Pai, aposentado e querido na cidade: quem era o homem morto pela PRF em Sergipe
Carlos Madeiro, UOL, 27/05/2022
Genivaldo de Jesus Santos, 38, é descrito como um homem simpático, brincalhão e querido pela população de Umbaúba, onde nasceu, no litoral sul de Sergipe. Aposentado por problemas mentais, casado há 17 anos e pai de um menino de 7, o homem negro acabou morto asfixiado dentro de uma viatura, transformada em uma câmara de gás improvisada por policiais rodoviários federais na última quarta-feira (25). Imagens gravadas com câmera de celular registraram a ação. "Era muito conhecido na cidade, trabalhou vendendo rifas.
Ele falava e cumprimentava todo mundo, era sempre muito educado, perguntava: 'Quer comprar uma rifa de um bilhete?'. Agradecia, comprasse ou não, ele agradecia", conta Alisson Felismino, blogueiro em Umbaúba e conhecido da vítima.
Genivaldo não tinha condenações, nem respondia a processos na Justiça. Ele se aposentou cedo por causa da esquizofrenia que tratava havia duas décadas. Segundo Alisson, o transtorno nunca o impediu de ser uma pessoa alegre e pacífica. "Brincava com todo mundo, e infelizmente aconteceu esse caso, que pegou todo mundo de surpresa", diz.
O caso chocou a cidade de Umbaúba, de cerca de 26 mil habitantes. Ontem (26) foi um dia de comoção, começando com um protesto que reuniu centenas de pessoas pela manhã. No carro de som, conhecidos de Genivaldo manifestaram indignação com a truculência policial. "Ele era uma pessoa muito querida na cidade", conta o sobrinho da vítima Wallison de Jesus, que assistiu a toda a abordagem de Genivaldo pela PRF na quarta-feira.
De acordo com o relato de testemunhas, ele foi abordado durante uma blitz na rodovia BR-101, quando trafegava de motocicleta. Imagens mostram que três que se lançam sobre ele e tentam imobilizá-lo após encontrar uma cartela de remédios. Em um outro vídeo, Genivaldo aparece erguendo os braços, de forma a colaborar. Ainda assim, é possível ouvir que os policiais gritam e ofendem Genivaldo. Em seguida, o homem já aparece no porta-malas, com a fumaça que o asfixiou escapando da viatura.
Família sem renda
Genivaldo era um bom pai e marido e gostava de estar ao lado da família, afirma o sobrinho. "Ele era uma pessoa calma, prestativa, que nunca se envolveu em uma briga, nunca maltratou ninguém", diz. O carinho que todos tinham por ele, afirma, motivou a manifestação de repúdio da população. Ainda de acordo com Wallison, Genivaldo tomava remédio controlado devido à esquizofrenia, mas também tratava problemas cardíacos. "Ele era aposentado, e era a renda dele que sustentava a casa. Amanhã [hoje] vamos nos reunir para ver como faremos para ajudar [esposa e filho dele]", diz.
A viúva, Maria Fabiana dos Santos, confirmou, em entrevista à Folha após o enterro, que não sabe como fará agora para sustentar a casa. "Além de viver um pesadelo, estamos agora sem saber como faremos para nos sustentar. Era o dinheiro do meu marido que dava conta do sustento da casa e que garantia um ensino de qualidade para nosso filho", disse Fabiana, que agora busca ajuda da Defensoria Pública da União. Ela disse que os policiais "agiram com crueldade pra matar" ao conceder entrevista para a TV Sergipe, afiliada da Globo no estado. "Eu não chamo nem de fatalidade, isso foi um crime mesmo", afirmou. "Vivo com ele há 17 anos, ele tinha havia 20 anos o problema dele, nunca agrediu ninguém, nunca fez nada de errado, sempre fazendo as coisas pelo certo, e em um momento desses pegaram ele e fizeram o que fizeram."
O corpo de Genivaldo foi enterrado ontem no cemitério da cidade, sob grande comoção, com aplausos e gritos por justiça.
