1. Clara Charf
2. Tá com pena? Leva pra casa!
3. Mercedes e Gabriel
4. O Estado se comportou como facção
5. Kleber Mendonça Filho
6. Geração Z usa redes sociais para ir às ruas e derruba governos pelo mundo
7. É assim que todos perdemos, playboys
8. Morte em Veneza
9. Gil, 83 e Jorge 86
10. Reforma administrativa tem visão empresarial
11. A chacina sem capuz e a estatização das mortes
12. Guillermo del Toro diz que ‘prefere morrer’ a usar IA
13. Morre Björn Andrésen, ator considerado o 'garoto mais belo do mundo', aos 70
14. Cenas de um mundo inventado
15. A escala 6x1 e a escravidão
16. Sérgio Amadeu fala sobre novo livro em que revela relação entre big techs e complexo militar
17. A neo- revolução industrial e suas consequências
18. Justiça absolve réus por incêndio no Ninho do Urubu, do Flamengo
19. Inteligência Artificial e o futuro do trabalho, com Atahualpa Blanchet
20. Milhares saem às ruas nos EUA em protesto contra Trump
21. Vento de proa na diplomacia
22. Hora de descancelar Carlitos
23. A escalada militar de Trump contra a Venezuela repete o modelo da Guerra do Iraque
24. Lula fere a Palestina de morte
25. Bundas-comodities
26. Nobel palestino, acordo de paz e o papel dos EUA na crise de Gaza - José Arbex
27. Para evitar apagão, Brasil corta energia renovável e aciona termelétricas: entenda paradoxo do sistema elétrico
28. NOVA DISTOPIA: IA, BIG TECHS E OS DADOS DO GOVERNO
29. Grande Sertão Veredas: Antônio Cândido sobre Guimarães Rosa
30. O que é REALMENTE O SIONISMO?
31. A GERAÇÃO DE ADOLESCENTES FORÇADA A TRABALHAR
32. Não naturalizemos Maria Corina Machado
33. Cessar-fogo em Gaza: palestinos reencontram familiares após deixarem prisões israelenses
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1. Clara Charf
Eu tinha 18 anos e cursava o segundo ano de jornalismo quando resolvi fazer um trabalho sobre a luta armada. Ela topou me receber em sua casa, um apartamento pequeno na Rua Cardoso de Almeida, já quase na Francisco Maratazzo. Eu já tinha lido "Batismo de Sangue", mas foi com ela que conheci Marighella. Me mostrou fotografias e poemas, contou do tiro que ele havia levado no cinema, chamava-o de "meu nego". Contou das divisões do trabalho doméstico, ela lavava e ele passava (ou vice-versa, já não me lembro). Quer cicerone melhor para ingressar naquele universo? Fiquei fascinado por aquela mulher.
Uma coisa que me deixou desconfortável foi notar que os jornais, e não somente os jornais, sempre se referiam a ela como "viúva de Marighella". Eu achava estranho, errado. Uma vida resumida a um parceiro que se foi. Com o tempo fui entendendo que havia algum machismo nisso, mas também militância política. E amor. Clara, Clarice, Eunice, Ana Dias...
Meses atrás, quando Clara fez 100 anos, uma amiga me procurou. "Camilo, você tem o contato da Clara? É pra Margarida." Margarida Genevois, minha biografada, tem 102 anos. "Não tenho", respondi. "Mas posso descolar. Margarida quer encontrá-la? Se sim, quero ir a esse encontro". Já pensou? Margarida e Clara, as duas centenárias mais lutadoras que conheci. 200 anos de garra e coragem, heroínas do Brasil.
Sempre achei que, a essa altura da vida, Clara merecia uma democracia mais forte, um parlamento mais justo, um Estado que não matasse seus cidadãos, uma sociedade mais solidária e com consciência de classe. Sinto-me envergonhado em nome da minha geração. Mas ela sabia, mais do que ninguém, que a luta é pra sempre, e, no fim do dia, é a geração dela que me instiga a honrar nossos ancestrais, essas mulheres que nos antecederam e que nunca pediram arrego.
Este post era para falar de Clara, e não de mim, mas a Clara que eu conheci, mesmo brevemente, foi quem deixou essas marcas, e por isso há tanto a agradecer. Hoje é 3 de novembro e, amanhã, dia 4, o assassinato de seu companheiro completa 56 anos. Se houver um Céu dos comunistas, o que seria algo curioso, embora justo, vai ter chamego e forró.
Companheira Clara Charf, presente!
Entr'acte
Marighella Filme Completo HD 2012
O espelho de Carlos Marighella
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2. Tá com pena? Leva pra casa!
Pensei aqui alguns nomes de criminosos bem bacanas para o leitor patriota levar pra casa
A reação de se chocar com a chacina é algo que acontece com alguns e não acontece com outros
Tati Bernardi, fsp, 30.10.2025
Esses dias cometi um ato bem previsível quando se trata de analisar o comportamento básico de um ser da categoria humana: me choquei com uma chacina. Não precisou muita coisa. Para tal não usei nem um milésimo do caráter e da cognição que ainda me restam. Basta ter um cérebro que opera em condições não agudamente psicopáticas e a ele somar alguma coisa que, para simplificar, podemos chamar de alma. Eu olhei pra tela da televisão e foi instantâneo o meu pensamento: meu Deus do céu, que coisa terrível!
Interessante pensar que tive a mesmíssima reação, quiçá a mesma verbalização precária e advinda de um ginásio com ensino religioso, que tiveram meus colegas que estudaram uns 674 mil livros a mais do que eu. Mas acho que o que me conectou neste caso a respeitados professores, doutores e cientistas é uma coisa que vai além do tempo dedicado para abrilhantar a mente e a fala. Se trata de algo que acontece com alguns e não acontece com outros. Vou chamar de decência, mas fica aí exposta a minha curiosidade para um nome mais preciso.
Ao comentar minha indignação ao ver mais de 60 corpos enfileirados (lembrando que existem pelo menos mais 60 outros corpos além desses) em uma comunidade do Rio de Janeiro, com mães desesperadas sobre os filhos mortos, eu recebi uma enxurrada de comentários que diziam assim: "Tá com pena, leva pra casa"!
Um tio da minha mãe, que defendia a ditadura, batia na mulher e chamava preto de "essa gente", já falecido com a graça de Deus há pelo menos três décadas, já dizia isso: tá com pena, leva pra casa! A esquerda pelo menos evoluiu ao somar o adjetivo arrombado a um fascista.
Os grandes jornais do país contam com excelentes cientistas políticos e professores de direitos humanos e esses senhores estão empenhados em explicar com elegância e paciência a leitores que flertam com pensamentos de extrema direita (arrombados fascistas) os motivos pelos quais eles estão agindo como energúmenos torpes e sem dignidade. Nota de rodapé: os colunistas que em vez de chamar de chacina criminosa estão chamando somente de megaoperação do governador Cláudio Castro vão dizer que têm pacto com a pluralidade, mas sabemos que o seu pacto é com o diabo mesmo.
