Graciliano Ramos e a fogueira
A 'sacanagem' com Graciliano Ramos e a fogueira como amiga leal
Rodrigo Casarin, Colunista de Splash, 21/02/2024
Só um tolo rirá da cara de alguém que colocar Franz Kafka como um dos maiores artistas dos últimos tempos. Em vida, o escritor publicou livros que ainda são lembrados ("Na Colônia Penal" e "Um Artista da Fome", por exemplo) e levou ao público uma das histórias mais marcantes da literatura no século 20: "A Metamorfose".
Mas o cara era inseguro. Desconfiava do próprio talento, não botava muita fé naquilo que escrevia. Largou histórias pela metade, queimou muitos dos seus rascunhos e engavetou outros tantos. Kafka deixou um pedido para Max Brod, seu grande amigo: quando se fosse deste mundo, que desse um fim em toda aquela papelada. Que ninguém fosse xeretar seus manuscritos.
Kafka partiu em 1924, aos 40 anos, após definhar por causa da tuberculose, um dos muitos tormentos de sua vida. Para alegria dos leitores, Brod ignorou o amigo morto. "O Castelo" e "O Processo", grandes romances, estavam entre os originais que deveriam ser destruídos caso a vontade do autor fosse respeitada. A literatura agradece a traição de Brod.
Se Kafka realmente desejava que ninguém lesse aquilo que escreveu e não publicou, por que, então, não destruiu a produção? Por outro lado, para um artista, como saber qual é o momento de abdicar da feitura de uma obra e, no lugar de engavetá-la para ter com ela uma segunda chance no futuro, simplesmente aniquilá-la? Ainda: não é legítimo que alguém, por mais genial que seja, possa escolher quais de suas criações deverão ser levadas ao público?
Poderia elencar dezenas de questões que emergem do caso de Kafka, provavelmente o mais famoso quando o assunto é publicação de livro à revelia do autor morto. O espólio deixado pelo tcheco e preservado por Brod virou quiproquó internacional. Em "O Último Processo" (Arquipélago, tradução de Rodrigo Breuning), Benjamin Balint conta a história das disputas em tribunais por parte do legado do judeu que nasceu na República Tcheca e escrevia em alemão.
Tem sido agitada a entrada da obra de Graciliano Ramos em domínio público. Com uma série de edições de clássicos como "Vidas Secas", "São Bernardo" e "Angústia", herdeiros encampam uma luta para que os escritos do velho Graça não sejam usados comercialmente sem que a família também ganhe alguma grana.
Junto disso, chega às livrarias um texto que Graciliano tinha pedido para que os responsáveis pelo seu espólio mantivessem longe dos leitores. "Os Filhos da Coruja" é um poema assinado por J. Calisto, pseudônimo do escritor que se via como um poeta sem grandes virtudes. Com a entrada em domínio público, sem precisar prestar satisfações a ninguém, a Todavia publicou uma edição dos versos por meio da Baião, seu selo de literatura infantil.
"Os Filhos da Coruja" foi escrito à mão em setembro de 1923, quase três anos depois de Graciliano ficar viúvo. "A Águia e o Mocho", do francês La Fontaine, é a principal inspiração para a breve história de tom fabuloso que se inicia com o encontro da comadre Coruja com o compadre Gavião, bichos de "vaga amizade".
O texto de Graciliano aparece inteiro numa espécie de encarte no centro do volume. O que segura o livro de pouco mais de 30 páginas são as ilustrações — bonitas, sem dúvidas — inspiradas no poema feitas por Gustavo Magalhães.
Em entrevista à Folha, Ricardo Ramos Filho, neto de Graça, considerou uma "sacanagem enorme" contrariarem o desejo de seu avô e publicarem o poema. Ricardo lembra: Graciliano costumava rabiscar os originais e até queimar palavras com a ponta do cigarro para que ninguém descobrisse o que resolvia cortar de seus textos.
Olhando para o que fizeram aqui em 2024, talvez devesse ter usado mais o cigarro contra as criações das quais não se orgulhava. Como Kafka deveria ter confiado mais na lixeira que em Max Brod para manter seus escritos em sigilo. A fogueira, sempre inimiga dos livros, é a companheira mais leal daqueles que não querem que seus textos sejam publicados.
