2007, Yves Simoneau
Wandinha, Wednesday, 2022–, Tim Burton, James Marshall e Gandja Monteiro
Rabo de Foguete, Visit to a Small Planet, 1960, Norman Taurog
Tuareg: O Guerreiro do Deserto, Il guerriero del deserto, 1984, Enzo G. Castellari
Carvão, 2022, Carolina Markowicz
Pinóquio, Pinocchio, 2022, Guillermo del Toro e Mark Gustafson
O Amante de Lady Chatterley, Lady Chatterley's Lover, 2022, Laure de Clermont-Tonnerre
A Mãe, 2022, Cristiano Burlan
O Gabinete de Curiosidades de Guillermo Del Toro, Guillermo del Toro's Cabinet of Curiosities, Série de TV, 2022
The Mustang. 2019, Laure de Clermont-Tonnerre
28/10/22
Inimigos à Força, Showdown, 1973, George Seaton
No iutubi
Dois amigos de infância se reencontram, após anos sem se ver, em lados opostos da lei. Billy Massey (Dean Martin) é um rancheiro em falência que, por ser um grande atirador, acaba se aliando a três bandidos e participa de um roubo ousado em um trem da linha Denver-Rio. Chuck Jarvis (Rock Hudson) é o novo xerife da cidade que deve capturar o fora-da-lei. E no meio dos dois, existe Kate (Susan Clark), esposa de Billy, que também foi uma grande paixão de Chuck no passado. Filmow https://filmow.com/inimigos-a-forca-t58723/
30/11/22
Argentina, 1985, 2022, Santiago Mitre
"Argentina, 1985"
Assista ao filme e sinta inveja ao ver que, lá, os generais foram em cana
Roberto Muylaert, FSP, 30/10/2022
Para mim, cinema argentino é Ricardo Darín. Claro que não é só isso, mas um bom ator como ele convence sempre, qualquer que seja o tipo de filme, amparado por uma equipe de roteiristas, fotógrafos, produtores e diretores que fazem a diferença graças aos cursos técnicos de bom nível que sempre existiram naquele país.
Bom a gente assistir a "Argentina, 1985" em época de eleições, porque não é possível votar em Jair Bolsonaro (PL) na sua qualidade de declarado admirador do celerado delinquente, membro das nossas Forças Armadas, coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra —ex-chefe do DOI-Codi do 2º Exército, em São Paulo, um dos órgãos atuantes na repressão política, durante a ditadura militar no Brasil.
A Argentina torturou e matou muito mais gente que o Brasil; em por isso os crimes do gênero perpetrados por aqui são menos indecentes.
Na Argentina, os militares envolvidos foram em cana, sendo alguns ex-presidentes punidos com prisão perpétua.
Aqui não: muito torturador circula por aí, assustando os antigos "clientes" com quem podem cruzar na rua por acaso. Brasil tem o tal do jeitinho, que acho até uma qualidade do nosso espírito, em oposição ao estilo germânico, onde a espinha dorsal quebra, mas não verga. Somos mais flexíveis.
Mas, no campo dos direitos humanos, não há como "dar um jeitinho" ao anistiar conhecidos criminosos que trataram com desdém garantias da Declaração dos Direitos Humanos Universais. O fato é que eles foram perdoados "ad limine" por uma anistia em que se comparam oficiais do Exército e seus homens instalados em próprios das Forças Armadas, aos guerrilheiros aniquilados.
Nosso jeitinho foi além, revelando em testemunhos os abusos cometidos por agentes da ditadura —Comissão da Verdade—-, mas sem finalidade punitiva, pois a anistia geral, ampla e irrestrita seguiu valendo, mesmo tendo sido estabelecida ainda na ditadura militar.
Assista ao filme e sinta inveja ao notar que os generais de lá, após esgotarem suas pesadas ameaças, foram em cana —sem antes se debaterem como peixe apanhado na rede de seus próprios malfeitos. Por aqui, faltou a figura valente do promotor Julio Cesar Strassera, vivido por Darín.
Em tempo
Assisti hoje 'Argentina 1985'. Recomendadíssimo. A arte a serviço da história. "O sadismo não é uma ideologia política, nem uma estratégia bélica, mas umapeversão moral. Este julgamento e a sentença que proponho buscam estabelecer a paz baseada não no esquecimento, mas na memória, não na violência, mas na justiça. Esta é nossa oportunidade, talvez a última. Senhores juízes: quero renunciar expressamente a qualquer pretensão de originalidade para encerrar esta requisitória. Quero usar uma frase que não me pertence, porque pertence já a todo o povo argentino. Senhores juízes: nunca más!" (discurso final do promotor Júlio Cesar Strassera interpretado por Ricardo Darin)
Argentina, 1985 • Trailer Legendado
02/11/22
Nada de Novo no Front, Im Westen nichts Neues, 2022, Edward Berger
CRÍTICA | NADA DE NOVO NO FRONT (2022)
Remarque atemporal e, infelizmente, verdadeiro.
por RITTER FAN, 2 de novembro de 2022
Há uma discussão potencialmente interessante – que não pretendo chegar nem próximo de esgotar – sobre filmes antibelicistas que fazem uso de belíssimas composições de quadros e de deslumbrante fotografia mesmo em seus momentos mais terríveis, artifícios que podem ser interpretados como formas de se suavizar o horror e de sobrepor a forma sobre a substância. Obviamente que qualquer conclusão sobre o assunto dependerá do caso concreto, mas minha tendência natural é considerar a beleza estética de uma obra desta natureza como uma maneira de amplificar seu choque, sua força, sua tragédia ao criar fortes antíteses visuais e creio que seja exatamente isso que a magnífica cinematografia de James Friend consegue evocar em Nada de Novo no Front, terceira adaptação audiovisual do clássico romance de Erich Maria Remarque, publicado pela primeira vez em 1928.
O poder da imagem, no longa dirigido pelo alemão Edward Berger, é particularmente importante, pois ela é imediatamente capaz de criar sentimentos opostos no espectador de atração e repulsão, algo que é mantido constantemente no subtexto narrativo que acompanha a jornada do jovem alemão Paul Bäumer (Felix Kammerer) de patriota inocente e seguidor de seus amigos que alegremente se alista para lutar na Primeira Guerra Mundial contra o desejo de seus pais e é arremessado nas batalhas de trincheiras da frente ocidental e que, aos poucos, na medida em que testemunha os horrores, perde seus amigos e é obrigado a cometer atos chocantes, vai perdendo a vitalidade e a vontade de viver. Diferente da abordagem rasa que a (também belíssima) imagem proporciona no recente 1917, por exemplo, aqui ela é parte integral da transformação de Paul, seja pela forma como ele muda fisicamente em um trabalho impressionante de maquiagem, seja pelo uso delicado, mas angustiante da cor vermelha pontuando seu caminho cercado de mortes, seja, finalmente, pela dessaturação geral que destaca a tragédia não como espetáculo, mas como a personificação do que eu pessimistamente chamo apenas de natureza humana, sempre tendente à destruição.
Somando-se ao visual capaz de fazer de crateras de sangue obras de arte dignas de serem enquadradas e penduradas na parede, há a assombrosa trilha sonora disruptiva e propositalmente incômoda composta por Volker Bertelmann, que por diversas vezes me lembrou do trabalho vanguardista e ousado de Mica Levi, em Jackie. Como no filme de Pablo Larraín, a sincronização musical nada na direção contrária de trilhas sonoras mais tradicionais que tendem a “desaparecer” no contexto da obra, despertando bruscamente o espectador como o aviso de um bombardeio ou ataque próximo, algo que apenas de longe lembra o estilo mais histriônico e desarmônico que Hans Zimmer fez ficar em voga.
Não é sem querer que foquei meus comentários iniciais nos elementos visuais e sonoros, pois o lado dramático do elenco é, nesta versão do livro de Remarque, algo de importância relativa menor. E não afirmo isso como algo negativo, pois não é definitivamente o caso. Sim, os soldados e talvez principalmente os oficiais são mais arquétipos do que personagens desenvolvidos, mas todos eles, inclusive o belicoso (em seu conforto) e perigosamente caricatural (com direito a um enorme cachorro preto) General Friedrichs (Devid Striesow) que não vê razão para um soldado existir sem a guerra, funcionam muito bem em suas funções. Claro que o destaque fica com Paul, já que é quase exclusivamente sob seu ponto de vista que acompanhamos a história, havendo espaço para a magnífica sequência em que ele mata com as próprias mãos pela primeira vez, algo que Berger captura com maestria usando de planos-detalhe até planos abertos e um semi-plongée de tirar o fôlego e em que Kammerer investe toda sua latitude dramática com grande efeito.
Com o benefício histórico que, por razões óbvias, nem o livro original, nem o clássico longa de 1930 dirigido por Lewis Milestone, tiveram, o roteiro que Berger co-escreveu com Lesley Paterson e Ian Stokell não só reitera a mensagem de que não há vencedores em uma guerra, como trabalha uma ponte entre as duas Guerras Mundiais ao inserir sequências encabeçadas principalmente por Daniel Brühl como Matthias Erzberger, o homem que assinou o armistício com todas as exigências feita pelo comando aliado do General Ferdinand Foch (Thibault de Montalembert). Essas sequências também usam o contraste para chocar, opondo o luxo dos oficiais do alto escalão de ambos os lados com a vida espartana dos soldados nas trincheiras, mas pecam ao quebrar o ponto de vista único de Paul Bäumer. Esse é um pecado que me deixa dividido, vale dizer, pois ele de um lado tem lógica histórica, mas, de outro, retira o foco do soldado enlameado que precisa correr de peito aberto e rifle com baioneta contra os tanques Saint-Chamond, que é minha preferência particular, confesso.