"Aqui na cidade, a quem você perguntar, vão dizer quem era ele, vão dizer que era uma pessoa boa, que todos gostavam. Tanto que a manifestação foi um sucesso", conta.
População faz protesto após morte de homem negro no porta-malas da PRF
Investigação
O MPF (Ministério Público Federal) em Sergipe deu 48 horas para que PRF (Polícia Rodoviária Federal) dê detalhes sobre o procedimento interno que apura a abordagem. A Procuradoria informou ainda que solicitou à PF (Polícia Federal) que instaure inquérito para investigar a conduta dos agentes. Também foram solicitadas informações já apuradas inicialmente à Delegacia de Polícia Civil de Umbaúba.
Em nota, a PF informou que o inquérito já foi aberto e que já trabalha no caso. A PRF afastou os policiais envolvidos na ação das ruas e abriu procedimento interno para apurar a conduta deles. Segundo o laudo do IML (Instituto Médico Legal de Sergipe), a causa da morte foi asfixia mecânica, ou seja, quando o ar deixa é impedido de chegar aos pulmões. O gás usado, segundo os policiais, foi o lacrimogêneo.
PRF diz que foi fatalidade
Em nota, a PRF de Sergipe diz que, durante uma ação policial realizada, Genivaldo "resistiu ativamente a uma abordagem de uma equipe da PRF" —o que é desmentido pelas imagens, que mostram ele imobilizado pelos policiais. A corporação afirmou que, em razão de sua "agressividade", foram empregadas "técnicas de imobilização e instrumentos de menor potencial ofensivo para sua contenção e o indivíduo foi conduzido à delegacia da polícia civil da cidade".
A PRF, porém, não explica quais seriam essas técnicas e instrumentos. Ainda de acordo com a nota oficial, durante o deslocamento até a delegacia "o abordado veio a passar mal e foi socorrido de imediato ao Hospital José Nailson Moura, onde foi posteriormente atendido e constatado o óbito".
Caso Genivaldo teria guerra de narrativas sem vídeos de ação da PRF em Sergipe, diz Jeferson Tenório
Polícia de Bolsonaro cria sua pena de morte particular
Carlos Eduardo Fraga, 27/05/22, Isto é
A morte de Genivaldo de Jesus Santos, de 38 anos, após ser abordado por blitz da Polícia Rodoviária Federal (PRF), no município de Umbaúba, litoral Sul de Sergipe, mostra como a polícia de Bolsonaro vem atuando com um padrão de pena de morte particular, com tortura vil e violência cada vez maior, incentivada pelo presidente.
Depois de ser abordado pelos policiais na BR-101, por agentes da PRF, por conduzir uma motocicleta e não utilizar capacete, Genivaldo foi submetido a ação truculenta dos agentes, o imobilizaram amarrando-lhe seus pés e o colocara-no dentro do porta-malas da viatura como se fosse um animal. Pior, em seguida jogaram gás lacrimogêneo no interior do veículo, formando uma espécie de “câmara de gás”. Um horror. E não vimos Bolsonaro condenar a ação.
A ação foi testemunhada por diversas testemunhas, inclusive pelo sobrinho de Genivaldo, Wallyson de Jesus, que ao perceber que o tio havia sido abordado informou de imediato aos policias de que Genivaldo sofria de esquizofrenia. Toda a ação foi gravada por pessoas que assistiam a operação da PRF inconsolados. “A gente pediu para pegar leve, que ele ia atender o que eles pedissem. Mas o policial chamou reforço no microfone, e chegaram mais dois policiais em seguida.”
Segundo relato de Wallyson, os Agentes da Policia Rodoviária Federal haviam encontrado uma cartela de remédio controlado no bolso do tio. Em vídeo que circula nas redes sociais, Genivaldo é visto dentro da viatura com os pés para fora do porta-malas, se debatendo enquanto dois policiais pressionam a porta. No vídeo é possível ouvir os seus gritos de desespero e agonia. Algum tempo depois, quando os policiais abrem a porta, Genivaldo já se encontra inconsciente.
