terça-feira, 30 de maio de 2023

Pílulas 13

Graça

A vida e a obra de Graciliano Ramos, o autor do clássico Vidas Secas vídeo







Livros preferidos do Graça



ANGUSTIA de Graciliano

Romance desagradável, abafado, ambiente sujo, povoado de ratos, cheio de podridões, de lixo. Nenhuma concessão ao gosto do público. Solilóquio doido, enervante. E mal escrito. A edição encalharia no depósito, roída pelos bichos. Não venderiam nem cem exemplares; repisei esta convicção, quis transmiti-la ao editor antes que ele se arriscasse.

A afirmação de Graciliano Ramos sobre o seu romance "Angustia" de 1936, está em seu outro livro: "Memórias do cárcere", publicado em 1953.

Contradizendo o autor, Angustia, se tornou o livro mais cult de sua bibliografia.

"Seu receio em relação à recepção do público vincula-se, por um lado, a sua notória autocrítica e às falhas de revisão e digitação decorrentes das circunstâncias da publicação do romance. Descarta a possibilidade de realizar algumas correções no texto, pois a hipótese de uma reedição futura lhe parece absolutamente descabida. No entanto, pode ser precipitado associar toda a apreensão do escritor alagoano à postura implacável diante de seus próprios textos. Sua preocupação com a opinião da crítica provavelmente está relacionada também ao alto teor moderno de seu romance, que poderia parecer excessivamente estranho no cenário literário nacional da década de 30... Outro testemunho do prestígio já desfrutado pelo livro narrado por Luis da Silva é um inquérito sobre os dez melhores romances brasileiros empreendido pela Revista Acadêmica entre 1939 e 1941. O resultado dessa pesquisa, na qual foram entrevistados aproximadamente cem intelectuais, é bastante surpreendente: Angústia foi considerado o segundo melhor romance de todos os tempos, perdendo apenas para Dom Casmurro. Dentro do quadro dos livros publicados na década de 30, sua primazia, entretanto, foi absoluta". (Ferreira, Carolina Duarte Damasceno)

Li Angustia recentemente (da Editora Record, 73ª edição, 2019). Impactante para quem já leu do mesmo autor Vidas secas, Memórias do cárcere, São Bernardo e Alexandre e seus heróis. Outra linguagem, outra estrutura de texto e outros temas. Presentes: memórias, paixão por uma mulher, ciumes, crime passional e culpa.

"O Brasil descrito pelas micronarrativas é o de República Velha (1889 - 1930). Ali estão plantadas as raízes sentimentais de Luis. Ele não é um citadino. Transportara-se do campo para a capital, transportando-se em representante típico da juventude tenentista, isto é, "molambo que a cidade puiu demais e sujou". Nas comunidades rurais alagoanas,o relacionamento entre os humanos é rude e áspero. São todos dominados pela vontade férrea do coronel, que toma assento no topo da pirâmide político - familiar." (Silviano Santiago).

Quanto à narrativa, Angustia tem pontos em comum com Crime e Castigo de Dostoiévski. Graciliano sempre negou esta influência. Mas a culpa pelo crime e a autopunição estão lá.

"Os defeitos de composição na frase e no discurso ficcional não empanam a alta qualidade do romance. Ponhamos abaixo o contrassenso. Dos casulos de redundância nascerão borboletas! O romance é excepcional porque recebeu a composição justa. A superabundância dos detalhes foi alimentada pela imaginação enraivecida do apaixonado. A compulsão à repetição foi impulsionada pela escrita do paranoico obsessivo. Marina e o assassinato de Julião, o crime e a autopunição - eis os pontos fulcrais da experiência de Luis da Silva em Maceió, narrada por ele próprio. Composto de outra forma, Angustia não teria sido tão exitoso. " (Silviano Santiago)

Quem ainda não leu Angustia está perdendo.

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Clarice

Quem foi Clarice? – Os 100 anos de Clarice Lispector  vídeo




Depoimento de Paulo Gurgel Valente sobre Clarice Lispector  vídeo

Documentário | Clarice Lispcetor | 100 Anos vídeo

Felicidade clandestina texto

O Ovo e a Galinha texto

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Ontem revi (14/05/2023) na HBO

Aves de Rapina: Arlequina e sua Emancipação Fantabulosa, Birds of Prey and the Fantabulous Emancipation of One Harley Quinn, 2020, Cathy Yan 

Uma superprodução com a maioria absoluta da produção e atuação feita por mulheres. Com o protagonismo em tudo da Margot Robbie.

Harley Quinn foi a ex-noiva do Coringa.

Da diretora vi também o filme Dead Pigs de 2018. Ela nasceu em Hong Kong. Dead Pigs  é anterior ao filme Parasita, mas a inspiração é a mesma

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A história real de um náufrago perdido nas lutas entre indígenas e europeus

Rodrigo Casarin, UOL, 24/04/2023

Pintado no final do século 19 por Ángel Della Valle, o quadro "La Vuelta del Malón" foi pensado para representar a selvageria indígena numa época em que comunidades originárias do território argentino quebravam o pau contra europeus. Visto com os olhos de hoje, no entanto, a pintura talvez possa ser encarada como um aceno à braveza de povos que defendiam seu canto no mundo em meio a um longo processo de colonização marcado por guerras e traições.

De certa forma, "As Aventuras da China Iron", ótimo romance de Gabriela Cabezón Cámara (Moinhos), imagina o trilhar de um outro caminho para aquela época de tanto sangue, tanta bestialidade, ao reelaborar o destino do gaúcho Martín Fierro. O personagem, vivo em versos de José Hernandez, tem um papel central no processo de formação da identidade nacional argentina.