O poder imagético de Nada de Novo no Front é hipnotizante, mas ao mesmo tempo desconcertante, isso quando não é agoniante em sua capacidade de amplificar a sensação de horror claustrofóbico e de perda da inocência e da mais pura insensatez – e, infelizmente, inevitabilidade – da guerra. James Friend pode não chegar no mesmo nível de qualidade da adaptação de 1930, mas ele faz todo o esforço possível para chegar muito próximo de sua própria maneira e, no processo, transformar sua obra em mais um imponente e relevante lembrete de que, realmente, por mais que teimemos em nos iludir, o mundo e a humanidade não mudaram tanto assim. Não há mesmo nenhuma novidade no front…
P.S.: Chega a ser um acinte que esse filme não tenha sido distribuído nos cinemas por aqui nem que fosse em circuito limitado…
All Quiet on the Western Front (Nada de Novo no Front, 2022) - Crítica do filme da Netflix
"Nada de Novo no Front", na Netflix, é implacável, e esse é o ponto
Primeira Guerra Mundial
Segunda Guerra Mundial
05/11/22
Sem Novidade no Front, All Quiet on the Western Front, 1930, Lewis Milestone
Sobre Erich Maria Remarque (1898–1970)
Sobre Milestone (1895–1980)
Crítica: Sem Novidade no Front (1930)
"A guerra sem volta"
Por Wendell Marcel
A questão que leva um homem ir para a guerra defender o seu país, deixando para trás a sua família e amores, o berço social onde nasceu e viveu até a mais jovial idade, é de extrema e sociológica complexidade. A análise pode seguir o composto construção social, de pertencimento que esse indivíduo tem com sua nação, o desenvolvimento de costumes e o caráter formado através das influências dos seus pais e a mais importante intervenção da escola (instituições sociais), onde lá pratica com seus iguais relações interpessoais, psicológicas e ambientais. O fato dele morar e assim se apaixonar por sua terra, provoca nesse sujeito a importância de que aquele espaço é sua pátria e que é dever dele protegê-la e resguardá-la. Essa premissa funde com a complicação de quando sua nação é quem quer destronar outro território, assim a história desvela mais e mais questões sobre a rixa entre os governantes, reis e czars. Outros rabiscos são postos na chapa da dúvida humana: no período de guerra, o homem é um ser coletivo, e o uni não existe? Como se comportar em uma guerra pensando o coletivo, sendo que cada pessoa possui sua própria particularidade? Matar o outro para fazer viver os seus é compreensível n'um momento tão insustentável como é o campo de batalha? E as marcas deixadas pela guerra, eu defendo o meu país e não sinto mais as mesmas sensações por ele depois de ouvir as balas percorrerem meus ouvidos, e ver o meu parceiro ser destruído, fisicamente e psicologicamente pelos canhões do adversário, e ao término do dia deitar minha cabeça no travesseiro enquanto corpos apodrecem nos arredores dos ringues de batalha. Notoriamente, meu discurso se transforma, talvez, na mesma sensação de impotência que Paul, protagonista do filme, começa a sentir no final do segundo ato do longa colossal de Lewis Milestone.
Pouco lembrado pelos amantes do cinema, até menos que Vier von der Infanterie, de Pabst, Sem Novidade no Front é uma vitória na transição da equipagem do áudio mudo para o sonoro desta arte que agora falará, com voz, para o espectador. No comecinho da década de 30, a importada anos seguintes por títulos célebres (Tempos Modernos, Aconteceu Naquela Noite, E O Vento Levou), o mais impressionante filme de guerra americano desta década entra para a história, e não só por ter ganho a edição do Oscar pelo qual concorreu. O longa de Milestone acontece quinze anos depois do espetáculo que deixou críticos e amantes da sétima arte estupefatos, O Nascimento de Uma Nação, e abusa de esquemas de enquadramento e movimentação de câmera que fazem rememorar uma série de produções do gênero que visivelmente beberam da fonte deste belíssimo quadro. O campo de batalha é tomado por um passeio sob um travelling cheio de pedras, a fotografia medíocre suja de Arthur Edeson e Karl Freund, deixa tudo ainda mais verossímil; os soldados estão sempre cansados, pedindo o fim daquele absurdo chamado campo de batalha. Eles, homens de pátria e de honra, mais parecem porcos. Eles não almejam vitória, o que querem é qualquer espécie de comida que forram seus estômagos. Não aguentam mais serragem; ficam mais doentes pela falta de acolhimento do Estado do que pelos furos de bala que decepam seus corpos. Eles têm medo de entrar em confronto com o Outro; são jovens que só querem saber de garotas e diversão. No campo de batalha são eles sempre mais jovens, na falta dos que já morreram, um sem números, jogados no terreno minado, como objetos de rastreamento das balas e dos inimigos. Usando de motivos tão inocentes, mas concretos, Milestone declara em seu monumento fílmico que a guerra é um evento em que as pessoas se juntam para confrontar as vicissitudes mais ignorantes da vida e do seu confronto entre iguais: a competição por algo (sim, existe um motivo) que muitos daqueles que lutam, não vão poder saborear. E que sabor é esse de sangue, de ferrugem, de dores de mães, de nações destruídas? É só sangue, dor e destruição que vemos nas imagens de Sem Novidade no Front; é um filme absurdamente beligerante, sim, mas instruído em apresentar o antibelicionismo, a falácia tão difamada pelos insurgentes do cretinismo político territorializador e controlador, o pacifismo. Eu sou agora Paul, o rapaz que caçava borboletas no campo de sua cidade, e que precisa agora destruir um outro rapaz, até mais jovem do que ele.
Meus textos são sempre escritos para aqueles que já viram o filme, por isso a falta de linearidade na cotação da história, contudo uma retrospectiva é pertinente. Sete jovens alemães, ainda estudantes, são iludidos pelo professor a se alistarem no exército, e lutar em favor da nação na primeira guerra mundial. Os rapazes descobrem no primeiro encontro com o campo de batalha o quanto é retratável o conceito ensinado de respeito, solidariedade, instrução e educação na sociedade. Na guerra todo o aprendizado moral é jogado para o alto; e o único respeito que se pode ter naquele momento, é pela vontade de proteger sua nação. Contudo, os corpos se transformam, e voltar para casa depois de uma lesão, e sentir a necessidade de retornar para o campo de batalha, torna-se a essência do soldado. Tudo que ele viveu e aprendeu foi baleado e decepado no campo de batalha. Os sonhos juvenis morreram. Os belos rostos envelheceram dez anos. Como em um jogo de atirar no objeto e derrubá-lo para ganhar um doce, cada um dos sete amigos vão sendo destruídos pela guerra. Nem os melhores e nem os piores sujeitos sobrevivem, porque a guerra faz desaparecer a natureza do homem, sendo ela boa ou má em sua condição pragmática de moral.
Sem Novidade no Front é baseado no romance best-seller de Erich Maria Remarque, quando o período marcado pela sua escrita era espelhado pelo sentimento da canção "I Didn't Raise My Son To Be a Soldier" (Eu não criei meu filho para ser soldado). Não é reconhecido, mas o filme de Milestone fez Hollywood produzir outros títulos que refizessem a Alemanha do pós-guerra, sendo o mais reconhecido The Road Back, de 1937. Neste mesmo ano, Jean Renoir filma A Grande Ilusão, talvez o retrato mais conhecido sobre a primeira guerra mundial. Os diretores Stanley Kubrick, Abel Gance e William Wyler falaram em seus filmes sobre o ocorrido das trincheiras, e neste terceiro nome, o retorno dos combatentes para suas famílias também é destacado. Nada de Novo no Front, um dos títulos conhecidos pelos leitores de cinema, teve uma refilmagem em 1979 feita para a tevê, e o filme foi restaurado apenas em 1998 para a apreciação mais proveitosa das imagens realistas do confronto armado no campo de batalha.
Mais como é mágica a câmera de Milestone, mesmo mostrando os horrores da guerra, a cena final, pungente, cruel, que dilacera a alma deste espectador a quem vos escreve, mesmo assim, toma a morte como um voo mais alto. A única cor daquele acinzentado é a borboleta que descreve o toque, que reconstrói/rememora a história de Paul, fazendo referência ao conceito de natureza e religião de Michelangelo em seu afresco "A Criação do Homem". Assim, condicionados a retornar para o ambiente febril de incertezas da guerra, não sabendo o quanto ainda vão viver (contam piadas sobre a morte e dos caixões em que ainda serão enterrados), a lição prática ensinada da primeira grande guerra para o homem é dentre tantas, uma em particular: por que lavar pratos é mais vergonhoso do que matar uma pessoa sem razões tangíveis, ainda que não existam para este leigo que escreve. A primeira guerra é, provavelmente, a mais criticada dentro do cinema, por ser assim, tão inútil e tão horrorosamente desprezível.
Sem Novidade no Front (1930) - Análise do Filme
SEM NOVIDADES NO FRONT (1930) - SESSÃO #124 - MEU TIO OSCAR
......
Diálogo do filme
Não te lembras de nenhum feito heroico, de nenhum toque de nobreza? Fala disso. Não vos posso dizer nada que não saibam. Lá, vivemos nas trincheiras. Combatemos. Tentamos não ser mortos, mas, às vezes, somos. Eu estive lá! Sei como é. Não é disso que se trata. Eu ouvi-o aqui a recitar as mesmas coisas, a criar mais homens de ferro, mais jovens heróis. Ainda pensa que é lindo e dócil morrer pelo país, não pensa?
Nós pensávamos que o senhor sabia. O primeiro bombardeamento abriu-nos os olhos. É obsceno e doloroso morrer pelo país. No que se refere a morrer pelo país, é melhor não morrer de todo!
Há lá milhões a morrerem pelos seus países, e o que se ganha com isso? Pediu-me para lhes dizer o quanto eles são precisos lá. Ele diz-vos: "Vão e morram." Mas, se me desculpar, é mais fácil dizer "vão e morram" do que fazer. Tanto tempo que pensei que talvez o mundo inteiro já tivesse aprendido. Mas, agora, enviam bebés e eles não duram uma semana.
Foram três anos a suportarmos isso... Quatro anos. E cada dia parecia um ano e cada noite um século. Os nossos corpos são terra, os nossos pensamentos são barro e dormimos e comemos com a morte.
Estamos liquidados, porque não podemos viver assim e manter algo dentro de nós!
.......