Mas como gosto de responder quando me fazem uma pergunta, por mais estúpida que seja, pensei aqui alguns nomes de criminosos bem bacanas para o leitor patriota levar pra casa: o assassino e ex-goleiro Bruno ; a assassina e pastora Flordelis; o estuprador e ex-jogador Robinho 20corpus. e o ex-vereador, pedófilo e estuprador Thiago Bitencourt. Alguns dos torturadores de Rubens Paiva ainda estão vivos e se você correr pode levá-los pra casa e trocar suas fraldas.
Alfredo Stroessner, ditador paraguaio corrupto que enterrava torturados em sua casa de campo e era conhecido como o maior pedófilo da história (abusou de mais de 1600 crianças), foi homenageado por Bolsonaro algumas vezes. Certamente, se estivesse vivo, o caro leitor ultranacionalista adoraria levá-lo pra casa. Bolsonaro idem, mas não pode receber visitas.
Se você quiser pegar leve, considere levar a vloguer Antonia Fontenelle. Na pior das hipóteses, ela só vai explodir seu lavabo com gases de efeito wheyprotênico. No mais, estou com uma lista de cantores aqui que poderiam formar a banda The Goebbels e tocar em seu casamento, mas acabou meu dinheiro pra me livrar de processos.
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Ela tinha apenas 13 anos quando ouviu o pedido que mudaria sua vida:
— “Acabei de perceber que todos os meus poemas são para você. Case-se comigo!”
Na pista de dança, o rapaz magro e sonhador era Gabriel García Márquez, o futuro autor de Cem Anos de Solidão.
A menina, doce e serena, chamava-se Mercedes Barcha.
Com uma calma rara para a idade, ela sorriu e respondeu:
— “Tudo bem. Mas primeiro me deixe terminar a escola.”
Foram 13 anos de espera até o casamento.
Não houve noivado, promessas públicas ou grandes gestos — apenas a certeza silenciosa de quem sabe que o destino tem seu próprio ritmo.
Quando finalmente se casaram, Márquez ainda lutava como escritor, sustentado mais pela fé de Mercedes do que pelos parcos ganhos que conseguia com o jornalismo.
Durante os longos meses em que escreveu Cem Anos de Solidão, ele se trancava no escritório, absorto em Macondo, enquanto Mercedes mantinha o mundo real de pé: cuidava dos filhos, pagava as contas, comprava fiado no mercado e sorria, mesmo quando a esperança parecia escassa.
Quando o manuscrito ficou pronto, eles não tinham dinheiro para enviá-lo à editora.
Mercedes, sem hesitar, vendeu o secador de cabelo e o liquidificador — as últimas coisas de valor que restavam — para pagar o envio pelo correio.
Meses depois, a aposta deu certo. O livro conquistou o mundo, e Márquez se tornou um dos maiores escritores do século XX, recebendo o Prêmio Nobel de Literatura anos mais tarde.
Talvez nem todos os detalhes dessa história sejam exatos — algumas versões se misturam entre o real e o lendário —, mas a essência permanece verdadeira:
Mercedes foi o amor que não apenas acompanhou um gênio, mas o sustentou até que o impossível se tornasse real.
Porque o amor, quando é inteiro, não se mede em promessas, mas em silêncio, paciência e coragem.
E foi isso que fez de Mercedes Barcha o verdadeiro coração de Cem Anos de Solidão.
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4. O Estado se comportou como facção
Ataque localizado a um alvo pulverizado
Na operação do Rio, o Estado se comportou como facção, em uma estratégia que despreza o modelo de sustentação do Comando Vermelho
Bruno Paes Manso, especial para a piauí, 31 out 2025
O Comando Vermelho e o Primeiro Comando da Capital atuam há décadas no mercado bilionário de drogas e aprenderam, com o passar do tempo, a multiplicar seu capital e preservar seu poder na ilegalidade.
Ambas estão presentes em quase todas as unidades da federação brasileira, com modelos de negócios bem diferentes (apenas o Rio Grande do Sul não tem a presença de nem uma nem outra).
No caso do PCC, o grupo se estruturou a partir do controle das prisões. Do lado de fora, eles estenderam sua rede de parceiros para atuar principalmente no mercado atacadista de drogas. O lucro depende da capacidade da facção em garantir o transporte da cocaína dos Andes para os mercados internacionais.
O quilo de cocaína, comprado nas fronteiras a menos de 1.000 dólares, chega a ser vendido por 80 mil dólares na Europa, na Ásia e na Oceania. Para abastecer esse mercado, o PCC precisa manter o fluxo de mercadoria nas estradas, rios, portos e aviões, dividindo as tarefas a partir de um amplo networking que se estende de dentro dos presídios para o lado de fora. Tem conexões com máfias internacionais, como a dos Balcãs e a italiana ‘Ndrangheta, a principal distribuidora de drogas no mundo. Um dos principais desafios do grupo é lavar e movimentar a enxurrada de dólares que passou a ingressar no país, o que eles fazem com apoio de especialistas em contabilidade e finanças.
Já o modelo de negócio do Comando Vermelho é diferente, flagrantemente danoso para o cotidiano das cidades. Apesar de também atuarem no atacado da droga, eles apostam sobretudo no crime do varejo e no controle armado de áreas pobres de onde vem o faturamento e a autoridade de seus inúmeros representantes locais. Nesses lugares, eles extraem receitas de diversas atividades ilegais, como venda de cigarro pirata, internet, grilagem, venda e aluguel de imóveis, drogas, entre outros ramos, reproduzindo o modelo que aprenderam com as milícias.
A expansão da bandeira do CV por estados do norte e do nordeste acabou produzindo confrontos com grupos rivais locais, muitos deles apoiados pelo PCC ou por outras facções. Nesse mercado, o controle territorial passou a ser disputado para ampliar mercado, lucro e poder, produzindo combates frequentes.
Por depender do controle dos bairros, o modelo do CV exerce o uso ostensivo de pistolas e fuzis, cuja munição chega, em parte, desviada das forças policiais, militares e de donos de clubes de tiro. Já o PCC usa armamentos pesados para atividades específicas, como os grandes roubos que paralisam cidades. Ambos, contudo, negociam esse arsenal no mercado ilegal.
As operações policiais no morro do Rio, que ao longo de mais de quarenta anos não foram capazes sequer de diminuir a força local desses grupos, deixa fazer sentido diante desse quadro nacionalizado e complexo. As diversas áreas controladas pelo CV funcionam de forma horizontal e autônoma. Para continuar a faturar, não dependem da ação pulverizada dos soldados rasos que portam fuzis e vestem bermudas, mas da preservação do fluxo dos negócios dessa rede
Por mirar no vazio, a ação de 28 de outubro e suas 125 vítimas serviu para expor a fragilidade das instituições políticas e policiais do Rio. A falta de estratégia, a desinteligência. A barbárie dos corpos abandonados na mata para serem retirados por seus familiares escandalizaram o Brasil e o mundo. Uma tragédia que não atingiu em nada essa estrutura horizontal e capilarizada do crime.
A gravidade do quadro aumentou diante do oportunismo das autoridades locais. Entre 2021 e 2022, as polícias do governador Cláudio Castro, que concorria ao seu segundo mandato, fizeram três operações em áreas controladas pelo Comando Vermelho – Jacarezinho, Vila Cruzeiro e Complexo do Alemão. Somadas, causaram 67 mortos.
Em vez de ser rechaçado pela opinião pública, diante da letalidade e do despropósito de ações fadadas a enxugar gelo, Cláudio Castro acabou sendo eleito no primeiro turno.