Os embates entre diversos povos indígenas e diferentes colonizadores europeus, bem como as possíveis formas de se retratar essas lutas, vieram à cabeça enquanto lia "Náufrago Morris", do roteirista Pablo Franco e do desenhista e pintor Lautaro Fizsman, ambos argentinos. A obra venceu o 1º Prêmio Latino-Americano de Quadrinhos, realizado em 2022 pelas editoras Historieteca e Loco Rabia, ambas da Argentina, iLatina, da França, e Comix Zone, brasileira que agora publica o volume com tradução de Fernando Paz.

"Náufrago Moris" é baseado numa história real. Isaac Morris tripulava uma fragata da Marinha Real Britânica que andava por esses cantos do mundo para contornar o sul argentino, margear o Chile e chegar ali pelo Peru, onde atacariam inimigos espanhóis. O mar, no entanto, foi mais forte. Morris foi um dos únicos sobreviventes do naufrágio que aconteceu na costa da Patagônia em 1741.

E sobreviveu sabe-se lá como. Numa natureza inóspita, lutou contra o frio e precisou matar até cachorros amigos para ter o que comer. Conseguia seguir enquanto colegas caíam. Deu sorte. Se salvou de ataques indígenas e foi acolhido por um desses povos. Um não, alguns. Virou mercadoria em trocas pouco valorosas e foi feito de escravo. Comprado por europeus, conseguiu regressar ao Velho Mundo, mas não sem antes de ter o couro esfolado pelos conterrâneos.

A saga do sujeito chama a atenção, mas o périplo pessoal não é o principal trunfo de "Náufrago Morris". É por meio da busca do cara pela sobrevivência que, aos poucos, conhecemos cenários e compreendemos as disputas que estavam em jogo naquele território em meados do século 18, cerca de um século antes da publicação do poema de Martín Fierro ou da pintura do quadro de Della Valle.

O emaranhado de articulações, alianças e interesses dos povos indígenas, bem como a sanguinolência e as sacanagens de ingleses e espanhóis, despontam enquanto somos colocados em contato com hábitos da época. E tudo isso abrilhantado por uma arte impressionante, capaz de fazer com que o leitor se sinta diminuído pela imposição da natureza ou acossado diante de situações inóspitas.

De fato, a primeira coisa que chama a atenção nas páginas de "Náufrago Morris" são as pinturas de rara beleza. É uma HQ em que cada quadrinho talvez seja uma obra de arte que já valha por si só.

Cena de Náufrago Morris, HQ de Pablo Franco e Lautaro Fiszman. Imagem: Reprodução

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Rosamaria Murtinho

Quartos separados, livros, teatro: o casamento de Rosamaria e Mauro aos 90

Filipe Pavão De Splash, no Rio 08/05/2023

Rosamaria Murtinho, 90, e Mauro Mendonça, 92, formam um dos casais mais longevos da TV brasileira. São 63 anos de união — contando os oito anos em que ficaram separados. Nem esse período longe foi capaz de esfriar o amor que eles sentem um pelo outro.

Hoje, na faixa dos 90, eles desfrutam de um casamento mais relaxado e sem cobranças, conta Rosamaria em conversa com Splash.

Não há segredo para ter uma união tão longa, mas a atriz dá pistas do que funciona para eles atualmente: quartos separados para manter a individualidade, leituras de livros, idas ao teatro para ver os amigos e, claro, muito companheirismo.

"O que mais a gente faz em casa: é conversar sobre livros. Acabei de ler a biografia de Carmen Miranda, do Rui Castro, e 'Tudo É Rio', da Carla Madeira, uma mineira, nova autora que é uma graça. Cada um tem seu quarto, cada um tem sua individualidade, fica em silêncio lendo um livro, vê TV quando quer."

Os dois se conheceram no teatro no início da carreira e deram o primeiro beijo na coxia do espaço. Casados desde 1959, eles têm três filhos — o diretor Mauro Mendonça Filho, o ator Rodrigo Mendonça e o músico JP Mendonça — e cinco netos.

Dona Rosinha diz que o amor na terceira idade tem mais tranquilidade e menos cobrança — desde que não seja "um velho implicante e chato". Essa falta de cobrança é algo positivo da maturidade e permite que os dois busquem harmonia e alegria dentro do lar.

"Nós ficamos muito casados por 25 anos, durante muito tempo, depois nos separamos por 8. A volta foi muito prazerosa. A gente começa a ver que deixamos de lado as bobagens e besteiras do dia a dia. Não vale a pena se aborrecer por besteiras, principalmente quando tenho um marido ariano e sei o que está pensando. Se ele não gosta de algo, a gente sabe que não tá bom porque o ariano é transparente."

"São dois velhos em casa, mas a gente não é velho implicante. Não pegamos no pé das pessoas. Saímos para almoçar. Ele não quer ir muito, mas ir ao teatro adoramos. Vamos ao teatro ver a Lília Cabral."

A peça em questão é "A Lista", estrelada por Lília e sua filha, Giulia Bertolli. Dona Rosinha recebeu o convite enquanto falava com Splash. "Estava ansiosa para ver esse espetáculo", conta.

A veterana também já teve a experiência de trabalhar com os filhos. Em "O Astro" (2011), quando viveu tia Magda, ela trabalhou com os filhos Mauro Mendonça Filho, que dirigia a novela, Rodrigo, que atuava como Ubiracy, e a neta,Anna Luiza Anillo, que dava vida a Kelly. "É uma delícia", lembra a atriz.

