28/04/2024
Meu primeiro amor
Me parece natural que pessoas sejam capazes de desenvolver laços de
afeto com árvores e animais. Eu estranho que alguém ache isso estranho
Por José Eduardo Agualusa, O Globo, 27/04/2024
A árvore Dipteryx hermetopascoaliana [1], encontrada em Alagoas — Foto:
Divulgação / Jardim Botânico
Devia ter 8 ou 9 anos quando me apaixonei pela primeira vez. Um amor
platônico. Ela era extremamente alta, recatada, do lar, e muito, muito calada —
enfim, era uma árvore!
No caso, um abacateiro, que, como todos os abacateiros, era ao mesmo
tempo uma abacateira. Chamei-lhe Júlia. A identidade não-binária dela/dele
jamais afetou o nosso relacionamento. Alguns abacateiros, poucos, são capazes
de autofecundação. Júlia não era. Como não havia abacateiros nas proximidades,
ela/ele jamais frutificou. Para mim também isso não era um problema; para o meu
pai, sim. Alguém lhe disse que deveríamos castigar o abacateiro:
— Uma boa surra, com uma vara de ferro, e logo ele estará dando belos
abacates.
Então, o meu pai arranjou uma barra de ferro e espancou Júlia. Assisti
ao castigo chorando e gritando, preso aos fortes braços da minha avó. A/o
abacateira/o ficou com fundas cicatrizes no tronco — mas recusou-se a dar
abacates.
Júlia foi uma das muitas vítimas da longa guerra civil angolana. Em
1992, a minha cidade natal, o Huambo, então ocupada pela guerrilha, foi
bombardeada pela aviação governamental durante 55 dias. Uma das bombas atingiu
a minha árvore. Logo vieram homens que a cortaram em pequenos pedaços e a
transformaram em lenha.
Li “O meu pé de laranja lima”, de José Mauro de Vasconcelos, mais ou
menos na época em que me apaixonei pelo enorme abacateiro. Naturalmente,
identifiquei-me com aquele menino, Zezé, que troca confidências com um pé de
laranja lima.
Sempre me pareceu natural que algumas pessoas fossem capazes de
desenvolver profundos laços de afeto com árvores e animais. Ainda hoje, o que
me parece estranho é que alguém ache isso estranho.
Mia Couto — um grande escritor, e também um biólogo apaixonado —, gosta
de lembrar que todos nós somos compostos por uma enorme percentagem de outros
seres. O nosso corpo é composto de cerca de 30 trilhões de células humanas, e
de 39 trilhões de micróbios. Estes micróbios desenvolveram-se conosco ao longo
de dezenas de milhares de anos. Na verdade, evoluímos graças a eles. Nos
tornamos humanos graças a eles. O correto funcionamento de muitos dos nossos
processos fisiológicos mais complexos, incluindo alguns que influenciam aquilo
a que chamamos “estados de alma”, como a alegria ou a melancolia, estão
dependentes de redes conectadas de milhões de microrganismos.
Mais tarde ou mais cedo, todas as arrogantes filosofias que insistem em
apartar os seres humanos da natureza acabam batendo com a cabeça na realidade:
trazemos em nós, no nosso corpo, nos nossos genes, a infinita natureza. Somos,
afinal, esses outros seres que, durante tanto tempo, vimos como inimigos.
Há muitos anos escrevi um conto para crianças sobre uma menina,
Joaninha, que ambicionava ser maçã. Ao invés, foi professora a vida inteira.
Foi tão boa professora, ajudou tanta gente, que quando morreu e se encontrou
face a face com Deus este lhe disse: “Agora sim, Joaninha, mereces ser maçã”. E
ela retornou à vida, na forma de uma macieira.
[1] Nova espécie de árvore, inédita na Mata Atlântica, é descoberta em Alagoas e batizada em homenagem a Hermeto Pascoal
Pesquisadores, que apresentam resultado do trabalho em evento nesta sexta, dizem que a espécie 'é símbolo de resistência da megadiversidade da Mata Atlântica'
Por Lucas Altino, O Globo, 21/10/2022
Uma nova espécie de árvore gigante, que pode chegar a até 30 metros de altura, foi descoberta na cidade de Branquinha (AL). Do gênero Dipteryx, que pertence à família das leguminosas, a árvore foi catalogada como "Dipteryx hermetopascoaliana", uma homenagem ao célebre compositor e multi-instrumentista alagoano Hermeto Pascoal. A descoberta foi publicada na revista científica "Botanical Journal of the Linnean Society", no último dia 9.
Os pesquisadores encontraram a espécie em uma Área de Proteção Permanente (APP) dentro de uma propriedade particular, num resquício da Mata Atlântica. Como o bioma é o mais devastado do país - atualmente restam cerca de 10% da sua cobertura original - a hermetopascoaliana já nasceu considerada como uma espécie ameaçada.
Na propriedade, em um fragmento de floresta cercado de lavouras de cana-de-açúcar, foram encontradas uma árvore já adulta e duas jovens. A descoberta foi resultado da tese de doutorado da pesquisadora Catarina Silva de Carvalho, da Escola Nacional de Botânica Tropical do Jardim Botânico do Rio de Janeiro (JBJR). O artigo ainda tem como coautores Haroldo Cavalcante de Lima e Domingos Cardoso, do JBRJ, Débora Zuanny, da Universidade Federal da Bahia, e Bernarda S. Gregório, da Universidade Estadual de Feira de Santana.
