segunda-feira, 20 de junho de 2022

Amara Moira

Travesti, putafeminista, doutora em teoria literária e colunista de futebol

Milly Lacombe, UOL, 19/06/2022

Amara Moira é uma revolução. E, há algumas semanas, uma revolução que faz parte do corpo de colunistas do UOL Esportes. Escrevo essa coluna para deixar registrado o peso histórico dessa contratação. Conheci Amara durante um evento no qual debatemos sobre literatura na Praça Roosevelt, centro de São Paulo. Qualquer um que converse com ela por menos de cinco minutos corre o risco de se apaixonar.

A mistura de beleza, erotismo e inteligência é inflamável e, uma vez entrando na órbita de Amara, você está se colocando em posição de ser combustível para um incêndio eterno que transformará seus desejos e percepções. Tempos depois, entrevistei Amara para a "Revista Tpm", edição para a qual ela posou nua para a capa. Com Amara, aprendi coisas sobre o que é ser mulher que, até conhecê-la, eu ignorava.

Mas foi na praça Roosevelt, naquela tarde marota de domingo, que eu fiquei sabendo de seu amor pelo futebol e pelo Palmeiras (não dá para ser perfeita, obviamente). Ali, antes do evento começar, falamos sobre o jogo que aprendemos a amar, mas que nos odiava: o futebol, assim como a sociedade, despreza tudo o que é da ordem do feminino. A história do futebol - das partidas, dos campeonatos e de tudo mais que envolve o jogo mais popular do Brasil - nos tem sido contada por um sujeito único desde sempre: homens brancos. É desse lugar que o jogo é narrado, comentado, observado.

Apenas recentemente outros pontos de vista passaram a fazer parte da crônica esportiva. Nessa luta, precisamos contar com a parceria dos homens brancos que há muito se estabeleceram nesse meio em contextos de poder. Alguns deles, percebendo os ventos da mudança, encaram o desafio de ampliar nossas vozes. A luta se faz com essas alianças. A trajetória de Amara explode todas as fronteiras da normatividade hegemônica. Mulher trans, doutora em literatura pela UNICAMP, travesti, putafeminista, autora (aliás, leiam seu livro "E Se Eu Fosse Puta") e, agora, colunista de esporte.

Ela emprestará esse olhar e esse ponto de vista para ajudar a gente a perceber e sentir o futebol. É inédito, é histórico, é necessário e revolucionário. A partir desse alargamento de visão vai ser possível conferir ao jogo que amamos mais dimensões e camadas, deixando-o mais interessante e apaixonante. Com a contratação de Amara, o UOL Esporte colabora ativamente para que o mundo se transforme de forma inclusiva e justa. Ganhamos nós, leitoras e leitores, ganha o futebol e ganha a sociedade. 

É um orgulho enorme ser mulher LGBTQ+ ao lado de uma mulher LGBTQ+ como Amara Moira.


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Amara Moira viveu como homem por 29 anos. Agora, mulher, doutora em literatura e ex-prostituta, conta como é a vida do lado de lá

POR MILLY LACOMBE 25.09.2017 TPM #172


Autores(as):Monique Prada    

PUTAFEMINISTA

A articulação das trabalhadoras sexuais para lutar por seus direitos e combater o estigma da profissão não é uma novidade no Brasil. Mas ganhou muita repercussão com as redes sociais, graças a ativistas como Monique Prada. Prostituta e feminista, Monique expõe, neste misto de ensaio e manifesto, as ideias que servem de base para o “putafeminismo”, um movimento que dá voz às trabalhadoras sexuais e fortalece a luta dessas mulheres por direitos e contra a opressão, sem que para isso precisem abrir mão de seu trabalho ou se envergonhar dele.

Neste livro de estreia, Monique fala sobre suas primeiras experiências com o sexo casual, aos 15, a entrada no mundo da prostituição, aos 19, quando ainda trabalhava como estagiária em um escritório de advocacia, e a descoberta do feminismo, que a transformou em ativista, em putafeminista.

Prefácio de Amara Moira, trabalhadora sexual, travesti, escritora e doutora em literatura pela Unicamp, e apresentação de Adriana Piscitelli, professora do departamento de Antropologia Social e do doutorado em Ciências Sociais da Unicamp e pesquisadora do núcleo de estudos sobre gênero Pagu, vinculado à mesma universidade.


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