Promoções em restaurantes e iniciativas veganas vão marcar a data. Objetivo é oferecer alternativas mesmo aos onívoros e incentivar mudanças de comportamento
Por Maíra Rubim, O Globo, 15/03/2025
Há 40 anos, em 20 de março é celebrado o Dia Mundial Sem Carne, uma data protesto que nasceu em 1985, nos Estados Unidos, para incentivar as pessoas a refletirem sobre o impacto do consumo de carne e os benefícios de uma alimentação à base de plantas, mais saudável e sustentável. A iniciativa foi da Farm Animal Rights Movement, uma organização sem fins lucrativos que desde 1976 defende os direitos dos animais e o veganismo. No Brasil, a efeméride é comemorada desde 2014, estimulada pela Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB), cujos dados mostram que deixar de consumir produtos de origem animal por um dia gera a economia de 3.500 litros de água e de oito quilos de soja destinados à ração animal, preserva 22 metros quadrados de área plantada e evita que dez quilos de gases tóxicos sejam lançados na atmosfera. Ricardo Laurino, vice-presidente da SVB, avalia a importância da data e de campanhas semelhantes, como a Segunda Sem Carne:
— Elas são como ferramentas de transformação pessoal que mostram que as pessoas podem se propor a tentar algo novo e que elas são capazes, além de poderem compartilhar do mesmo momento com outros indivíduos. É comum ouvirmos que alguém gostaria de parar de comer carne, mas que tem uma sensação de impotência porque é um hábito muitas vezes familiar e enraizado na sociedade. A data se torna uma chance para a pessoa refletir.
Nos restaurantes do chef Daniel Biron, todos os dias são sem carne, mas no dia 20, para celebrar a data, clientes têm 50 % de desconto. No Teva, em Ipanema, o Burger Amazonika, feito com fibra de caju e servido com rúcula, tomate, cebola caramelizada e aioli rosé defumado no pão sem glúten, sairá por R$ 29. Já no Teva Deli, em Copacabana, o prato escolhido foi o de almôndegas com baião de dois, que de R$ 68 será oferecido por R$ 34. Os ingredientes são almôndegas de fibra de caju Amazonika Mundi, molho chimichuri, baião de dois, mozarela Basi.co maçaricada, molho vinagrete e coentro.
No Esperança Eco, em Laranjeiras, a chef Verônica Monteiro adianta que exclusivamente no Dia Mundial Sem Carne todos os pratos serão veganos, e os clientes terão mimos:
— No horário de almoço, vamos oferecer um espresso e um bombom vegano com recheio de caramelo missô da Choko. No jantar, para mesas acima de quatro pessoas, daremos de entrada uma pastinha de tomate seco com tofu e ciabata bolinha do Levain Carioca.
Em Botafogo, o Paixão Vegan terá degustações ao longo do dia e desconto de 10% nos salgados. No mesmo bairro, o almoço executivo do Vegan Vegan terá um prato especial, a moqueca de palmito com alga nori acompanhada de arroz integral biodinâmico, farofa de grão-de-bico e salada verde. Uma dica da chef Thina Izidoro é pedir como entrada o tofu praiano, uma releitura do queijo coalho.
No Miam Miam, a chef Roberta Ciasca vai preparar um menu degustação especial vegetariano em cinco etapas (R$ 180 ou R$260, harmonizado com três taças de vinho, por pessoa). De entradas, o salpicão de verduras com molho de iogurte e crocante de sementes; e a clássica berinjela tonkatsu com palitos de berinjela, picles de vegetais com curry e molho oriental. Como principais, o rigatoni à la vodca com espinafre e stracciatella; e o homus com trigo em grão, tomate, cebola assada e castanha do Pará. A banoffee com mascarpone e biscoito de especiarias é para fechar a experiência vegetariana na antiga casa da Góis Monteiro.
— Não sou vegana e nem vegetariana, mas gosto muito dessa culinária, é bem saborosa. Acho que a data é importante para as pessoas repensarem a sua alimentação e também experimentarem novos sabores e lugares. É muito bacana que os restaurantes façam promoções e outras ações; isso acaba atraindo um público diverso. Eu com certeza vou aproveitar — diz a professora de inglês Camila Braga, moradora de Copacabana.
No Zazá Bistrô Tropical, em Ipanema, quem pedir o prato de a berinjela com missô e melado, humus tahine, sorbet vegano de tahine negro e demi glace de shitake (R$ 69), vai ganhar uma dupla de gyoza Amazonika Mundi com fibra de caju temperada com tucupi preto e pimenta indígena assisi com sweet and chilli.
— Percebo vários motivos para um dia da semana sem carne: uma compensada nos abusos do final de semana e uma cooperada com a saúde do coração e a do planeta — diz a sócia Zazá Piereck .
Na quinta-feira, o prato Vegetariano Amir, do Amir Restaurante, em Copacabana, que serve duas pessoas e vem com babaganouch ou homus, salada fatouch, berinjela frita, falafel, folha de uva vegetariana, arroz com lentilha e cebola frita, estará com 20% de desconto. Custará R$ 64,80.
A Casa da Cachaça, no Sheraton Grand Rio, vai oferecer 20% de desconto na Moqueca de Banana-da-Terra, com palmito e arroz de coco (R$ 86). Para quem gosta de novidade, há um mês foi inaugurada no Shopping Leblon a sorveteria italiana Mare Mare Gelateria, que tem opções 100% veganas, como frutti di bosco, maracujá, manga, limone siciliano e cacau. Já a Momo Gelato acaba fechar uma parceria com a Naveia e lançou o Stracciatella Naveia, o gelato de leite de aveia com mesclas de chocolate.