- Assim como Hermeto é símbolo de resistência da diversidade da cultura brasileira dentro do universo infinito do jazz, através de seu tempero nordestino e de natureza universal, sendo referência mundial, a árvore gigante Dipteryx hermetopascoaliana que catalogamos é símbolo de resistência da megadiversidade da Mata Atlântica - escreveram os autores da descberta.
O gênero Dipteryx é comum na Amazônia e no Cerrado, onde existem espécies como o cumaru e o baru, respectivamente. Já sua presença na Mata Atlântica é algo inédito, o que aumenta a importância da descoberta.
Nesta sexta-feira (21), às 14h, os pesquisadores farão uma apresentação sobre a nova espécie, em um painel da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, que acontece no Jardim Botânico até o próximo domingo (23). O evento é aberto ao público.
11/04/2024
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A última pessoa no mundo que conversou comCarmen Miranda.
Uma menina pede um autógrafo
Ninguém noticiou, mas morreu a última pessoa
no mundo que falou com Carmen Miranda
Ruy Castro, FSP, 07/04/2024
Na noite de 5 de agosto de 1955, Carmen
Miranda começou a subir as escadas de sua casa, em Los Angeles, e disse a seus
convidados, todos brasileiros: "Macacada, vou dormir, mas ninguém vai
embora. Fiquem aí dançando, bebendo e se divertindo". Uma menina, Sheila,
12 anos, filha de um dos presentes, o industrial Jackson Flores, estendeu-lhe
uma foto: "Carmen, antes de dormir, pode me autografar esta foto?".
"Claro, meu bem", ela respondeu. E assinou-a: "Carmen
Miranda".
Carmen deu um boa-noite geral, subiu e foi
direto ao lavabo para tirar a maquiagem —naquela tarde, filmara sua
participação no programa de TV de Jimmy Durante, e os amigos em sua casa eram
os que ela convidara para assistir à apresentação. Vestiu um rôbe, lavou o
rosto e, no corredor, antes de chegar ao quarto, teve o enfarte fatal. Sem um
som, seu corpo caiu sobre o carpete e só foi encontrado na manhã seguinte.
Tinha 46 anos.
Sheila Carol Flores, a menina, guardou para
sempre a foto autografada e só lamentou não ter pedido a Carmen que a datasse.
Fizesse isto, ficaria comprovado que era o último autógrafo concedido por
Carmen. Não que Sheila pretendesse leiloá-lo ou vendê-lo. Apenas queria ter a
certeza de que tudo não passara de um sonho —ou pesadelo— adolescente.
Voltou para o Rio com seu pai, que,
separando-se de sua mãe, casou-se com a Miss Brasil Adalgisa Colombo. Sheila,
por sua vez, tornou-se modelo de passarela, trabalhou no Sheraton, casou-se com
um publicitário e teve uma filha, Stephanie. Criou família, conquistou amigos,
conheceu o high society. Mas o ponto máximo de sua vida lhe acontecera bem
cedo, naquela noite de 1955.
Sheila morreu há dias no Rio, aos 81 anos.
Nenhum jornal ou revista registrou sua morte. Normal: não era famosa. E ninguém
tinha a obrigação de saber que, com ela, morria também a última pessoa no mundo
que falara com Carmen Miranda.
Carmem Miranda ultima foto Reportagem de O
Cruzeiro, de 1955, com a última foto de Carmen (abraçada a Jimmy Durante), e
postais modernos sobre ela - Heloisa Seixas
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Filme lembra amor de Antonio Candido por Gildade Mello e Souza
Documentário de Eduardo Escorel, que está no É
Tudo Verdade, trata de memórias literárias, velhice, amizades e tensão política
Naief Haddad, FSP, 06/04/2024
Embora tenha dirigido filmes como "Lição
de Amor", lançado em 1975, Eduardo Escorel teve uma carreira, sobretudo,
de montador dos anos 1960 à década de 1980, com participação em produções hoje
tidas como clássicas, como "Terra em Transe", de 1967, e "Cabra
Marcado para Morrer", de 40 anos atrás.
A partir de 1990, ele se dedicou principalmente
à direção de documentários, voltados à história política do país, casos de
"32 - A Guerra Civil", de 1993, e "1937-1945: Imagens do Estado
Novo", de 2018, e às figuras renomadas da cultura brasileira, como
"Deixa que Eu Falo", de 2007, sobre o cineasta Leon Hirszman.
Escorel encontra a literatura no novo
"Antonio Candido - Anotações Finais", exibido no É Tudo Verdade em
São Paulo e no Rio de Janeiro. Um encontro em família, afinal, um dos maiores
críticos literários do Brasil no século 20 era seu sogro –Escorel é casado com
Ana Luisa, a mais velha das três filhas de Cândido e Gilda de Mello e Souza.
Antonio Candido em Bofete Antonio Candido
em Bofete, no interior paulista, em 1948 durante pesquisa para o livro 'Os
Parceiros do Rio Bonito', escrito originalmente como tese de doutorado -
Divulgação
A partir dos 15 anos, Cândido começou a deixar
anotações em cadernos, com observações sobre o cotidiano e reflexões a respeito
dos mais variados assuntos. Os dois últimos volumes foram escritos de 2015 a
2017, quando o crítico morreu, aos 98 anos. O documentário se baseia em trechos
desses cadernos derradeiros e inéditos.
