quinta-feira, 30 de novembro de 2023

A leitura entre jovens no Brasil. Ou, a miséria na educação

Texto mais longo lido por 2/3 dos alunos do Brasil não passa de 10 páginas. Como é em outros países?

Estudo usou dados sobre jovens de 15 e 16 anos coletados na aplicação do Pisa, exame internacional; dois a cada dez brasileiros relatam que última leitura não ultrapassou uma página

Redação, O Estado, 29/11/2023

Hábito de leitura pode ajudar no desempenho em exames, sugerem pesquisadores Foto: Mohamed Abd El Ghany/Reuters

Dois terços (66,3%) estudantes brasileiros de 15 a 16 anos disseram que o texto mais longo que leram no ano letivo não ultrapassou 10 páginas. Para uma parcela significativa (19,6%), a leitura foi de uma página ou menos.

Esses dados são de estudo do Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional (Iede) em parceria com a Árvore, plataforma gamificada de leitura, com base nos resultados de 2018 da prova do Pisa. A avaliação é aplicada pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

Dentre os países da América do Sul, o Brasil é o que possui o menor índice de estudantes que leem mais de 100 páginas (9,5%). No Chile, o índice é de 64%.

Na comparação com os demais sul-americanos Da lista, o Brasil lidera, com folga, o ranking de estudantes cuja última leitura do ano não ultrapassou uma página. Na Argentina, o 2º pior, o índice foi de 7,28%, ante 19,6% por aqui. Os brasileiros, porém, estiveram entre os que fazer mais leituras por prazer - e não por obrigação.

“Esses dados são preocupantes e precisam ser analisados com cautela, pois podem indicar falta de estímulo à leitura dos estudantes brasileiros, seja na escola ou em casa, por suas famílias”, escreveram os pesquisadores. “Essa falta de familiaridade e/ou interesse pela leitura pode gerar grandes prejuízos a esses estudantes, já que o hábito leitor tem influência não só na proficiência em leitura, mas também em outros resultados educacionais e socioeconômicos.”

A análise mostra que um terço dos estudantes (33%) que leem textos longos (com mais de 100 páginas) alcançou pelo menos o nível 3 em Leitura, Matemática e Ciências no Pisa 2018. Já entre os que leem pouco (menos de uma página), apenas 6% conseguiram esse mesmo resultado.

Jovem brasileiro diz ler mais por prazer

Por outro lado, o estudo mostra que, apesar de a maioria não ler textos longos, o estudante brasileiro relata ler por prazer mais do que alunos de outros países. A taxa daqueles que fazem leituras por prazer por mais de duas horas é de 9,6%, ante 5,8% da média dos integrantes da OCDE.

“É importante ressaltar que, por ser um dado declarado, não é possível afirmar que corresponde fielmente à realidade”, advertem os pesquisadores. “No entanto, demonstra percepção positiva dos estudantes sobre a leitura, o que é um achado interessante.”







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terça-feira, 28 de novembro de 2023

Linhagens maternas e paternas de DNA no Brasil

Africanos e indígenas predominam nas linhagens maternas de DNA no Brasil

Ancestralidade paterna vem de povos europeus, segundo levantamento realizado pela Genera 

Paola Ferreira Rosa & Diana Yukari, FSP, 27/11/2023

O DNA da população brasileira é composto majoritariamente por origem europeia, africana e nativo-americana (indígena). Enquanto a genética europeia se sobressai entre as linhagens paternas, a ancestralidade das linhagens maternas é predominantemente indígena e africana, segundo estudo realizado pela Genera, laboratório especializado em genômica pessoal.

De acordo com os dados, a linhagem paterna apresenta uma concentração de mais de 80% de códigos genéticos comuns na Europa, cerca de 15% da África, 3% das Américas e da Ásia, além de 0,4% de outros povos. Essa distribuição é semelhante entre as cinco regiões do país.

Reprodução da pintura 'A Redenção de Cam', do espanhol Modesto Brocos - Divulgação/MNBA

Já as linhagens maternas apresentam características específicas em cada região. Segundo especialistas, as diferenças na distribuição de ancestralidades podem se justificar pelo contexto histórico de formação da população brasileira.

Ricardo di Lazzaro Filho, doutor em genética e biologia evolutiva e fundador da Genera, explica que as linhagens revelam a herança genética recebida exclusivamente das vias paterna e materna.

A primeira é obtida pelo cromossomo Y, recebido e transmitido apenas por pessoas do sexo biológico masculino. Já a segunda é transmitida via DNA mitocondrial, presente nas células humanas e transmitida apenas pela mãe a todos os seus filhos biológicos.

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Os códigos que definem as linhagens são denominados haplogrupos. Por eles é possível traçar o caminho evolutivo até os ancestrais humanos mais antigos e comuns a toda população.

De acordo com Renan Barbosa Lemes, doutor em genética humana e de populações pela USP, o DNA mitocondrial (linhagem materna) é mais diverso no Brasil porque, durante a colonização europeia, vinham principalmente homens.

"Nessa cultura do estupro normalizada durante a colonização, homens europeus tinham filhos com mulheres negras vindas da África ou com as indígenas, que também eram escravizadas", afirma. Daí a variação entre as diversas regiões do país, marcadas por diferentes características geográficas, históricas e populacionais.

Com maior presença de povos originários, na região Norte a parcela de linhagens maternas provenientes das Américas e Ásia é superior, correspondendo a 51%. Depois vêm as da África, com 26%, e da Europa, com 18%.

O Nordeste é a região que concentra o maior número de descendentes de linhagem materna africana, que correspondem a 40%. Em seguida, América e Ásia, com 35%, e Europa, com 21%.

A região Centro-Oeste mantém esse equilíbrio entre linhagens maternas, com influência regional maior. A linhagem materna é composta em 37% de haplogrupos provenientes das Américas e Ásia, 31% da África e 27% da Europa.

Já a região Sudeste se equilibra entre haplogrupos maternos provenientes de três regiões, sendo 35% da Europa, 31% de América e Ásia e 27% da África. Apenas 4% correspondem a outras linhagens mapeadas.

As linhagens maternas provenientes da Europa são mais frequentes na região Sul, com uma diferença menor em relação às demais. Os haplogrupos mais comuns na Europa representam 55% da ancestralidade materna, seguidos por América e Ásia, com 26%, África, com 11%, e outros, com quase 7%.

Para a bioantropóloga Mariana Inglez, doutoranda no Instituto de Biociências da USP, é importante pensar, do ponto de vista histórico, como as ondas migratórias aconteceram no Brasil e por que os povos originários indígenas aparecem em menor número nas proporções de DNA de material genético.

"Esses povos estavam aqui há pelo menos uns 15 mil anos e, no momento da chegada dos europeus, as populações ameríndias não foram aumentando, mas declinando. Esses europeus, em contrapartida, continuavam chegando por séculos e séculos e séculos, até recentemente, nessas ondas migratórias mais recentes, inclusive com o apoio do governo", afirma.

Em diversas regiões do país, esses povos foram dizimados, enquanto em outros foram incorporados à mão de obra escrava. Segundo a pesquisadora, aqueles que conseguiram usar as florestas como proteção foram os que conseguiram sobreviver.

"Além disso, mais próximo do final da escravização. o tráfico diminui, e vai diminuindo também a quantidade de pessoas africanas que estão entrando no país. Paralelamente, vai se formando uma população afrodiaspórica também miscigenada", diz.

De acordo com ela, o genocídio de populações negras e indígenas fez parte de uma política eugenista de Estado, mas também aconteceu de forma naturalizada, por meio das violências a que esses povos eram submetidos.

"No primeiro momento de escravização no Nordeste, homens jovens chegavam e duravam dois anos nas plantações. De tão mortal que era o trabalho e tão absurdo o nível de violência e exaustão no corpo, em dois anos eles morriam", conta. Nesse sentido, mães africanas viam seus filhos morrerem enquanto muitos homens negros nem sequer tinham tempo de gerar filhos.

O estudo analisou mais de 260 mil DNAs coletados para o teste de ancestralidade realizado pelo laboratório. Segundo a Genera, a análise respeitou as políticas de privacidade da Lei Geral de Proteção de Dados, e os números apresentados protegem dados sensíveis dos clientes.

Embora possa trazer vieses de amostra em que os componentes africanos e indígenas aparecem um pouco menores do que na realidade, devido ao perfil de quem paga pelo teste — que custa a partir de R$ 299 —, especialistas ouvidos pela reportagem dizem que os resultados são compatíveis com outros estudos de ancestralidade genética realizados no Brasil.