O mesmo contexto político estava por trás do massacre atual. A impopularidade do governador ameaça sua eleição para o senado e dificulta a escolha de um nome competitivo para sua sucessão. Era preciso dar um sinal ao eleitor desamparado.
Dessa vez, contudo, o Comando Vermelho reagiu, convocando uma ampla rede de aliados para paralisar a cidade. Repetindo seus métodos erráticos, o governo parecia pedir uma reação brutal do crime, que interditou as vias, paralisou mais de 50 ônibus para usar de barricada em diferentes áreas e atingiu o cotidiano dos moradores de toda a cidade.
A perda da autoridade do Estado levou o crime a tratar as instituições democráticas de igual para igual, como se fosse um conflito entre facções. Em vez de produzir a ordem desejada, a política do governador, mais parecida com a forma improvisada de criminosos, promove o caos.
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5. Kleber Mendonça Filho
Hollywood bate na minha porta há muitos anos, mas eu prefiro ter controle sobre meus filmes, diz Kleber Mendonça Filho
O cineasta pernambucano Kleber Mendonça Filho, autor de O Agente Secreto, representante do Brasil no Oscar, acha muito provinciano quando dizem que ele é o Tarantino do Brasil.
'Eu sou os filmes que eu faço', diz
Teté Ribeiro, fsp, 01.11.2025
O cineasta pernambucano Kleber Mendonça Filho, autor de "O Agente Secreto", seu quinto longa-metragem, escolhido como o representante do Brasil no Oscar, conta que acha muito provinciano quando dizem que ele é o Tarantino ou o Fellini do Brasil. "Eu sou os filmes que eu faço".
"Ninguém fala que tal diretor é o Spielberg da Inglaterra, isso não existe", diz Kleber Mendonça Filho a respeito de uma recorrente analogia de seu trabalho com, principalmente, o do diretor americano Quentin Tarantino e o do italiano Federico Fellini. "Isso é muito provinciano. Está sempre embutido nesse comentário uma coisa de país rico e país pobre."
"Os meus filmes ocupam os mesmo espaços que os filmes dos diretores de qualquer país, é mostrado nos mesmos cinemas que exibem os filmes de Paul Thomas Anderson (diretor de 'Uma Batalha Depois da Outra', com Leonardo DiCaprio, ainda em cartaz e considerado um dos favoritos ao Oscar de Melhor Filme)", diz. "Eu não acho que sou uma referência dos filmes de outro diretor, eu sou eu mesmo".
"Existe uma associação com o Tarantino, mas acho isso muito curioso porque somos cineastas da mesma geração (Tarantino é só cinco anos mais velho que Kleber), provavelmente assistimos aos mesmos filmes e tivemos relações interessantes com o mesmo tipo de cinema, apesar de eu ser brasileiro."
Se tem um diretor que o fascina e cujos filmes fizeram o jovem Kleber acreditar que seria possível virar cineasta, seu sonho desde sempre, é o americano John Carpenter, de 77 anos, autor de clássicos do terror e da ficção científica dos anos 1970 e 1980, como "Halloween" (1978), "Fuga de New York" (1981) e "Starman" (1974). Mil vezes menos conhecido e badalado do que Tarantino.
A carreira de Carpenter tem muito mais fracassos que sucessos, seu último filme é de 2010, "Aterrorizada". Hoje em dia, se dedica mais à música, que ele compõe e apresenta ao lado do filho, Cody Carpenter. "São músicas para filmes que não existem", disse em uma entrevista o americano quando perguntado sobre o estilo de suas composições, todas instrumentais.
"Uma vez cheguei em casa de uma filmagem de ‘O Som ao Redor’ muito desconfiado, aí botei o filme 'Someone's Watching Me!', do Carpenter, e tinha acabado de fazer uma cena igualzinha à do filme", lembra Kleber. "Quer dizer, na verdade a cena não tem nada a ver com a minha, mas a maneira de filmar, sim. É a chegada de um personagem que vem andando, andando, andando".
Kleber nasceu em Recife no dia 22/11/1968 – completa 57 anos daqui a três semanas. Na hora de prestar vestibular, escolheu jornalismo porque não tinha faculdade de cinema em sua cidade. "Eu era ruim de matemática, mas bom de escrever, e o jornalismo me parecia a porta de embarque mais próxima de onde eu queria chegar. E eu não estava errado."
Ele conta que foi o cinema que o levou à leitura dos jornais na infância. "Comecei lendo os anúncios dos filmes, e depois percebi que, virando a página, tinha outras coisas para ler também, tipo o horóscopo", lembra. "Aos poucos fui expandindo a percepção sobre o que era o jornal".
Jornais e revistas, caros leitores do século 21, eram só de papel até o final do século passado, em que Kleber viveu a infância, a adolescência e o começo da vida adulta. E, apesar de todos os perrengues envolvidos na operação de produzir, imprimir e distribuir mundo afora, tinham a vantagem de não concorrer com a internet, ainda incipiente até quase o final daquele milênio.
As imagens mostradas nas reportagens de jornais e revistas ficavam muito mais marcadas na memória dos leitores, que não eram bombardeados com milhares de imagens por dia, todos os dias, como acontece nos nossos tempos. E Kleber se lembra claramente de algumas delas.
"Quando eu tinha uns 8 anos, lembro de uma edição da revista Manchete com muitas fotos em preto e branco do sequestro do Aldo Moro, ex-primeiro-ministro da Itália, em 1978, que foi extremamente violento. Os terroristas mataram cinco seguranças metralhados e eu nunca esqueci daquelas fotos, muito francas, os caras mortos ensanguentados", diz o cineasta."Hoje não vejo mais esse tipo de fotojornalismo. Acho que existe um certo código de ética. As fotos da operação policial desta semana no Rio de Janeiro são chocantes, mas não são nesse estilo. É uma mão, um pé. À distância de cima, não é um corpo trucidado na sua cara. Naquela época, mesmo o jornal no Recife tinha fotos bem francas assim".
Este é o diretor Kleber Mendonça Filho - fotos
No filme "O Agente Secreto", https://www1.folha.uol.com.br/folha-topicos/o-agente-secreto/ que Kleber está lançando mundo afora desde que fez sua premiere no Festival de Cannes em maio deste ano, de onde saiu com dois dos prêmios mais importantes, de Melhor Diretor para ele e Melhor Ator para Wagner Moura, ele tem pensado muito, e respondido a muitas perguntas sobre uma passagem bem marcante do longa-metragem que tem a ver com isso, uma imagem de jornal de um corpo assassinado no meio da rua.
O filme se passa em dois tempos, mas a ação principal acontece em 1977, em plena ditadura militar. No tempo atual, duas pesquisadoras ouvem fitas cassetes com conversas gravadas dos personagens daquela época e tentam desvendar o destino de Marcelo, personagem de Wagner Moura que chega a Recife dirigindo um Fusca amarelo no meio de um carnaval.
A reconstrução de época, assim como o figurino, as gírias dos personagens, as músicas e até alguns efeitos de cinema são tão bem cuidados e realistas que até quem não viveu nos anos 1970 vai se transportar para lá. Wagner Moura, por exemplo, que nasceu em 1976, um ano antes de quando acontece a trama principal, reforçou isso.
