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Este é o taperão do meu sogro
Esta frase foi dita por Mariana Cândida de Jesus, mais popular como Mariana Librina, ao seu neto Joaquim Freitas Borges. O sogro é Francisco José Barreto, um dos dois fundadores da cidade de Barretos. O outro foi Simão Antônio Marques, pai de Mariana. O taperão era a casa do Francisco quando da doação das terras ao patrimônio do Divino Espírito Santo, origem da cidade. Hoje o taperão estaria nas imediações da Rua 8 com a Avenida 15. O caso eu conto como o caso foi relatado por Osório Rocha.(1)
Barreto dizia aos seus filhos e genros:
vocês dão escritura ao Divino, mas este pastinho de baixo fica reservado, meio alqueire ao redor da minha propriedade.
Mariana Cândida é minha tia-tetravó. Sou filho da Orípia Pereira de Carvalho que é filha da Maria Cândida de Jesus que é filha do Jerônymo José Marques que é filho do Joaquim Simão Marques que é filho do Simão Antônio Marques.(2) Portanto minha mãe é trineta de Simão e sobrinha-trineta da Mariana e eu sobrinho-tetraneto (ou sobrinho-tataraneto). Para refrescar a memória: Simão Antônio viveu no período 1782 – 1873 e a cidade de Barretos fundada em 25 de agosto de 1854.
Mariana foi uma das cinco filhas e cinco filhos que Simão teve com Joaquina Cândida da Conceição. Foi irmã de Maria Leocádia, Inocêncio, Joaquim, José Antônio, João, Valentim, Inácia, Rita e Francisca. Não tenho informações precisas sobre a data de seu nascimento, mas estimo lá pelos idos de 1830, o ano em que apareceu o fósforo. E Mariana tinha fogo. Veremos a seguir.
Mariana Librina (3) casou-se pela primeira vez com seu primo, José Francisco Marques (Zé Librina). Moravam às margens do córrego do Paiol. Tiveram três filhos: Manoel Marques, Maria Bárbara de Jesus e Izabel Cândida de Jesus. Esta última nasceu em junho de 1850 e batizada, junto com a irmã, em 1852.
"Izabel - Aos vinte tres de Abril de mil oitocentos e cincoenta e dous baptisei, e pus os Santos Olios a IZABEL filha legitima de Jose Francisco Marques e de Mariana Cândida de Jesus: Padrinhos: Cipriano Garcia de Oliveira e Maria Silveira de Oliveira, todos desta. Pe. Justino Ferreira da Roxa" Livro N. 1 de batismos da Paróquia de Jaboticabal (1843-1874); ACDJ.
Zé Librina morreu de picada de cobra, em 1850. Mariana, viúva, voltou a morar com o pai na sede da fazenda Monte Alegre. Mariana casou-se pela 2ª vez, no dia 20 dezembro de 1850, com José Francisco Barreto, filho de Francisco José Barreto. Não ficou meio ano viúva. Izabel, sua última filha do casamento anterior tinha sei meses.
Osório Rocha conta como Mariana e José Francisco se encontraram. Ele vinha de Jaboticabal, a cavalo, e ao passar pela morada de Simão Librina pediu um copo de água e conversou um pouco. Tinha pressa e seguiu viagem. Estava chovendo muito e logo adiante o cavalo escorregou caiu com o cavaleiro e escoiceou-o machucando-o muito. Levado para a casa de Simão o moço foi cuidado pela enfermeira da hora: Mariana. Ficou por lá até se restabelecer das feridas do corpo. Mas este convívio
lhe havia aberto outras chagas muito mais graves no coração. Logo o noivado foi oficializado e o casamento realizado em Jaboticabal.
Mariana e José Francisco foram muito felizes no casamento. Conta-se que às vezes os dois punham-se a relembrar aquelas cenas do copo d’água, a queda do cavalo, o coice e depois os cuidados da enfermeira e o amor nascido disto tudo. José Francisco concluía:
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Coice feliz...