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Com britânicos 'mais pobres', NHS agora aprende com o SUS

Depois que banco central cobrou 'aceitar que está pior', BBC avalia se visita domiciliar funcionará no país, como no Brasil 

Nelson de Sá, 09/05/2023

Dias atrás, o economista-chefe do Banco da Inglaterra, o banco central, falou num podcast que "alguém precisa aceitar que está em situação pior". Que os britânicos precisam "parar de tentar manter seu poder de compra por meio de salários mais altos, elevando os preços", a inflação.

Ecoou mal, com The Times e outros, até mesmo na Índia, destacando que para ele "os britânicos devem aceitar que são mais pobres". Sua insensibilidade traz, segundo o tabloide Daily Mirror, "fúria num momento em que as famílias enfrentam preços crescentes dos alimentos e contas de energia altíssimas".

E agora a BBC mostra "O que o NHS", seu serviço nacional de saúde, "está aprendendo com o Brasil" (acima), a partir da pergunta "Uma abordagem de saúde que foi bem-sucedida em partes mais pobres do Brasil vai funcionar no Reino Unido?". Refere-se à visita domiciliar.

Acompanha duas enfermeiras, das quatro "batedoras de porta" de uma experiência piloto num conjunto habitacional com 32 prédios, em Londres. Elas vão "de casa em casa e não se intimidam por ter, às vezes, uma ou outra porta batida na cara", descreve a reportagem.

A ideia de "importar o modelo" foi de Matthew Harris, especialista em saúde pública do Imperial College, que trabalhou como clínico geral no Brasil por quatro anos e diz que os agentes comunitários receberam crédito por uma queda de 34% nas mortes cardiovasculares.

"No Brasil, eles elevaram esse papel a tal ponto que têm 270 mil agentes em todo o país, cada um cuidando de 150 domicílios, uma vez por mês. Eles viram resultados extraordinários nas últimas duas ou três décadas. Nós temos muito a aprender com isso."

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Salário do professor no Brasil não aumenta mais que 50% até o final da carreira

Isabela Palhares, FSP, 17/05/2023

Missão Professor 

Remuneração inicial subiu, mas estados não têm políticas para valorizar experiência e formação adquiridas ao longo dos anos 

Durante toda a carreira, o salário de um professor das redes estaduais do país não ultrapassa, na média, 50% do que ganhava ao ingressar na profissão. A pouca possibilidade de melhora na remuneração é resultado da ausência de políticas que valorizem experiência, formação e avanços acadêmicos dos profissionais.

O dado é de uma pesquisa feita pelo Movimento Profissão Docente com informações das secretarias estaduais de Educação em setembro do ano passado. O estudo aponta que, apesar de o salário inicial ter avançado nos últimos anos, houve um achatamento da carreira. Ou seja, não há previsão de evolução salarial ao longo dos anos para os professores.

Desde a criação do piso nacional em 2008, o salário inicial dos professores das redes estaduais vem melhorando de forma contínua. Esse avanço, no entanto, não é acompanhado de melhorias nos rendimentos ao longo da carreira. Assim, a diferença de salário pago aos iniciantes e aos que estão no topo da carreira se torna muito pequena ou até mesmo inexistente.

Segundo a pesquisa, em 19 unidades da federação o maior valor possível de remuneração é até 50% maior do que no início da carreira. A amplitude salarial média no país é de 48%. Em dois estados, Santa Catarina e Sergipe, o estudo não aponta nenhuma variação. A Folha questionou os dois governos, mas não obteve resposta até a publicação.

"Não tem como esperar um professor motivado sem amplitude de carreira. Pagar o mesmo salário de quem está entrando na profissão significa desconsiderar a experiência, o conhecimento que o docente adquire em sala de aula. É muito desmotivador", diz Haroldo Rocha, coordenador do Profissão Docente.

Além da desmotivação, a falta de perspectiva de melhores salários também leva os docentes a deixarem as escolas estaduais. Sem aumento salarial real por mais de uma década, a professora Paola Costa, 35, decidiu deixar a sala de aula no ano passado.

"Em dez anos como professora do estado, eu recebi salário com atraso, fiquei anos com os salários congelados. O melhor que pode acontecer é receber o reajuste da inflação em cima de uma remuneração que é muito baixa", conta Paola, que atuava na rede estadual do Rio Grande do Sul. "Eu amo dar aula, amo estar com os alunos, mas não dava mais para continuar sem prejudicar a minha saúde. O salário é baixo, o volume de trabalho é excessivo e sem as mínimas condições adequadas. É uma somatória muito cruel com o professor", diz. Ela deixou a docência para trabalhar na área de comunicação. Paola Costa, 35 ex-professora da rede estadual do RS

Segundo a pesquisa, dos estados que promovem algum tipo de melhoria salarial durante a carreira, nove utilizam apenas o tempo de serviço como critério para evolução. Titulações acadêmicas e atividades de formação continuada também são consideradas como critérios.

O salário é baixo, o volume de trabalho é excessivo e sem as mínimas condições adequadas. É uma somatória muito cruel com o professor

"A combinação desses vários fatores é importante para estimular o docente. A evolução por tempo é importante para valorizar a experiência adquirida em sala de aula, mas usar titulação e cursos de formação também é interessante para motivá-los a se aperfeiçoar", diz Rocha.