"Sabe aquelas coisas que você não tem certeza se viveu ou se alguém te contou e você criou uma memória?", indaga o ator, quando pergunto sobre isso. "Eu lembro muito bem dos homens usando aquelas camisas de manga curta abertas no peito, sem camisetinha por baixo, o peito cabeludo aparecendo e um maço de cigarro no bolso esquerdo."
Comento com o diretor que o filme parece ter cheiro, e ele concorda. "O cheiro da época estava na minha sensação enquanto eu escrevia o roteiro. Lembrava muito de idas ao centro da cidade quando eu era criança. Era muito barulhento e tinha o cheiro dos motores do carro da época, que eram todos a gasolina ou diesel. Ao longo dos anos isso tudo mudou por causa da tecnologia de motores."
Nas filmagens, em um momento Kleber se viu rodeado de carros dos anos 70, fuscas, brasílias, chevettes, corceis, kombis, mavericks, e eles tinham que rodar para lá e para cá nas ruas da cidade. "Uma hora estavam todos com os motores ligados, e fazia aquele barulho, saía uma fumaça azul e tinha aquele cheiro, que acho que é do carburador. Não entendo nada de carro mas acho que nem existe mais carburador."
"E sabe quando um cheiro te leva de volta décadas? Está guardado em algum lugar do seu cérebro, é como uma madeleine mesmo", disse ele, se referindo ao bolinho francês em forma de concha que faz parte de uma cena clássica da literatura.
Imagens do filme 'O Agente Secreto' (2025) - galeria
Na obra "Em Busca do Tempo Perdido", do escritor francês Marcel Proust (1871-1919), o narrador toma um chá acompanhado de uma madeleine, e logo na primeira mordida o sabor o leva de volta à infância, quando comia o bolinho na casa de uma tia. A madeleine virou um símbolo de memórias involuntárias despertadas por um som, um sabor, um cheiro, uma imagem.
As referências de Kleber vêm de todas as fontes possíveis, sejam filmes, livros, jornais, revistas, músicas. "A cultura, os filmes, as músicas, são marcadores do tempo, né? A gente ouve uma música e se lembra do que estava acontecendo na nossa vida quando ouvia".
"O Agente Secreto" se passa especificamente em 1977 por causa disso. "77 sempre me pareceu um ano muito interessante, porque é um ano de grandes filmes. É o ano de ‘Três Mulheres', de Robert Altman, é o ano de ‘Lúcio Flávio, o Passageiro da Agonia', de Hector Babenco, é o ano de ‘Star Wars’, de George Lucas", diz ele.
O ano de 2025 será, então, o de "O Agente Secreto"? "Eu tô muito interessado nesse momento que o filme seja visto no Brasil, que é o meu país, que jovens no Brasil vejam esse filme, estudantes. Eu adoro conversar com estudantes. E tenho a total consciência de que o filme tem um prestígio internacional muito grande. Mas estou calmo com o que vem pela frente, e vou aonde esse filme me levar."
Até ao Oscar? "Sou um trabalhador do audiovisual e acredito no filme que eu fiz. Estou seguro e conversando tranquilamente aqui com você, assim como conversei com o The New York Times, com o Le Monde, com o Cahiers du Cinéma. Estou curioso para ver o que vem pela frente, mas uma hora a pressão pode aumentar, né?"
Kleber conta que já recebeu várias propostas de dirigir filmes em outros países, mesmo antes dessa indicação a uma vaga no Oscar, por conta do prestígio de sua obra anterior, que também foi vista no mundo todo. "Mas sabe quando você recebe de presente uma roupa maravilhosa, um terno roxo, assim, cheio de lantejoulas? Eu acho massa, mas não é quem eu sou, então não vou vestir".
"Prefiro ter controle do que eu posso fazer e escrever os meus roteiros eu mesmo. Mas, quem sabe? O negócio é achar a roupa certa", afirma o diretor.
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6. Geração Z usa redes sociais para ir às ruas e derruba governos pelo mundo
Atos em Madagascar, Peru, Nepal e Marrocos nas últimas semanas reforçam lógica de engajamento veloz e digital
Protestos abalam política de seus países, mas distância entre jovens e instituições tradicionais permanece
Gabriel Barnabé, fsp, 02.11.2025
Em Madagascar, o presidente Andry Rajoelina foi deposto e fugiu do país. No Nepal, o primeiro-ministro K. P. Sharma Oli foi forçado a renunciar. Protestos pelo Marrocos juntaram centenas de milhares contra o premiê Aziz Akhannouch. Na América Latina, peruanos se mobilizaram e levaram à destituição da presidente Dina Boluarte.
O ponto em comum entre todos esses movimentos é a mobilização da geração Z. O grupo, formado por pessoas nascidas entre 1995 e 2010 , tomou as ruas de diversos países nas últimas semanas com uma lógica de engajamento veloz, descentralizada e mediada pelas redes sociais.
Além dos países já citados, Filipinas, Indonésia e Quênia também viram recentemente jovens levarem para as ruas a gramática dos ambientes digitais.
O ponto de partida das manifestações varia. No Nepal, por exemplo, uma proibição às redes sociais levou a protestos que ganharam força com denúncias de corrupção e insatisfação econômica. Há um denominador comum, no entanto: o desgaste com as instituições tradicionais.
Para Esther Solano, professora da Universidade Federal de São Paulo, é um erro interpretar essa geração como apática ou desinteressada. "Eles apenas se formam e se informam politicamente por circuitos muito diferentes dos nossos. São ecossistemas digitais de informação e mobilização que passam por baixo do radar das gerações anteriores", afirma.
Segundo a pesquisadora, a digitalização da política é a base para compreender esse fenômeno. "As primeiras experiências políticas da geração Z são no campo digital. Eles são nativos digitais se politizando digitalmente. Para eles, essa experiência é absolutamente natural", diz.
Protestos no Nepal deixam mais de 30 mortos e levam à queda de premiê - fotos
É essa a característica que muda o ritmo dos acontecimentos recentes. As convocações ocorrem em horas, as causas se espalham em minutos e os símbolos se formam de maneira espontânea, em linguagem audiovisual e compartilhável.
Em Madagascar, a rapidez com que a insatisfação escalou para uma crise política confirma essa tese. Levou menos de 20 dias para que protestos motivados por cortes de água e luz e denúncias de corrupção crescessem na capital, Antananarivo, e fizessem uma unidade militar de elite aderir aos manifestantes, forçando o presidente Andry Rajoelina a fugir do país.
Ao contrário das grandes manifestações do século 20, marcadas por hierarquias e lideranças fixas, os protestos recentes são movidos por uma estrutura fluida, como aplicativos de mensagens e redes sociais. Mas essa intermediação das big techs, diz Solano, introduz uma nova variável: o algoritmo.
Países com protestos da Geração Z têm população com baixa idade média. Em 2024
"Toda essa mobilização está mediada por atores transnacionais, conglomerados hiperpoderosos e oligopólicos e por essa lógica da escuridão, porque o algoritmo não é transparente", afirma. A capacidade de engajamento de uma pauta, diz ela, depende de mecanismos que escapam ao controle dos próprios manifestantes.
