Astrônomos veem pela 1ª vez estrela engolir um de seus planetas
Fenômeno representa possível destino da Terra, mas só em 5 bilhões de anos
Salvador Nogueira, 07/05/2023, Mensageiro Sideral
Pela primeira vez, astrônomos acreditam ter flagrado uma estrela engolindo um de seus planetas. Esse é um destino que pode estar reservado à Terra – mas só em mais uns 5 bilhões de anos, quando o Sol chegar à fase final de sua vida e inchar como uma gigante vermelha.
O evento observado pela equipe liderada por Kishalay De, do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), nos EUA, envolve uma estrela com massa comparável à do Sol que pode estar ainda em sua vida adulta (o que os astrônomos chamam de sequência principal) ou no início da fase de inchaço (subgigante) que vem quando o hidrogênio que alimenta a fusão nuclear no coração da estrela está se esgotando.
O achado envolveu a detecção de um objeto curioso com dados da Instalação Zwicky de Transientes (ZTF, na sigla em inglês), projeto localizado no Observatório Palomar, no sul na Califórnia e destinado a identificar astros que passam por mudanças bruscas de comportamento. No caso em questão, a estrela localizada a 12 mil anos-luz na constelação da Águia e identificada como ZTF SLRN-2020 passou por um súbito aumento de brilho vermelho por dez dias e então foi gradualmente se escurecendo ao longo de seis meses. Ao mesmo tempo, também registrou-se um aumento de emissão em infravermelho que durou bem mais que o decaimento do brilho extra observado em luz visível.
O evento, observado pelos dias e meses subsequentes por diversos telescópios em solo e no espaço, lembrou uma nova vermelha – evento transiente que os astrônomos associam à fusão de duas estrelas. Contudo, foi uma versão menor do fenômeno, o que fez os cientistas liderados por De a suporem que testemunharam uma estrela engolindo um planeta gigante.
Modelagens do processo são compatíveis com o que foi observado e indicam que a colisão envolveu um mundo similar em porte a Júpiter (com no máximo dez vezes a sua massa). O planeta teria interagido gravitacionalmente em grande proximidade com sua estrela por 6 a 12 anos antes de ser devorado e então produzir uma grande quantidade de poeira na "cintura" da estrela, responsável pela maior emissão de infravermelho subsequente.
Tudo já apontava para esses eventos serem comuns. Fora o fato de sabermos que há planetas gigantes em órbitas extremamente curtas (os chamados Jupíteres Quentes), sujeitas à desestabilização, astrônomos já observaram evidências de engolfamento prévio de planetas no padrão de rotação e na composição química de estrelas. Essa é, contudo, a primeira vez que um evento desse tipo é "pego no flagra".
Publicando seus resultados na última edição da Nature, os pesquisadores liderados por De estimam que eventos como esse devam acontecer na Via Láctea ao ritmo de, pelo menos, um a cada dez anos –e possivelmente vários por ano. Sabendo o que procurar, os cientistas agora esperam que futuros projetos de varredura identifiquem de forma rotineira essas mininovas vermelhas, revelando com que frequência ocorrem engolfamentos planetários e em algum momento apresentando análogos do destino final dos mundos mais internos do Sistema Solar –incluindo o nosso.
Nenhum comentário:
Postar um comentário