Nesses escritos, não surgem formulações
teóricas, como as feitas por Cândido em "Formação da Literatura
Brasileira", sua obra mais influente. Livros e autores aparecem sob a
chave afetiva, em geral relacionados à juventude do crítico.
"Apesar do meu constante apego à poesia
desde menino, nenhum poema me causou a emoção que passa do cérebro ao corpo,
mesmo quando abala e faz vibrar. Isso, salvo esquecimento, aconteceu sempre com
a ficção narrativa, e em número restrito. Talvez o primeiro desses choques
tenha sido causado em 1933, quando tinha 15 anos, pela leitura de ‘Os
Miseráveis’", anotou.
Também vêm à tona questões políticas, como o
impeachment de Dilma Rousseff —Candido foi um dos fundadores do PT. E ainda as
tragédias sociais do país. "O alvo da luta social é, antes de mais nada, o
negro, o grande excluído ainda hoje. A solução obnubilada foi, depois da
abolição, descartá-lo em vez de incorporá-lo", escreveu. "A verdade é
que fracassamos, não soubemos ver o que olhávamos."
A leitura dos trechos por Matheus Nachtergaele
se dá na medida certa. É precisa, mas não fria; eloquente sem jamais soar
histriônica.
O ator não está em cena, apenas sua voz. O
filme é composto por imagens do apartamento em São Paulo onde Candido e Mello e
Souza viviam e das ruas do entorno, onde ele fazia suas caminhadas cada vez
mais curtas àquela altura. Há ainda fotos de diferentes fases da vida, especialmente
da infância e da juventude. No "apagar da vida", como diz, as
reminiscências vão longe, em busca do rapaz que ele havia sido.
À primeira vista, as imagens, enganosamente
discretas, estão a serviço do texto narrado por Nachtergaele. Não é bem assim.
Na verdade, os sentidos se acumulam em camadas, criando novas leituras.
É o que acontece, por exemplo, nas referências
a Mello e Souza, que morreu em 2005, 12 anos antes do marido. A professora da
Universidade de São Paulo e ensaísta está presente nas passagens mais ternas.
"Ter vivido mais de 60 anos com ela me parece a justificação de minha vida
e, provavelmente, um imerecido prêmio que me coube."
Em momentos como esse, vemos retratos de Mello
e Souza ou imagens do casal sem gestos expressivos de afeto. Por quê? Aos olhos
deles, dois intelectuais de prestígio, a câmera pedia comedimento? Ou era
timidez? Não sabemos, mas a justaposição de som e imagem nesse caso estabelece
mais contraste do que reiteração.
Gilda de Mello A ensaísta Gilda de Mello
e Souza em foto feita pelo cantor João Gilberto em 1968, nos EUA - Divulgação
"Antonio Candido - Anotações Finais"
trata das memórias literárias, da velhice, das amizades da juventude, das
tensões sociais e políticas. Mais do que tudo isso, talvez seja um filme sobre
o amor de Antonio Candido por Mello e Souza, um sentimento que, neste caso, as
palavras se atrevem a traduzir, mas as imagens não.
Escrevendo às filhas, ele disse "nos
últimos dias, tenho pensado nela [Mello e Souza] com intensidade, como num
surto de felicidade perdida que desvenda uma espécie de privação insuportável,
de injusta mutilação". "Sinto então a mãe de vocês tão próxima que dá
vontade de chamá-la e perguntar, crispado: por que se foi?"
.....
Fernando Bonassi - Encontros de Interrogação(2011)
Fernando Bonassi
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Lygia Fagundes Telles: um século de históriasda dama da literatura brasileira
Imortal da ABL, escritora colecionou 'causos'
com Simone de Beauvoir, William Faulkner e Jorge Luís Borges
BBC News Brasil, 18/04/2023
Lygia Fagundes Telles
adorava viajar. Mas, aparente contradição, detestava aviões.
"Por que estou sempre metida em algum
deles?", queixou-se à escritora Clarice Lispector, durante voo para a
Colômbia, em 1974.
Lygia Escritora Lygia Fagundes Telles em
1964 - Folhapress
____________________________________________________
Foto do perfil de daniel.taddone (03/04/2022)
Lygia Fagundes Telles (1918-2022)
Hoje morreu Lygia Fagundes Telles. E sua
genealogia nos mostra que a grande escritora guardava um segredo: ela era 5
anos mais velha do que dizia!
Partiu hoje aos 103 anos e não aos 98 anos
como todos os meios de comunicação e até a Academia Brasileira de Letras
imaginam...
Lygia foi registrada no cartório de registro
civil de Santa Cecília (São Paulo SP) em 23 de abril de 1918 com 4 dias de
idade. Poucos dias depois foi batizada na paróquia da Consolação em 3 de maio
de 1918.
______________________________________________________
As duas eram convidadas de um congresso de
literatura hispano-americana, em Cali. Para disfarçar o nervosismo, abriu um
jornal e fingiu ler algumas notícias.
Não adiantou. Sentada na poltrona ao lado,
Clarice esboçou um sorriso e tranquilizou a amiga. "Lyginha, minha
cartomante já avisou que não vou morrer em nenhum desastre!"
Em terra firme, as duas logo se entediaram com
o evento literário. "Essa gente fala demais!", reclamou Clarice,
ucraniana naturalizada brasileira.
Terminada a apresentação, foram às compras. Na
volta, passaram pelo bar do hotel. Lygia pediu vinho e Clarice, champanhe. "Na saída, precisávamos mascar chiclete
porque nossos bafos estavam péssimos!", recordou Lygia, aos risos, em
entrevista ao jornal O Globo, de 15 de outubro de 2011.