Sofia Ong'ele, 25, diretora de estratégia da organização americana Gen Z for Change (geração Z por mudança), compartilha a mesma preocupação. "Os algoritmos não são neutros", diz. "Eles refletem as vontades de quem os desenvolve e das corporações que os controlam."
Além disso, a velocidade e a capilaridade inéditas desses movimentos também podem ser um ponto de fragilidade. Uma das críticas aos movimentos da geração Z é que os protestos não promoveriam mudanças políticas práticas e teriam uma volatilidade propícia para o alastramento de desinformação.
Sofia, que atua com uma rede de mais de 500 criadores de conteúdo com alcance digital de cerca de meio bilhão de pessoas, vê essa nova realidade de outra forma —as redes apenas ampliam o alcance dos protestos, mas não substituem o ato de ir às ruas.
Conheça as gerações - galerias
"Queremos que qualquer pessoa, em qualquer lugar, possa se envolver em mudanças sociais sem as barreiras tradicionais. O digital nos permite democratizar o engajamento político", diz.
Exemplo disso é o compartilhamento de símbolos entre manifestantes de diferentes países. A bandeira da série japonesa One Piece, com um crânio trajando um chapéu de palha, foi usada na Indonésia, no Nepal e em Madagascar. Os jovens a exibem como um código visual de rebeldia e recusa à autoridade tradicional
O custo dessa descentralização, porém, é a criação de vácuos de poder depois dos protestos, segundo ela. "Nunca houve tantos movimentos sem liderança acontecendo ao mesmo tempo. Isso é novo, e estamos aprendendo em tempo real o que vem depois
Segundo Solano, a ausência de um líder carismático rompe com o paternalismo político das décadas anteriores e abre espaço para uma militância mais difusa, em que causas ambientais, identitárias e democráticas podem também se entrelaçar.
O principal desafio, diz a pesquisadora, será articular esse novo ecossistema político com as estruturas tradicionais de representação.
"Existe uma ruptura grave entre essa geração e a lógica clássica da democracia institucional", diz. "Precisamos construir pontes entre a plataformização da política e as instituições, porque os esforços de mobilização juvenil muitas vezes não chegam a conclusões concretas justamente por não encontrarem esse encaixe."
Para Sofia, essa ponte ainda é uma incógnita. "Tudo é muito novo", afirma ela. "Mas o que sabemos é que o poder popular, a solidariedade e a criatividade dessa geração são grandes demais para caber nas formas antigas de fazer política."
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7. É assim que todos perdemos, playboys
Expressão 'segurança pública' tem uma guerra dentro de si
Fusão de bandidagem, poder político e negócios se agravou
Sérgio Rodrigues, fsp, 29/10/2025
O que aconteceu no Rio de Janeiro na última terça-feira (28) devia ficar em nossa história como um marco, "o 28 de outubro". O dia em que chegou a um patamar inédito de clareza e dor — o Rio sempre na vanguarda — a tragédia da segurança pública no Brasil.
Esse promete ser um dos grandes temas da eleição presidencial do ano que vem, dizem, e parece justo que seja. O que não é necessariamente uma boa notícia. Se precisamos nomear bem as coisas antes de resolvê-las, "segurança pública" é um pântano semântico.
Com muita facilidade esquecemos ou fingimos não ver aquilo que, de tão óbvio, se torna elusivo —que o problema tem raízes na forma como nossas elites sempre delegaram a instituições violentas, das milícias do Império às atuais polícias militares, a tarefa de lidar com a massa de despossuídos fermentada em séculos de escravidão.
Educar, empregar, incluir? Nem pensar. Bater, confinar e matar, isso sim. A "segurança pública" no Brasil nasceu como a segurança de quem tinha posses —a dimensão "pública" era sua inimiga. Sendo desmedida nossa desigualdade social, descomunal tinha de ser a violência empregada na tentativa de domar seus efeitos.
Só que essas coisas não são domáveis. A brutalidade primordial antipreto e antipobre que foi uma das vigas mestras da nação brasileira começou a inflamar, a infeccionar, e evoluiu para uma sepse. Hoje as palavras soam como eufemismos covardes: açougueiros são chamados de governadores, e um massacre com 120 mortos em um só dia, de "operação policial".
A rotina de violência para a qual desenvolvemos uma tolerância doentia, incompatível com qualquer projeto nacional decente, virou solo fértil para que prosperassem modelos amalgamados de bandidagem, negócios e poder político, a tal ponto que o mal se entranhou no tecido da sociedade —empresas, instituições, governos, parlamentos.
Mais de 70 corpos são levados para praça da Penha, no Rio - fotos
Eis por que uma eleição presidencial pode não ser o melhor foro para debater a questão. Fixada naquela injustiça social originária, a esquerda tem imensa dificuldade de sequer enunciar o problema, enquanto a direita, sempre dobrando a aposta na exclusão e no extermínio com fins eleitoreiros, está condenada a agravá-lo.
Quando a linguagem mais falseia que ilumina, é boa ideia buscar socorro na melhor literatura, que tem como missão fazer as palavras soarem verdadeiras. Em 1962, Clarice Lispector escreveu um texto de espantosa atualidade chamado "Mineirinho", nome do bandido famoso que a polícia carioca acabava de matar.
O excesso de tiros da execução —13 — vai transformando o alívio inicial de Clarice em horror e lucidez, até que "no nono e no décimo minha boca está trêmula, no décimo primeiro digo em espanto o nome de Deus, no décimo segundo chamo meu irmão".
O último disparo opera finalmente, na alma da escritora de classe média da Zona Sul do Rio, a fusão das partes que a "segurança" contra o "público" tinha separado desde o início: "O décimo terceiro tiro me assassina — porque eu sou o outro. Porque eu quero ser o outro".
Perdemos, playboys.
Nem o cinema mais brutal imaginaria o roteiro do governador do Rio
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8. Morte em Veneza
Death in Venice-Gustav Mahler- Adagietto (from Symphony N°5)
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10. Reforma administrativa tem visão empresarial, não do Estado | Cortes
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11. A chacina sem capuz e a estatização das mortes
No Rio de Janeiro, atividade criminosa de grupos de extermínio foi substituída pela ação brutal de policiais em serviço
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12. Guillermo del Toro diz que ‘prefere morrer’ a usar IA generativa em seus filmes
Em entrevista a uma rádio americana, o cineasta comparou Victor Frankestein, personagem de seu novo filme, aos ‘caras da tecnologia’: ‘criam algo sem pensar nas consequências’
Por Leonardo Neto, O Estado, 27/10/2025
Durante uma entrevista à rádio NPR, nos Estados Unidos, o cineasta Guillermo del Toro disse que “prefere morrer” a usar IA generativa em seus filmes.
Ele se prepara para lançar a sua versão de Frankenstein, baseado no clássico do terror escrito por Mary Shelley, que chega à Netflix no próximo dia 7 de novembro.
“Não estou interessado, nem nunca estarei interessado”, disse del Toro. “Eu tenho 61 anos e espero ser capaz de permanecer sem interesse em usá-la até eu morrer. Outro dia, me perguntaram por e-mail: ‘Qual é a sua posição sobre IA?’. E minha resposta foi muito curta: ‘Eu prefiro morrer’”, disse na entrevista.