Para ele, o limite de gastos com servidores, imposto pela Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), leva os gestores a priorizar o aumento salarial do piso docente para atrair novos profissionais em detrimento da valorização dos profissionais mais experientes. "O magistério é o quadro que quantitativamente mais pesa no gasto de pessoal de todos os entes federados. Nos estados e municípios, entre 35% e 50% dos servidores são professores, por isso, os reajustes e aumentos dessa categoria têm impacto grande no orçamento", explica.

"De um lado, o gestor precisa cumprir a lei do piso do magistério. De outro, a LRF trava o comprometimento da folha de servidores. São duas leis que estão incompatíveis e o resultado é que os gestores acabam priorizando aumentar o salário inicial."

Apesar de alguns estados terem amplitude salarial alta, como é o caso de Ceará, São Paulo e Mato Grosso do Sul, em que o vencimento no topo da carreira pode mais do que dobrar, poucos são os profissionais que alcançam essa condição.

Em São Paulo, por exemplo, 89% dos professores das escolas estaduais recebiam menos de R$ 5.000 em 2021.

"O governo diz que a gente pode ganhar até R$ 13 mil, mas não dá condições pra isso. Eu trabalho há cinco anos em escolas estaduais de São Paulo, mas só consigo ser contratada de forma temporária porque não fazem concurso. Ou seja, estou sempre ganhando o mínimo", diz Ana Paula Silva, professora de inglês na capital paulista.

São Paulo ficou nove anos sem a abertura de concursos públicos para a contratação de novos professores —um novo edital foi aberto na última quinta (11). Com isso, quase metade (44,6%), dos 216,8 mil docentes da rede, tem contratos temporários. Ou seja, sem a possibilidade de todas as evoluções de carreira.

"Não adianta a promessa de salários altos, quando eles são inalcançáveis. Por isso, muitos colegas acabam se qualificando para conseguir um emprego em escola privada, onde a experiência e o conhecimento são valorizados", diz Ana Paula.

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Os 100 mais da Bravo

Essa é a famosa lista dos melhores filmes de todos os tempos publicada pela revista BRAVO em 2017.

A lista é ótima, embora possa haver controvérsias quanto à ordem de colocação.