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É mêmo... dizia a carinhosa esposa.
Deste casamento Mariana teve mais oito filhos. São eles: Ana (Nh’Aninha), Antônia, Joaquina Cândida de Jesus, Tomásia, João, Valentim José Barreto, Simão Marques Barreto (conhecido por Dezenove, por lhe faltar um dedo grande do pé) e Francisco José Barreto (vulgo Chico Taturana).
Antônia, nascida em maio de 1859, foi casada com Antônio José Borges e teve os filhos: Maria, Umbelina,, Durval e Mariana. Esta última casou-se com Joaquim Freitas Borges e tiveram Juliana, Orestes, Alvina, Quintina, Urbano, Ibanez e Maura. Vejam que as iniciais destes nomes formam um acrônimo: JOAQUIM. Além destes filhos tiveram mais dois: Antônio e Isabel (A de Antônia e I de Isabel, as duas avós maternas).
O Dezenove foi casado com Ana Eulália dos Santos que faleceu em março de 1879. Casou-se pela 2ª vez com Antônia Delfina da Conceição. Morava na Rua 8 com a Avenida 21.
Mariana casou-se pela 3ª vez, no Arraial do Chapéu (Morro Agudo) com seu sobrinho afim João Alves Rosa, filho de Francisco Isaias da Silveira e Maria Rosa de Jesus, irmã de José Francisco Barreto (o 2º marido de Mariana). Mariana casou-se com o filho e depois com o neto de Francisco José Barreto. Foi a pessoa que mais conviveu a relação dos Marques Librinas e com os Barreto. Deste 3º consorcio não houve descendência.
Conta-se que já bem idosa para a época Mariana não quis exigir do esposo fidelidade canina e sacrifícios sobre humanos mostrando ao contrário uma tolerância cativante e tácita.
- Oia João Rosa, sou véia demais pra ocê. Há muita moça por aí.
Parece que ele, se bem ouviu, melhor executou a sugestão.
Mariana Librina faleceu no dia 17 de novembro de 1899, na casa de seu genro Antônio José Borges na Rua 8. Foi a última pessoa sepultada no velho cemitério da Avenida 21 entre as Ruas 20 e 22, demolido em 1908.
A densa e vasta árvore genealógica de Mariana está abaixo. Este mapa foi construido utilizando o software cmap (
http://cmap.ihmc.us/)
Edson Pereira Cardoso
Dezembro de 2010
(1) Osório Rocha, "Barretos de Outrora", São Paulo, 1954.
(2) Nilson Cardoso de Carvalho, "Os Marques Librinas de Barretos", 1999. Osório Rocha fez a árvore genealógica dos Barreto. Nilson Cardoso Carvalho fez, com mais detalhes, a genealogia dos Marques Librinas.
(3) Librina: as origens do nome. Nilson Carvalho relata:
No seu "Barretos de outrora" Osório Rocha, em pitoresca narração, conta o porquê do apelido "Librina" adquirido pelos Marques, povoadores de Barretos. A alcunha teria surgido da resposta de um Marques a um padre que lhe perguntara porque havia crescido tanto. "— O que me fez deste porte, siô Padre, foi as librina da madrugada. Sempre fui homem dos que entram na labuta à hora em que os galos prispia a amiudar..."
O epíteto "Librina", que o dicionário Aurélio dá como alteração popular de "neblina", pegou, e seu uso ficou tão incorporado que os próprios apelidados passaram a denominarem-se Marques Librina, conforme vi nos assentos de batizados da freguesia de Batatais. Outro indicativo que demonstra a importância do apelido foi o seu uso corrente para designar a origem ou raça de um tipo de cavalo criado pelos Marques na Fazenda Monte Alegre; seus animais eram denominados "librinas", tal como se menciona no inventário de Manoel Serafim da Silva possuidor de uma "poldra librina".