"O viés existe, mas a amostra traz um banco de dados grande. Precisamos fazer a captura dessa informação para mostrar que a gente precisa ir além e fazer mais estudos, porque isso reforça o conhecimento histórico e científico sobre tudo que aconteceu no país", afirma Michel Naslavsky, doutor em genética pela USP e professor do Instituto de Biociências.

De acordo com o especialista, brasileiros com ascendência europeia geralmente sabem de onde suas famílias vieram. "Isso é um privilégio das pessoas brancas no Brasil", diz. Para o pesquisador, essas informações podem ser aplicadas na saúde pública, auxiliando na identificação de populações mais propensas a cada tipo de doença, por exemplo.

Prêmio São Paulo de Literatura - 2023

Mariana Carrara vence melhor romance no Prêmio São Paulo de Literatura

Alexandre Alliatti ganha entre os estreantes; edição fica marcada pela desclassificação da Companhia das Letras

Folha de São Paulo, 27/11/2023

Mariana Salomão Carrara venceu o Prêmio São Paulo de Literatura deste ano. A escritora foi consagrada nesta segunda-feira (27) como autora do melhor romance pelo livro "Não Fossem as Sílabas do Sábado", publicado pela editora Todavia.

Na categoria de melhor romance de estreia, o vencedor foi Alexandre Aliatti e a obra "Tinta Branca", editado pela Patuá.

A escritora Mariana Salomão, autora do romance 'Não Fossem as Sílabas do Sábado' - Foto: Mariana Salomão Carrara

Lançado em junho do ano passado, "Não Fossem as Sílabas do Sábado" acompanha uma mulher grávida que perde o companheiro em um acidente causado pelo vizinho. Sozinha, ela cuida da gravidez enquanto lida com a babá e a vizinha, que também perdeu o marido no evento.

"Tinta Branca", por sua vez, relata uma festa de domingo no interior do Rio Grande do Sul onde um grupo de pessoas tortura um jovem imigrante na praça central da cidade. O caso acaba envolvendo um professor de história, que também tenta ajudar um homem recém-chegado a descobrir suas origens. As duas figuras misteriosas acabam revelando uma conexão, que envolve o passado e o presente daquela comunidade.

A edição deste ano do Prêmio São Paulo de Literatura foi marcada pela ausência da Companhia das Letras, que teve desclassificada todas as suas inscrições por um erro na ficha de todos os seus livros. O problema gerou um terremoto na lista da premiação: em 2022, 70% dos finalistas da categoria geral de romance eram da editora, o maior grupo do mercado hoje.

Com isso, o prêmio literário viveu em 2023 uma maior diversificação entre os indicados. Na categoria de melhor romance, Salomão esteve indicada em uma categoria com publicações de sete editoras. Na premiação dedicada aos estreantes, por sua vez, foram lembradas obras de oito grupos editoriais.

O Prêmio São Paulo de Literatura é atualmente o prêmio literário de maior remuneração em dinheiro no país. Cada um dos vencedores receberá R$ 200 mil da entidade.

Veja abaixo todos os indicados à edição deste ano da premiação.

Melhor romance publicado em 2022

    Cinthia Kriemler, "Viúvas de Sal" (editora Patuá)

    Cristovão Tezza, "Beatriz e o Poeta" (editora Todavia)

    Frei Betto, "Tom Vermelho do Verde" (editora Rocco)

    Ieda Magri, "Um Crime Bárbaro" (editora Autêntica)

    João Almino, "Homem de Papel" (editora Record)

    Marcela Dantés, "João Maria Matilde" (editora Autêntica)

    Mariana Salomão Carrara, "Não Fossem as Sílabas do Sábado" (editora Todavia)

    Nara Vidal, "Eva" (editora Todavia)

    Paula Fábrio, "Estudo sobre o Fim: Bangue-Bangue à Paulista" (editora Reformatório)

    Xico Sá, "A Falta" (editora Planeta do Brasil)


Melhor romance de estreia publicado em 2022

    Alexandre Alliatti, "Tinta Branca" (editora Patuá)

    Carla Piazzi, "Luminol" (editora Incompleta)

    Cristianne Lameirinha, "A Tessitura da Perda (editora Quelônio)

    Denise Sant’Anna, "A Cabeça do Pai" (editora Todavia)

    Helena Machado, "Memória de Ninguém" (editora Nós)

    Jessica Cardin, "Para Onde Atrai o Azul" (editora Quelônio)

    Leonardo Piana, "Sismógrafo" (editora Macondo)

    Silvana Tavano, "O Último Sábado de Julho Amanhece Quieto" (editora Autêntica)

    Taiane Santi Martins, "Mikaia" (editora Record)

    Tito Leite, "Dilúvio das Almas" (editora Todavia)


segunda-feira, 27 de novembro de 2023

Amistad - filme por Marilene Felinto

Amistad? Amizade? Amizade o caramba!

MARILENE FELINTO, FSP, 17 de fevereiro de 1998

"Afriques: Comment Ça Va Avec la Douleur?" África: Como Vai Essa Dor? O melhor filme que já se fez sobre os destinos da raça negra no mundo, do diretor-fotógrafo Raymond Depardon, não recebeu nenhuma indicação ao Oscar.

Sobre esse filme -que se restringe a registrar, com uma câmera em movimentos circulares de 360º, o genocídio contínuo de uma raça, que se arrasta da era da escravidão até os dias de hoje-, sobre esse filme não se fez um terço do estardalhaço que se faz agora por conta de "Amistad", épico de Steven Spielberg sobre a escravidão de negros no século 19.

"Amistad", que estreia no próximo dia 20, é baseado no episódio histórico verídico de um motim de 53 escravos africanos no navio negreiro espanhol "La Amistad", que seguia para Cuba mas, sem comando, vai parar nos Estados Unidos. Acusados de assassinato e pirataria, os escravos insurrectos são presos e julgados por um tribunal americano que precisa decidir se eles voltariam livres para a África ou como escravos para a Espanha.

Filme político de Spielberg que, ademais do valor estético (que o diretor manipula com perfeição), não equivale senão a uma espécie de patética expiação de culpa da raça branca colonizadora.

O épico de tribunal está aí mais para glorificar o herói branco e a fundação do sistema legal americano do que para reparar o drama da raça negra ou destacar seu personagem principal, o líder da rebelião, espécie de Zumbi do tráfico espanhol chamado Sengbe Pieh (que os espanhóis pronunciavam "Cinqué"), um nativo de Serra Leoa.

Tanto não está que o único indicado ao Oscar do filme não é nenhum ator negro. É o branco Anthony Hopkins, que interpreta um falso abolicionista presidente John Quincy Adams.

O épico de tribunal está aí para fazer valer a ONG Spielberg da compaixão humanitária, para realizar em ficção o sonho impossível dos judeus progressistas (Spielberg é judeu), de que negros e judeus deveriam se unir como raças injustiçadas, como se gozassem de igual status no mundo -ora, os judeus, ao contrário dos negros, são raça endogâmica, têm dinheiro, a mídia e a imprensa mundial a seu favor.

Os US$ 70 milhões gastos em "Amistad", Spielberg devia ter doado aos perseguidos de Ruanda ou do Burundi. Era dinheiro melhor empregado. Durante o quase um século de apartheid na África do Sul, os EUA (e o dinheiro judeu) nunca deram um passo significativo contra o genocídio.

Amizade efetiva entre raças, somente nas classes baixas: negro com branco, branco com índio etc., contanto que se unam, somem salários pequenos e sobrevivam. Só por isso não há racismo entre pobres, questão de sobrevivência.

Das classes médias para cima, branco casa com branco, dorme com branco. Contato íntimo com negro é coisa para uma vez, para satisfazer a curiosidade sexual, tocar o diferente, o cabelo crespo, a pele sedosa, o sexo escuro, o pênis grande dos homens negros. Amizade... o caramba!

Marilene Felinto



sábado, 25 de novembro de 2023

Vera Eunice, filha de Carolina Maria de Jesus

Filha de Bitita

Filha da escritora Carolina Maria de Jesus, Vera Eunice realiza sonho da mãe: descobrir as origens da família

BEATRIZ MAZZEI, ECOA Uol, 21/11/2023


Foto: Daniela Toviansky/UOL | Arte: Deborah Faleiros/UOL

"Se tivesse esse negócio de teste de ancestralidade na época da minha mãe, ela seria a primeira a fazer. Minha mãe tinha uma imensa curiosidade em relação às suas origens", conta dona Vera Eunice de Jesus, 70, professora e filha de Carolina Maria de Jesus (1914-1977), escritora, compositora e poetisa brasileira, que tem seis livros publicados, além de músicas e mais de 20 obras inéditas guardadas.