O medo de voar não a impediu de conhecer
dezenas de países. Com o segundo marido, o crítico de cinema Paulo Emílio
Salles Gomes, visitou o Irã, em 1968.
Convidada do Festival Internacional de Cinema,
descobriu, durante visita ao túmulo do rei Ciro, da Pérsia, que a Pasárgada do
poeta Manuel Bandeira não era uma invenção poética. "Sou um horror em
geografia", admitiu, em 2013.
Lygia A escritora Lygia Fagundes Telles,
durante a pré-estréia de seu longa 'Lygia, Uma Escritora Brasileira', do
diretor Hélio Goldsztejn, no espaço Itaú de Cinema, em São Paulo - Eduardo
Anizelli/Folhapress
Com os escritores Ivan Ângelo e Ignácio de
Loyola Brandão, viajou para Nova York em 1982. Foram divulgar "As Meninas,
Zero" e "A Festa", recém-traduzidos para o inglês.
Entre um compromisso e outro, gravaram
reportagem para a TV brasileira no Rockefeller Center.
Na hora em que Ivan Ângelo concedia
entrevista, alguém da multidão quis saber quem era. "Paul Newman!",
improvisou Lygia, moleca. A notícia logo se espalhou. "Faziam fila para autógrafos",
relatou o suposto sósia do galã ao "Cadernos de Literatura
Brasileira". "E ela ria, ria..."
"Em Berlim, ao ver que João Ubaldo
Ribeiro tinha comprado caixas de uma 'vitamina milagrosa', exigiu que ele a
levasse à farmácia para comprar um lote. 'Preciso estar pronta para
envelhecer', dizia. Se alguém do grupo fizesse uma compra, ficava enciumada.
Era preciso levá-la ao mesmo lugar. Grandes pessoas têm pequenas
idiossincrasias", afirma o jornalista e escritor Ignácio de Loyola
Brandão. "A grande dama da literatura era uma
mulher simples, low-profile, sem pose. Talvez soubesse que era grande. E
ponto."
Não gostava de comemorar aniversário
Lygia Fagundes Telles ainda se chamava Lygia
de Azevedo Fagundes —só se casou com o advogado Goffredo da Silva Telles
Júnior, em 1950— quando prometeu a si mesma escrever no mínimo dez obras,
entrar para a Academia Brasileira de Letras (ABL) e ter um busto na Praça da
República, ao lado da escultura de Álvares de Azevedo.
Dos três sonhos de infância, realizou dois:
publicou mais de 20 obras e, por 32 votos a sete, foi eleita para a cadeira 16
da ABL em 24 de outubro de 1985.
Foi mais ou menos nesta época que Lygia tomou
ranço de aniversário. Quando tinha 10 anos, sua mãe, a pianista Maria do
Rosário Silva Jardim de Moura, a Zazita, preparou uma festa linda. Ninguém
apareceu. Também, pudera. A aniversariante esqueceu de entregar os convites...
"Aniversário é uma data boa quando se é
jovem. Depois da velhice brutal, não quero mais!", desabafou ao Globo, em
12 de abril de 2013. Depois de sua morte, descobriu-se que Lygia Fagundes
Telles não nasceu em 19 de abril de 1923. Nasceu cinco anos antes: em 19 de
abril de 1918.
"Quando Lygia nasceu, todas as fadas se
debruçaram sobre seu berço. Era uma mulher linda, inteligente, excelente
escritora e um senso de humor formidável. Tinha o coração do lado certo. Sempre
defendeu as boas causas. Era um orgulho ter o mesmo passaporte dela",
exalta a escritora e acadêmica Rosiska Darcy de Oliveira que, no dia 31 de
outubro, vai fazer uma palestra na ABL em homenagem ao centenário da amiga.
"Sua maior contribuição à literatura
brasileira foi ela mesma. Nunca foi uma militante. Mas influenciou as mulheres
que a leram. Lygia não criava personagens. Criava pessoas. Sou muito grata a
Lygia por todas as reflexões que despertou em mim."
'O grande amor de sua vida foi seu trabalho'
O número de livros publicados só não é maior
porque ela rejeitava os três primeiros, de contos: "Porão e Sobrado",
de 1938; "Praia Viva", de 1944; e "O Cacto Vermelho", de
1949, que classifica como "imaturos" e "precipitados".
Lygia começou a escrever muito cedo, quando
cursava o antigo ginásio no Instituto Caetano de Campos, em São Paulo. Seu
primeiro livro foi publicado com recursos do pai, o advogado Durval de Azevedo
Fagundes. "Fico aflita só de pensar nas novas
gerações lendo esses meus livros. Não quero que percam tempo com eles!",
afirmou, em 1998.
Do pai, Lygia dizia ter herdado "o vício
do risco". Com uma diferença: ele jogava com fichas; ela, com palavras. "Hoje, perdemos, mas amanhã a gente
ganha", costumava repetir. Certo dia, Durval perdeu tudo na roleta. Por
essa razão, Lygia criou verdadeiro pavor da instabilidade econômica. Conclusão:
concluiu duas faculdades: a de Educação Física, em 1941, e de Direito, em 1946,
ambas na Universidade de São Paulo (USP).