06/11/2022
Última Hora, The Front Page, 1931, Lewis Milestone
No iutubi
Sinopse
O repórter Hildy Johnson vai abandonar a carreira para casar, mas, a pedido do editor Walter Burns, concorda com uma última reportagem: cobrir a execução do anarquista Earl Williams. Williams consegue fugir e Hildy esconde-o na sala de imprensa, para onde vai Burns, que sente cheiro de escândalo no ar. Eles querem uma entrevista exclusiva com o condenado e, com isso, Hildy não consegue ir ao encontro da noiva. Novos personagens complicam a trama, inclusive o xerife e o prefeito, que mentem e se deixam corromper, de olho nas eleições.
Produção
The Front Page, com seus diálogos rápidos e inteligente, muitas vezes cruzados, deu origem às chamadas screwball comedies (comédias malucas, no Brasil), que se tornaram muito populares na década de 1930. O filme também iniciou a moda de fazer a ação transcorrer nas redações de jornais, ainda que, no seu caso, o cenário seja principalmente a sala de imprensa de um tribunal.
Esta sátira à corrupção política e à ética jornalística é a primeira de três adaptações para o cinema da aclamada peça de Ben Hecht e Charles MacArthur, grande sucesso em 1928. Em 1939, Howard Hawks dirigiu His Girl Friday e Billy Wilder rodou sua adaptação, a mais fraca, em 1974. His Girl Friday, a versão mais famosa, tem a particularidade de ter mudado o sexo do personagem Hildy Johnson, com grande efeito. A peça também já foi levada à televisão em três oportunidades: 1945, 1948 e 1970.
O elenco é muito elogiado e foi escolhido a dedo pelo produtor Howard Hughes entre os contratados da Warner Bros.. Adolphe Menjou ficou com o papel destinado a Louis Wolheim, que faleceu antes do início das filmagens, e abocanhou uma indicação ao Oscar. A produção recebeu outras duas, inclusive a de Melhor Filme.
Segundo Ken Wlaschin, The Front Page é um dos onze melhores filmes de Menjou. Já Mary Brian teria afirmado que este é o filme favorito de Mae Clarke.
07/11/22
Sete Dias de Maio, Seven Days in May, 1964, John Frankenheimer
No iutubi
O Coronel Martin ‘Jiggs’ Casey (Kirk Douglas) suspeita que seu superior, o General James Mattoon Scott (Burt Lancaster) planeja um golpe contra o governo norte-americano porque o Presidente Jordan Lyman (Fredric March) assinou um tratado de paz com a União Soviética. Encontrar as evidências esbarram na burocracia, erros humanos e mortes acidentais, até que o Senador Raymond Clark (Edmond O’Brien), preso pelo ambicioso general em uma base militar do Texas, consegue escapar com os documentos do plano. O presidente, então, recorre ao Coronel Martin Casey para desmontar a conspiração e prender os culpados.
12/11/22
Penoza: The Final Chapter, 2019, Diederik Van Rooijen
No iutubi
Descoberta em seu esconderijo no Canadá, a antiga rainha do tráfico, Carmen, precisa voltar a Amsterdã para resolver negócios inacabados e manter sua família segura.
14/11/22
Os Donos da Noite, We Own the Night, 2007, James Gray
Os Donos da Noite (2007), À sombra do pai
Matheus Fiore - 16 de julho de 2020
– Bobby, eu nunca quis te envolver nisso tudo, me desculpe.
– Você não precisa se desculpar, eu nunca ouvi você ou o papai.
– Quer ouvir algo engraçado? Eu sentia um pouco de inveja de você por isso. Eu não tinha muita fé em mim mesmo. Eu simplesmente fazia o que o papai queria que eu fizesse. Quero dizer… Digo… Você é livre. De qualquer jeito, olha só. Eu nunca quis te meter nisso. Eu só… Talvez eu esteja dizendo isso porque não tenho dormido bem. Tenho tido pesadelos sobre o que aconteceu comigo.
O diálogo entre Bobby (Joaquin Phoenix) e Joe (Mark Wahlberg) é uma síntese perfeita tanto para a relação dos irmãos Grusinsky, como para um elemento familiar presente em todo o cinema de Gray, que sempre teve enorme interesse nessas relações (principalmente paternas). Praticamente todo o cinema de Gray é calcado na tragédia a partir do recorte familiar. Da inevitabilidade do fracasso em Fuga Para Odessa, filme de estreia do diretor americano, até Ad Astra: Rumo às Estrelas, ficção-científica na qual um astronauta (o Roy McBride de Brad Pitt) cruza a galáxia em busca de seu pai (Clifford, vivido por Tommy Lee Jones).
Em Os Donos da Noite, o gerente de uma boate (Bobby) é convocado por seu irmão (Joe) e pai, Burt (Robert Duvall), para ajudar a prender um traficante. Só há um problema: o traficante é sobrinho do dono da casa noturna onde Bobby trabalha. A El Caribe pertence à única figura paterna pela qual Bobby possui algum apreço direto. É o lugar onde Bobby foi acolhido pelo que escolheu ser, não pelo que esperavam dele. É o lugar lúdico, livre, onde Bobby não está à sombra do legado de seu pai, um dos mais respeitados policiais da cidade, e onde pode conquistar seu próprio futuro, ser o dono de seu próprio destino.
A relação humana que Gray constrói em Os Donos da Noite, portanto, é a de um homem com seu destino interrompido, sequestrado pelos laços familiares. O sujeito, que a vida inteira lutou para sair debaixo das asas de seu pai, se vê obrigado a retornar para proteger a família do conflito entre a polícia e o tráfico. Mas Gray, acertadamente, jamais se debruça sobre a trama criminal para desenvolver sua narrativa. Como em quase todo filme do cineasta, o gênero (ou o subgênero) estão ali apenas como uma capa que permite ao diretor trabalhar suas ideias.
O que dá o tom trágico a Os Donos da Noite é perceber como, no processo de reaproximação de sua família, Bobby perde tudo pelo que prezava. É uma escolha muito ousada, mas igualmente brilhante que Amada Juarez (Eva Mendes), a namorada do protagonista, simplesmente desapareça do filme, em vez de partir diretamente após uma cena conflituosa. Amada percebe que seu companheiro está sendo sugado pelo conflito familiar, desde a primeira vez em que ele a afasta (ao decidir ir sozinho para o hospital após o irmão ser baleado), até a vez em que, definitivamente, a exclui de sua vida (quando fecha a porta do hotel na cena que antecede o juramento que faz à polícia). Não por acaso, Gray faz as duas cenas referenciando diretamente O Poderoso Chefão, nos momentos em que Michael Corleone exclui Kay da cabine telefônica e, ao fim do filme, fechando a porta enquanto faz o juramento como novo chefe da família.
O fato desse afastamento ser brusco e silencioso, de forma que o espectador menos atento sequer percebe o desaparecimento de Amada até ela de fato já ter saído do filme, evidencia como Bobby, por estar cego pelo ódio, sequer percebe o que está perdendo enquanto embarca na cruzada por vingança. É uma jornada que custa não só quem ele ama, mas quem ele é e queria ser. O personagem que sonhava em ser gerente de sua própria boate, dono de sua vida, acaba por se tornar um servo de uma instituição e de um legado.
Para fortalecer e embasar a tragédia da jornada de Bobby, o uso de Joe na narrativa é preciso. Gray constrói um irmão mais velho que, diferente do protagonista, sempre seguiu o caminho decidido por seu pai, e começa a notar as consequências disso ao longo do filme. Mas, apesar disso, Gray recusa também construir em Burt um pai vilanesco, unidimensional. Quando um de seus filhos é baleado e Burt está em uma academia de boxe, ao perceber a chegada dos policiais que trazem a notícia, ele não demonstra preocupação somente com Joe, e pergunta qual dos dois filhos sofreu um atentado. À sua maneira, Burt é um pai que ama Bobby, mesmo que seu amor não tenha como frutos uma relação saudável, mas o contrário.
A tragédia fica ainda maior por percebermos que ela acontece sem que os personagens a percebam, eles só se dão conta das condições nas quais estão quando parece já ser tarde demais. Para Joe, a violência e a experiência de quase-morte parecem tê-lo traumatizado para sempre – vide o ataque de pânico que o personagem tem durante o clímax do filme –, enquanto para Bobby, essa consciência só vem no exato último plano do filme, quando ele percebe ter aberto mão de tudo que amava para, literalmente, se transformar em uma sombra do próprio pai enquanto sua vida posterior, simbolizada pela imagem de Amada, passa a ser apenas uma ilusão, um fragmento de imagem perdido no tempo.
Ainda no começo do filme, quando Bobby e Amada vão visitar Joe e Burt em uma cerimônia do departamento de polícia, Bobby brinca que um dia poderia se tornar um policial. Naquele ponto do filme, isso seria simplesmente o pior pesadelo do personagem, que se concretiza na conclusão da obra. Ao abrir mão de tudo que amava em sua cruzada pela vingança, Bobby se tornou um mero reflexo do fantasma que o perseguiu por toda sua vida. O plano final, com os dois irmãos dizendo que se amam à frente de um fundo totalmente preto, é um dos mais potentes da carreira de Gray, e mostra como ambos foram consumidos pelo legado do pai ao ponto de não haver mais escapatória sem traumas. A tragédia de Bobby e Joe não é meramente a violência ou as perdas no caminho, mas o fato de que não puderam e provavelmente jamais conseguirão sair da sombra do próprio pai, mesmo que este já esteja morto.
15/11/2022
Rua Augusta, Série de TV, 2018– , Fábio Mendonça e Pedro Morelli
Rua Augusta: Visitamos a série sobre "sexo, drogas e rock'n'roll" da TNT (Exclusivo)
Fiorella Mattheis estrela a primeira série de ficção da emissora.
Bruno Carmelo, 4 jun 2017
No mês de maio, o AdoroCinema foi convidado a acompanhar um dia das filmagens da primeira série de ficção da TNT: Rua Augusta, projeto em parceria com a O2 Filmes, com estreia prevista para o primeiro semestre de 2018. Fiorella Mattheis interpreta Mika, uma garota de classe média-alta que foge do pai poderoso e se torna stripper na famosa rua do centro de São Paulo.