Famosa mundialmente, a escritora de "Quarto de Despejo: O Diário de uma Favelada", best-seller traduzido para 13 línguas e considerado um dos livros fundamentais para se entender o Brasil, viveu a maior parte da vida em São Paulo, nos bairros do Canindé, Santana e Parelheiros.

Entre a fama de uma das escritoras mais vendidas do Brasil e a constante ameaça de fome em um mercado editorial instável, a poeta encontrou sua voz na escrita ao ecoar a realidade da favela e denunciar as malezas da desigualdade.

A convite do UOL, Vera Eunice topou realizar o sonho da mãe ao fazer um teste de genética para descobrir de quais países vieram seus antepassados. Com os irmãos José Carlos de Jesus e João José de Jesus já falecidos, Vera, a filha caçula, é hoje a única que poderia embarcar nessa aventura rumo às origens da família. Os resultados dão contorno para a vida de Carolina Maria de Jesus e confirmações para Vera Eunice, sobretudo na origem paterna, até o momento duvidosa.

Foto: Daniela Toviansky/UOL, Instituto Moreira Sales, Arquivo Pessoal | Arte: Deborah Faleiros/UOL

54% de África

Nascida em 1953 na favela do Canindé, Vera Eunice teve uma infância marcada pela fome e falta de recursos. A escrita de sua mãe no livro "Quarto de Despejo" dá o tom para como foram seus primeiros anos de vida:

"15 de julho de 1955. Aniversário de minha filha Vera Eunice. Eu pretendia comprar um par de sapatos para ela. Mas o custo dos gêneros alimentícios nos impede a realização dos nossos desejos. Atualmente somos escravos do custo de vida. Eu achei um par de sapatos no lixo, lavei e remendei para ela calçar."

Apesar da dura realidade da favela, as memórias doces ficam por conta da leitura e da música. Vera diz que sua mãe lia histórias todos os dias e também era comum que seus irmãos tocassem violão, enquanto todos cantavam. Outra lembrança de menina é ver a mãe dançando e balançando as saias. "Ela dançava e dizia: 'isso é música africana'. E de fato era. Uma música que eu não sei dizer qual era, mas era da África".

Em uma conversa antes da realização do teste, Vera relata que Carolina dizia que sua família deveria ter origem na Angola porque ela era uma mulher retinta (de pele escura), alta e magra, assim como as angolanas.

A hipótese de Carolina se confirmou: 54% de seu material genético vem do continente africano, com predominância de 35% na região oeste, que abrange os atuais países de Angola, Camarões, Gabão e República do Congo. "Minha mãe ficaria muito feliz de saber disso. Ela gostava da cultura angolana e principalmente da música. Vivia dizendo que era uma preta 'cambinda'".

Cambindas ou cabindas é como são conhecidos os habitantes de Cabinda, território pertencente à República de Angola. Até o século XIX, a região correspondia a um dos principais entrepostos comerciais portugueses de pessoas escravizadas, por conta disso, o termo também já foi usado como sinônimo de "escravo".

Se auto denominar como "Cambinda" mostra o quanto Carolina, mesmo sem estudo formal, já tinha noção da história da África e dos afro-brasileiros. Sua facilidade em assimilar conceitos também marcou a infância de Vera Eunice. Ela conta que se lembra da mãe usando palavras difíceis cotidianamente. "Quando eu e meus irmãos estávamos com fome e minha mãe não tinha alimento em casa, ela gritava: 'esses famélicos!'. Até pra xingar ela usava palavras rebuscadas".

Foto: Jose Nascimento/Acervo Ultima Hora/Folha Imagem, Acervo UH /Folhapress | Arte: Deborah Faleiros/UOL

Preta como ocre

Para Vera Eunice, a escrita de Carolina veio por influência familiar. Sua mãe era dona Maria Carolina de Jesus, conhecida como Cota, uma trabalhadora doméstica descendente de ex-escravizados do garimpo do ouro.

Com ela, Carolina andava horas para chegar em um poço para buscar água todos os dias. Durante o trajeto, perguntava sobre seu desconhecido pai, até conhecê-lo brevemente um dia em uma praça.

O pai era João Cândido, um repentista natural de Araxá (MG), que dominava as palavras em seus versos e rimas, mas não foi ativo na vida de Carolina. A figura paterna ficou por conta do avô de Carolina, seu Benedito da Silva. "O pai foi repentista e o avô foi o homem mais inteligente que apareceu em Sacramento. Na época, os negros não sabiam ler, então acontecia uma leitura coletiva do jornal na praça. Meu bisavô levava a minha mãe para ouvir a leitura do jornal todos os dias", conta Vera.

Benedito também deu pistas da origem africana da família de Vera Eunice. Ele falava palavras em Changana, uma língua do grupo Bantu, falada na África do Sul, em Moçambique, na Suazilândia e no Zimbabwe. É um dos três dialetos mais falados em Moçambique e o mais comum na região de Maputo.

Uma das palavras em Changana empregadas por Seu Benedito foi "Bitita", o apelido dado à Carolina, que significa "preta como ocre". "Bitita" também dá nome à obra póstuma "Diário de Bitita", que documenta suas memórias.

O teste de genética de Vera também apontou ancestralidade na região da África Oriental, que abrange Moçambique. No território deste país, mais de 300 mil habitantes foram retirados e enviados principalmente à região Sudeste do Brasil.

Foto: Daniela Toviansky/UOL e Arquivo Pessoal | Arte: Deborah Faleiros/UOL

Identidade entre mundos

Entre idas e vindas, Carolina muda-se definitivamente para São Paulo nos anos 1930, após episódios conturbados de sua vida envolvendo trabalho análogo à escravidão em uma fazenda em Minas Gerais.

Na capital paulista, às margens do Rio Tietê, na favela do Canindé, nascem seus filhos. Carolina diz em seu próprio diário que não tem interesse em se casar e faz críticas aos homens da sua vizinhança pelo comportamento abusivo e excesso de bebida alcoólica. Preferindo viver só, os filhos são frutos de relações com homens estrangeiros.

No caso de Vera, a forte evidência era que seu pai fosse um homem espanhol e o teste confirmou a hipótese: 40% de seu DNA apontou para a Europa, com ênfase na Ibéria, região relativa à Espanha.

"Cada um é filho de um homem. Nem eu nem os meus irmãos conhecemos os nossos pais. Ela me dizia 'se um dia você quiser saber, você vai atrás'. Eu nunca quis, mas tinha curiosidade em saber se era de fato o espanhol porque as pessoas falavam tanto da minha mãe, que teve até fofoca de que o meu pai poderia ser o Audálio Dantas. Agora posso dizer com toda certeza que não".

A mistura com a Europa fez Vera e os irmãos terem a pele mais clara do que a mãe. O que segundo ela, a livrou de episódios mais explícitos de racismo, dos quais Carolina não conseguiu se esquivar, mesmo durante o auge de sua carreira como escritora.

"Minha mãe sofreu. Primeiro, por ser uma mulher solteira com um filho de cada pai em uma época em que mulher que não era casada, era totalmente discriminada. Segundo, por ser preta retinta. Teve uma vez em que nós fomos em um restaurante caríssimo, todos bem vestidos e felizes, e o segurança olhou para minha mãe e disse 'negro aqui não entra'".

Ainda assim, Vera se reconhece na mãe quando olha a boca, os olhos e outros traços. Essa vida entre o preto e o branco; o pobre e o rico, fez parte da história de Vera Eunice, que nasceu na favela, mas cresceu em espaços repleto de pessoas famosas por conta do sucesso estrondoso de Carolina nos anos 60 com "Quarto de Despejo", que vendeu mais de cem mil exemplares e desbancou nomes consagrados da literatura, como o escritor baiano Jorge Amado.

A década foi marcada por uma transformação na vida da família que se mudou da favela para uma casa no bairro de Santana e passou a conviver com eventos e viagens para o Uruguai, Argentina e Chile, onde Carolina conheceu o escritor Pablo Neruda. No auge do sucesso da mãe, a menina Vera conviveu com figuras como o jogador Pelé, a escritora Clarice Lispector e diversos presidenciáveis, como João Goulart e Jânio Quadros.

Com sucesso meteórico, a fama de Carolina não durou muito tempo. Em menos de 10 anos, o best-seller saiu do espaço de destaque das livrarias e a escritora não conseguiu tanto sucesso com um novo livro.

"Foi uma vida de altos e baixos. Quando fomos para Parelheiros [nos anos 1970], meus irmãos ficaram chateados. Eles questionavam: 'como assim passar fome depois do auge?'. Passar fome com três adolescentes com consciência das coisas é difícil. Essa fome era diferente da que vivemos na favela. Tinha arroz, mas não tinha feijão. Tinha café, mas não tinha açúcar. Nunca estava completo, mas a barriga não doía", relembra Vera.