Guillermo del Toro comparou o fascínio em torno da nova tecnologia à arrogância do personagem Victor Frankestein, protagonista do seu novo filme. “Eu queria que a arrogância do Victor [Frankenstein] tivesse algo em comum com a dos ‘caras da tecnologia’”, disse ele. “Ele age às cegas, criando algo sem pensar nas consequências. Acho que a gente precisa parar um pouco e refletir sobre o rumo que estamos tomando”, completou.
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13. Morre Björn Andrésen, ator considerado o 'garoto mais belo do mundo', aos 70
Aos 15, ele estrelou 'Morte em Veneza', de Luchino Visconti, em 1971
Marcado pela beleza, ele teve depressão após a repercussão do longa
fsp, 27/10/2025
Björn Andrésen, o ator sueco que ficou mundialmente famoso por seu papel do adolescente em "Morte em Veneza" (1971), morreu no sábado aos 70 anos, confirmou à AFP nesta segunda-feira (27) a codiretora de um documentário sobre sua vida.
Quando tinha 15 anos, o ator foi contratado pelo diretor italiano Luchino Visconti, que buscava um jovem perfeito para interpretar Tadzio, um adolescente cuja beleza é alvo de obsessão do personagem interpretado por Dirk Bogarde. Antes disso, Andrésen havia estreado no cinema um ano antes, numa ponta em "Uma História de Amor Sueca", de Roy Andersson.
"Soubemos por sua filha", disse a diretora Kristina Lindström, que ao lado de Kristian Petri dirigiu em 2021 um documentário sobre a vida do ator sueco chamado "O Garoto Mais Bonito do Mundo", https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2021/02/beleza-de-ator-de-morte-em-veneza-virou-sentenca-para-jovem-mostra-documentario.shtml seu apelido após o sucesso do filme.
O papel de Andrésen na coprodução franco-italiana baseada no livro do Nobel alemão Thomas Mann o lançou à fama internacional.
Documentário 'The Most Beautiful Boy in the World', sobre o ator Björn Andrésen - fotos
A imagem de beleza perfeita o acompanhou por toda a vida, embora o próprio ator tenha contado como essa experiência o mergulhou na depressão e no vício em drogas.
"Não tive nenhum problema durante as filmagens. Mas, uma vez que terminaram, senti que era uma espécie de presa lançada aos lobos. Fisicamente nada me aconteceu, mas mesmo assim foi muito desagradável", relatou anos mais tarde.
Andrésen nasceu em 26 de janeiro de 1955 em Estocolmo. Nunca soube de seu pai. Sua mãe se suicidou quando ele tinha dez anos e foi, então, criado por seus avós.
O documentário de Lindström e Petri relembra que, durante as filmagens, Visconti havia proibido que o pessoal da equipe, formada praticamente por gays, assim como o próprio diretor, ficasse olhando para o ator mirim.
Porém, na estreia no Festival de Cannes, em entrevista a uma sala lotada de jornalistas, o cineasta parecia ter se cansado do brinquedo. "Ele era muito mais bonito antes. Ele envelheceu", disse o diretor ao lado do ator, então com 16 anos, causando risada na plateia.
A noite da estreia, quando sua avó que o acompanhava na viagem foi dormir, Andrésen foi levado a uma boate gay com a equipe do filme. "As pessoas me devoravam com os olhos, rolavam suas línguas, molhavam suas bocas. Comecei a beber o que podia para apagar aquilo. Nem lembro como cheguei em casa", afirmou o ator.
Logo após o sucesso do filme, ele foi ao Japão para uma série de ações promocionais. Recebia muitas cartas de fãs locais, a maioria homens fascinados por sua beleza. Gravou discos cantando em japonês e influenciou uma geração de artistas de mangá.
Acabou se tornando músico e, ao longo da carreira, participaria ainda de outros filmes de menor repercussão e série de televisão. Em 2019, apareceu em "Midsommar", filme de terror de Ari Aster, no qual interpretava o papel do idoso Dan.
Björn Andrésen - imdb
Beleza de ator de 'Morte em Veneza' virou sentença para jovem, mostra documentário
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14. Cenas de um mundo inventado
O aplicativo Sora 2, que permite criar vídeos ultrarrealistas com o próprio rosto e o de outras pessoas, levou o perigo da desinformação a um novo patamar
Victor Calcagno, do Rio de Janeiro, 27 out 2025
“Qual é seu nome, soldado?! Tá me ouvindo?! Me fala seu nome, soldado!” Quem berra é um manifestante todo vestido de preto, encapuzado, o rosto vermelho de raiva. À sua frente, um militar em traje camuflado. Pelas imagens, tudo indica se tratar de um protesto contra a ocupação de cidades americanas por tropas federais, uma das marcas de Donald Trump neste segundo mandato. Impassível, o militar do vídeo tolera os gritos até que, numa reação rápida, aperta um spray de pimenta contra o rosto do jovem e responde enfim à pergunta. Seu nome? “Sargento Pimenta!”, ele grita. A gravação, que tem menos de dez segundos, viralizou pelo trocadilho esdrúxulo – em inglês, a graça de “Sergeant Pepper” não está apenas na referência ao spray, mas também no fato de que esse é o nome de um dos álbuns mais famosos dos Beatles.
A iluminação do flash, o enquadramento vertical, os giroflex da polícia no fundo da imagem, o movimento dos corpos – tudo é muito realista, como se a pessoa que filmou estivesse ali mesmo, num protesto noturno, com o celular em mãos, a poucos centímetros da gritaria. Mas um observador atento vai notar uma pequena marca d’água que passeia pela tela. A logomarca, uma criatura com um par de olhos fofos, ao lado do nome Sora, entrega a verdade: a cena foi toda criada por inteligência artificial.
O vídeo, intitulado the original sgt. pepper, foi postado no Instagram no dia 7 de outubro por Diego Galvão, um filmmaker especializado em IAs generativas. Dias depois, já somava mais de 70 milhões de visualizações e 60 mil comentários. Além da marca d’água aplicada sobre o vídeo, uma legenda irônica indicava o uso de inteligência artificial (“nenhum prompt foi ferido durante a produção desse vídeo IA”). Ainda assim, na caixa de comentários, grande parte dos usuários parecia não se dar conta de que estavam diante de algo falso e deixavam elogios entusiasmados ao sargento fictício.
A verossimilhança da cena é uma obra do Sora 2, um gerador de vídeos mais poderoso, realista e dispendioso que seu antecessor, o Sora. Ambos foram criados pela OpenAI, dona do ChatGPT e hoje a empresa privada com maior valor de mercado do mundo, estimado recentemente em 500 bilhões de dólares. Com performance mais elogiada que a dos geradores concorrentes, como Veo (Google) e Vibes (Meta), o aplicativo foi lançado no dia 30 de setembro deste ano tendo algumas restrições iniciais de acesso. Oficialmente, até o momento, só quem pode utilizá-lo são os habitantes dos Estados Unidos e do Canadá, pelo desktop ou pelo aplicativo de celular, disponível apenas para o sistema operacional iOS. Além disso, é preciso ter recebido um convite de outro usuário. Mas essas restrições não impediram que, em questão de dias, o Sora 2 se tornasse o aplicativo mais baixado na loja da Apple, superando a marca de 1 milhão de downloads mais rapidamente do que o ChatGPT.