Para o crítico Antonio Cândido, a fase
"madura" de sua obra teve início em 1954, com "Ciranda de
Pedra". É o primeiro de seus quatro romances. Os outros são "Verão no
Aquário", de 1964; "As Meninas", de 1973; e "As Horas
Nuas", de 1989. "Ciranda de Pedra" ganhou duas
adaptações para a TV: em 1981, adaptado por Teixeira Filho, e em 2008, por
Alcides Nogueira.
"No livro, não há um só casamento; na
novela, arrumaram dez! Eu via aquilo e falava: 'Oh, meu Deus, outro
casamento!?'", espanta-se, referindo-se à primeira versão.
Quem também gostou de seu romance de estreia
foi Simone de Beauvoir. As duas se conheceram em São Paulo em almoço oferecido
pelo editor Barros Martins em 1960. Às vésperas de regressar a Paris, a francesa
marcou um encontro em uma livraria.
Queria presentear a brasileira com um exemplar
de "Todos os Homens São Mortais", de 1946.
Em retribuição, Lygia ofereceu uma cópia
— datilografada e em francês — de "Ciranda de Pedra".
Dias depois, Lygia recebeu uma carta que a
deixou "em estado de graça". "Não só lera o livro como se
apressara em alegrar o coração de uma escritora brasileira que passou esse dia
levitando", derrete-se em crônica publicada no jornal O Estado de S.
Paulo, de 8 de janeiro de 1978. "Lygia trabalhou muito, durante toda sua
vida, até os últimos anos. Posso dizer que o grande amor de sua vida foi seu
trabalho", garante sua neta, Lúcia Telles, filha de Goffredo da Silva
Telles Neto.
"Quando meu pai morreu, escreveu
'Conspiração de Nuvens' para afastar a depressão."
"Minhas primeiras memórias com ela são em
seu apartamento: os gatos, a máquina de escrever, recortes de jornais com os
crimes que a interessavam... Quando eu era pequena, contava histórias de terror
e mistério. Lia Edgar Allan Poe para mim e eu adorava. Adoro até hoje. Sinto uma
falta enorme dela."
Foi a Brasília protestar contra a censura
Quando colocou o ponto final em "As
Meninas", Lygia caiu no choro. Chegava ao fim uma "convivência
encantadora". Uma das protagonistas chegou a "suplicar para que não a
matasse". "Ainda tenho muito o que dizer",
protestava Ana Clara. "Não posso morrer agora". Lygia não conseguiu
salvá-la: morreu por overdose.
Em 1976, Lygia foi a Brasília, acompanhada por
outros intelectuais, como a escritora Nélida Piñon, entregar ao ministro da
Justiça, Armando Falcão, um manifesto contra a censura.
Passado algum tempo, Paulo Emílio chegou em
casa rindo. Soube que o censor encarregado de ler "As Meninas" não
conseguiu passar da página 40. "Achou tudo muito chato", explicou a
autora, em 2009.
Sorte a dela. Nas páginas 148 e 149, reproduz
um doloroso relato de tortura. O romance ganhou quatro versões: três para o
teatro e uma para o cinema.
No filme de Emiliano Ribeiro, Lorena, Lia e
Ana Clara foram interpretadas por Adriana Esteves, Drica Moraes e Cláudia Liz.
Lygia Lygia Fagundes Telles - Arquivo
Nacional
"Uma série de autoras contemporâneas que
dedicaram obras ao período da ditadura militar poderiam ser netas da Lygia. Não
posso afirmar que todas a leram, mas, de todo modo, se juntam a Lygia nessas
páginas de nossa história literária como um alerta do que não pode ser
esquecido por todos nós, como coletividade, mas sem apagar os caminhos mais
interiores, mas ressaltá-los", afirma a pesquisadora Luciana Araújo
Marques que, no próximo dia 19, vai mediar, às 20h, na livraria Gato sem Rabo
(SP), um bate-papo com as escritoras Andréa del Fuego e Aline Bei sobre o
legado da aniversariante do dia.
"Para mim, essas escritoras agem como
guerrilheiras da negação da morte. Talvez menos em um sentido de eternidade e
da monumentalização do que é tido como 'o que fica' e é 'canonizado', e mais
como uma exaltação da vida contra tudo o que mata antes da hora de
morrer."
'O que diabos eu vim fazer em Chicago?'
Além da francesa Simone de Beauvoir, Lygia
conheceu outros gigantes da literatura universal: o americano William Faulkner
e o argentino Jorge Luís Borges.
Faulkner, Nobel de Literatura, esteve em São
Paulo entre os dias 8 e 14 de agosto de 1954 para participar do I Congresso
Internacional de Escritores. Durante sua estadia, experimentou camarão à
baiana, espantou-se com uma sucuri de oito metros e deitou-se no chão do Museu
de Arte de São Paulo (Masp) para aliviar as dores nas costas.
"Chegou meio fora de órbita", contou
Lygia ao jornal Folha de S.Paulo, de 14 de setembro de 1997. "Estava
sempre com o cabelo molhado. Creio que para ficar desperto, devido ao excesso
de álcool."
Hospedado no Esplanada, Faulkner conheceu
Lygia no Butantan. Os dois foram apresentados pelo crítico Mário da Silva
Brito. "Se os seus contos forem tão belos quanto
seus olhos, a senhora, certamente, é uma grande escritora", elogiou. Nessa hora, Brito cochichou para Lígia:
"Não se esqueça de colocar esse comentário na orelha do seu próximo livro.
É o único que Faulkner conseguiu fazer a respeito da literatura
brasileira".