Foi no sítio em Parelheiros que o mundo se despediu de Carolina. A escritora faleceu no ano de 1977, vitimada por uma crise de insuficiência respiratória, devido à asma. Para a família, ficou a missão de manter seu legado.

Foto: Correio da Manhã / Arquivo Nacional | Arte: Deborah Faleiros/UOL

O futuro

Carolina, que não teve estudo formal, deu vida a uma menina que, hoje aos 70 anos, não pensa em sair da sala de aula. Virou professora de língua portuguesa. Na escola onde trabalha, perto de sua casa na Vila Rubi, extremo Sul de São Paulo, Vera também aproveita o contato com os mais novos para ensinar sobre ancestralidade negra. "Alguns dos meus pequenos ainda não gostam do próprio cabelo, então existe um trabalho para falar do cabelo, da cor da pele... Inclusive com os pais também".

É na casa de uma das filhas (ao todo são 5 filhos) que Vera Eunice recebe a equipe do UOL para tomar um café e conversar sobre o teste de genética.

"A Conceição Evaristo fez esse teste e disse que foi maravilhoso". Além de amigas, Vera e a escritora Conceição Evaristo dividem a nobre missão de compor um conselho editorial para zelar pelas obras escritas por Carolina Maria de Jesus por meio do projeto "Cadernos de Carolina", que reúne obras da escritora buscando a integridade dos manuscritos originais, sem editar ou corrigir a maneira como Carolina escrevia.

A minha mãe não escrevia errado, ela tinha dificuldades e esses traços fazem parte de sua linguagem. Ao falecer, ela deixou 27 obras e nós, as conselheiras de suas obras, optamos por deixar Carolina do jeito que ela escreveu. Uma vez a mãe do Criolo, Maria Vilani, me falou: 'quando a gente está escrevendo, não interessa o encontro vocálico, interessa o sentimento'. Minha mãe foi sentimento.

Foto: Instituto Moreira Sales, Arquivo Pessoal | Arte: Deborah Faleiros/UOL

Livros para o túmulo

Como um elo entre o passado e o futuro, Vera divide sua rotina entre o magistério, a família que fez e criou e a cuidar da memória da mãe.

Para além da perpetuação de suas obras, ela também arruma tempo para zelar pelo túmulo da mãe e honrar sua vontade: em vez de flores, livros. As mais diversas obras enfeitam o local de descanso de uma das maiores escritoras brasileiras.

"Minha mãe me dizia que para se empoderar, a mulher precisa estudar. Tenho certeza que se ela pudesse aconselhar a nova geração, ela diria o que me disse: 'estude, leia, seja dona da sua própria cabeça'. Carolina foi favelada, mulher preta, mãe solo e escritora. Para mim, a palavra que a define é 'ousadia'. Minha mãe foi ousada".

Publicado em 21 de novembro de 2023.

Reportagem Beatriz Mazzei | Arte Deborah Faleiros | Fotos Daniela Toviansky | Edição Paula Rodrigues | Núcleo de Diversidade Simone Freire

Carolina Maria de Jesus


Diário de Bitita 

7 citações de Carolina Maria de Jesus

1- “Quem inventou a fome são os que comem.”

2- “O negro só é livre quando morre.”

3- “Quando o homem decidir reformar a sua consciência, o mundo tomará outro roteiro.”

4- “Atualmente somos escravos do custo de vida.”

5- “O maior espetáculo do pobre da atualidade é comer.”

6- “Eu classifico São Paulo assim: O Palácio é a sala de visita. A Prefeitura é a sala de jantar e a cidade é o jardim. E a favela é o quintal onde jogam os lixos.”

7- “Quem governa o nosso país é quem tem dinheiro, quem não sabe o que é a dor e a aflição do pobre.”

sexta-feira, 24 de novembro de 2023

Minérios usados em baterias

Transição energética impulsiona corrida por minérios usados em baterias

Geração de energia limpa demanda 3 bilhões de toneladas de materiais como grafite, lítio e cobalto 

Izael Pereira, FSP, 23/11/2023

A transição energética em curso leva governos e empresas ao redor do mundo a buscar soluções sustentáveis para o armazenamento. Até 2050, de acordo com dados do Banco Mundial, esse futuro mais limpo demandará 3 bilhões de toneladas de minerais necessários para a construção de baterias.

De 2017 a 2022, a procura global por lítio triplicou, segundo levantamento da AIE (Agência Internacional de Energia). No caso do cobalto, o salto foi de 70%, enquanto a busca por níquel aumentou 40%. Entre os minerais considerados críticos para a transição energética há ainda o cobre, o grafite e as terras raras.

As reservas estão espalhadas pelo mundo, o que cria desafios logísticos. O professor do departamento de Engenharia de Mineração e Petróleo da USP, Luiz Enrique Sanches, afirma que uma das grandes preocupações, hoje, é a organização das etapas dessa cadeia produtiva. Sanches cita o lítio como exemplo. " Há os lugares em que o minério é extraído e os lugares em que é processado industrialmente."

Para o especialista, os países com melhores resultados na transição energética deverão ser aqueles com capacidade de explorar e processar esses minérios criticos em território nacional — ou boa parte deles—, com objetivo de depender menos de atores externos.

Segundo o diretor da A&M Infra, David Wong, as fábricas de baterias chinesas detêm hoje 60% da capacidade global de fabricação, enquanto as montadoras do país são responsáveis pela montagem de 70% dos carros elétricos disponíveis atualmente no mundo. Além disso, os chineses detêm praticamente 50% dos minérios necessários à produção dos acumuladores de energia e já dominam toda a cadeia de processamento. Outros países buscam caminho semelhante.

Wong lembra que há novas fábricas de baterias surgindo na Coreia do Sul, na Europa e na América do Norte. São investimentos como o feito pelo grupo Volkswagen, que constrói fábricas em Salzgitter (Alemanha), Valência (Espanha) e St. Thomas (Canadá).

Outro movimento geopolítico para diminuir a influência chinesa é a procura por lítio, fosfato e ferro em regiões que não estão sob o controle do país asiático. Esses movimentos devem reduzir a parcela chinesa nos próximos anos, mas sem que isso represente o fim do domínio. "Espera-se que a China fique com 50% da produção de baterias até o final da década", afirma Wong.

Apesar de alguns países terem grandes reservas de alguns desses minerais essenciais ou dominarem as etapas de processamento, o professor Luiz Enrique Sanches acha pouco provável que seja criada uma entidade semelhante à Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo).

A organização, formada nos anos de 1970, até hoje representa os grandes produtores de petróleo e gás, mesmo com a entrada de novos players no setor. "A quantidade que chamamos de reservas minerais não é um número estático. São feitas pesquisas geológicas que vão paulatinamente descobrindo novos depósitos, ampliando continuamente o conhecimento sobre o que existe", diz Sanches.

Baterias ganham eficiência, mas aumento da demanda cria desafio ambiental 

Para Wong, o freio de uma "Opep dos minérios" está relacionado ao fato de hoje montadoras como Tesla, GM, Volkswagen e Ford atuarem tanto na exploração como na produção. "As montadoras não eram donas do petróleo, mas hoje têm controle ou participação significativa desde a mineração até a fabricação de baterias.

O Brasil quer entrar nessa disputa, e o caminho passa pelo lítio. Vitor Saback, secretário Nacional de Geologia, Mineração e Transformação Mineral do MME (Ministério de Minas e Energia), diz que o interesse do Brasil vai além da exploração. "Queremos ampliar as etapas tanto no lítio como em terras raras, fazendo a separação dos elementos em todas as substâncias necessárias para transição energética", afirma. "E já está comprovado que nós temos reservas para um tempo bem significativo de vida útil das nossas minas."

Pensando na agilidade necessária para os inícios das explorações nas jazidas de minério no Brasil, o MME deve desenvolver uma política pública para os minérios da transição. Antes, entretanto, será necessária a reestruturação da ANM (Agência Nacional de Mineração). "O setor mineral, diferentemente de outros, envelheceu, o seu marco é de 1967. Temos processos na agência e na mineração que ainda não foram digitalizados, precisamos modernizar o setor", diz o secretário.

Hoje, a média global para o início das explorações em jazidas de minério oscila de cinco a sete anos — considerando a descoberta, os estudos e o licenciamento ambiental. No Brasil, de acordo com Saback, há estados em que a liberação para esse início das explorações pode demorar mais de 10 anos.