Quando visitamos as gravações, um grande apartamento da praça Roosevelt servia de casa para Mika. Na história, o local pertence ao namorado da personagem (Lourinelson Vladimir), diretor da casa noturna onde ela se apresenta. As cenas também incluíam a presença de um capanga (Zemanuel Piñero) do pai poderoso, pressionando a personagem para abandonar o trabalho na noite paulistana.
Fiorella Mattheis e Lourinelson Vladimir
As cenas dirigidas por Fábio Mendonça surpreenderam pelo tom sombrio, além das longas tomadas que exigiam grande preparação da equipe técnica e dos atores. "Fiorella, quero ver você suando frio!", pedia o diretor entre um take e outro. A atriz, concentrada, oferecia novas versões dos diálogos, numa composição mais complexa do que seus papéis anteriores em comédia populares.
Sexo, drogas e rock'n'roll
Pedro Morelli, diretor geral de Rua Augusta, explicou o teor da série: "Rua Augusta é violento. Drogas, sexo e rock and roll mesmo. Às vezes, as coisas até ficam meio Gaspar Noé - mas não chega lá, senão teria que passar às quatro da manhã. Mesmo assim o sexo é mais cru, a iluminação é escura. A gente está pesando a mão. A série original já tinha um pouco disso e fomos mais fundo com sexo e violência. É uma história sobre incesto. No primeiro episódio, os caras dão porrada no irmão da menina e o deixam em coma. A gente manteve esse peso durante a série toda. Foi o nosso caminho".
O diretor Pedro Morelli
A série de que Morelli fala é a israelense Allenby St., de onde veio a inspiração para a versão brasileira. Mas o cineasta se encarregou de fazer mudanças substanciais na trama: "No original, há uma questão religiosa muito forte. A Mika, personagem da Fiorella Mattheis, tem uma relação incestuosa com o irmão, um caso que ela tenta superar. Eles ficam anos sem se ver e depois se reencontram. No original, essa relação era baseada na religião. Aqui, deixamos a religião de lado. Foi mais interessante abrir outras frentes na série. Criamos personagens novos e trouxemos uma questão de sexualidade que não existia em Allenby St.. É claro que ela está presente lá, mas o que temos no nosso caso é o retrato da homossexualidade e da transexualidade".
No mês de maio, o AdoroCinema foi convidado a acompanhar um dia das filmagens da primeira série de ficção da TNT: Rua Augusta, projeto em parceria com a O2 Filmes, com estreia prevista para o primeiro semestre de 2018. Fiorella Mattheis interpreta Mika, uma garota de classe média-alta que foge do pai poderoso e se torna stripper na famosa rua do centro de São Paulo.
Quando visitamos as gravações, um grande apartamento da praça Roosevelt servia de casa para Mika. Na história, o local pertence ao namorado da personagem (Lourinelson Vladimir), diretor da casa noturna onde ela se apresenta. As cenas também incluíam a presença de um capanga (Zemanuel Piñero) do pai poderoso, pressionando a personagem para abandonar o trabalho na noite paulistana.
Fiorella Mattheis e Lourinelson Vladimir
As cenas dirigidas por Fábio Mendonça surpreenderam pelo tom sombrio, além das longas tomadas que exigiam grande preparação da equipe técnica e dos atores. "Fiorella, quero ver você suando frio!", pedia o diretor entre um take e outro. A atriz, concentrada, oferecia novas versões dos diálogos, numa composição mais complexa do que seus papéis anteriores em comédia populares.
Sexo, drogas e rock'n'roll
Pedro Morelli, diretor geral de Rua Augusta, explicou o teor da série: "Rua Augusta é violento. Drogas, sexo e rock and roll mesmo. Às vezes, as coisas até ficam meio Gaspar Noé - mas não chega lá, senão teria que passar às quatro da manhã. Mesmo assim o sexo é mais cru, a iluminação é escura. A gente está pesando a mão. A série original já tinha um pouco disso e fomos mais fundo com sexo e violência. É uma história sobre incesto. No primeiro episódio, os caras dão porrada no irmão da menina e o deixam em coma. A gente manteve esse peso durante a série toda. Foi o nosso caminho".
O diretor Pedro Morelli
A série de que Morelli fala é a israelense Allenby St., de onde veio a inspiração para a versão brasileira. Mas o cineasta se encarregou de fazer mudanças substanciais na trama: "No original, há uma questão religiosa muito forte. A Mika, personagem da Fiorella Mattheis, tem uma relação incestuosa com o irmão, um caso que ela tenta superar. Eles ficam anos sem se ver e depois se reencontram. No original, essa relação era baseada na religião. Aqui, deixamos a religião de lado. Foi mais interessante abrir outras frentes na série. Criamos personagens novos e trouxemos uma questão de sexualidade que não existia em Allenby St.. É claro que ela está presente lá, mas o que temos no nosso caso é o retrato da homossexualidade e da transexualidade".
Versão brasileira
Como é a protagonista adaptada aos valores brasileiros? "Mika tenta superar o incesto se envolvendo com o dono da balada. Há esse grande arco de romance e amor entre os personagens que nunca se completa. Não temos um happy end", garante. "Mika é gerente da balada, trabalha, dá bronca nas pessoas. Mas a Fiorella é muito divertida, então existe um alívio cômico aí. É uma trama que também tem suas reviravoltas, e vai ficando tensa. No nosso núcleo principal, além do incesto, temos pancadaria, arma na cara, cocaína e adrenalina. Tem muito disso, o tempo inteiro. Rua Augusta é uma série de ritmo".
Zemanuel Piñero e Fiorella Mattheis
Lourinelson Vladimir também apresenta o seu personagem: "O Alex é dono de uma boate na Rua Augusta. É pai de uma menina de seis anos e é separado. Certamente, ele não tem uma visão convencional da vida. O Alex transita entre lugares bem underground e esse ambiente familiar. É muito presente na vida dessa menina mas, ao mesmo tempo, cheira cocaína. É como se ele tivesse um pé no lado selvagem, para usar uma referência do Lou Reed. Tem essa referência do rock, da noite".
São Paulo de todas as tribos
Morelli explica o aspecto de São Paulo que pretende abordar na série: "Nós filmamos tudo aqui na região do Baixo Augusta, a região próxima da Praça Roosevelt, esses últimos quarteirões onde a cultura local está mais preservada, as baladas são menos popularizadas. Nós gostamos disso. Há também a presença do Parque Augusta. Você vê todo tipo de gente nessa megalópole tão cosmopolita. A Rua Augusta, principalmente a região mais próxima do Centro, dos metrôs, é mais se vê o cruzamento de tribos. Que eu saiba, isso não existe, pelo menos da mesma forma, em outras cidades brasileiras".
Lourinelson Vladimir
"A série é muito realista em relação às figuras que fazem parte das locações", concorda Lourinelson Vladimir. "Isso é realmente uma coisa que impressiona. Falo isso como público de audiovisual. O cuidado que se teve na escalação do elenco, na produção, na direção de arte, como as pessoas transitam entre as locações... É impressionante. A primeira vez que entrei, como o personagem Alex, na balada Hell, me pareceu ser uma puta balada boa. Eu iria lá, sabe? É um cenário viável. Há muita gente interessante e diferente na boate. A Rua Augusta oferece uma mistura de possibilidades às pessoas que se aventuram por ela, que andam nela".
Liberdade x retrocesso
O ator sublinha a importância da série nos dias atuais: "Estamos vivendo um momento de retrocesso filosófico-político. A própria Rua Augusta é um sintoma do campo oposto: o campo da maior expressão das pessoas em relação aos seus desejos e escolhas, sejam elas culturais, estéticas, ou sexuais. É pertinente que a série mostre esse lugar conturbado, ambíguo e cheio de perigos, mas também cheio de afetos. O retrato das prostitutas, o modo como são ativas, protagonistas de suas vidas, é extremamente relevante. Há 15 anos, não sei se a gente conseguiria ter clareza para lidar com isso de modo não-vitimizado. Clareza tanto de quem faz como de quem vê".
Fiorella Mattheis e Zemanuel Piñero
"A ambiguidade que a Rua Augusta tem, as contradições e a beleza da multiplicidade, é a parte que a série aproveita para o bem de todos nós, para o bem da cultura. Nesse aspecto, a série oferece um retrato da cultura de São Paulo e da nossa época, mostrando a diversidade. Ela cumpre um papel bacana nesse momento de conflitos filosóficos entre um conservadorismo aflorado e uma tentativa de manter o campo das liberdades em vigor".
16/11/22
Transamazônica - Uma Estrada para o Passado, Minissérie de televisão, 2021, Fabiano Maciel, Jorge Bodanzky
A impressão que a gente tem percorrendo a estrada, hoje, é de uma grande facada, é um corte que se faz no Brasil, quase um assassinato, e uma ferida que está aberta e nunca cicatriza (Jorge Bodanzky no final do último episódio, E06)
Transamazônica 2: Uma Estrada para o Passado
Cinema e guerrilha
Iracema, uma transa amazonica
Era uma vez Iracema - Dir.: Jorge Bodanzky (2005)
18/11/22
Aconteceu num Apartamento, The Notorious Landlady, 1962, Richard Quine
No iutubi
William Gridley (Jack Lemmon) é um diplomata americano sediado em Londres, que subloca parte da casa de Carlyle Hardwicke (Kim Novak), uma linda e sensual jovem. Entretanto Carlyle é suspeita de ter assassinado o marido e só não foi presa porque a polícia não achou o corpo, assim pedem a Gridley que os ajude encontrar alguma pista. Só que ele a considera inocente. Adorocinema
19/11/22
Não Se Preocupe, Querida, Don't Worry Darling, 2022, Olivia Wilde
Não se Preocupe, Querida oscila entre constrangedor e deliciosamente ridículo
Por melhor que sejam as performances de Florence Pugh e Chris Pine, longa não consegue disfarçar sua falta do que dizer
MARIANA CANHISARES, 21.09.2022
Harry Styles tinha razão quando disse que Não se Preocupe, Querida parece um filme. Infelizmente, não um de verdade, seja enquanto experiência pipoca, seja enquanto obra bem resolvida em si mesma. Ele está mais para aquelas produções fictícias que os personagens assistem nas séries de TV. É paródico sem a intenção de fazer rir, é crítico sem ter o que dizer de fato. Ironicamente, é um tropeço adolescente e inconsistente de uma diretora que, com base no seu lançamento anterior, tinha bem mais a oferecer.