01. Cidadão Kane (1941), de Orson Welles

02. O Poderoso Chefão (1972), de Francis Ford Coppola

03. Sindicato de Ladrões (1954), de Elia Kazan

04. Um Corpo Que Cai (1958), Alfred Hitchcock

05. Casablanca (1942), de Michael Curtiz

06. Oito e Meio (1963), de Federico Fellini

07. Lawrence da Arábia (1965), de David Lean

08. A Regra do Jogo (1939), de Jean Renoir

09. O Encouraçado Potemkin (1925), de Sergei Eisenstein

10. Rastros de Ódio (1956), de John Ford

11. Cantando na Chuva (1956), de Gene Kelly e Stanley Donen

12. Crepúsculo dos Deuses (1950), de Billy Wilder

13. Persona (1966), de Ingmar Bergman

14. O Mensageiro do Diabo (1955), de Charles Laughton

15. 2001 – Uma Odisséia no Espaço (1968), de Stanley Kubrick

16. Os Sete Samurais (1954), de Akira Kurosawa

17. O Leopardo (1963), de Luchino Visconti

18. Taxi Driver (1976), de Martin Scorsese

19. Era uma Vez em Tóquio (1953), de Yasujiro Ozu

20. Fitzcarraldo (1982), de Werner Herzog

21. Acossado (1959), de Jean-Luc Godard

22. Jules e Jim (1962), de François Truffaut

23. O Conformista (1970), de Bernardo Bertolucci

24. Em Busca do Ouro (1925), de Charles Chaplin

25. Metrópolis (1926), de Fritz Lang

26. O Sétimo Selo (1956), de Ingmar Bergman

27. A Aventura (1960), de Michelangelo Antonioni

28. Amarcord (1973), de Federico Fellini

29. Viridiana (1961), de Luis Buñuel

30. Noivo Neurótico, Noiva Nervosa (1977), de Woody Allen

31. O Nascimento de uma Nação (1915), de D. W. Griffith

32. Apocalypse Now (1979), de Francis Ford Coppola

33. Era uma Vez no Oeste (1968), de Sérgio Leone

34. Assim Caminha a Humanidade (1956), de George Stevens

35. Psicose (1960), de Alfred Hitchcock

36. O Martírio de Joana D’Arc (1928)

37. Touro Indomável (1980), de Martin Scorsese

38. Olympia (1938), de Leni Riefenstahl

39. O Falcão Maltês (1941), de John Huston

40. Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964), de Glauber Rocha

41. Dr. Fantástico (1964), de Stanley Kubrick

42. Roma, Cidade Aberta (1945), de Roberto Rossellini

43. A Doce Vida (1960), de Federico Fellini

44. Chinatown (1974), de Roman Polanski

45. A Felicidade Não se Compra (1946), de Frank Capra

46. …E o Vento Levou (1939), de Victor Fleming

47. Tempos Modernos (1936), de Charles Chaplin

48. A Um Passo da Eternidade (1953), de Fred Zinnermann

49. O Sacrifício (1986), de Andrei Tartovski

50. Laranja Mecânica (1971), de Stanley Kubrick

51. A General (1927), de Buster Keaton

52. O Homem Elefante (1980), de David Lynch

53. O Mágico de Oz (1939), de Victor Fleming

54. Querelle (1982), de Rainer Werner Fassbinder

55. A Primeira Noite de um Homem (1967), de Mike Nichols

56. Morte em Veneza (1971), de Luchino Visconti

57. A Última Sessão de Cinema (1971), de Peter Bogdanovich

58. Os Bons Companheiros (1990), de Martin Scorsese

59. Blade Runner – O Caçador de Andróides (1982), de Ridley Scott

60. A Malvada (1950), de Joseph L. Mankiewicz

61. Nosferatu (1922), de Friedrich W. Murnau

62. O Último Tango em Paris (1972), de Bernardo Bertolucci

63. Ladrões de Bicicleta (1948), de Vittorio de Sica

64. Asas do Desejo (1987), de Wim Wenders

65. Pulp Fiction – Tempo de Violência (1994), de Quentin Tarantino

66. Repulsa ao Sexo (1965), de Roman Polanski

67. Crimes e Pecados (1989), de Woody Allen

68. Uma Rua Chamada Pecado (1951), de Elia Kazan

69. Butch Cassidy e Sundance Kid (1969), de George Roy Hill

70. Os Imperdoáveis (1992), de Clint Eastwood

71. Patton – Rebelde ou Herói? (1969), de Franklin J. Schaffner

72. Tudo Sobre Minha Mãe (1999), de Pedro Almodóvar

73. Um Lugar ao Sol (1951), de George Stevens

74. Um Estranho no Ninho (1975), de Milos Forman

75. Amor à Flor da Pele (2000), de Wong Kar-Wai

76. Hiroshima, Meu Amor (1959), de Alain Resnais

77. Kaos (1984), de Irmaõs Taviani

78. Brazil, O Filme (1985), de Terry Gilliam

79. Quanto Mais Quente Melhor (1956), de Billy Wilder

80. Cidade de Deus (2002), de Fernando Meirelles

81. Os Homens Preferem as Loiras (1953), de Howard Hanks

82. Um Cão Andaluz (1928), Luis Buñuel

83. Los Angeles – Cidade Proibida (1997), de Curtis Hanson

84. Pixote – A Lei do Mais Fraco (1981), de Hector Babenco

85. Ben-Hur (1959), de William Wyler

86. Fantasia (1940), de Walt Disney

87. Sem Destino (1969), de Dennis Hopper e Peter Fonda

88. Dogville (2003), de Lars Von Trier

89. O Império dos Sentidos (1976), de Nagisa Oshima

90. Um Convidado Bem Trapalhão (1968), de Blake Edwards

91. A Lista de Schindler (1993), de Steven Spielberg

92. Guerra nas Estrelas (1977), de George Lucas

93. O Pântano (2000), de Lucrecia Martel

94. Cabaré (1972), de Bob Fosse

95. Operação França (1971), de William Friedkin

96. King Kong (1933), de Merian C. Cooper e Ernest B. Schoedsack

97. As Invasões Bárbaras (2003), de Denys Arcand

98. Fargo (1996), de Joel e Ethan Cohen

99. M.A.S.H. (1970), de Robert Altman

100. Lavoura Arcaica (2001), de Luiz Fernando Carvalho

Mais ver aqui

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Como neobolsonaristas 

Disputa sobre exploração de petróleo na costa do Amapá dá sinais de técnica, mas não passou da irracionalidade, escreve Jânio de Freitas

Veto do Ibama ao pedido da Petrobras originou um desejo de vingança em congressistas. Resultado: amputaram as pastas do Meio Ambiente e dos Povos Indígenas. Na imagem, a Esplanada dos Ministérios, em Brasília

Jânio de Freitas, Poder 360, 26.mai.2023

A prioridade à exploração das riquezas minerais da Amazônia, e não ao ambiente natural nem à integridade dos povos indígenas, é um dos principais fundamentos do bolsonarismo, ao qual chegou por ser ideia vigorosa no Exército. Agora se revela tese até do PT, além de numerosos “progressistas” da Câmara e do governo, na disputa sobre a possibilidade de exploração petrolífera no mar na costa do Amapá. Qualificada como técnica, a disputa ainda não passou da irracionalidade. E já causou ao governo danos e riscos como não tivera ainda.

A amputação de partes e funções dos Ministérios de Meio Ambiente e dos Povos Indígenas, aprovada na Câmara, é vingança elaborada por deputados e senadores. De diversas bancadas e sem critério algum, reagiam à recusa do Ibama, defendida pelas ministras Marina Silva e Sônia Guajajara, de licença à Petrobras para perfurações de pesquisa. A reação se efetivou por introdução, em uma MP a ser votada, de alterações na estrutura dada pelo governo aos seus ministérios. Nem se trata de discutir se medida provisória pode ser modificada ou acrescentada.    É pressuposto óbvio que a configuração de ministérios cabe ao governo, como braços para o seu desempenho administrativo.

A Câmara cometeu um abuso de poder que excede o dano ao governo: é danoso para o país. Com a perda de partes essenciais na sua especificidade temática, os Ministérios do Meio Ambiente e dos Povos Originários são devastados em sua própria razão de ser. E nela estão necessidades tão clamorosas que, relegadas pelo bolsonarismo, reduziram o Brasil a pária internacional. Tratadas como assuntos inferiores, pelos parlamentares ruralistas e pelos “progressistas do neobolsonarismo”, danificam outra vez as relações internacionais e suas perspectivas.

O governo está feliz porque seu plano de administração financeira, pobremente batizado de arcabouço fiscal, foi aprovado na Câmara. Em termos éticos, ao custo de R$ 1,2 bilhão para gastos desejados por congressistas. Em termos políticos e econômicos, um êxito de Fernando Haddad. Embora obscurecido pelo embate em torno do petróleo, que a imprensa e os ambientalistas situam “na foz do Amazonas”, mas no máximo estaria diante da foz do Oiapoque, último traço brasileiro nos mapas, ao norte.