Entretanto, ele pontua que não é intenção do MME apenas reduzir esse prazo, mas propôr uma mineração onde os players ruins — que não fazem uma mineração sustentável e não dão à comunidade onde estão instalados a segurança necessária — não atuem nesta nova fase do setor. "Mineração, agora, é palco de empreendedores que desenvolvem uma relação com as suas comunidades."

As principais reservas de lítio do Brasil estão no Vale do Jequitinhonha, uma das regiões mais carentes de Minas Gerais. O mineral começou a ser extraído e exportado neste ano, e o principal destino é a China.


Esta reportagem foi produzida durante o curso Transição Energética, com apoio da Enel


terça-feira, 21 de novembro de 2023

Prêmio Jabuti 2023 - Cinco finalistas

 

Cinco finalistas, 21/11/2023

Eixo: Literatura

Conto

Título: As pessoas costumam não notar quando estamos mortos | Autor(a): Malu Ferreira Alves | Editora(s): 7Letras

Título: Educação Natural: textos póstumos e inéditos | Autor(a): João Gilberto Noll | Editora(s): Record

Título: Guia anônima | Autor(a): Junia Zaidan | Editora(s): FiNA, Cousa

Título: Mulher feita e outros contos | Autor(a): Marilene Felinto | Editora(s): Fósforo

Título: Usufruto de demônios | Autor(a): Whisner Fraga Mamede | Editora(s): Ofícios Terrestres Edições

Crônica

Título: As vozes da minha cabeça | Autor(a): S. Ganeff | Editora(s): Labrador

Título: Folias de aprendiz | Autor(a): Geraldo Carneiro | Editora(s): História Real

Título: Lembremos do futuro: crônicas do tempo da morte do tempo | Autor(a): Julián Fuks | Editora(s): Companhia das Letras

Título: Por quem as panelas batem | Autor(a): Antonio Prata | Editora(s): Companhia das Letras

Título: Vastidão | Autor(a): Cristiana Rodrigues | Editora(s): Vasta

Histórias em Quadrinhos

Título: A batalha | Autor(a): Eloar Guazzelli, Fernanda Verissimo | Editora(s): Quadrinhos na Cia

Título: A Coisa | Autor(a): Orlandeli | Editora(s): Gambatte

Título: Franjinha: contato | Autor(a): Vitor Cafaggi | Editora(s): Panini Comics

Título: Mukanda Tiodora | Autor(a): Marcelo D'Salete | Editora(s): Veneta

Título: O fim da noite | Autor(a): Diox, Rafael Calça | Editora(s): Darkside

Infantil

Título: A espera | Autor(a): Ilan Brenman | Editora(s): Santillana Educação

Título: Desligue e abra | Autor(a): Ilan Brenman | Editora(s): Santillana Educação

Título: Doçura | Autor(a): Anna Cunha, Emília Nuñez | Editora(s): Tibi Livros

Título: O menino, o pai e a pinha | Autor(a): Yuri de Francco, Ionit Zilberman | Editora(s): Ciranda na Escola

Título: Voar na imaginação | Autor(a): Celso Vicenzi | Editora(s): Arte Editora

Juvenil

Título: A catalogadora de idosos | Autor(a): Pedro Tavares | Editora(s): Edições SM

Título: As coisas de que não me lembro, sou | Autor(a): Jacques Fux, Raquel Matsushita | Editora(s): Aletria

Título: Meu lugar no mundo | Autor(a): Walcyr Carrasco | Editora(s): Santillana Educação

Título: Natali e sua vontade idiota de agradar todo mundo | Autor(a): Thalita Rebouças | Editora(s): Rocco

Título: Óculos de cor: ver e não enxergar | Autor(a): Lilia Moritz Schwarcz, Suzane Lopes | Editora(s): Companhia das Letrinhas

Poesia

Título: A água é uma máquina do tempo | Autor(a): Aline Motta | Editora(s): Círculo de poemas

Título: Alma corsária | Autor(a): Claudia Roquette-Pinto | Editora(s): Editora 34

Título: Araras vermelhas | Autor(a): Cida Pedrosa | Editora(s): Companhia das Letras

Título: Engenheiro fantasma | Autor(a): Fabrício Corsaletti | Editora(s): Companhia das Letras

Título: Fim de verão | Autor(a): Paulo Henriques Britto | Editora(s): Companhia das Letras

Romance de Entretenimento

Título: 12321 – O amor é um palíndromo | Autor(a): Marina Kon | Editora(s): Penalux

Título: A vida e as mortes de Severino Olho de Dendê | Autor(a): Ian Fraser | Editora(s): Intrínseca

Título: Dentro do nosso silêncio | Autor(a): Karine Asth | Editora(s): Bestiário

Título: O luto da baleia | Autor(a): Solange Cianni | Editora(s): Obra Independente

Título: Selvagem | Autor(a): Marília Passos | Editora(s): Labrador

Romance Literário

Título: A vida futura | Autor(a): Sérgio Rodrigues | Editora(s): Companhia das Letras

Título: Beatriz e o poeta | Autor(a): Cristovão Tezza | Editora(s): Todavia

Título: Menos que um | Autor(a): Patrícia Melo | Editora(s): Casa dos Mundos

Título: Os perigos do imperador: um romance do Segundo Reinado | Autor(a): Ruy Castro | Editora(s): Companhia das Letras

Título: Via Ápia | Autor(a): Geovani Martins | Editora(s): Companhia das Letras

Eixo: Não Ficção

Artes

Título: Futuros em gestação: cidade, política e pandemia | Autor(a): Guilherme Wisnik, Tuca Vieira | Editora(s): WMF Martins Fontes, Escola da Cidade

Título: Imagens marcantes da fotografia brasileira (1840-1914) | Autor(a): Pedro Corrêa do Lago, Ruy Souza e Silva | Editora(s): Capivara

Título: O Olhar Germânico na Gênese do Brasil | Autor(a): Maurício Vicente Ferreira Júnior, Rafael Cardoso | Editora(s): Museu Imperial

Título: Tomie | Autor(a): Paulo Miyada, Priscyla Gomes (Organizadores) | Editora(s): Instituto Tomie Ohtake

Título: Walter Firmo: no verbo do silêncio a síntese do grito | Autor(a): Sérgio Burgi | Editora(s): IMS

Biografia e Reportagem

Título: A vacina sem revolta: a luta de Rodolpho Theophilo contra o poder e a peste | Autor(a): Lira Neto | Editora(s): Bella Editora

Título: Escravidão: da independência do Brasil à Lei Áurea | Autor(a): Laurentino Gomes | Editora(s): Globo Livros

Título: O negócio do Jair: a história proibida do clã Bolsonaro | Autor(a): Juliana Dal Piva | Editora(s): Zahar

Título: Poder camuflado: os militares e a política, do fim da ditadura à aliança com Bolsonaro | Autor(a): Fabio Victor | Editora(s): Companhia das Letras

Título: Rainhas da noite | Autor(a): Chico Felitti | Editora(s): Companhia das Letras

Ciências

Título: Covid-19: desafios para a organização e repercussões nos sistemas e serviços de saúde | Autor(a): Lenice Gnocchi da Costa Reis, Margareth Crisóstomo Portela, Sheyla Maria Lemos Lima | Editora(s): Fiocruz

Título: Emergência climática: o aquecimento global, o ativismo jovem e a luta por um mundo melhor | Autor(a): Matthew Shirts | Editora(s): Claro enigma

Título: Pediatria Essencial | Autor(a): Alice D’Agostini Deutsch, Carlos Augusto Cardim de Oliveira, Claudio Schvartsman, Durval Anibal Daniel Filho, Eduardo Juan Troster, Elda Maria Stafuzza Gonçalves Pires, Érica Santos, Mariana Facchini Granato, Paula Alves Gonçalves, Renata Dejtiar Waksman | Editora(s): Atheneu

Título: Psicanálise de boteco: o inconsciente na vida cotidiana | Autor(a): Alexandre Patricio de Almeida | Editora(s): Paidós

Título: Uma história das florestas brasileiras | Autor(a): Zé Pedro de Oliveira Costa | Editora(s): Autêntica Editora

Ciências Humanas

Título: É próprio do humano: uma odisseia do autoconhecimento e da autorrealização em 12 lições | Autor(a): Dante Gallian | Editora(s): Record

Título: Humanamente Digital: inteligência artificial centrada no humano | Autor(a): Cassio Pantaleoni | Editora(s): Unità Educacional

Título: Identidades e Crise das Democracias | Autor(a): Bernardo Sorj | Editora(s): Fundação FHC

Título: O ponto a que chegamos: duzentos anos de atraso educacional e seu impacto nas políticas do presente | Autor(a): Antônio Gois | Editora(s): FGV