Não dá para negar que Olivia Wilde tinha grandes ambições com o projeto — e, em outros casos, a vontade de criar algo novo bastaria para validar sua investida. Para contar a história de uma dona de casa descobrindo o que está por trás da sua vida perfeita, a cineasta deixa para trás a atmosfera leve e hilariamente feminista do ótimo Fora de Série para se arriscar no suspense e discutir papéis sociais de gênero e o saudosismo de dias ditos melhores. Quer dizer, apenas pela mudança drástica de tom é evidente a robustez da narrativa que Wilde pretendia. Aliado ao amadurecimento da sua premissa, ela orquestra o esmero notável no design de produção e na caracterização dos personagens, e reune um elenco forte, encabeçado por Florence Pugh — fatores nada banais, capazes de alçar Não se Preocupe, Querida ao posto de um dos títulos mais aguardados do ano antes mesmo de qualquer suposta polêmica dos bastidores.
É uma pena, portanto, que o longa seja mais amador que seu antecessor. Enquanto a direção de fotografia e a maioria das performances sejam, sim, dignos de nota, Não se Preocupe, Querida é incapaz de disfarçar que apresenta um ponto de vista nada particular. Na realidade, não poderia ser mais lugar-comum. Com inspirações tão óbvias que soam cópias, que partem de Stepford Wives e incluem de Alice no País das Maravilhas a Suspiria, e um texto desesperadamente raso, o segundo longa de Wilde é, no melhor, mediano — até que se torna irrecuperável.
Não se Preocupe, Querida tem um argumento que por si só reviravoltas, mistérios aparentemente inexplicáveis e uma relação de insegurança sobre no que acreditar: se no que está diante dos olhos da heroína Alice (Pugh) ou no que apontam seus “lapsos” de consciência. Era de se esperar, portanto, que a roteirista Katie Silberman fosse aplicar a mesma perspicácia que demonstrou em Fora de Série para desenvolver uma construção gradual, que fizesse de cada rachadura nessa doce e bela mentira um degrau na escalada (literal) da protagonista à realidade. No entanto, nem ela, nem Wilde demonstram destreza para traduzir essa jornada de descobertas — evidente, inclusive, na sobreposição indesejada que a trilha sonora pesada do John Powell tem sobre a história. (...)
20/11/22
O Milagre, The Wonder, 2022, Sebastián Lelio
O Milagre, The Wonder
Crítica
Os temas dos filmes do diretor chileno Sebastián Lelio se entrelaçam, mas não se repetem. Seu longa Gloria (2013) trata de uma personagem que, por ter 58 anos, é limada pela sociedade do direito a um novo amor. Similar restrição enfrenta a protagonista de Uma Mulher Fantástica (Una Mujer Fantástica, 2017), mas o motivo é sua transgeneridade. Essa questão de gênero assume a forma do lesbianismo em Desobediência (Disobedience, 2017), agravada pelo rigor das regras religiosas. Agora, em seu mais recente filme, O Milagre (The Wonder), que estreia hoje na Netflix, o fanatismo religioso se encontra no centro da trama.
Lelio assume uma posição ousada logo na abertura de O Milagre. Enquanto ouvimos a narração que declara a veracidade dos fatos que o filme relatará, vemos a câmera realizar uma panorâmica dentro de um estúdio, revelando o set de filmagem até entrar no cenário do filme, e dali iniciar o enredo. Essa metalinguagem mais que explícita poderia ser um exercício de maneirismo gratuito, que ainda se repete na conclusão, e também no meio do filme, quando descobrimos quem é a narradora quando a personagem olha direto para a câmera. Mas o recurso não impede que entremos na história, que facilmente nos absorve. E, mais importante, ele se justifica quando refletimos sobre o filme após assistí-lo. Afinal, essa quebra da fantasia do cinema nada mais é do que uma metáfora da desmistificação do milagre que se encontra no cerne da trama.
Comer para viver
O milagre, na história, é o fato de uma menina se manter viva mesmo sem comer nada há quatro meses. O fato acontece na Irlanda, em 1862, e a enfermeira Lib Wright (Florence Pugh) aceita a função de vigiá-la. A família extremamente religiosa da menina, Anna (Kíla Lord Cassidy), defende que o fenômeno se trata da vontade divina. Como Lib divide o turno da vigia com uma freira, e o médico local procura alguma explicação pseudocientífica, cabe à enfermeira descobrir a verdade por trás dessa situação.
Ao longo do filme, temos indícios de que Lib possui uma motivação pessoal para se envolver tanto nessa missão. Por algum motivo, todas as noites, ela bebe um tipo de xarope, fura seu dedo e desmaia após ingerir a gota de seu sangue. Seu segredo se revela na parte final, e legitima o quanto ela valoriza a vida – no caso atual, de Anna, que poderá morrer. Essa valorização fica evidente, também, nas recorrentes cenas em que vemos Lib comendo, em contraste com a menina que jejua e está definhando.
A fotografia e a conclusão
Antes de comentarmos sobre a nossa crítica à conclusão de O Milagre, precisamos enaltecer o trabalho da fotografia. O fato de ser um filme de época, que se passa no campo, em um ambiente onde a religiosidade é forte, remete a A Bruxa (The Witch, 2015), no qual o diretor de fotografia Jarin Blaschke tentou criar imagens que se assemelhavam a pinturas religiosas. Da mesma forma, a diretora de fotografia de O Milagre, Ari Wegner, consegue o mesmo efeito, em especial nas cenas dentro do escuro quarto de Anna.
Por fim, talvez a parte final enfraqueça O Milagre, ao revelar o destino dos principais personagens. Seria dramaticamente mais contundente deixar em aberto se a menina teria sobrevivido a essa experiência. Porém, Sebastián Lelio prefere se manter fiel à sua proposta, pois o final aberto daria margens ao misticismo que ele quer combater.
22/11/22
A Mulher Rei, The Woman King, 2022, Gina Prince-Bythewood
'A mulher rei': filme de Viola Davis conta história real
Exército só de mulheres inspirou as Dora Milaje, tropa de elite de Wakanda em 'Pantera negra', e fez parte da história da atual República do Benim
Izabella Caixeta, 15/09/2022
O filme “Pantera negra” conquistou o mundo mostrando a força e a beleza que o povo negro pode ter e provou que obras estreladas por atores negros podem ser sucesso de bilheteria. Agora “A mulher rei”, estrelado por Viola Davis e com elenco formado majoritariamente por mulheres negras, vem para mostrar a história real que inspirou o exército wakandano Dora Milaje.
"Para mim, 'Pantera Negra' foi toda essa exploração de 'você pode imaginar uma nação africana com agência para se tornar estupenda?'", disse Schulman. "E eu pensei: 'Mas, espere, há uma nação africana que teve sua própria agência que se tornou estupenda. Não temos que fazer de conta'", disse a produtora Cathy Schulman ao jornal The Day.
“A mulher rei” acumulou críticas positivas após sua estreia mundial no Festival Internacional de Cinema de Toronto. No Brasil, o longa tem estreia marcada para dia 22 de setembro.
A história das mulheres guerreiras
Em “A mulher rei” acompanhamos Nanisca, vivida por Viola Davis, comandante das Agojie, exército composto apensa por mulheres do Reino de Daomé, atual Benin, que nos anos 1800 era a força militar mais poderosa da África. Na obra Nanisca treina a próxima geração de recrutas para se defender de um reino africano maior e rival e de traficantes de escravos europeus.
"Estamos no centro da narrativa. Mulheres negras, mulheres negras de pele escura, cabelos crespos, mulheres negras. Não há salvador branco. Não somos os melhores amigos de ninguém. Temos nossa autonomia, nossa agência nisso. E é uma história incrível que não é apenas um filme de ação. É um drama histórico e nos permite humanizar mulheres que normalmente não foram humanizadas”, disse Viola ao Africa News. “É o filme que definiu minha carreira", completou.
O filme foi gravado na África do Sul e os atores passaram por intensos treinos de musculação, corrida e luta. "Eu queria criar um mundo 360. Como esta é uma peça de época, eu queria que os atores olhassem ao redor e vissem este mundo, não telas verdes em todos os lugares ou carros e aviões. Eu queria que eles pudessem ter suas mãos e pés no solo e eles queriam isso também", explicou a diretora do filme, Gina Prince-Bythewood.
Luta nos bastidores
Viola Davis, que já conquistou as principais premiações mundiais de atuação como Oscar, Globo de Ouro, Emmy e Tony, recorrentemente utiliza suas redes sociais para falar sobre a dificuldade que atores e atrizes negros enfrentam no mundo artístico. Na divulgação de “A mulher rei”, a atriz volta a utilizar sua voz para dar visibilidade à questão.
"Não temos horas suficientes, dias suficientes para descrever como é difícil fazer filmes em Hollywood com pessoas negras, mas especialmente mulheres negras. Não há palavras para quantificá-lo. E eu gostaria que houvesse microfones na sala. Eu gostaria que houvesse câmeras na sala para que você pudesse ver como é a luta do dia-a-dia e você entenderia que isso é algo a ser comemorado", disse ao Africa News.
Viola também disse à AFP que sente uma enorme pressão para que esse filme seja um sucesso, pois será julgado como filmes com elenco e diretores brancos não são. “Se não gerar dinheiro, então isso significa sobretudo que mulheres negras, mulheres negras de pele escura, não podem protagonizar um sucesso mundial de bilheteria?”, questiona. “Porque simplesmente não é verdade. Não fazemos isso com filmes brancos. Se um filme fracassa, você faz outro filme, e faz outro filme do mesmo jeito”, afirmou.