No Bro Art & Burguer, em Botafogo, quem pedir o hambúrguer Romântico do Futuro, com carne vegano defumada do Futuro, maionese de alho, queijo, barbecue artesanal e cebola crispy (R$ 40,90), leva de presente uma batata frita.
As pizzarias que se destacaram no ano passado no prêmio 50 Top Pizza Latin America não ficam de fora na oferta sem carne. A Ferro e Farinha tem duas opções veganas: Adobo Sister (couve marinada em shoyu e gengibre, molho de tomate, curry de coco e capim-limão e azeite de tomates marinados) e Say My Name (molho de tomate, fruta da estação, queijo de castanha de caju, curry de coco e capim-limão).
A Officina Local, que acaba de ser considerada a 12ª melhor pizza do mundo pela Time Out, tem a Umbria com ingredientes de produtores locais (mozzarella fior di latte, ricota, cogumelos paris, vinho branco, creme de alho negro, parmesão, chimichurri e tomilho).
Entre as opçõpes da Bráz estão a Di Parma Vegana (molho de tomate italiano, mozarela vegetal, prosciutto vegetal e rúcula temperada) e 50 Top (molho de tomate italiano, manjericão e cinco queijos especiais: fior di latte Bonfiore, Catupiry, Cuesta Azul Pardinho, ricota Búfala Almeida Prado e Tulha Fazenda Atalaia)
Eventos para veganos, simpatizantes e curiosos
O relatório “What’s cooking”, de 2023, do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), adverte que o uso da terra e a mudança em seu uso são os fatores mais importantes da perda da biodiversidade terrestre e que 77% das terras agrícolas são usadas para o setor pecuário. Também diz que 60% das emissões de gases de efeito estufa estão relacionadas a produtos de origem animal.
Por sua vez, a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCC) destaca que o setor pecuário consome aproximadamente um terço de toda a água doce do planeta, que a produção de ração para gado é responsável por mais de 40% do uso total de água na agricultura e que a pecuária gera 14% de todas as emissões de carbono — uma quantidade semelhante à gerada por todos os meios de transporte.
—É necessário trabalhar a conscientização para a construção de uma sociedade em que as pessoas façam escolhas conectadas com a realidade em que vivemos; precisamos mudar nossos hábitos. As carnes e os produtos de origem animal são os que mais causam impactos ambientais. Tudo isso se conecta com a necessidade de uma sociedade mais consciente — afirma Ricardo Laurino, da Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB).
Na organização Veganismo e Sustentabilidade Pelos Animais e Humanos (Vespah), o Dia Mundial Sem Carne vai ser debatido no Clube do Livro, que são encontros mensais para debater o veganismo e trocar indicações de títulos sobre o tema. A Vespah (@vespahvegan) nasceu em 2020 por iniciativa do professor de literatura e morador do Flamengo Felipe Fernandes Ribeiro.
— Qualquer movimento que se faça em prol dos animais e dos humanos é válida. Os animais sofrem diariamente, e qualquer ação que possa abrandar esse sofrimento é importante. Seguimos nesse sentido, de não só divulgar o veganismo, mas cessar as formas de exploração, crueldade e injustiça. Para isso, todos precisam estar unidos. Vamos ter um CNPJ para nos transformarmos em ONG. Por enquanto, nossa estrutura é via WhatsApp e redes sociais. Nosso objetivo é erradicar a exploração humana e animal em sua integralidade e proteger o meio ambiente — explica Ribeiro.
Neste sábado (15), mais de mil pessoas participam da Vespah, e são diversas as ações promovidas para veganos, simpatizantes e curiosos. No dia 30, das 11h às 17h, será realizado um piquenique no Museu da República, no Catete. Mas não para por aí: tem o clube do livro; torcida para o Laguna, o primeiro clube de futebol vegano do Brasil, no Rio Grande do Norte; e ações sociais.
— A Torcida Libertária do Laguna nasceu no Rio e já se expandiu para São Paulo e Minas Gerais. Comentamos as partidas em um canal no YouTube e às vezes nos reunimos pelo Discord (plataforma on-line) para assistir aos jogos e torcer. Queremos organizar uma carreata saindo do Sudeste em direção ao Rio Grande do Norte — diz.
O espaço para pais e responsáveis discutirem infância e veganismo é com a Criação Vegana, projeto que terá início no próximo semestre. Em breve será anunciada a data do churrasco vegano e do próximo mutirão de doação de sangue no Hemorio. Ao longo do ano são promovidas campanhas em prol dos animais, e uma vez por mês é feita uma distribuição de quentinhas veganas para pessoas em situação de rua em parceria com o Veggientinhas, um projeto de Pedro Andrade e Lucas Vidal.
— Os voluntários se reúnem na casa do Lucas, no Flamengo, para o processo de cozimento e preparação. A distribuição é feita na Tijuca. Isso acontece uma vez por mês, e quem quiser pode participar, assim como de todas as ações — detalha.
Para conhecer um pouco mais desse universo, um evento recomendado é a VegBorá, uma feira vegana que reúne gastronomia, cosméticos, artesanato e moda. Tudo sem ingredientes ou matérias-primas de origem animal. A próxima edição será no dia 6 de abril, do meio-dia às 18h, na Rua das Palmeiras 35, em Botafogo. Além da feira, haverá exibição dos documentários “Muco” e “Santuário”. A entrada é gratuita, e o evento é pet friendly.
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