Título: Pontos fora da curva: por que algumas reformas educacionais no Brasil são mais efetivas do que outras e o que isso significa para o futuro da educação básica | Autor(a): Olavo Nogueira Filho | Editora(s): FGV

Ciências Sociais

Título: Limites da democracia: de junho de 2013 ao governo Bolsonaro | Autor(a): Marcos Nobre | Editora(s): Todavia

Título: Linha vermelha: a guerra da Ucrânia e as relações internacionais do século XXI | Autor(a): Felipe Loureiro (Organizador) | Editora(s): Editora da Unicamp

Título: Movimento LGBTI+: uma breve história do século XIX aos nossos dias | Autor(a): Renan Quinalha | Editora(s): Autêntica

Título: Nós do Brasil: nossa herança e nossas escolhas | Autor(a): Zeina Latif | Editora(s): Record

Título: O funk na batida: baile, rua e parlamento | Autor(a): Danilo Cymrot | Editora(s): Edições Sesc São Paulo

Economia Criativa

Título: Criatividade a Sério | Autor(a): Felipe Zamana | Editora(s): Obra Independente

Título: Hospedagens Memoráveis | Autor(a): Rodrigo Galvão | Editora(s): Freitas Bastos Editora

Título: Metaverso Educacional de Bolso - Conceitos, Reflexões e Possíveis Impactos na Educação | Autor(a): Francisco Tupy, Helena Poças Leitão | Editora(s): Arco 43 Editora

Título: Patrimônio 4.0 | Autor(a): Pedro Henrique Gonçalves (Organizador) | Editora(s): Blucher

Título: Receitas do Favela Orgânica: aproveitamento integral de alimentos | Autor(a): Regina Tchelly | Editora(s): Senac Rio

Eixo: Produção Editorial

Capa

Título: Judith Lauand: desvio concreto | Capista: Paula Tinoco, Roderico Souza | Editora(s): Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (Masp)

Título: Mensagem | Capista: Flávia Castanheira | Editora(s): Todavia

Título: Moby Dick, ou A baleia | Capista: Rafael Nobre | Editora(s): Clássicos Zahar

Título: Ubuntu: eu sou porque nós somos | Capista: Bloco Gráfico | Editora(s): ImageMagica

Título: Um defeito de cor (Edição Especial) | Capista: Leticia Quintilhano | Editora(s): Record

Ilustração

Título: A notável história do homem-listrado | Ilustrador(a): Fayga Ostrower | Editora(s): EDUFRN

Título: Minúscula | Ilustrador(a): Fran Matsumoto | Editora(s): Brinque-Book

Título: O dedão do pé do gigante | Ilustrador(a): Bruna Ximenes | Editora(s): Editora do Brasil

Título: O povo Kambeba e a gota d’água | Ilustrador(a): Cris Eich | Editora(s): Edebe Brasil

Título: Sou mais eu | Ilustrador(a): Rogério Coelho | Editora(s): DarkSide

Projeto Gráfico

Título: Atos de revolta: outros imaginários sobre independência | Responsável: Sometimes Always | Editora(s): Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro

Título: Expresso 2222 | Responsável: Ana Oliveira, Paulo Chagas | Editora(s): Iyá Omin

Título: Judith Lauand: desvio concreto | Responsável: Paula Tinoco, Roderico Souza | Editora(s): Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (Masp)

Título: Middlemarch: um estudo da vida provinciana | Responsável: Flávia Castanheira, Igor Miranda | Editora(s): Pinard

Título: Tomie | Responsável: Felipe Carnevalli De Brot, Vitor Cesar Junior | Editora(s): Instituto Tomie Ohtake

Tradução

Título: Édipo Rei ou Édipo em Tebas | Tradutor(a): Jaa Torrano | Editora(s): Ateliê Editorial, Editora Mnêma

Título: Finnegans Rivolta | Tradutor(a): Dirce Waltrick do Amarante (Organizadora) / Coletivo Finnegans | Editora(s): Iluminuras

Título: Inana | Tradutor(a): Adriano Scandolara, Guilherme Gontijo Flores | Editora(s): Sobinfluencia Edições

Título: Linhas fundamentais da filosofia do direito | Tradutor(a): Marcos Lutz Müller | Editora(s): Editora 34

Título: Phantasus: poema-non-plus-ultra | Tradutor(a): Simone Homem de Mello | Editora(s): Perspectiva

Eixo: Inovação

Escritor(a) Estreante

Título: A tessitura da perda | Autor(a): Cristianne Lameirinha | Editora(s): Quelônio

Título: Extremo oeste | Autor(a): Paulo Fehlauer | Editora(s): Cepe

Título: O céu no meio da cara | Autor(a): Júlia Portes | Editora(s): NAU Editora

Título: Síngulas Brasilis Fantásticas | Autor(a): Valentim Biazotti | Editora(s): Penalux

Título: Sismógrafo | Autor(a): Leonardo Piana | Editora(s): Edições Macondo

Fomento à Leitura

Título: Álbum Guerreiras da Ancestralidade do Mulherio das Letras Indígenas | Responsável(eis): Evanir de Oliveira Pinheiro

Título: Calangos Leitores | Responsável(eis): Claudine Maria Diniz Duarte

Título: Mostra de Literatura Inclusiva | Responsável(eis): Andrey do Amaral

Título: Projeto Ciranda do Saber | Responsável(eis): Meire Aparecida do Nascimento

Título: São Luís sob a luz dos tambores | Responsável(eis): Foto Clube Poesia do Olhar

Livro Brasileiro Publicado no Exterior

Título: Becos da memória | Editora(s): Pallas Editora, Portugalský inštitút

Título: Caderno de rimas do João | Editora(s): Pallas Editora, Editora Trinta Zero Nove

Título: Marrom e amarelo | Editora(s): Alfaguara, And Other Stories

Título: O cabelo de Cora | Editora(s): Pallas Editora, Editora Trinta Zero Nove

Título: Setenta | Editora(s): Dublinense, Hellnation Libri

Em tempo

Os 10 finalistas




Texto antigo de Bin Laden viraliza e vira conteúdo proibido no TikTok

"Carta para a América" assinada pelo terrorista foi escrita em 2002 e critica ação dos EUA em território palestino.

Nilton Kleina, 17/11/2023, Mundo Conectado

A rede social TikTok começou a tomar medidas para remover publicações sobre um texto atribuído ao terrorista Osama Bin Laden, morto em 2011.

A chamada “Carta para a América” (Letter to America, no título original em inglês) é uma mensagem escrita por ele em 2002 que justifica os ataques da organização criminosa al Qaeda, além de criticar as ações dos Estados Unidos no Oriente Médio.

Qualquer busca pelo nome do documento não retorna qualquer resultado na rede social. Os vídeos foram removidos por “violação de políticas” da empresa. A companhia até publicou na rede social X, o antigo Twitter, uma explicação mais detalhada sobre a ação.

Segundo a plataforma, o algoritmo dela não privilegiou esse tipo de conteúdo e tem removido postagens ofensivas sobre Israel ou Palestina desde o começo de outubro.

“O conteúdo que promove esta carta viola claramente as nossas regras de apoio a qualquer forma de terrorismo. Estamos removendo esse conteúdo de forma proativa e agressiva, investigando como ele chegou à nossa plataforma. O número desses vídeos no TikTok é pequeno e os relatórios sobre tendências em nossa plataforma ainda são imprecisos. Esse vídeo não é exclusivo do TikTok e apareceu em várias plataformas e na mídia”. TikTok

Políticos dos EUA reclamaram da viralização do conteúdo, já que a carta traz conteúdos considerados antissemitas e que seriam “propaganda a favor do terrorismo para manipular norte-americanos”, em especial o público jovem.

Milhares de versões da carta lida ou comentada por usuários circularam no TikTok e em outras plataformas, como Instagram e X/Twitter — sendo esta ameaçada até de processo por falta de moderação pela União Europeia.

O que é a Carta para a América de Bin Laden

O texto voltou a viralizar no contexto da guerra entre Israel e o grupo terrorista Hamas, que atua no território palestino. O conflito foi intensificado nas últimas semanas e virou um dos tópicos mais quentes em debates na plataforma.

Apesar do autor, que é o principal responsável pelo ataque de 11 de setembro de 2011 ao World Trade Center, muitos usuários elogiaram o conteúdo — em especial as acusações de que os EUA “financiam a opressão ao povo palestino”.

O texto critica as ações dos Estados Unidos em território palestino, fala sobre o apoio constante do país ao estado de Israel e também acusa o país de “financiar a opressão” contra toda uma população.