Ao se despedir, já na fila de embarque do
Congonhas, o visitante perguntou: "O que diabos eu vim fazer mesmo em
Chicago?"
'A literatura é uma forma de amor'
Trinta anos depois, reencontrou um velho
amigo, Jorge Luís Borges, que conheceu em 1960. Em um jantar, o escritor
argentino falou da importância do sonho. "Tenho um amigo que morreu quando deixou
de sonhar", advertiu. "No exato momento em que mencionou seu nome,
alguém deixou cair uma taça e não consegui ouvir", recordou Lygia, em
2009.
Anos depois, a escritora leu o conto "Uma
Estação de Amor" e decifrou o mistério: o tal amigo suicida era o uruguaio
Horacio Quiroga. "Gravemente doente e sem esperança, suicidou-se com
cianureto", conta no livro "Durante Aquele Estranho Chá", de 2002.
Na entrevista ao "Cadernos de Literatura
Brasileira", Lygia lembra da ocasião em que, na década de 1970, recebeu o
telefonema de um rapaz dizendo que, por causa de seus livros, não queria mais
tirar a própria vida. Lá pelas tantas, emocionada, a escritora
perguntou: "O que eu posso fazer por você?". O leitor respondeu:
"A senhora já fez". E desligou.
"Fico relendo meus textos, procurando,
procurando, qual a palavra, meu Deus, qual a palavra que foi capaz daquilo?
Nunca vou saber", divagou, em 1998. "No fundo, a literatura é uma
forma de amor", concluiu.
"Era uma mulher à frente de seu tempo.
Tinha forte preocupação com o papel social da mulher. Debater sua contribuição
à literatura é tarefa dos acadêmicos. Queremos enfatizar sua contribuição
humanista. Às vezes, nos preocupamos tanto em estudar uma obra que esquecemos
da pessoa incrível que criou aquela obra", afirma a jornalista Rachel
Valença, coordenadora de literatura do Instituto Moreira Salles (IMS) que,
desde 2002, guarda o acervo da escritora, composto de cartas, originais,
fotografias e até da Olivetti que ganhou de Paulo Emílio na Itália.
No dia 11 de maio, o IMS organiza uma mesa de
debates, com participação da acadêmica Ana Maria Machado, a agente literária
Lúcia Riff e a pesquisadora Elizama Almeida, na ABL
Foi indicada ao Nobel em 2016
Avessa a autobiografias, Lygia lançou três
livros de memórias: "Invenção e Memória", de 2000; "Durante
Aquele Estranho Chá", de 2002, e "Conspiração de Nuvens", de
2007.
No segundo volume, esmiúça, entre outras histórias,
a visita que fez a Monteiro Lobato no presídio Tiradentes em 1941 —o criador do
Sítio do Picapau Amarelo fora preso por criticar o Estado Novo— e o encontro
com o poeta modernista Mário de Andrade na confeitaria Vienense, na rua Barão
de Itapetininga, em 1944.
Lygia Lygia Fagundes Telles durante
cerimônia de posse do ator Juca de Oliveira, na Academia Brasileira de Letras -
Bruno Poletti/Folhapress
"Se eu tivesse pernas tão lindas, ia lá
pensar em literatura?", foi obrigada a ouvir em uma das vezes em que
esbarrou com Monteiro Lobato.
No estranho chá com o autor de
"Macunaíma", a jovem estudante de Direito com aspiração literária
saiu da confeitaria com uma carta. O que Mário de Andrade teria achado de seus
escritos? Nunca saberemos... "No dia seguinte, na maior emoção, levei
a carta para exibi-la a dois colegas da Faculdade. Mas, acabei por perdê-la
numa das salas de aula e nunca mais", lamentou na crônica que dá título ao
livro.
Dos 16 livros publicados pela Companhia das
Letras, onze são de contos. Apenas um, "Passaporte para a China", é
de crônicas — a pedido de Samuel Wainer, dono do jornal Última Hora, escreveu
impressões sobre uma viagem de 20 dias a Pequim e Shanghai em 1960. "Tentei fazer poesia quando estava na
Faculdade de Direito. Mas logo percebi que era apenas um apelo de
juventude", reconheceu ao "Cadernos de Literatura Brasileira".
Só Jabuti, o mais importante prêmio literário
brasileiro, foram quatro: "O Jardim Selvagem", de 1966; "As
Meninas", de 1973; "A Noite Escura e Mais Eu", de 1996, e
"Invenção e Memória", de 2001. Em 2005, levou para casa o Camões, o
"Nobel" da Língua Portuguesa. Em 2016, teve seu nome indicado ao
Nobel de Literatura. Perdeu a honraria para o cantor e compositor americano Bob
Dylan.
"Era minha vizinha no Jardins. Quando
caminhávamos pelo bairro, abraçava as árvores, brincava com os animais...
Também íamos ao cinema. Comentava o filme em voz alta. Às vezes, isso gerava um
'psiu' dos outros espectadores", relata o escritor e acadêmico José Renato
Nalini.
"Também gostava de conversar ao telefone.
Lia seus contos e pedia minha opinião. O que me desvanecia. Tínhamos em casa
uma poodle que era avessa a humanos. Mas, quando Lygia chegava, pulava no seu
colo. Ficava extasiada. Sinto imensa falta de Lygia, a amiga, mais do que a
imortal."
.....