História, representatividade e visibilidade
A diretora Gina Prince-Bythewood disse ao The Day que está orgulhosa da capacidade do filme de mostrar narrativas históricas e oferecer uma perspectiva de pessoas negras, particularmente mulheres negras, que está enraizada na resiliência, força e poder. "Quanto de nossa história foi escondido de nós, ignorado, escondido?".
Além disso, afimrou que crianças brancas estão acostumadas a se verem representadas em heróis e para as crianças negras, poder fazer isso agora é um divisor de águas, mas que levará algum tempo para reparar todo o dano que foi feito.
"Acho mais trágico para nós que crescemos nos Estados Unidos, onde nossa história começa com a escravidão. Crescemos neste país onde a maioria de nossas imagens, especialmente no passado, é de vítimas. Nós nunca aprendemos como revidamos. Ter uma história como essa para mostrar, que literalmente viemos de guerreiros... eu gostaria de ter tido isso quando era uma garotinha”, declara.
"A Mulher Rei": Filme estrelado por Viola Davis ressuscita memória das amazonas do Benin
“A Mulher Rei”: conheça a história das guerreiras que inspiraram o filme
Crítica: “A Mulher Rei” é espetáculo de ação e história de mulheres guerreiras
24/11/22
Enterrem Meu Coração na Curva do Rio, Bury My Heart at Wounded Knee, HBO, 2007, Yves Simoneau
ENTERREM MEU CORAÇÃO NA CURVA DO RIO
por Fábio Jordan, 04 de Janeiro de 2015
Tristeza indígena sem fim
Eu sempre fui fascinado pela cultura indígena. Talvez porque eu sou um pouco índio ou quem sabe porque esses povos antigos eram muito manjadores. Fala sério, os caras sempre mandaram muito bem em vários aspectos.
Eles tinham um estilo de arte único, com pinturas nos rostos uns balaios cheio de padrões, músicas que mais pareciam os sons da floresta orquestrados, danças que eram capazes de fazer chover, isso sem contar as técnicas de pesca, navegação, caça e por aí vai.
Justamente por curtir a cultura dos índios, é que eu geralmente me interessei por filmes relacionados às histórias desses povos. Aí, um belo dia eu vi uma propaganda na HBO — isso lá em meados de 2007 — e me interessei por um filme chamado “Enterrem meu Coração na Curva do Rio”, que por sinal é baseado em um livro homônimo.
Na época, pude conferir o filme na televisão e achei demais o que ali foi mostrado, mas eu não levei o diálogo adiante além de papos com amigos durante os cafezinhos no escritório ou com meu pai que também tem muito interesse no tema — com quem, por sinal, tive o prazer de ver a minissérie Into the West, que trata de temática semelhante.
Bom, há algum tempo, por um acaso do destino, encontrei o DVD original (que é uma verdadeira raridade) e finalmente pude rever essa obra. É claro que essa segunda visita ao tema despertou várias emoções e assuntos que poderiam gerar inúmeros textos e até debates, mas hoje só quero comentar um pouco sobre a ideia do filme e traçar um paralelo rápido sobre a realidade atual desse povo.
Uma guerra injusta e sem sentido
A história nos ensinou até agora que o homem branco é um canalha. Falo aqui dos colonizadores, principalmente dos que detinham o poder, que ao longo dos séculos escravizou, massacrou, ludibriou e cometeu todo o tipo de atrocidade com diversos povos.
Quando tratamos em especial dos indígenas, podemos ver que os europeus que aqui chegaram (independente da região da América) passaram a perna em todos os nativos. Todos os locais que eram habitados pelos índios, foram tomados para a construção de cidades, ferrovias, estradas e, claro, para a exploração dos recursos naturais.
No filme, vemos essa “guerra” (em que um lado tinha todo o poder e outro estava ali apenas para morrer) já em situação avançada. O ano é 1876 e acompanhamos várias tribos e grandes líderes indígenas ainda resistindo e tentando ter seu espaço na vastidão da nação norte-americana.
Um dos protagonistas aqui é Nuvem Vermelha, líder de uma pequena tribo que acabou se rendendo às ordens do governo. Eles foram levados para a reserva Sioux, no estado da Dakota, onde ficaram sob “os cuidados” do homem branco, que julgava necessário educar ou, melhor dizendo, civilizar os nativos.
Acontece que nem todos os índios se rendiam. Touro Sentado e Cavalo Louco, por exemplo, seguiram suas tradições e não se entregaram facilmente. A resistência deles é lendária. E os nomes são ainda mais maneiros!
O filme faz questão de retratar a ganância do homem branco, principalmente por ouro, algo que era abundante nas terras Sioux, local chamado de Black Hills. Para evitar a guerra, os ingleses faziam acordos do tipo “ou vocês assinam o tratado — cedendo os direitos de uso e exploração das terras e do povo — ou morrem (de fome e na guerra)”.
É válido colocar aqui, no entanto, que o enredo não foca apenas nas desgraças. Em paralelo, acompanhamos a história de Charles Eastman, um índio que cresceu no meio dos brancos e que foi responsável por garantir direitos a seu povo e evitar futuros confrontos — como o de Little BigHorn que é retratado no longa-metragem.
Execução de qualidade
Uma das coisas que deixa Enterrem Meu Coração na Curva do Rio ainda mais interessante é a forma como ele é construído e o capricho nos detalhes. Assim como outras tantas produções da HBO, este filme também não deixa a desejar no aspecto visual, histórico, sonoro e dramático.
A obra dirigida por Yves Simoneau (um cara que se dedica especialmente a longas e minisséries televisivas) mostra toda a questão da importância que os nativos norte-americanos dão a suas tradições. Eles são muito apegados às penas, aos cabelos compridos, às roupas e outros tantos costumes que se desenvolveram ao longo dos séculos.
Felizmente, o filme retrata tudo isso de uma forma convincente, já que o elenco é quase que totalmente composto por nativos que conheceram a verdadeira história através de seus antepassados. É comum ver cenas com cinquenta ou mais índios em campo de batalha. Algumas filmagens aéreas das batalhas deixam o resultado ainda mais impressionante.
A direção de fotografia sob responsabilidade de David Franco é impagável. Os cenários mostram como os índios perderam muito nesse período e como os europeus destruíram terras que eram belíssimas. A obra fica completa com a trilha de George S. Clinton, que caprichou para dar o tom de drama aproveitando um pouco da musicalidade indígena.
Quem está à procura de um programa diferente, vale ficar de olho na programação dos canais HBO (dá pra ver no HBO GO) ou tentar achar o DVD, pois é um título ímpar e muito bonito. Ouso dizer que Enterrem Meu Coração na Curva do Rio é um longa no mesmo nível de Dança com Lobos ou de O Último dos Moicanos (exceto por conta de algumas limitações), mas com uma puxada de orelha histórica e um enredo ainda mais centrado nos nativos.
29/11/22
Wandinha, Wednesday, 2022–, Tim Burton, James Marshall e Gandja Monteiro
Wandinha
Wandinha veio com tudo e ninguém pode negar o sucesso da série na Netflix. Isso se deve ao fato de que a série conseguiu ser divertida e sombria na medida certa. Além disso, trouxe um novo olhar para a primogênita da querida e nada convencional Família Addams.
Wandinha é só desgosto…
Isso é o que a Mortícia diz ao explicar o porquê escolheu esse nome para sua filha. Mas, o desgosto fica só por parte do poema mesmo, pois a série agradou, e muito, os assinantes da Netflix.
Além disso, a série trouxe um novo ar com o foco na adolescente e também acrescentou alguns clichês dessa fase tão esquisita que se você ainda não passou por ela, com certeza irá me entender quando passar…
Família Addams
Antes de tudo, vamos falar sobre esta icônica família?! A Família Addams foi criada pelo cartunista norte-americano Charles Addams nos anos 30, sendo uma família fictícia de senso de humor irônico e mórbido, uma inversão satírica da família americana ideal.
Nossa querida família aparecereu originalmente num grupo de 150 painéis de cartoons, cerca de metade dos quais foi publicada na revista de elite The New Yorker entre a estreia em 1937 até à morte de Addams em 1988. Além disso, também, houve adaptações para televisão, cinema, e teatro.
Enredo e Direção de Wandinha
A direção de Tim Burton deixou a série simplesmente maravilhosa. E, de fato, o seu estilo único é bem representado nos personagens e consegue ficar bem harmonizado com o cenário.
Porém, o enredo ficou com algumas pontas soltas, assuntos mal resolvidos e algumas coisas que poderiam simplesmente não terem sido adicionadas. Além disso, apesar de não ter nenhuma confirmação oficial, com certeza alguns detalhes da trama precisam de explicação e se faz necessário uma segunda temporada.
Elenco e Personagens
É importante frisar que Wandinha não é um remake de nenhum filme sobre a Família Addams, mas sim uma versão única que tem como foco a primogênita de Gomez e Mortícia Addams.
Acredito que a escolha dos atores para cada um dos personagens foi primorosa, e cada um conseguiu desempenhar seu papel com maestria, de tal forma que você consegue se identificar com alguns deles durante a temporada.
Por mais que eu adore as Wandinhas do passado, Jenna Ortega empenhou-se para trazer uma representação perfeita, e sem dúvidas, conseguiu. Uma Wandinha moderna sem abandonar a morbidez e sarcasmo característico da personagem.
Além da nossa protagonista, Gwendoline Christie está magnifica como Larissa Weems, a diretora de Nevermore Academy. O quadrado amoroso da série se forma com Hunter Doohan como Tyler Galpin, Percy Hynes White como Xavier Thorpe e Joy Sunday como Bianca Barclay.
Ademais, o elenco conta ainda com nomes de renome como Christina Ricci, Catherine Zeta-Jones, Luis Guzmán, Issac Ordonez, e Victor Dorobantu.
Wandinha: é bom ou é bomba?