Segundo relatos da CNN, o tema chegou a acumular “ao menos 14 milhões de visualizações” antes da remoção do conteúdo pela plataforma.

Fontes: TikTok, Reuters, CNN
















segunda-feira, 20 de novembro de 2023

Retratos Fantasmas

'Estou otimista, acho que temos chance no Oscar de 2024', diz produtora de 'Retratos Fantasmas'

Francesa radicada no Recife há mais de 20 anos, Emilie Lesclaux conta como é pilotar uma campanha por uma indicação ao prêmio 

Teté Ribeiro, 18/11/2023, FSP

A produtora francesa Emilie Lesclaux, que é radicada no Recife há mais de 20 anos Victor Jucá/Divulgação 

O fundamental é fazer com que o maior número possível de votantes da Academia assista ao filme. E para isso precisamos de dinheiro", diz Emilie Lesclaux de sua casa, no Recife, onde mora com o marido e os dois filhos gêmeos do casal, Tomás e Martin, de dez anos.

"Não precisamos de dinheiro para convencer ninguém a gostar do filme ou a votar nele, mas, sim, para fazer anúncios nos jornais, promover sessões especiais, convidar pessoas, participar de debates, entrevistas, encontros", esclarece a produtora. "É uma campanha como outra qualquer. Precisamos fazer o filme despertar a curiosidade das pessoas. O resto é com o filme, que tem sido muito bem recebido por todos os lugares em que é exibido pelo mundo."

"Retrato Fantasmas" é um longa-metragem difícil de catalogar. É quase todo documentário, mas tem um desfecho que faz uso do realismo fantástico. A cidade de Recife e os bastidores dos filmes anteriores de Kleber Mendonça Filho são como protagonistas deste estranho produto de audiovisual, que tem sido descrito como uma carta de amor ao cinema e aos cinemas do centro da capital pernambucana.

Achou confuso? Pois é. Por sorte, "Retratos" está disponível para streaming na Netflix desde o início deste mês, então todo mundo pode assistir e descrevê-lo para os amigos como achar conveniente.

O longa estreou mundialmente no Festival de Cannes, em maio. No Brasil, foi escolhido como o filme de abertura do Festival de Gramado, em agosto. Depois, passou pelos festivais de Toronto e de Nova York, e entrou em cartaz nos cinemas das maiores cidades brasileiras, de Portugal, da França e dos Estados Unidos.

Com quase 85 mil espectadores nos cinemas, "Retratos Fantasmas" está longe de ser um blockbuster, ou mesmo de alcançar as bilheterias impressionantes do filme anterior de Kleber, "Bacurau", que fez quase 800 mil. "Aquarius" e "O Som ao Redor" tiveram bilheterias mais modestas, pouco mais de 350 mil espectadores e 95 mil ingressos vendidos, respectivamente. Os três foram sucesso de crítica e premiados em festivais importantes pelo mundo. "O Som ao Redor" e "Aquarius" estão disponíveis na Netflix, e "Bacurau", na Globoplay.

No último dia 12 de setembro, Emilie comemorou duas coisas bem importantes: primeiro, seu aniversário de 44 anos. Depois, o anúncio de que "Retratos Fantasmas" foi escolhido pela Academia Brasileira de Cinema e Artes Audiovisuais para ser o representante brasileiro a disputar uma vaga pela indicação de melhor filme estrangeiro no Oscar de 2024.

O diretor Kleber Mendonça Filho beija a mulher, a produdora Emilie Lesclaux, no Festival de Cannes de 2023 - Sarah Meyssonnier -20.mai.2023/Reuters

A decisão foi tomada por uma comissão presidida por Ilda Santiago, diretora do Festival de Cinema do Rio. Foram 28 longas-metragens inscritos. Cinco filmes foram pré-selecionados, entre eles títulos mais populares como "Nosso Sonho – A História de Claudinho e Buchecha", de Eduardo Albergaria, e "Pedágio", de Carolina Markowicz. Mas o vencedor foi "Retratos".

Agora, na corrida do Oscar, o próximo passo é passar para uma lista de 15 finalistas, entre filmes do mundo inteiro, que será anunciada no dia 21 de dezembro. Se passar dessa fase, pode ser um dos cinco indicados, anunciados no dia 23 de janeiro. A cerimônia do Oscar ocorre no dia 10 de março de 2024, em Los Angeles, quando todo mundo descobre, ao vivo, qual o vencedor.

Se "Retratos" superar todos os obstáculos do caminho e vencer o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, o primeiro do Brasil, quem vai subir no palco do teatro Dolby para receber a estatueta dourada pode ser uma estrangeira: Emilie, produtora do filme, é francesa.

"Não tinha nem pensado nisso", ela diz na entrevista, quando pergunto se ela já tem um discurso de agradecimento preparado. Tradicionalmente, é o produtor que recebe o Oscar de Melhor Filme, não o diretor, que concorre por si só com outros diretores. É verdade que, na categoria Filme Estrangeiro, hoje em dia rebatizada de Filme Internacional, muitas vezes é o diretor que sobe ao palco, acompanhado de todo o elenco e equipe de bastidores.

"Estou otimista, porque vejo que o filme toca muito as pessoas", afirma a produtora, em português fluente. "É surpreendente, achei que este filme seria muito restrito, só para um público especializado. Não sabia nem se teria algum interesse fora do Recife. Mas estamos vendo que ele realmente emociona as pessoas de diversas maneiras e que tem muitas camadas de compreensão."

Emilie nasceu na França, em Bordeaux, em 1979. Estudou ciências políticas na faculdade, mas sempre sonhou em trabalhar com cinema. Não conhecia o Brasil nem falava português até 2002, quando aceitou um convite do Consulado-Geral da França para ser a representante do país no nordeste brasileiro na área de cooperação cultural, cuja sede fica em Recife. A ideia era que ficasse um ano, com contrato renovável por mais um.

"Minha mãe é argentina, então eu já falava espanhol e conhecia a América do Sul, mas me apaixonei mesmo por Recife", conta. No trabalho, conheceu Kleber, que era programador de um cinema na cidade e vivia falando dos planos de fazer filmes ousados e independentes. "A gente tinha reuniões de trabalho, ele cobria o Festival de Cannes com apoio do consulado e da Aliança Francesa

Aos poucos, começaram a colaborar nos primeiros curtas-metragens do cineasta, quase sem recursos. "No começo, eu fazia um pouco de tudo. Coisa de produtor, né?", conta Emilie, que não abre o jogo sobre em que momento começou o romance com o cineasta.

O fato é que ela concluiu os dois anos de trabalho no consulado e nunca mais foi embora. E, conforme a carreira de Kleber ia se consolidando, o mesmo acontecia com a de Emilie, que foi se especializando em tudo relacionado à produção de um audiovisual.

Em 2012, quando "O Som ao Redor", o primeiro filme de ficção de Kleber, foi lançado, Emilie já assinava como produtora. Os dois já tinham criado muitas coisas juntos, entre elas vários curtas-metragens, um documentário chamado "Crítico", o festival de cinema Janela Internacional de Cinema do Recife e a produtora Cinemascópio. Os três últimos nasceram no mesmo ano, 2008.

"Quando terminamos ‘O Som ao Redor’, que foi como fazer um filho, pensamos que seria um bom momento para ter um filho mesmo", conta Lesclaux. No ano seguinte nasceram Tomás e Martin, no dia 10 de novembro. "Quando fizemos ‘Aquarius’ eles eram bebês, tinham pouco mais de um ano."

"Todos os dias eu me pergunto como a gente conseguiu fazer filmes e criar os meninos ao mesmo tempo. A gente enlouquece um pouco nesse processo, né? Acho que nunca estou satisfeita com nada, não consigo fazer as coisas 100% do jeito que eu quero, mas acredito que esse seja um pouco o nosso fardo como mulher. Todas nós vivemos esse dilema."

Neste ano, além da loucura extra que o sucesso de "Retratos" provocou em sua vida, Emilie produziu o longa "Sem Coração", da dupla Nara Normande e Tião, que conta uma história doce e ao mesmo tempo tensa e violenta que se passa entre adolescentes em um verão no litoral de Alagoas, nos anos 1990.

"Sem Coração" estreou mundialmente no dia 5 de setembro, no Festival de Cinema de Veneza. No Brasil, foi selecionado como o filme de abertura do Festival de Cinema do Rio, que começou no dia seguinte, onde ganhou dois prêmios, Melhor Fotografia no Première Brasil e Prêmio Felix de Melhor Filme Brasileiro. Exibido também na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, tem data de estreia programada para 22 de fevereiro.