Em todo caso, entre razões de cá e de lá, a literatura costuma agradecer quando o fogo não é aceso.
Os filhos da coruja, Graciliano Ramos
A comadre Coruja encontrou certo dia
Ao vê-lo, gritou logo:
Aposto que fareja alguma festa."
"Aquilo lá por cima há muito tempo que que anda escasso.
Uma seca geral. É pior que o Nordeste.
Eu moro aqui assim por estas bandas. Tenho
Os rapazes em casa... e sós, longe de mim...
Não mos coma, senhor. Você conhece-os? Não?
É fácil conhecer. Por estes arredores
Não mos coma, valeu?"
Você sabe que eu venho
Como amigo."
- "De encantar. Meu Deus! Se você visse!
É num oco de pau, não sei se disse."
Que imaginas, vaidoso, um fictício contraste
Entre a beleza dela e a fealdade alheia;
Que em vão tentas dourar a nódoa que te suja
E buscas transformar teus vícios em virtudes;
Os filhos da coruja, Graciliano Ramos, pinturas Gustavo Magalhães - 1ª edição, 2024
A águia e o mocho, La Fontaine, Jaime Pietor (Trad.)
Um dia a águia disse ao mocho em ternas frases:
"O que lá vai, lá vai, é bom pormos-lhe ponto
E fazermos as pazes.
— Eu cá por mim, estou pronto".
Respondeu ele. — e os dois juraram, abraçados,
Respeitar um do outro os filhitos amados.
"Conheceis já os meus? — disse-lhe a ave da ciência.
— Não, respondeu a águia, e a ave da ciência
Disse: — Tanto pior. Se nada te resiste,
Como hão de, dize lá, contar os meus filhinhos
Com a tua clemência?
Não lhes queria estar na pele, coitadinhos!
Não, não me fio em ti, porque és rainha, e os reis
Sabem agora lá para que são as leis!
Vocês fazem o mal por um capricho reles.
Filhos do meu amor! Se acaso os vês, ai deles!
— Bem. Pinta-mos, então, e escusas de ter medo.
Que eu te prometo aqui não lhes tocar com um dedo".
O mocho respondeu: "Aqui tens os sinais:
São muito pequenitos,
Mimosos como a flor, esbeltos e bonitos
Como não achas mais;
Tão bem feitos, tão belos.
Que por este retrato hás de reconhecê-los.
Falta-me agora ver se tu és descuidada,
E me entra aí por casa a Parca amaldiçoada.
Hão de agradar-te, sei, mas faze a vista grossa
Bem sabes que sou pai e que os pais são assim.
E respeita-os por mim;
Ai! Quem meus filhos beija, a minha boca adoça!"
Deus dera prole ao mocho, e em noite desabrida,
Que ele batia mato a agenciar a vida,
A águia andando a corso avista de repente
Nuns velhos casarões, todos esburacados,
Uns monstrozinhos tais, de voz tão repelente,
Tão mal feitos de corpo e tão desengraçados,
Que ela disse consigo:
"Não há que recear; não são do nosso amigo".
E com um gesto guapo
A rainha gentil logo os meteu no papo.
Mas vem de volta o mocho, o mocho, que imagina
Ficar ali de vez,
Ao achar, pobre pai!, dos filhos só os pés.
Queixa-se, chora e pede aos deuses punição
Para ela, a assassina,
Que assim lhe veio encher de luto o coração!
"É tua a culpa, alguém então lhe disse, ou antes
É da lei que nos faz achar os semelhantes
A nós, só porque o são, amáveis, lindos, belos.
Por isso os filhos nós perdemos, nós os pais;
Se fizeste dos teus uns elogios tais,
Como podia, dize, a águia reconhecê-los?"
Fábulas de La Fontaine - Antologia, Vários tradutores
Um pedaço de pouco
Assiti semana passada ao fime "Boy", 2010, do neozelandês Taika Waititi (Aliás, vale assistir dele o premiado "Jojo Rabbit", 2019). Conta a estória de um garoto, o Boy, que tem um pai maluco que, dentre outras coisas, é fanático pelos samurais. E qual a fonte? O livro "Shogum" que James Clavell escreveu em 1975.