Dias Perfeitos, O Céu de Lisboa e Buena Vista
Social Club
Hirayama (interpretado por Koji Yakusho, que venceu o prêmio de melhor
ator no Festival de Cinema de Cannes de 2023) é a personagem central de
"Dias perfeitos". O filme narra sua rotina incessante como
funcionádio público da limpeza de sanitários em Tokio. No tempo livre, explora
seus hobbies: ler, ouvir música e fotografar. Wim Wenders na flor de sua
sensibilidade e até poesia. Os passeios em Tóquio e a fixação dos japoneses com
a limpeza. O espaço, as relações e a linguagem: mascas de Wenders. A destacar o
jogo da velha com uma pessoa incógnita no interior de um sanitário; o encontro
com a sobrinha e a cena numa loja de discos e fitas cassete.
Dias Perfeitos, Perfect Days, 2023, Wim Wenders
As músicas do filme
Velvet Underground - Pale Blue Eyes
Dias perfeitos,2023, soundtrack
Assintindo Dias perfeitos me lembrei de dois outros filmes do mesmo
diretor. Têm em comum o espaço, o road movie e a música
1. O Céu de Lisboa, Lisbon Story, 1994
Madredeus - Lisbon Story - Guitarra
MADREDEUS - Moro Em Lisboa
2. Buena Vista Social Club
Buena Vista Social Club Full Album
16/04/24
Sermão do 4° domingo da Ascensão - Padre Antônio Vieira
" A mim, a imagem dos meus pecados me comove muito mais que essa
imagem do Cristo crucificado. Diante dessa imagem do Cristo crucificado eu sou
levado a ensoberbecer-me por ver o preço pelo qual Deus me comprou. Diante da
imagem dos meus pecados é que eu me apequeno por ver o preço pelo qual eu me
vendi. Por ver que Deus me compra com todo o seu sangue, eu sou levado a pensar
que eu sou muito, que eu valho muito. Mas quando noto que eu me vendo pelos
nadas do mundo, aí eu vejo que eu sou nada. Eu valho nada."
......
Viva o Brasil
Ninguém nos supera em faculdades de direito, farmácias, batata frita e
peitos e bundas inflados
Ruy Castro, FSP, 25/04/2024
Em entrevista a O Estado de S. Paulo, o jurista Miguel Reale Jr. disse
que o Brasil tem 1.240 faculdades de direito —"mais do que a soma de todos
os cursos de direito do mundo". De queixo caído, fiz meus cálculos. Se
cada uma dessas faculdades formar 50 advogados por ano, teremos 62.200 novos
advogados anualmente no mercado. Some-os aos já existentes e, por mais que os
nossos cidadãos se agridam, estuprem e matem alegremente uns aos outros, e não
falte a quem acusar ou defender, a maioria dos advogados deve ter muito tempo
livre.
Segundo o IBGE, o Brasil tem 5.570 municípios, muitos dos quais só
existem como municípios para sustentar um prefeito e os vereadores. Pois nada
impede que alguns desses municípios tenham uma faculdade de direito. Quantos de
seus advogados aprenderão latim para dizer "causa mortis",
"mutatis mutandis" e, quem sabe, "quosque tandem, Catilina,
abutere patientia nostra?".
O Brasil deve ser também o país com mais farmácias do mundo —média de
três ou quatro por quarteirão nas grandes cidades —, embora isso não nos torne
um país saudável. Da mesma forma, nenhum país tem mais bancos, supermercados,
shoppings, McDonalds e lojas de colchões. Nenhum consome mais alimentos
ultraprocessados, porcarias pré-prontas, refrigerantes diet, biscoitos
industrializados e batata frita.
Nenhum país faz mais cirurgias plásticas, bariátricas e íntimas. Nenhum
nos supera em toneladas de peitos e bundas inflados. E em nenhum se faz tanta
dieta —a quantidade de quilos perdidos anualmente pela população bate na casa
dos bilhões. Mas, nesse caso, nada se perde porque, em pouco tempo, eles
voltam, um por um. Nenhuma criança passa mais horas por dia olhando para o
celular do que as nossas.
Em compensação, poucos países têm menos bibliotecas, livrarias, teatros,
salas de concerto, museus, galerias e escolas de dança do que o Brasil. Viva o
Brasil.
....
Universidades veem proposta 'ofensiva' do governo Lula e ampliam greve
Ana Paula Bimbati, Do UOL, em São Paulo, 26/04/2024
Os sindicatos que representam professores e servidores técnico-administrativos
das universidades e institutos federais anunciaram que a greve continua.
O que aconteceu
Ao menos nove universidades federais devem aderir à paralisação na
próxima semana, afirmou Gustavo Seferian, presidente do Andes (Sindicato Nacional
dos Docentes das Instituições de Ensino Superior). A Unifesp, em São Paulo, é
uma das instituições, além da Ufal, em Alagoas, e a UFBA, na Bahia.
Já o número de campi dos institutos federais parados chegou a 550 no
início da tarde desta sexta (26). Segundo David Lobão, coordenador nacional do
Sinasefe (Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica,
Profissional e Tecnológica), no total existem 687 campi espalhados pelo país.
Aumento de instituições paradas ocorre após o movimento grevista
rejeitar a proposta do governo Lula (PT). Representantes do MEC (Ministério da
Educação) e da pasta de Gestão e Inovação apresentaram, na semana passada, uma
proposta de 9% de reajuste aos professores e 9,5% aos servidores em 2025 —
mantendo assim em 0% o aumento para esse ano. Para 2026, seriam 3,5% para ambas
as categorias.
