A Finoca do título é o apelido da Orípia Pereira de Carvalho, 98 (21/09/1922 – 25/11/2020), minha mãe. Escrevi sobre ela neste Blog quando ela fez 89 anos. Leia aqui
Boa parte da cabeça da Finoca foi feita num colégio de freiras. Teve sua educação formal no Colégio Anjo da Guarda em Bebedouro (colégio interno) no período de 1932 a 1942. Foram 11 anos de colégio interno divididos em quatro de primário, cinco de ginásio e dois de escola normal. Lá estudou Latim, Francês, Português, Geografia, História, Matemática, Física, Educação Moral e Cívica, Música, Trabalhos Manuais, Desenho, Sociologia, Pedagogia e Prática Pedagógica.
Casou-se com Sebastião Cardoso Carvalho Sobrinho, 66 (02/12/1919 – 11/03/1986), o Tatau. Orípia casou-se com Sebastião no dia 5 janeiro de 1946 e exonerou-se da escola durante o período de 1945 a 1948. Neste período tiveram Aluisio (1946) e Maria Cristina (1949). Sebastião pedira à esposa que ficasse em casa para cuidar dos filhos. Mas em 1949 Finoca voltou a trabalhar a contragosto do marido, para ajudar no sustento da família. Ela contrariou o pai para casar e agora contrariava o marido para voltar ao trabalho como professora. Isto na década de 1940. Ela seguiu a história de outras duas librinas porretas: Inácia Bernarda e Mariana Librina (tias-triavó de Finoca) sobre as quais já escrevi neste Blog. Leia sobre Mariana Librina aqui e sobre Inácia aqui.
Depois a caminhada de Finoca seguiu. Até hoje (em fevereiro de 2024) na árvore genealógica dela e Tatau têm 8 filhos (4 mulheres e 4 homens), 17 netos (12 mulheres e 5 homens) e 17 bisnetos (10 mulheres e 7 homens).
Este texto tem a pretensão de resolver a seguinte questão. De onde veio o apelido da Orípia? Finoca apareceu quando e como?
Falhamos, nós ancestrais, em não perguntar sobre a origem do apelido quando viva Orípia estava.
Geralmente procuramos fontes de investigação sobre um tema em questão. No caso existem as correspondências (cartas) entre Orípia e Sebastião. São várias, mas até então não percebi pistas que respondessem à pergunta. De onde veio Finoca?
Hoje tenho uma hipótese.
Imperativo dizer que, face ao conteúdo pedagógico do Colégio Anjo da Guarda, Orípia e colegas leram, e muito, Machado de Assis.
Já que estamos falando dele vem a tona o conto “Pobre Finoca!”. Ei-lo aqui.
Kilos de utencílios tipo panos de algodão, seda, cadarço, agulhas e muito mais. Era um armarinho da rua do Ouvidor. Finoca e Alberta, no conto do Machado, frequentavam com familiares. Neste armarinho encontraram o Macedo.
Lendo mais. Finoca, Alberta e Macedo formam um trio de personagens que se interagem. Em princípio Macedo se interessava por Finoca e Alberta tinha o papel de cupido.
Mas aí que que vem um pedaço de pouco.
Não, Finoca não tinha atração por Macedo. Ela o considerava um idiota. — Eu não disse desprezível, acudiu Finoca. — Você disse idiota. — Sim; idiota…
O que Alberta não esperava foi a desilusão com seu namorado. Ele estava em São Paulo e se engraçou com outra menina por lá.
Para onde foi a estória?
Quando Alberta notou que as cartas tinham cessado de todo, sentiu em si indignação contra o vil, e desligou-se da promessa de casar com ele. Casou três meses depois com outro, com o Macedo — aquele Macedo — o idiota Macedo. Pessoas que assistiram ao casamento, dizem que nunca viram noivos mais risonhos nem mais felizes.
Resumo da ópera. Alberta com Macedo e Finoca aliviada.
Sem ficção agora. Orípia sempre falava das amigas do Colégio Anjo da Guarda. E estas amigas leram o conto do Machado. Não deu outra. Orípia se tornou Finoca.
Tudo a ver.
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