Sine qua non, estou vendo a série "Xógum: a gloriosa saga do Japão", no Starplus, baseada no mesmo livro de Clavell. E qual o enredo? Trata da peleja colonialista estre portugueses, espanhois e ingleses no Japão do xogunato nos 1600. Aí leva junto a briga entre católicos e protestantes. Para os japoneses estes não nativos eram chamados de bárbaros. De resto o herói não nativo é ingles. Bom lembrar que James Clavell é australiano, mas se considerava ingles. Ninguém é de ferro, né.
Scorcese, no filme "Silèncio" de 2016, trata da severa perseguição de jesuitas pelos japoneses nos 1600.
Xógum: A Gloriosa Saga do Japão | Trailer Oficial | Star+
Silêncio, Silence, 2016, Martin Scorsese
No século XVII, dois padres jesuítas portugueses são enviados ao Japão à procura do seu mentor desaparecido. Com o país fechado ao exterior e o catolicismo proibido, eles enfrentarão perseguição em uma jornada de descobertas espirituais.
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Entrevista é clássica com o grande Marlon Brando
Qual filme você diria esse foi muito bom. Resposta de Brando: Burn (Queimada)
Entrevista completa com Marlon Brando (1994)
Quando Marlon Brando Foi ATERRADOR
ASSIM MORREU O ATOR AMERICANO MARLON BRANDO (PODEROSO CHEFÃO)
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Já viu DISCO de VINIL no MICROSCÓPIO? É IMPRESSIONANTE!
Você já viu como a música fica gravada no disco de vinil? Nesses tempos onde tudo é digital, é muito legal ver de perto como era na época da tecnologia analógica. Colocamos um disco antigo no microscópio para mostrar como ele era cheio de ranhuras. E o desenho delas é igual ao da onda sonora, que é exatamente o movimento que a caixa de som faz para reproduzir a música.
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Renda no Maranhão é menos de 30% da registrada no DF; veja ranking das UFs
Rendimento em 2023
Valor nominal mensal domiciliar per capita, em R$
Distrito Federal 3.357
São Paulo 2.492
Rio de Janeiro 2.367
Rio Grande do Sul 2.304
Santa Catarina 2.269
Paraná 2.115
Mato Grosso do Sul 2.030
Goiás 2.017
Mato Grosso 1.991
Minas Gerais 1.918
Espírito Santo 1.915
Brasil 1.893
Tocantins 1.581
Rondônia 1.527
Amapá 1.520
Roraima 1.425
Rio Grande do Norte 1.373
Piauí 1.342
Paraíba 1.320
Pará 1.282
Sergipe 1.218
Amazonas 1.172
Ceará 1.166
Bahia 1.139
Pernambuco 1.113
Alagoas 1.110
Acre 1.095
Maranhão 945
Fonte: IBGE
O rendimento domiciliar per capita (por pessoa) da população do Maranhão equivale a menos de 30% do registrado no Distrito Federal, de acordo com dados divulgados nesta quarta-feira (28) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
No estado nordestino, o valor mensal foi de R$ 945 em 2023. É o equivalente a 28,2% da renda per capita registrada no Distrito Federal: R$ 3.357.
Conforme o IBGE, o Maranhão tem o menor rendimento do país, enquanto o Distrito Federal responde pelo maior. No Brasil, o indicador foi calculado em R$ 1.893 por mês em 2023.
Os valores são publicados de forma resumida pelo IBGE em termos nominais (sem o ajuste pela inflação), o que dificulta uma comparação com anos anteriores.
O rendimento domiciliar per capita representa a razão entre o total das rendas domiciliares e o número de moradores. Nessa conta, o IBGE considera os recursos obtidos com o trabalho e outras fontes.
"Todos os moradores são considerados no cálculo, inclusive os pensionistas, empregados domésticos e parentes dos empregados domésticos", afirma o instituto.
A divulgação atende a uma lei complementar que estabelece os critérios de rateio do FPE (Fundo de Participação dos Estados e do Distrito Federal). Os dados são repassados pelo IBGE para o TCU (Tribunal de Contas da União) anualmente.
Em 2022, o rendimento mensal domiciliar per capita havia sido calculado em R$ 1.625 no Brasil, também em termos nominais. Ou seja, ao chegar a R$ 1.893 no país em 2023, o indicador ficou 16,5% maior.