Categorias definiram a reunião com o governo como
"decepcionante". "A proposta foi tão ofensiva às nossas
expectativas que ocorreu um crescimento da greve, vários campi que não tinham
aderido agora aderiram", disse Lobão, que também é professor de matemática
do IFPB (Instituto Federal da Paraíba).
A Andifes (associação que reúne os reitores das universidades federais)
afirmou à reportagem que 22 instituições estão em greve no momento. Outras 12
estão com indicativo para paralisação aprovado e 16 já decidiram que não vão
aderir. Em 17 universidades ainda haverá assembleia para decidir sobre o
movimento, afirma o grupo.
O UOL procurou o MEC, que disse ter encaminhado os questionamentos ao
MGI (Ministério da Gestão e Inovação em Serviços Públicos). Não houve respostas
até a publicação deste texto.
A greve teve início em 2 de abril por parte dos professores, mas ganhou
força em 15 de abril. A categoria técnico-administrativa começou a paralisação
no mês passado, em 18 de março.
O que disseram
A educação é dita nos discursos do governo como algo que é prioridade,
mas colocam muitas dificuldades para atender nossas reivindicações. David Lobão, coordenador nacional do Sinasefe
O zero para 2024 segue sendo um acinte à categoria, ainda que tenhamos
percebido que a mobilização grevista em uma crescente massiva tenha feito o
governo se movimentar em sua inflexibilidade na lida com o orçamento,
abocanhado pelo rentismo. Gustavo Seferian, presidente do Andes e professor da UFMG
Quais são as reivindicações
Os professores reivindicam reajuste salarial de 22% dividido pelos
próximos três anos — 7,06% em cada, começando em 2024. Já os servidores
técnico-administrativos pedem por um aumento de 34%, também dividido no mesmo
período de tempo.
As categorias também pedem reestruturação da carreira e um
"revogaço" de leis dos últimos governos. Segundo o presidente do
Andes, o governo não deu atenção a reorganização de carreira e deixou
"escanteados os aposentados e aposentadas, que não vão ter qualquer
espécie de acrescimento na sua renda nesse ano".
Os servidores também pedem a recomposição do orçamento de investimento
na rede federal de ensino. No primeiro ano do governo Lula, as instituições
tiveram um aumento no orçamento comparado a 2022, mas este ano a verba minguou
— as instituições afirmam que precisam de R$ 2,5 bilhões a mais nas contas para
fecharem o ano.
Segundo a reportagem apurou, o tema não avançou nas negociações do
governo com os movimentos grevistas
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Palestina
ENTENDA a HISTÓRIA COMPLETA da PALESTINA
O QUE O HAMAS TEM A VER COM OS CONFLITOS EM ISRAEL? - MAYNARA E UALID |Cortes
O ESTADO PALESTINO FOI PROMETIDO PELOS INGLESES - MAYNARA E UALID |
Cortes
COMO FUNCIONA A FAIXA DE GAZA? - MAYNARA E UALID | Cortes do
Inteligência Ltda.
COMO AS MULHERES SÃO TRATADAS NA PALESTINA? - MAYNARA E UALID | Cortes
do Inteligência Ltda.
MAYNARA NAFE E UALID RABAH (DEFENSORES DA CAUSA PALESTINA) -
Inteligência Ltda. Podcast
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Alexander Pushkin e Nikolai Gogol roubados
Sai original, entra falsificado: quadrilha roubou 170 livros raros
UOL, 28/04/2024
https://noticias.uol.com.br/internacional/ultimas-noticias/2024/04/28/roubo-livro-europa.htm
Uma quadrilha foi presa sob acusação de roubar pelo menos 170 livros
raros de bibliotecas europeias. A Europol (agência policial da União Europeia)
diz que os suspeitos usaram um sofisticado esquema de "clonagem",
trocando os originais por cópias falsificadas. O prejuízo é estimado em 2,5
milhões de euros (cerca de R$ 14 milhões).
O que aconteceu
Sete suspeitos foram presos na última quarta-feira (24) em diferentes
países europeus. Quatro estavam na Geórgia, um na Estônia, um na França e um na
Lituânia. Outras duas pessoas supostamente ligadas ao esquema estão presas
desde novembro do ano passado na França. Todos são cidadãos da Geórgia.
Pelo menos 170 livros foram roubados pela quadrilha entre 2022 e 2023,
segunda a Europol. Além do prejuízo milionário, a polícia europeia cita que
alguns livros roubados têm um "valor patrimonial imensurável".
Os roubos foram cometidos na República Checa, Finlândia, Estônia, Suíça,
Polônia, França, Alemanha e Lituânia. A França foi a primeira a denunciar. Na
sequência, outros países repararam que livros e manuscritos raros haviam
desaparecido.
Os suspeitos chegaram a se passar por acadêmicos para retirar os livros
raros das bibliotecas. Com os objetos em mãos, faziam cópias de "qualidade
impressionante".
Depois, voltavam à biblioteca para devolver a cópia falsificada e
ficavam com o verdadeiro.
A quadrilha também roubou livros sem deixar cópias no lugar.
Maioria dos títulos roubados era de autores russos. Entre os autores
estão Alexander Pushkin e Nikolai Gogol.
Títulos eram revendidos em leilões realizados na Rússia. Isso, segundo a
Europol, torna os livros praticamente impossíveis de se recuperar.