A imprecisão da distância importa. Entre Rio e São Paulo, a distância aérea tem cerca de 380 km. Do ponto da pretendida perfuração até à foz do Amazonas, são de 520 km a 550 km, em duas das aferições disponíveis. Um vazamento que cobrisse a distância Rio-São Paulo não seria provável em perfuração de teste. E a distância é ainda maior uns 150 km a 170 km. Para chegar à costa do Amapá são cerca de 170 km.

Viagem ainda mais improvável do vazamento por um dado que não frequentou o noticiário nem as considerações ambientalistas: a corrente marinha naquela costa é rumo norte. O vazamento descer mais de 500 km contra a corrente pareceria um fenômeno. E para chegar ao Amapá, em linha horizontal, precisaria ser mais forte do que a corrente marinha.

Essa água rumo norte é que leva mais uma contribuição brasileira aos Estados Unidos: a terra que o Amazonas e seus afluentes tiram das suas margens é desaguada na corrente e levada para o norte, depositando-se em terra sulina americana e aumentando-a disfarçadamente.

A Petrobras, por sua vez, mesmo dispondo da espetacular experiência operativa no pré-sal do Sudeste, parece ter sido mais presunçosa do que farta em dados e argumentos. As duas partes mostraram-se apenas capazes de uma travar a outra. Nem os ambientalistas convencem de sua razão, nem a Petrobras teve argumentos e dados que corroborassem com firmeza sua segurança.

Recomeçar do zero é a solução encaminhada. Sob a coordenação de Rui Costa, da Casa Civil, não se sabe se mãos apropriadas. Não o foram para evitar, com o coordenador político Alexandre Padilha também malsucedido, a leviandade contra o meio ambiente e o que seria a grande inovação do Ministério dos Povos Originários. Bem, Rui e Padilha não podiam mesmo salvar os 2 ministérios: ambos também se converteram ao neobolsonarismo anti-Amazônia, anti-Meio Ambiente, anti-Povos Indígenas, anti-Quilombos. simplificando: anti-Brasil.

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Ligeti, quando a vanguarda descobriu a música africana

Augusto Valente | Gaby Reucher, DW Brasil 28/05/2023

Folclore, eletroacústica, polifonia medieval, fractais: as influências do compositor austro-húngaro que faria 100 anos não têm fim. Atestado de qualidade: duas obras de György Ligeti foram "roubadas" para o filme "2001".

Há diversos termos para designar as obras de concerto ocidentais compostas a partir da segunda metade do século 20: música nova, de vanguarda, contemporânea. Nome à parte, ela costuma ter fama de complexa demais, puramente cerebral, pouco acessível. Acima de tudo, nada que seduza os ouvidos ou faça balançar o corpo acompanhando o ritmo. Mas se essa for uma regra (e não é!), ela tem exceções.

György Ligeti nasceu em 28 de maio de 1923, em Diciosânmartin (hoje Târnăveni), na região da Transilvânia, na Romênia, de uma família judaica húngara. Durante a Segunda Guerra Mundial, integrava uma brigada de trabalhos forçados quando o resto da família foi enviado para campos de concentração nazistas. Só a mãe sobreviveu, seu pai e irmão foram assassinados.

Tendo começado a estudar música aos 18 anos, Ligeti completou seus estudos em Budapeste. Em 1956, na sequência do fracassado levante popular contra as forças ocupadoras soviéticas, escapou para o Ocidente. Após aportar em Viena, passou três anos na alemã Colônia.

Decidido a romper com os dogmas da música – não só clássicos, mas também os da então considerada "verdadeira" vanguarda – ele começara a desenvolver um estilo próprio, combinando influências folclóricas com dissonâncias saborosas, rupturas dramáticas, recursos da música eletroacústica e uma técnica de filigrana rítmico-harmônica, inspirada na polifonia medieval, que denominou "micropolifonia".

A música "roubada" de 2001, uma odisseia no espaço

Em 1961, a peça orquestral Atmosphères, com suas estruturas hipnoticamente fluidas, quase impressionistas, serviu para Ligeti como cartão de entrada definitivo na vanguarda musical do Ocidente.

A partir daí, seu nome passa a ser mencionado no mesmo fôlego com os dos já estabelecidos Pierre Boulez, Luciano Berio ou Karlheinz Stockhausen, alguns dos gigantes que dominarão a história da música erudita na segunda metade do século 20.

Numa sequência de obras sedutoramente revolucionárias, em 1966 o compositor húngaro publicou Lux aeterna, na qual, sobre as sílabas do texto latino da missa para os mortos, o coro misto a capela se metamorfoseia em massas sonoras iridiscentes e superfícies quase eletrônicas.

Pouco depois, o cineasta Stanley Kubrick escutou ambas as obras, gostou e as incluiu em seu épico de ficção científica  2001, uma odisseia no espaço, de 1968 – sem antes pedir permissão ou esclarecer de quem eram os direitos autorais.

 Lukas Ligeti (2º da esq.), filho de György, toca com o Burkina Electric há 16 anos

Quem conta o que se seguiu é o percussionista e compositor Lukas Ligeti, filho de György, em sua estada na Alemanha para o Moers Festival: "Um dia, meu pai foi assistir a esse filme que todo mundo dizia que era tão bom. Quando escutou a música, claro que ficou sem fala e chocado."

Após a sessão, uma senhora comentou que a única coisa de que gostara era a música (a trilha sonora de 2001 também inclui, aliás, a valsa Danúbio Azul, de Johann Strauss II, e a icônica introdução do poema sinfônico Also sprach Zarathustra, de Richard Strauss). Quando Ligeti agradeceu, comentando que a música era sua, a velha dama o despachou: "Sim, meu rapaz, é claro."