Sem considerar a inflação, o valor também aumentou nas unidades da federação de um ano para o outro. O Distrito Federal, conhecido por reunir servidores públicos com renda mais elevada, seguiu no topo do ranking, enquanto o Maranhão permaneceu na parte inferior da lista.
São Paulo é o segundo local com maior rendimento, alcançando R$ 2.492 em 2023. Rio de Janeiro (R$ 2.367), Rio Grande do Sul (R$ 2.304) e Santa Catarina (R$ 2.269) aparecem na sequência.
Entre os estados com rendimento menor, o predomínio é de integrantes do Nordeste e do Norte. Além do Maranhão (R$ 945), Acre (R$ 1.095), Alagoas (R$ 1.110), Pernambuco (R$ 1.113) e Bahia (R$ 1.139) também ocupam as últimas posições do levantamento.
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"Diga a si mesmo que a literatura é um dos mais tristes caminhos que levam a tudo" André Breton, Manifesto do Surrealismo
Quantos jovens sabem que o adjetivo ‘surreal’ deriva de um movimento centenário?
O surrealismo foi um dos movimentos de vanguarda mais controversos e influentes do século passado
Sergio Augusto, O Estado, 25/02/2024
Quantos de nossos jovens saberão que o adjetivo “surreal”, por eles usado a torto e a direito para qualificar qualquer coisa que lhes pareça absurda, deriva de um dos movimentos de vanguarda mais controversos e influentes do século passado? Tão do século passado, que está fazendo 100 anos.
O surrealismo, fruto de uma época quase tão conturbada quanto a nossa e também assolada por uma pandemia (a gripe espanhola), nasceu oficialmente em 1924, impulsionado por um manifesto concebido por dois poetas franceses, André Breton e Philippe Soupault, sob influência de um terceiro (Apollinaire), morto seis anos antes.
Se não revolucionou, muito agitou a literatura, a poesia, as artes plásticas e cênicas, o cinema, o humor.
No tal manifesto, o primeiro de dois (o segundo sairia em 1930), Breton detonava o equilíbrio, o realismo (“hostil a todo impulso de liberação intelectual e moral” e refúgio dos medíocres), proclamava a prevalência absoluta do sonho, do inconsciente, do instinto e do desejo, pregava a renovação de todos os valores filosóficos, morais, políticos e científicos, preconizando uma nova maneira radical de ver as artes, o mundo – e a vida. O artista surrealista por excelência seria aquele “capaz de visualizar um cavalo galopando sobre um tomate”.
”Não é o medo da loucura que nos vai obrigar a hastear a meio pau a bandeira da imaginação”, ameaçava Breton numa das melhores imprecações do manifesto, visceralmente antimilitarista (a Grande Guerra terminara seis anos antes) e anticlerical. Porém, esperançoso. Augurou que um dia a poesia decretasse o fim do dinheiro, utopia que a poesia não logrou, nem o Pix deverá consumar.
Um humor travesso, juvenil, perpassa suas criações, com relógios que se derretem, xícaras revestidas de pele animal, mas também lampejos que transcendem o onírico para “épater” de Salvador Dalí, o espertalhão do grupo, que Luis Buñuel rifou depois de Um Cão Andaluz.
Antecipando-se às celebrações do centenário na Europa, com Bélgica e Paris (Centro Pompidou) liderando a programação, a Yale University Press lançou mês passado um estudo de Mark Polizzotti sobre a relevância e o legado do movimento, Why Surrealism Matters. Os slogans pichados nos muros de Paris pela estudantada rebelde de Maio-68 tinham DNA surrealista, assim como os protestos anticolonialistas na França durante as guerras na Indochina e Argélia. Até nas reformas pedagógicas de Piaget e Montessori encontraram as digitais do surrealismo.
Os irmãos Marx, a poesia beat, o Teatro do Absurdo, Bob Dylan, Monty Python e David Lynch – todos estes, mais os brasileiros Ismael Nery, Cícero Dias, Tarsila do Amaral, Murilo Mendes, Roberto Piva e Sérgio Lima – nutriram-se da mesma seiva anárquica que nos premiou com as pinturas de Max Ernst e Magritte e os filmes de Buñuel, entre outros tesouros culturais. É muita relevância junta.
