terça-feira, 24 de maio de 2022

Milícias na floresta

Milícias invadem a floresta

Não há o que celebrar diante da violência que os yanomamis voltam a enfrentar

Cristina Serra, FSP, 23/05/2022

Este 25 de maio assinala os 30 anos da homologação da Terra Indígena Yanomami, em Roraima. Sob forte pressão internacional e às vésperas da realização da Conferência da ONU sobre Meio Ambiente, a Eco-92, no Rio de Janeiro, o então presidente Collor garantiu o território aos yanomamis, acossados por uma "corrida do ouro", nos anos 1980, que quase os levou ao extermínio.

A data deveria ser motivo de comemoração porque foi também um marco na mudança da relação do Estado brasileiro com os povos indígenas, a partir da Constituição de 1988. Mas não há o que celebrar  diante da violência  que a etnia volta a enfrentar, em inédita intensidade.

Operação da Polícia Federal revelou um modus operandi que poderia ser definido como miliciano-empresarial. Como se sabe, as milícias agem por dentro do aparelho de Estado, com conexões políticas que asseguram a impunidade das organizações criminosas.

Um dos investigados pela PF é o empresário Rodrigo Martins de Mello, suspeito de comandar a operação logística com aeronaves que levam para os garimpos alimentos, combustível e máquinas. Mello é pré-candidato a deputado federal pelo PL, partido de Bolsonaro.

Floresta cravejada de áreas abertas para mineração. Registro de invasão de garimpeiros na Terra Indígena Yanomami em maio de 2020, no estado de Roraima - © Chico Batata/Greenpeace

Também os mundurucus, caiapós e xipayas, no Pará, e as etnias da Terra Indígena Vale do Javari, no Amazonas, tiveram seus territórios invadidos recentemente. É uma guerra com várias frentes de ataque. Garimpeiros e seus financiadores são exércitos invasores. Corroem as comunidades, promovem conflitos, levam drogas, violência sexual, poluição da terra e dos rios, doenças e morte.

O presidente, e seu ódio aos indígenas, não carrega essa responsabilidade sozinho. Governos e forças políticas locais, por ação ou omissão, favorecem os invasores. Uma pauta hostil no Congresso e a morosidade do STF em decidir sobre o "marco temporal" também. "O Brazil tá matando o Brasil". O verso de Aldir Blanc e Maurício Tapajós em "Querelas do Brasil" é de dolorosa atualidade.


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