“Pegaram a granada, jogaram por baixo do porta-malas e explodiu a granada lá dentro. Os populares ao redor, ninguém aguentou com aquilo ali e saiu todo mundo de perto. Quando ele desmaiou, jogaram os pés dele para dentro e fecharam a porta da mala com ele lá dentro”, declarou Wallyson de Jesus.
Segundo comunicado da PRF, Genivaldo “foi conduzido á Delegacia de Polícia Civil. No entanto, durante o deslocamento, passou mal, foi socorrido e levado para o Hospital José Nailson Moura, onde posteriormente foi atendido e constatado o óbito”.
De acordo com laudo do IML ( Instituto Médico Legal), a causa da morte foi,”insuficiência aguda secundária a asfixia”. Ele deixa a esposa e um filho de oito anos. Também em nota a PRF informou, que foi aberto um inquérito para investigar as circunstâncias que levaram ao óbito de Genivaldo e de que “diligências foram iniciadas para esclarecer o ocorrido o mais breve possível”. Os agentes que participaram da ação, foram afastados da função. A PF (Polícia Federal) de Sergipe, também instaurou um inquérito para averiguar as circunstâncias da morte de Genivaldo.
A forma que a morte de Genivaldo ocorreu revoltou a população de Umbaúba, que realizou protestos na manhã de quinta-feira, 26, pedindo justiça por sua morte. Nos protestos, moradores exibiam cartazes afirmando que “esse crime não pode ficar impune.” O enterro de Genivaldo, foi acompanhado por centenas de pessoas, que gritaram por “justiça” e usaram a chance para denunciarem excessos policiais e para pedirem para que ocorra mudanças políticas no estado.
Ontem, o ministro da Justiça, Anderson Torres, se manifestou sobre o caso, através de seu Twitter: “Determinei a abertura da investigação pela Polícia Federal e Polícia Rodoviária Federal sobre a abordagem policial de ontem, em Sergipe. Nosso objetivo é esclarecer o episódio com a brevidade que o caso requer”, declarou.
De acordo com a nota técnica divulgada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública “a morte de Genivaldo Jesus Santos chocou a sociedade brasileira pelo nível de sua brutalidade, expondo o despreparo da instituição em garantir que seus agentes obedeçam a procedimentos básicos de abordagem que orientam os trabalhos das forças de segurança no Brasil”.
A esposa de Genivaldo, Maria Fabiana dos Santos, condenou a brutalidade que os policiais agiram. “Eu não chamo nem de fatalidade, isso foi um crime mesmo. Eles agiram com crueldade para matar, porque eu vivo com ele há 17 anos,ele tinha há 20 anos o problema dele, nunca agrediu ninguém, nunca fez nada de errado, sempre fazendo as coisas pelo certo, e em um momento desses pegaram ele e fizeram o que fizeram” Disse Maria em entrevista á TV Sergipe.
Os Agentes da PRF claramente se utilizaram de força excessiva, com o Genivaldo, o abordando de forma brutal e cruel não respeitando seus direitos como cidadão. Desta forma, exemplificando o despreparo que a Polícia Rodoviária Federal , tem em lidar com situações básicas de abordagem e na utilização de instrumentos de menor potencial ofensivo como o gás lacrimogêneo e spray de pimenta que foram utilizados de maneira incorreta e excessiva, ocasionando na morte de um homem, em uma simples abordagem rodoviária, algo que deveria ser de costume rotineiro aos agentes.
Demonstrando assim, que o exercício da profissão desses agentes despreparados que não, somente são ineficientes a simples ações atribuídas a sua profissão como também colocam a integridade física da população em risco. Abusando de sua posição de poder, de forma cruel e brutal. As ações desses Policiais da PRF, devem ter as consequências punitivas cabíveis aos seus atos.
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