E mais
Surrealismo
A Finoca do título é o apelido da Orípia
Pereira de Carvalho, 98 (21/09/1922
– 25/11/2020), minha mãe.
Escrevi sobre ela neste Blog quando ela fez 89 anos. Leia aqui https://librinas.blogspot.com/search?q=Finoca
Boa parte da cabeça da Finoca foi feita num
colégio de freiras. Teve sua educação
formal no Colégio Anjo da Guarda em Bebedouro (colégio interno) no período de
1932 a 1942. Foram 11 anos de colégio interno divididos em quatro de primário,
cinco de ginásio e dois de escola normal. Lá estudou Latim, Francês, Português,
Geografia, História, Matemática, Física, Educação Moral e Cívica, Música,
Trabalhos Manuais, Desenho, Sociologia, Pedagogia e Prática Pedagógica.
Casou-se com Sebastião Cardoso Carvalho Sobrinho, 66 (02/12/1919 – 11/03/1986), o Tatau. Orípia casou-se com Sebastião no dia 5 janeiro de 1946 e exonerou-se da escola durante o período de 1945 a 1948. Neste período tiveram Aluisio (1946) e Maria Cristina (1949). Sebastião pedira à esposa que ficasse em casa para cuidar dos filhos. Mas em 1949 Finoca voltou a trabalhar a contragosto do marido, para ajudar no sustento da família. Ela contrariou o pai para casar e agora contrariava o marido para voltar ao trabalho como professora. Isto na década de 1940. Ela seguiu a história de outras duas librinas porretas: Inácia Bernarda e Mariana Librina (tias-triavó de Finoca) sobre as quais já escrevi neste Blog. Só ler em Mariana Librina aqui e Inácia aqui.
Depois a
caminhada de Finoca seguiu. Até hoje (em fevereiro de 2024) na árvore
genealógica dela e Tatau têm 8 filhos (4 mulheres e 4 homens), 17 netos (12
mulheres e 5 homens) e 17 bisnetos (10 mulheres e 7 homens).
Este texto
tem a pretensão de resolver a seguinte questão. De onde veio o apelido da Orípia?
Finoca apareceu quando e como?
Falhamos,
nós ancestrais, em não perguntar sobre a origem do apelido quando viva Orípia
estava.
Geralmente
procuramos fontes de investigação sobre um tema em questão. No caso existem as
correspondências (cartas) entre Orípia e Sebastião. São várias, mas até então
não percebi pistas que respondem à pergunta. De onde veio Finoca?
Hoje tenho
uma hipótese.
Imperativo
dizer que, face ao conteúdo pedagógico do Colégio Anjo da Guarda, Orípia e
colegas leram, e muito, Machado de Assis.
Já que
estamos falando dele vem a tona o conto “Pobre Finoca!”. Ei-lo aqui.
Lembrança importante. Orípia começou seus
estudos com 10 anos e terminou 11 anos depois. Nas idas e vindas de Bebedouro a
Barretos conheceu Sebastião e começou o namoro meio que a contragosto do pai.
As cartas trocadas entre os dois documentam este idílio amoroso.
Mas voltando ao conto do Machado: Finoca,
Alberta e Macedo formam um trio de personagens que se interagem. No princípio
Macedo se interessava por Finoca e Alberta no papel de cupido.
Não, Finoca não tinha atração por Macedo. Ela
o considerava um idiota. — Eu não disse
desprezível, acudiu Finoca. — Você disse idiota. — Sim; idiota…
O que Alberta não esperava foi a desilusão com
seu namorado. Ele estava em São Paulo e se engraçou com outra menina por lá.
Para onde foi a estória?
Quando Alberta
notou que as cartas tinham cessado de todo, sentiu em si indignação contra o
vil, e desligou-se da promessa de casar com ele. Casou três meses depois com
outro, com o Macedo — aquele Macedo — o idiota Macedo. Pessoas que assistiram
ao casamento, dizem que nunca viram noivos mais risonhos nem mais felizes.
Resumo da ópera. Alberta com Macedo e Finoca
aliviada.
Sem ficção agora. Orípia sempre falava das
amigas do Colégio Anjo da Guarda. E estas amigas
leram o conto do Machado. Não deu outra. Orípia se tornou Finoca.
Tudo a ver.