A novidade do Sora 2 não está apenas na maior capacidade de criar, em minutos, um vídeo realista a partir de orientações textuais. Está também em dois outros fatores. Primeiro, o aplicativo não é só um mero executor de tarefas, como o ChatGPT, mas também uma pequena rede social – um clone do TikTok, com a diferença de que todos os vídeos disponíveis ali, sempre curtos e em ritmo acelerado, foram feitos por IA. A plataforma funciona como um feed personalizado, onde é possível passar horas assistindo às produções de outros usuários, além de postar suas próprias criações.
A segunda novidade é que agora o usuário pode escanear seu rosto e sua voz para produzir vídeos protagonizados por si mesmo. Esses avatares são o que a OpenAI vem chamando de cameos. Ao criar o seu, a pessoa pode optar por deixá-lo no modo privado, mas também pode compartilhá-lo com conhecidos e, se quiser, com todo mundo. É uma aposta no potencial social dessa tecnologia, já que grupos de amigos podem brincar entre si, produzindo vídeos com os cameos uns dos outros. Tudo isso num ambiente em que a facilidade é a regra. Gerar um vídeo, com ou sem cameo, é gratuito e rápido: basta descrever uma ideia com o nível de especificidade desejado, e, dois ou três minutos depois, receber o resultado. Na versão gratuita do aplicativo, os vídeos encomendados pelo usuário têm duração de até 15 segundos. Já os assinantes Pro da OpenAI, que pagam mensalidade de duzentos dólares (pouco mais de mil reais), podem criar vídeos de até 25 segundos. É uma rede sob medida para uma geração que não quer expor a própria vida nas redes sociais, mas deseja seguir interagindo.
Tamanha facilidade requer uma estrutura colossal de processadores, que consomem energia elétrica e água em proporções muito superiores às do ChatGPT, que já não são pequenas em comparação a outros serviços. A OpenAI tem feito investimentos para tentar resolver esse gargalo. Em outubro, firmou acordo com a Broadcom, empresa de semicondutores que irá produzir os primeiros chips desenvolvidos pela própria OpenAI, turbinando sua capacidade de processamento. O projeto vai exigir 10 gigawatts de energia por hora, o suficiente para abastecer 8 milhões de domicílios americanos. Um outro acordo semelhante para viabilizar seus serviços via data centers, também na casa dos 10 gigawatts, já havia sido firmado com a gigante da computação Nvidia em setembro.
Esse consumo, no entanto, não tem sido acompanhado de iniciativas para a geração de energia na mesma escala. Por isso, a OpenAI tem procurado outros países que aceitem sediar a parte “suja” da operação – isto é, seus data centers. Um dos locais mais cotados é a Argentina do presidente Javier Milei, onde recentemente foram anunciados planos para a construção dessas estruturas na Patagônia (a aposta é de que, ali, as baixas temperaturas ajudariam no resfriamento das máquinas). A empreitada tem sido criticada pelo desperdício de energia, mas por ora não há qualquer obstáculo travando o caminho das IAs. O governo americano estima que, até 2028, os data centers espalhados por seu território já serão responsáveis por consumir até 12% da energia elétrica do país.
“É bem assustador”, diz Pollyana Ferrari, ao comparar a capacidade das novas IAs audiovisuais com a das que conhecíamos até poucos meses atrás. Ela é professora de pós-graduação em tecnologias da inteligência e design digital da PUC-SP e integrante da Rede Nacional de Combate à Desinformação (RNCD), projeto que reúne universidades, agências de checagem, projetos sociais e outras entidades na luta contra as fake news. “Os detalhes, como mãos e orelhas, os cenários, os movimentos e as falas, tudo está realista num ponto em que nossos olhos podem não conseguir distinguir. Me preocupa o fato de que mesmo ferramentas de checagem já possam ser ineficazes.”
Embora não seja 100% livre de imprecisões, o Sora 2 aceita instruções para cada segundo do vídeo e permite que o usuário refine o resultado final quantas vezes quiser – na versão gratuita, porém, há um limite de trinta operações por dia. Na avaliação de Ferrari, essa mistura de facilidade, qualidade e popularidade talvez seja o marco inaugural de uma nova geração de IAs mais poderosas, mais populares e com menores preocupações éticas – como o uso indevido de obras protegidas por direito autoral, a desinformação e os abusos de privacidade. A pesquisadora não tem dúvidas de que, sendo o Brasil o terceiro país que mais usa o ChatGPT no mundo e um dos que têm maior índice de interação online, é questão de tempo até os brasileiros usarem o Sora 2 “loucamente”.
Onovo aplicativo da OpenAI segue um mantra já consagrado no Vale do Silício: “É melhor pedir desculpas que permissão.” Nos primeiros dias, o Sora 2 foi disponibilizado com poucas restrições de uso, ignorando um sem-número de possíveis problemas legais, o que despertou grande interesse no público e levou à criação de um mercado paralelo de convites – em sites como o eBay, é possível comprar um deles por cerca de 5 dólares. Com exceção de crimes violentos, conteúdo sexual, armas e outras proibições descritas nas diretrizes da empresa, era permitido criar vídeos com praticamente qualquer coisa. A estratégia se alinha ao crescente desejo da companhia de lançar produtos que viralizem rapidamente, no intuito de manter aquecido um mercado que, por ora, ainda não tem um retorno financeiro sólido. Poucos dias após o lançamento do Sora 2, por exemplo, a OpenAI surgiu com outra novidade: um navegador próprio, com IA embutida, chamado ChatGPT Atlas.
Ao lançar o Sora 2, a empresa optou pelo modelo opt-out para lidar com direitos autorais. Isso significa que todo material protegido podia ser usado livremente e só seria retirado do app caso seu proprietário fizesse um requerimento formal à empresa. Não demorou para que os feeds do novo aplicativo fossem tomados por vídeos perfeitos de Bob Esponjas nazistas, Pikachus sendo assados na churrasqueira e episódios inteiros da animação South Park inventados por usuários. A única indicação de que se tratava de conteúdo falso era a pequena marca d’água do Sora 2, que é fácil de excluir dos vídeos (em poucos dias, surgiram sites especializados em fazer exatamente isso). Grande estúdios de Hollywood, sentindo-se lesados pelo uso indevido de suas imagens, se manifestaram publicamente contra a plataforma. O governo japonês solicitou à empresa que poupasse os seus célebres personagens de desenho animado, classificando as animações como um “tesouro insubstituível” de sua cultura.
A verossimilhança era ainda mais impressionante no caso dos cameos. Parte de uma cultura corporativa em que CEOs personificam suas empresas, o chefe da OpenAI, Sam Altman, não apenas fez seu próprio cameo como também o disponibilizou para quem quisesse usá-lo. Desde então, o americano de 40 anos apareceu em vídeos roubando lojas de departamento, miando em fantasias de gato, dançando como uma cantora de k-pop e praticando luta livre em roupas justas, além de inúmeras outras situações inusitadas. “Foi muito menos estranho do que pensei ver um feed cheio de memes de você mesmo”, disse Altman em seu perfil no X, alguns dias após o lançamento do app. Quando o cameo era usado em situações menos absurdas, como o CEO comendo ou conversando, ficava difícil distinguir realidade e ficção.