Sem dúvidas a séria Wandinha da Netflix merece sua atenção. Ainda mais se você gosta de uma série em que os episódios fluem sem muita enrolação, fazendo com que você assista os 8 episódios sem dificuldades, pois eles são bem integrados e conseguem te prender facilmente.
Em conclusão, você precisa assistir à Wandinha!
"Wandinha", na Netflix, é uma boa surpresa
A dança da Wandinha https://youtu.be/-249jG--DIc
Edith Piaf - Non, Je ne regrette rien (Não, não me arrependo de nada)
The Cramps- Goo goo muck
Dublagem
Tudo sobre a minha DUBLAGEM de WANDINHA
Conheça os dubladores de "Wandinha" (Série Netflix) As vozes dos personagens
01/12/22
Rabo de Foguete, Visit to a Small Planet, 1960, Norman Taurog
No iutubi
01/12/22
Tuareg: O Guerreiro do Deserto, Il guerriero del deserto, 1984, Enzo G. Castellari
No iutubi
Em algum lugar do Deserto do Saara existe uma tribo de destemidos guerreiros conhecidos como Tuaregs. Entre eles, o mais poderoso e temido guerreiro é Gacel. Quando dois prisioneiros de guerra escapam e vão de encontro aos Tuaregs, a trribo passa a ser caçada por uma unidade militar, que destrói sem piedade. Agora, extremamente furioso, Gacel torna-se Tuareg, O Guerreiro do Deserto,e caçará seus inimigos até o inferno para vingar-se e salvar os últimos sobreviventes da tribo..
02/12/22
Carvão, 2022, Carolina Markowicz
Marcelo Müller, Papo de cinema
O cinema frequentemente alimenta uma dicotomia reducionista entre as vivências urbana e rural. Muitas vezes as metrópoles são observadas como áreas de perdição onde os vícios tendem a superar as virtudes. E essa abordagem comumente tem como contraponto o campo idílico. Pensando na cinematografia brasileira, artistas como Humberto Mauro e Amácio Mazzaropi reiteraram em vários de seus filmes a ideia de um interior paradisíaco em que a vida transcorre de modo simples e menos asfixiante. Em Carvão, a cineasta Carolina Markowicz rompe com esse imaginário provinciano marcado por bondade e candura. Todavia, é preciso enfatizar já nos argumentos iniciais deste texto: ela não utiliza uma corrente de mal absoluto para eletrificar as tensões no local superficialmente terno e convidativo. Neste filme, a busca não é por expor de modo simplista que o mal habita até nos rincões menos prováveis. A contradição do lugar-comum “no campo tudo é mais sossegado” está a serviço de algo mais profundo. Há a revelação de que o romantismo atrelado a esse ambiente é apenas um estereótipo encarregado de camuflar inquietações semelhantes às identificadas no âmbito cosmopolita, ainda que ambos os ecossistemas tenham características próprias. Um dos méritos desse longa-metragem é evitar que as relações de causa e consequência, de ação e reação, monopolizem o seu discurso.
Irene (Maeve Jinkings), Jairo (Rômulo Braga) e Jean (Jean de Almeida Costa) formam uma família sustentada a duras penas pelo trabalho na pequena carvoaria instalada no quintal. Há um quarto elemento, o corpo idoso em colapso do pai da matriarca, que definha por conta de um problema de saúde crônico. Os adultos pressionados pelas dificuldades financeiras aceitam uma proposta indecorosa da recém-chegada funcionária do posto de saúde local. O ato espúrio que Irene se submete a cometer, inicialmente em prol do equilíbrio financeiro, serve como deflagrador das ondas de sordidez que chicoteiam o cotidiano dessa família dali em diante. Contudo, Carolina Markowicz evita que a atitude da protagonista seja compreendida apenas como fruto do desespero e da necessidade. Ela distribui ao longo da trama indícios de que há muito mais coisas entre o céu e o inferno do que supõe a nossa inocente e vã filosofia. A chegada de outro corpo, agora um estranho (e o idioma estrangeiro serve para acentuar esse estranhamento), enfatiza que existe ali uma natureza revolta por uma série de questões anteriores ao crime cometido supostamente por urgências econômicas. Para isso é imprescindível a direção de atores e, claro, o desempenho notável dos mesmos. Ninguém é estritamente algo e pronto. E a captura da complexidade se mostra fundamental para não restringir o filme à radiografia o mal.
Considerar Carvão unicamente como a exploração de um mal natural dos homens, resgatado das profundezas pela necessidade, seria simplifica-lo. Carolina Markowicz até vai envergando as nossas concepções rumo à leitura de que o traficante escondido na casa dessa “família de bem” talvez esteja mais vulnerável do que Irene, Jairo e Jean. Aliás, Miguel (César Bordón) muda sutil e gradativamente de estatuto, se encaminhando para ser uma vítima, não de gente maldosa que expõem verdades, mas das pressões exercidas em todos os que ali moram desde cedo. Nesse sentido, o traficante que fala espanhol serve como o personagem de Terence Stamp em Teorema (1968), de Pier Paolo Pasolini. Sim, pois a novidade de sua presença revela algo fundamental às angústias dos que moram nesse campo superficialmente idílico. No entanto, não se trata de afirmar a maldade natural de Irene, Jairo e Jean, mas de trazer à tona as lógicas que os levam a agir de determinadas maneiras. Irene é cativa de uma repressão sexual que se manifesta na maneira afoita com ela se arrumando para tentar seduzir o forasteiro; Jairo se torna mais imprudente no exercício do caso homossexual mantido às escondidas com o vizinho por quem é apaixonado; e o pequeno Jean também corre riscos para agradar a figura que representa o ideal paterno do qual sente falta. E os problemas de uns estão interligados aos dos demais.
Em seu primeiro longa-metragem como diretora, Carolina Markowicz é perspicaz ao mostrar essas sutis revoluções silenciosas que chacoalham as pessoas antes condenadas ao sofrimento em meio à pasmaceira. Sem desabonar as responsabilidades individuais, ela observa com especial atenção o meio ambiente que leva essa gente com suscetibilidades distintas a agirem de modo tantas vezes hediondo. A religiosidade, a pobreza, os preconceitos que orientam o dia a dia dessa comunidade provinciana e pouco afeita a mudanças entrecortam fundamentalmente a narrativa. Nela, o idílico da vivência campesina repetitiva é encarado como fina membrana que recobre verdades inconvenientes enfrentadas por poucos. Voltando ao ótimo trabalho do elenco, destaque ao trabalho de Maeve Jinkings. No começo, a atriz brasiliense que ficou marcada no cinema por conta de suas personagens nordestinas viscerais soa um pouco dura no papel da mineira retesada. Porém, aos poucos, sua concepção ganha substância e quando nos damos por conta ela já se afirmou como um catalisador fundamental (por sua ferocidade reativa) da abordagem diagnóstica desse drama. Rômulo Braga exibe sua competência habitual para viver homens que parecem represar um mundo de angústias dentro de si. E o pequeno Jean de Almeida Costa é uma jovem revelação com sua naturalidade e carisma. E tudo isso ganha enorme evidência por meio da direção segura de uma cineasta atenta às profundezas humanas e sociais.
‘CARVÃO’ É UM VERDADEIRO FILME-DENÚNCIA
Wilson Spiler, 3 de novembro de 2022, Ultraverso
Primeiro longa da premiada diretora de curtas Carolina Markowicz, o filme Carvão estreia nos cinemas brasileiros nesta quinta-feira, dia 03 de novembro de 2022. A produção, que foi exibida no Festival do Rio 2022, traz no elenco principal Maeve Jinkings, Romulo Braga, Camila Márdila e o argentino César Bordón.
Sinopse
Na trama, Irene (Maeve) e seu marido Jairo (Braga) têm uma pequena carvoaria no quintal de casa, numa cidade do interior. O casal tem um filho pequeno, Jean (Jean Costa), e o pai dela não sai mais da cama, não fala, não ouve. Mas tudo muda quando eles decidem hospedar em sua casa, em troca de uma boa quantidade em dinheiro, um estrangeiro misterioso, interpretado por Bordón (Relatos Selvagens).
A chegada do homem, um sujeito pouco simpático que não fala português, transforma, não necessariamente para melhor, a dinâmica da vida da família de Irene, além de os colocar risco, a ponto de ela pensar se aquilo tudo vale a pena. Assim, nenhum dos familiares – e muito menos o próprio hóspede -, vê suas expectativas cumpridas.
Normalização do absurdo
Mesmo sem abordar política diretamente, Carvão toca em uma questão crucial – e atual – no Brasil: a normalização do absurdo. Diante do momento em que estamos vivendo, com a não aceitação da vitória de Lula na eleição presidencial, com bolsonaristas bloqueando estradas e um presidente – ainda em seu mandato – acovardado e recluso, o filme de Carolina Markowicz chega em boa hora.
A própria diretora confirmou o conceito da obra em entrevista recente à “Variety” e tenta entender como chegamos a esse ponto no Brasil. “Ouvimos nosso presidente dizer que preferiria ter um filho morto a um filho gay. Ouvimos o executivo da maior seguradora de saúde dizer que foram orientados por seus CEOs a deixar as pessoas morrerem durante a pandemia porque ‘morte é alta hospitalar’”, afirmou a cineasta à publicação norte-americana.
Retrato de um Brasil pouco conhecido e investigado
Rodado em Joanópolis, no interior de São Paulo, Carvão relata bem o que acontece frequentemente em ambientes rurais e conversados pelo Brasil. O filme joga luz a questões muito relevantes que ocorrem nos mais diversos cantos do país. Se você tem dúvidas quanto a isso, recentemente o “Profissão Repórter” flagrou uma tentativa de assédio eleitoral antes do segundo turno das eleições de 2022 em Sapucaia, em Mato Grosso do Sul, município que fronteira com o Paraguai.
Com uma direção centrada em focar no absurdo e atuações magníficas – destaque para a sempre brilhante Maeve Jinkings e para o jovem Jean Costa – Carvão é um retrato de um Brasil pouco conhecido – e pouco investigado. Um verdadeiro filme-denúncia que merece atenção do grande público.