O compositor processou o diretor americano pelo "roubo", mas o caso acabou sendo resolvido extrajudicialmente. Kubrick voltaria a usar música de Ligeti em O iluminado (1980) e em sua obra final, De olhos bem fechados (1999) – desta vez com permissão prévia e pagando os devidos direitos autorais.

Poema para 100 metrônomos e outras piadas

Depois de Viena, György Ligeti viveu em Berlim e nos Estados Unidos, e ensinou composição na Universidade de Música e Teatro de Hamburgo. Ao longo de sua trajetória manteve uma característica relativamente rara num "artista sério": um irresistível senso de humor iconoclasta, quase infantil.

Assim, sua única ópera, Le Grand Macabre, é uma sátira cáustica sobre o Juízo Final, cuja orquestração inclui um coro de buzinas de carro. Também impossível de levar a sério, porém surpreendentemente instigante, é seu Poème symphonique, em que 100 metrônonomos, cada um num andamento diferente, são acionados simultaneamente.

Até sua morte, em junho de 2006, Ligeti permaneceu um pesquisador: de matemática fractal a Alice no País das Maravilhas, nada escapava de susa curiosidade intelectual. De seus experimentos eletroacústicos, por exemplo, resultaram duas obras altamente originais, Artikulation e Glissandi. A partir da década de 80, ele se dedicou a estudar a música da África Central, em especial a do povo pigmeu Aka.

Numa época menos preocupada com "apropriações culturais" indébitas, essa influência se manifesta tanto no Trio para violino, trompa e piano (1982), como em alguns dos 18 Études para piano solo (1985-2001), ou nos concertos para piano (1985–88) e para violino (1989–93) e orquestra.

Não era a primeira vez que a música de concerto ocidental buscava influências, africanas, sem dúvida. Mas essas e outras obras ligetianas de maturidade são de um dinamismo exuberante, quase convidando a dançar. Mas apenas quase, pois polirritmos (superposição de dois ou mais estruturas rítmicas) e assimetrias complexas lhes conferem um elemento de imprevisibilidade.

Influências africanas de pai para filho

Lukas Ligeti conta como o György ficou fascinado ao escutar a música da República Centro-Africana: "Meu pai estava sempre à busca de polifonia. Lá ele escutou uma forma toda nova de música polifônica, que tem algumas coisas em comum com a música renascentista da Europa, mas por outro lado é executada de modo bem diferente."

O músico austro-americano de 57 anos herdou do pai o interesse por influências étnicas múltiplas, e descreve sua produção como "música intercultural experimental", incluindo também jazz e sons eletroacústicos. Um marco em sua formação um workshop de improvisação que deu em Adidjã, na Costa do Marfim, ainda jovem estudante, patrocinado pelo Instituto Goethe.

Desde então, Lukas Ligeti tem tocado com músicos de toda a África, do Egito ao Zimbábue, Uganda e Quênia. Há 16 anos mantém com dois integrantes de Burkina Faso e dois da Costa do Marfim o grupo Burkina Electric, que participa do Moers Festival 2023, realizado de 26 a 29 de maio.

Vocalistas do Trondheim Voices apresentam improvisação sobre "Lux aeterna" no Moers Festival 2023. Foto: Juliane Schütz

Dedicado ao jazz porém aberto a música experimental, o evento na cidade renana inclui todos os anos uma seção dedicada à África. E em sua 52ª edição homenageia também o centenário de György Ligeti, com um concerto em que o coro SWR Vokalensemble interpreta Lux aeterna. Na segunda parte, os oito cantores do Trondheim Voices, da Noruega, apresentam uma improvisação inspirada nessa peça do antidogmático mestre.

György Ligeti - Atmospheres

György Ligeti, Requiem 

Ligeti: Music from 2001 Space Odyssey 

O concerto de 28 de maio de 2023 do Moers Festival será transmitido ao vivo pela DW às 22h00 (horário de Berlim, 17h00 em Brasília), em seu canal do YouTube DW Classical Music.

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Tony Tornado completa 93 anos e se emociona com festa surpresa de colegas.

Comemoração aconteceu nos bastidores de 'Amor Perfeito'; imagens compartilhadas por Camila Queiroz viralizaram nas redes Tony Tornado completou 93 anos na última sexta-feira (26) e, depois das gravações de ‘Amor Perfeito’, ainda no set da novela.... surpresa!

O ator ganhou uma festa dos colegas de elenco, numa comemoração que o deixou bastante emocionado.

A festa contou com balões vermelhos, cartazes, mesa com dois bolos, docinhos, salgadinhos e dedicatórias dos colegas espalhadas pelas paredes. Até a musiquinha "A chuva cai/ A rua inunda/ ô Tony, eu vou comer seu bolo!" foi cantada na hora do "Parabéns a Você".

Nas redes, amigos e colegas também prestaram homenagens ao ator e cantor, que tem uma história de vida das mais interessantes. Cantor de soul e amigo de Tim Maia na época em que ambos moraram nos Estados Unidos, Tony ganhou o Festival Internacional da Canção em 1970 ao cantar a música "BR 3" (de autoria de Antônio Adolfo e Tibério Gaspar - nota de quem vos fala. Assista o vídeo até o final e entenderá o porque Tony era fã dos Panteras Negras. "Vocês teriam este mesmo amor se Jesus fosse um homem de cor?")