"Adoro esse filme porque ele mostra, sem nenhum discurso, e com muita doçura, os grandes contrastes que vejo no Brasil. A beleza, a liberdade e a alegria convivem com a pobreza e a violência. É muito duro, muito difícil. Mas não troco por nada."

domingo, 19 de novembro de 2023

Yahva Sinwar, chefe do Hamas

previu confronto com Israel em 2023

Ricardo Kotscho, UOL, 19/11/2023

Em dezembro do ano passado, durante as celebrações de 35 anos do grupo islâmico, no momento em que Benjamim Netanyahu se preparava para assumir novo mandato em coalizão com a extrema direita, Yahva Sinwar, o chefe do Hamas na Faixa de Gaza, previu um confronto aberto com Israel em 2023.
No dia 7 de outubro deste ano, o Hamas invadiu Israel, matou mais de mil pessoas e sequestrou mais de 200, dando início a uma nova guerra do Oriente Médio. Os serviços de inteligência de Israel e dos seus aliados ocidentais, Estados Unidos à frente, não devem ter prestado atenção na ameaça que Sinwar fez em seu discurso:
"Temos que dar a oportunidade de reascender a resistência na Cisjordânia", anunciou o líder do Hamas, ao criticar a gestão do presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, de quem quase ninguém mais fala nesta guerra.

Encontrei esta informação na matéria de Sandra Cohen, publicada no Globo, três dias após o ataque do Hamas, ao pesquisar sobre quem era o homólogo do sempre citado primeiro ministro Benjamim Netanyahu do lado palestino, ou seja, o pior inimigo de Israel.
Intrigava-me não encontrar o nome do principal líder do Hamas no noticiário sobre a guerra, embora já tenham sido publicados os de várias outras lideranças mortas por Israel durante os conflitos. Até me perguntava quantos líderes teria o Hamas.

Uma guerra não costuma começar por acaso. Há sempre razões pretéritas a motivar o primeiro ataque. Yahya Ibrahim Hassan Sinwar, 61 anos, nasceu num campo de refugiados em Kan Yuinis, quando estava sob domínio egípcio e, em 1948, a família se mudou para a Faixa de Gaza.
Sinwar assumiu o posto de Ismail Haniyeh, o líder político do Hamas, que hoje está baseado no Catar, em fevereiro de 2017. No mês seguinte, criou um comitê administrativo para a Faixa de Gaza, opondo-se a qualquer compartilhamento de poder com a Autoridade Palestina. Ele foi um dos fundadores do aparato de segurança do Hamas e é a segunda figura mais poderosa na hierarquia da organização terrorista.

Antes disso, o comandante do Hamas em Gaza passou 23 anos em prisões de Israel e foi condenado a quatro prisões perpétuas, em 1989, pela morte de dois soldados israelenses e de quatro palestinos considerados espiões de Israel.

O único que vi citar o nome dele no noticiário foi Daniel Hagari, porta-voz do Exército israelense: "Yahya Sinwar, o líder do Hamas no conflito entre a Palestina e Israel, é um homem morto". Poderá vir a ser, provavelmente, mas ainda não há notícia de que isso tenha sido consumado.
Motivos não faltam. Foi dele o planejamento da Operação Dilúvio de Al-Aqsa, que infiltrou centenas de terroristas armados em território israelense, responsáveis pelos assassinatos e sequestros no dia da invasão.

Se e quando um dia esse conflito acabar, ainda não se sabe quem tomará conta da Faixa de Gaza, hoje ainda controlada em parte pelo Hamas de Sinwar. Mas uma coisa parece certa: não será Benjamim Netaniyahu, que não deverá sobreviver um dia no cargo de primeiro-ministro, ao final da guerra, tamanha é a crescente oposição interna e externa que enfrenta. Por isso, ele não quer que a guerra acabe...

Vida que segue

quinta-feira, 16 de novembro de 2023

Os antiaderentes

que aderiram no mundo

Uma classe de produtos químicos persistentes está causando prejuízos à saúde e ao ambiente 

Rossana Soletti, 16/11/2023, FSP

O que são os PFA e seus risco? São compostos químicos organohalogenados, geralmente hidrofobicos e lipofobicos e amplamente utilizados em aplicações domésticas e industriais.

Em 2017, Jack tinha poucos meses quando seus pais, Seth e Tobyn McNaughton, souberam por um grupo de moradores e advogados que a água de abastecimento da região onde viviam, em Michigan, nos Estados Unidos, estava sendo contaminada havia anos por uma fabricante de calçados. Produzidos desde 1960, os PFAS constituem um grupo com cerca de 10 mil substâncias per e polifluoralquiladas, que são compostos sintéticos de cadeias lineares contendo muitos átomos de flúor.

Com ligações químicas difíceis de serem destruídas, podendo permanecer no ambiente por séculos, esses contaminantes são utilizados em muitos processos industriais. Largamente empregados em produtos de consumo graças às suas propriedades de resistência à água, óleo e manchas, encontram-se em tecidos impermeáveis, embalagens de alimentos à prova de óleo, produtos de higiene pessoal, utensílios domésticos, circuitos eletrônicos, pesticidas e espumas anti-incêndio, dentre outros.

A indústria calçadista se valia de um impermeabilizante da multinacional 3M que poluiu as águas subterrâneas e vários rios da região da família McNaughton. Testes revelaram que Jack tinha milhares de vezes o limite aceitável de PFAS no sangue, o que provavelmente é a razão de até hoje ele adoecer com muita frequência. Sua mãe teve duas perdas gestacionais. Embora não seja possível atribuir com total certeza essas condições à contaminação por PFAS, centenas de estudos mostram que eles podem afetar a fertilidade, comprometer o sistema imunológico, diminuir a resposta às vacinas, alterar o crescimento e o comportamento infantil, além de aumentar o risco de doenças metabólicas, obesidade e câncer.

Em 2020 os McNaughton conseguiram um acordo com a produtora de calçados e a 3M, por valores não revelados. Assim como eles, milhares de famílias e municípios nos Estados Unidos entraram com ações contra empresas produtoras e usuárias de PFAS que têm impregnado águas, solo e alimentos. A situação é tão crítica que em junho de 2023 a 3M concordou em pagar mais de 10 bilhões em indenizações para 300 comunidades estadunidenses, e outras três companhias, DuPont, Chemours e Corteva, desembolsaram mais de um bilhão.

A questão dos PFAS não é exclusiva dos Estados Unidos, já que essas substâncias e as indústrias que as produzem e utilizam estão por todo o mundo. Um projeto europeu de monitoramento de contaminantes pesquisou a presença dessas substâncias no sangue de adolescentes e as detectou em 100% das amostras, 14% das quais apresentavam níveis acima dos limites de tolerância. Níveis centenas de vezes maiores não são raros, sobretudo em trabalhadores e moradores de regiões próximas a parques industriais, bases militares e aeroportos — nesses últimos, as espumas frequentemente usadas contra incêndios acabam por se infiltrar no solo.

Uma agravante é que, devido ao grande número de substâncias classificadas como PFAS, não é possível avaliar a exposição a todas elas. Monitoramentos mais abrangentes na população europeia demonstram que os níveis das mais estudadas e que são sujeitas à regulamentação em vários países, as chamadas PFOA e PFOS, têm decaído nos últimos anos, mas níveis de novos PFAS têm aumentado.

Numa tentativa de remediar o problema, a Comissão Europeia estuda propor que sejam banidos todos os PFAS, por serem tóxicos, persistirem por anos no ambiente e se acumularem em organismos vivos. A indústria contra-argumenta dizendo que o risco não é real e que atualmente eles são essenciais em inúmeros produtos. O mercado global de PFAS é de cerca de 28 bilhões de euros anuais, mas uma estimativa dos custos para remediação de todo solo e águas poluídas no mundo chegou a mais de 16 trilhões de euros.

Se a contaminação por PFAS alcança mídias e tribunais em vários países, no Brasil navegamos em um vazio de informações. Apesar de sermos signatários da Convenção de Estocolmo, um tratado internacional que rege poluentes persistentes e restringe a utilização de PFOS e PFOA, por aqui eles são usados em algumas aplicações, e outros milhares de PFAS não estão regulamentados. São raros os estudos que analisam a ocorrência de PFAS no ambiente brasileiro e, ainda que restritos a poucas regiões, em todas eles foram detectados. O país precisa desenvolver com urgência estratégias nacionais de controle dos PFAS, e para isso é necessário apoiar a pesquisa de monitoramento desses contaminantes e a avaliação dos possíveis danos ao nosso ecossistema e à saúde pública brasileira.

Rossana Soletti é doutora em ciências morfológicas e professora na Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

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