Carvão (2022): elenco do filme
Maeve Jinkings, César Bordón, Jean Costa, Camila Márdila, Romulo Braga, Pedro Wagner, Aline Marta
Ficha Técnica do filme Carvão (2022)
Direção: Carolina Markowicz
Roteiro: Carolina Markowicz
03/12/22
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10/12/22
A Mãe, 2022, Cristiano Burlan
Trailer Oficial A MÃE, de Cristiano Burlan
Contido, 'A Mãe' explica importância da figura materna nas periferias
Filme dirigido por Cristiano Burlan tem atuação precisa de Marcélia Cartaxo e apaga clichês sem apelar ao dramalhão
Inácio Araujo, FSP, 22/11/2022
Durante uma projeção de "A Mãe", a produtora-executiva do filme descreveu uma cena sintomática. Em plena filmagem, Marcélia Cartaxo, a atriz do filme, pediu a Cristiano Burlan, diretor do filme, para expor toda a intensidade dos sentimentos que carregava sua personagem, cujo filho está desaparecido.
O diretor consentiu. Então Cartaxo chora, grita, berra, quebra coisas. Ao final, Burlan comenta "está ótimo". "Isso é tudo que eu não quero ver no filme."
Bela providência, que resume bem o espírito do longa, pois, em casos como esse, o caminho do excesso não leva à sabedoria, ao contrário do que pretendia William Blake. Leva apenas ao dramalhão inconsequente.
A discrição, ao contrário, pode muito bem dar conta da experiência de uma mãe cujo filho desaparece sem razão. Talvez esteja em alguma farra, ou embarcado em uma viagem com amigos. Talvez esteja morto.
O caminho da contenção, trilhado por Burlan, supõe exatidão. E, nesse caso, a familiaridade do cineasta com o meio representado —ele é criado na periferia paulistana— conta muito. Afinal, é mais "um filme de periferia", com os infalíveis clichês do gênero, a começar pela violência policial. Como fugir à banalidade?
Tais clichês não existem à toa. A questão é representar determinadas situações dando peso de originalidade a elas. Nesse quesito, Burlan consegue criar a atmosfera da existência "nas quebradas" de modo a equilibrar a normalidade —ou seja, pessoas que trabalham, ganham a vida, se divertem — com a anormalidade —o sumiço do rapaz e o decorrente sofrimento da mãe.
Ao mesmo tempo se trata de suprimir certos clichês infalíveis, tipo tráfico de drogas seduzindo adolescentes, como consumidores ou portadores, criminosos, vítimas e crentes por toda parte. Mas violência policial não falta.
Assim, durante uma abordagem noturna contra dois jovens numa rua, procedimento tristemente trivial, podemos ver que um dos garotos, de gênio mais forte, responde de modo altivo a um policial. Nada de mais, apenas o necessário para despertar o instinto sádico de um policial, que reage com a conhecida violência.
Não é em torno disso, e sim do desaparecimento de um adolescente que o filme se move. Mais especificamente, em torno da figura materna e sua busca. Busca que envolve, primeiro de tudo, a delegacia local. Mas também as relações com a vizinhança, que são de proximidade e cooperação, mas se tornam de um momento para outro de retraimento e desconfiança.
Não sabemos de imediato por que isso acontece, mas esse é um dos pontos fortes do filme —manter a curiosidade do espectador atenta menos ao fato em si (o desaparecimento do filho) do que a essas sutilezas da vida nos bairros de periferia paulistana (as chamadas comunidades).
Outro mérito indiscutível do filme é evitar que o desaparecimento do rapaz se torne um conflito entre bem e mal, com o bem sendo representado pelos habitantes do bairro distante.
Ao tomar a mãe como centro, o filme enuncia, primeiro, uma das questões centrais da vida familiar das famílias pobres, isto é, as mães exercem a função materna e os pais se ausentam, seja por qual motivo for.
Isto é, à mãe cabe responder pelo sustento e educação do filho, ao mesmo tempo em que cabe a ela se afligir quando ele desaparece do colégio ou, como no caso aqui, desaparece. E, se um infortúnio desse tipo acontece, resta a ela, e a mais ninguém, descobrir o que se passa com o jovem.
Esse foco tem o mérito de apagar a maior parte dos clichês sobre a vida na periferia —situações reiteradamente desenvolvidas por filmes ou outros meios; não necessariamente falsas, mas desgastadas pelo uso— e, de algum modo, buscar esses temas em sua origem, explicar tudo isso.
Se o resultado final é animador, isso se deve seja à secura do desenvolvimento, de que Burlan suprime todo excesso melodramático, seja à atuação precisa de Marcélia Cartaxo, que, se pensou em fazer de sua personagem um ser desesperado, soube se conter com igual desenvoltura.
10/12/22
O Gabinete de Curiosidades de Guillermo Del Toro, Guillermo del Toro's Cabinet of Curiosities, Série de TV, 2022
Crítica O Gabinete de Curiosidades | Del Toro constrói boa antologia de terror
Por Diandra Guedes | Editado por Jones Oliveira | 31 de Outubro de 2022
O Gabinete de Curiosidades de Guillermo del Toro é uma das séries mais aguardadas da Netflix em outubro. A produção traz oito episódios com histórias distintas e independentes, baseadas em contos de autores do gênero como o próprio del Toro, H.P Lovecraft e Aaron Stewart-Ahn. E não podemos negar que a produção é um acerto do cineasta mexicano.
O primeiro ponto positivo que merece destaque é que, ao reunir histórias de diferentes escritores, del Toro consegue construir uma antologia bem escrita e estruturada. Além disso, ao entregar a direção dos episódios a diferentes dramaturgos, entre eles Keith Thomas, Guillermo Navarro, Jennifer Kent, faz com que a série tenha um bom desenvolvimento e que os capitulos se diferenciem entre si, sem apresentarem histórias repetitivas e cansativas.
Aliás, falando em histórias, outro acerto é que a antologia mexe com os diferentes tipos de medo do espectador. Tem desde espíritos e assombrações, até monstros exagerados. Também há cenas gore (de multilação) e animais asquerosos, como por exemplo (vários!) ratos. Inclusive, se você tem fobia desse animal, melhor passar longe de alguns episódios, especialmente do segundo.
Vale falar também que a produção acerta ao conseguir mesclar histórias bem realistas, com pitadas de sobrenatural, como no primeiro episódio. Já outras são bastante fantasiosas, no melhor estilo fábula, como no sexto “Sonhos na Casa da Bruxa” estrelado por Rupert Grint, que viveu o carismático Ron Weasley em Harry Potter e que aqui dá vida à Walter Gilman, um jovem que tenta se comunicar com sua irmã gêmea que faleceu quando eles eram crianças.
Com uma boa fotografia, e direção de Catherine Hardwicke (Crepúsculo), a história tem claras inspirações na obra mais famosa de J.K Rowling, mas consegue ser original e inovadora ao mesmo tempo. Rupert também se distancia do seu Ron e constrói um personagem mais maduro e adulto.
Boas atuações
Por falar em boas atuações, não é só o ex-astro de Harry Potter que entrega um bom personagem: outros atores também contribuíram para o sucesso da série. O destaque vai para Tim Blake Nelson como Nick Appleton no primeiro episódio (Lote 36), que dá vida a um supremacista branco avarento que acaba despertando um demônio secular.
Além dele, F. Murray Abraham brilha como Amadeus em Autópsia (terceiro episódio) e Ben Barners como William Thurber em O Modelo de Pickman (quinto episódio).
Desfechos se repetem
Como nem tudo é perfeito, O Gabinete de Curiosidades de Guillermo del Toro também tem seus problemas, e o principal deles é que alguns episódios, embora tenham histórias totalmente diferentes, terminam da mesma maneira: com um monstro surrealista atormentando e matando o protagonista. Isso faz com que o desfecho perca força e se torne "mais do mesmo".
lém disso, alguns episódios são mais lentos e arrastados, como o último, O Murmúrio. Isso não é necessariamente um problema, porém quando a história se torna confusa, a trama fica comprometida. É o que acontece em O Modelo de Pickman e A Inspeção, que, embora tenham boas atuações, apresentam uma história um tanto quanto embaralhada e desinteressante.
Excluindo esses fatos, a série, no geral, apresenta boas histórias com enredos atrativos que com certeza valem o play. O destaque fica para o episódio “Por Fora”, dirigido por Ana Lily Amirpour e estrelado por Kate Micucci, que tem um “quê” de Black Mirror.
O Gabinete de Curiosidades de Guillermo del Toro | Trailer oficial | Netflix https://www.youtube.com/watch?v=8scIyGWkd84
Guillermo del Toro apresenta o seu Gabinete de Curiosidades. Trazendo oito histórias distintas, Gabinete de Curiosidades é a promissora série antológica de terror curada pelo cineasta Guillermo del Toro
https://www.terra.com.br/diversao/guillermo-del-toro-apresenta-o-seu-gabinete-de-curiosidades,3bca63c6e625093470bd93def9c4568esdt1t2ma.html
13/12/22
The Mustang. 2019, Laure de Clermont-Tonnerre
MAIS DE 100.000 CAVALOS SELVAGENS, UM ÍCONE DO OESTE AMERICANO, AINDA VAGUEIAM PELOS ESTADOS UNIDOS. O EXCESSO DE POPULAÇÃO, RECURSOS LIMITADOS E A PRIVATIZAÇÃO DAS TERRAS PÚBLICAS AMEAÇAM A SUA EXISTÊNCIA. PARA DAR RESPOSTA, O GOVERNO FEDERAL CAPTURA MILHARES TODOS OS ANOS PARA AJUDAR NO CONTROLO DA POPULAÇÃO.
GRANDE PARTE DELES VIVE O RESTO DOS SEUS DIAS NUM CENTRO DE RECOLHA E OUTROS SÃO EUTANASIADOS ALGUMAS CENTENAS DELES SÃO ENVIADOS PARA A PRISÃO PARA SEREM TREINADOS POR RECLUSOS E SEREM VENDIDOS NUM LEILÃO PÚBLICO.