Gravou um clipe com Mick Jagger, entrou para o grupo de paraquedistas do Exército junto com Silvio Santos, foi preso nos anos 1970 ao fazer o gesto dos Panteras Negras, grupo que lutava pelos direitos dos negros nos Estados Unidos, durante um show de Elis Regina no Maracanãzinho. 

Tony faz e acontece.

Toni Tornado e Trio Ternura cantam "BR-3" ao vivo na TV Tupi vídeo

Tony ganhou o Festival Internacional da Canção em 1970 ao cantar a música "BR 3" (de autoria de Antônio Adolfo e Tibério Gaspar - nota de quem vos fala. Assista o vídeo até o final e entenderá o porque Tony era fã dos Panteras Negras. "Vocês teriam este mesmo amor se Jesus fosse um homem de cor?")

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Portuguesa faz filme sobre como a família ficou rica escravizando negros

Natália Eiras

Colaboração para Ecoa, de Lisboa (Portugal), 30/05/2023

Foi em uma conversa informal com a avó, aos 18 anos, que a jornalista portuguesa Catarina Demony, 30, descobriu que sua família materna teve um papel importante em um dos capítulos mais violentos da história da humanidade: a escravização e o tráfico de povos africanos.

"Não tinha expectativa de que ela me contaria isso e, mesmo quando falou, eu não sabia da dimensão do envolvimento dos meus familiares no comércio de escravizados no Atlântico", conta em entrevista a Ecoa.

Saber das origens de seus antepassados foi como a peça que faltava no quebra-cabeça da sua mente. "Durante a minha adolescência, eu sempre me questionei muito sobre o passado da minha família, porque sabia que, em Angola, ela era bastante abastada, com posses. Sempre me perguntei: de onde vinha esse dinheiro?".

Catarina é descendente da família Matoso de Andrade e Câmara, que, segundo historiadores, foram grandes comerciantes de pessoas escravizadas entre os séculos 18 e 19 — eles mantiveram as atividades mesmo quando o tráfico foi proibido pela coroa portuguesa.

Compartilhando sua história num documentário

Após a revelação da avó, Catarina decidiu usar seu conhecimento profissional, como correspondente da Reuters, para transformar esse enredo no documentário "Debaixo do Tapete", lançado neste ano, que mistura a narrativa de sua família com a história da escravização e as suas consequências para Portugal.

Em dez anos de investigação, a jornalista juntou documentos de historiadores e do Arquivo Nacional Torre do Tombo, em Lisboa, e entrevistou familiares, como a avó, que trouxe a história à tona, além da bisavó.

Do soldado Matoso de Andrade, primeiro antepassado a chegar em Angola, no séc. XVIII, a José Maria Matoso de Andrade, último membro da família que trabalhou no tráfico transatlântico, calcula-se que dezenas de milhares de pessoas foram escravizadas pelos Matoso de Andrade e Câmara. "Os arquivos mostram que alguns navios de meus antepassados tinham capacidade de transportar 340 pessoas e foram inúmeras viagens transatlânticas", diz a jornalista.

Após a morte de José Maria, aos 42, a família deixou Angola logo após a Revolução dos Cravos, em 1974, que colocou fim ao Estado Novo e libertou as colônias portuguesas. Catarina é parte da primeira geração a nascer em Portugal.

Uma cultura de silenciamento em Portugal

Mais do que se redimir ou lucrar com uma polêmica pessoal, a jornalista quer fomentar o debate sobre o impacto da escravização na vida de pessoas negras, principalmente em Portugal. "Essa história podia ser um livro, uma reportagem, mas quis contá-la em um formato com mais apelo para que pudéssemos mostrá-la nas escolas", diz.

Assim como Catarina, muitos jovens portugueses não têm ideia de como o tráfico de escravizados reverbera até hoje na sociedade.

"Não me recordo de, na escola, ter aprendido sobre a brutalidade que foi a escravatura. Era ensinado como algo que se fez a povos que não eram 'civilizados', que os religiosos estavam a convertê-los ao catolicismo", lembra.

Em Portugal, até hoje prevalece uma cultura de silenciamento sobre o passado, que reverbera na própria família da jornalista. "Meus avós e meus pais me deram muito apoio para que eu fizesse essa investigação, mas teve muita gente que não quis falar, não quis se associar a esses antepassados", conta.

Para o documentário, a jornalista entrevistou suas avó e bisavó, que trouxeram mais detalhes sobre a história da família. Imagem: Divulgação/Catarina Demony

Responsabilização pelos antepassados

Para a jornalista portuguesa, fazer o filme foi um modo de se responsabilizar pelo que seus antepassados fizeram, seguindo os passos de exemplos como a jornalista britânica Laura Trevelyan.

Após descobrir que sua família tinha escravos em uma fazenda em Granada, no Caribe, Laura fez uma doação de 100 mil libras (por volta de R$ 616 mil) a um fundo da comissão de reparações da comunidade caribenha.

"Infelizmente, minha conta bancária não permite que eu faça uma reparação financeira, mas posso dar a minha contribuição para levantar essa conversa e exigir que essas reparações históricas aconteçam por meio de políticas públicas", diz Catarina. Para ela, essa é a obrigação de outras famílias que, no passado, tiveram envolvimento com a escravatura e o tráfico de pessoas escravizadas.

"Pedir desculpas, pagar uma indenização é a parte mais fácil, mas elas também devem trabalhar ativamente para que haja uma reparação concreta, com impacto de longo prazo", afirma.

Por enquanto, o documentário está em festivais e não foi lançado ao grande público. O trailer pode ser visto no site do filme


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