Nem figuras históricas foram poupadas. Nos primeiros dias do Sora 2 circularam vídeos de Martin Luther King Jr. discursando bobagens, Michael Jackson correndo da polícia e o astrofísico Stephen Hawking, em sua cadeira de rodas computadorizada, se machucando de todas as formas possíveis, como em ringues de MMA e pistas de skate. A febre fez com que Zelda Williams, filha do ator Robin Williams, morto em 2014, pedisse que parassem de lhe enviar vídeos do pai, chamando a geração por IA de “burra, um desperdício de tempo e energia”. “Vocês não estão produzindo arte, estão fazendo cachorros-quentes nojentos e ultraprocessados com a vida de seres humanos”, ela escreveu nas redes sociais, acrescentando que isso “NÃO é o que meu pai gostaria”.
A algazarra durou pouco. Menos de uma semana após o lançamento do aplicativo, a OpenAI resolveu arrochar as restrições. Foram banidos os conteúdos protegidos por direito autoral, e o filtro do que é tolerado ou não nos prompts se tornou mais sensível. Descrições como “um bebê entra no mar sozinho”, “Sam Altman ri em frente ao Studio Ghibli, no Japão”, “uma mulher descasca e come uma banana” e “Sam Altman coloca flores no túmulo de Mark Zuckerberg” passaram a ser barrados pela plataforma.
A mudança causou indignação entre os usuários que se acostumaram ao “liberou geral”. Nos fóruns dedicados ao assunto, no Reddit, não foram poucos os que xingaram a OpenAI e ameaçaram deletar o Sora 2. Um deles reclamou por não conseguir fazer um vídeo mostrando dois amigos seus, ambos adultos, terminando um relacionamento – segundo ele, o aplicativo alegava se tratar de uma “representação inaceitável de adolescentes”. Grande parte dessa comunidade online vem se dedicando desde então a encontrar meios de burlar as novas regras, o que em alguns casos é possível. Descrições genéricas, mas muito próximas de personagens reais, ou a utilização de fotos como base para os vídeos, podem ser eficazes. Segundo dados da própria empresa, as restrições não impedem que haja uma chance de 1,6% de que conteúdos sexuais sejam gerados ali, driblando todos os filtros, ainda que casos assim não tenham sido divulgados até agora. Enquanto isso, os cameos de figuras históricas, de Lincoln a Lênin, continuam autorizados (mas podem ser derrubados a pedido de seus representantes legais, como aconteceu com Luther King Jr., cuja imagem não pode mais ser gerada no aplicativo).
O lançamento do Sora 2 seguido desse recuo “é uma estratégia de marketing que já vimos antes nas plataformas de IA, algo nada inocente”, diz Ferrari. “Como grandes companhias que são, é praxe que mapeiem os potenciais problemas, a chance de perderem na Justiça ou decidirem casos com acordos judiciais, e então voltam uma ou duas casas, colocando pequenas cláusulas em suas diretrizes.” As reações funcionam como termômetro para que as empresas saibam o quão longe podem ir. E, é claro, no momento em que as restrições finalmente são impostas, o estrago já foi grande.
Um ponto preocupante, segundo a pesquisadora, é o fato de que o debate sobre direitos autorais costuma ficar restrito aos grandes estúdios e produtoras, sem contemplar o usuário comum, para quem o Sora 2 é vendido como “uma brincadeira”. Registramos nossas vozes e nossos rostos sem clareza das implicações que isso pode ter a médio e longo prazo. As empresas de IA se beneficiam do ineditismo da tecnologia e da lentidão da Justiça para se ajustar a ela. No Brasil, como na maioria dos países, ainda não há uma regulação jurídica sólida que proteja os usuários de eventuais abusos.
O risco nada novo, mas cada vez mais intransponível, é a criação de deep fakes, como são chamados os vídeos falsos ultrarrealistas cuja intenção é enganar. Ainda que o Sora 2 não permita usar o rosto ou a voz de celebridades vivas, o que inclui políticos como Trump ou Lula, não está claro como a plataforma – ou a Justiça brasileira – atuará em zonas cinzentas. Um candidato a vereador de uma cidade pequena, por exemplo, pode em tese fazer um cameo de si mesmo e gerar vídeos turbinando sua campanha sem apontar uso de IA, criando depoimentos de falsos apoiadores e imagens artificiais. Ou pode usar a tecnologia para atacar adversários, colocando-os em situações pouco lisonjeiras.
“Não é só uma ferramenta de sofisticação, mas de ampliação nas práticas de desinformação”, resume Carla Rodrigues, coordenadora de plataformas e mercados digitais da Data Privacy Brasil, organização que promove a proteção de dados por meio de cursos e pesquisas. Mas não está claro, por ora, de que maneira a legislação pode combater esse risco. “Como exatamente definir desinformação em uma área feita justamente para criar coisas que não existem?”, indaga Rodrigues. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) publicou, no ano passado, uma resolução que deu os primeiros passos para a regulação da IA em contexto eleitoral. Tramita, no Congresso Nacional, o projeto de lei 2338/2023, que propõe a criação de normas éticas para o uso de inteligência artificial. Ainda está em fase inicial, passando por debates numa comissão especial.
Mesmo que o projeto vá para a frente, não é exagero afirmar que viveremos, na melhor das hipóteses, um limbo no qual os deep fakes estãrao por todos os lados sem que o público tenha sido devidamente conscientizado. O que o usuário médio brasileiro pensará quando assistir, em um vídeo, a um deputado agredindo uma senhora indefesa? Ou a uma cantora injetando heroína no braço? Farsas desse tipo, que hoje já estão presentes na vida online, tendem a se tornar mais comuns e mais difíceis de identificar.
O risco não está só nos cameos de pessoas conhecidas. Vídeos de agressões a manifestantes como o the original sgt. pepper podem servir ao propósito de animar determinados grupos políticos, sobretudo quando parte do público não percebe o uso de IA (como nos comentários elogiosos ao militar de mentira e críticos ao manifestante). Nada impede a criação e a viralização de imagens falsas que mostrem, por exemplo, imigrantes cometendo crimes – um prato cheio para quem fatura politicamente com a xenofobia.
Nas páginas de apoio a Trump, não foi coincidência quando surgiram nas últimas semanas vários vídeos do tipo “manifestante se dando mal”, todos criados por inteligência artificial. O próprio presidente postou um desses no dia 18 de outubro, em que aparece despejando fezes sobre opositores durante os protestos “No Kings”, realizados naquele fim de semana em todo o país. A depender do conteúdo gerado, os internautas crédulos são muitos. Outros não o são, mas não se importam. “Isso é IA, mas é absolutamente maravilhoso”, comentou um usuário que assistiu ao vídeo do Sargento Pimenta.
Victor Calcagno. É repórter e doutorando no programa de pós-graduação em literatura, cultura e contemporaneidade da PUC-Rio, onde pesquisa literatura e cultura onlin
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15. A escala 6x1 e a escravidão
O Fim da Escala 6x1 vai Quebrar a Economia do Brasil - vídeo
O FIM da Escala 6X1 Não é uma Discussão Econômica, Marxistas no Mercado Financeiro - JK Cast
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16. Sérgio Amadeu fala sobre novo livro em que revela relação entre big techs e complexo militar
Ao Fórum Onze e Meia, sociólogo contou como chegou ao livro "As Big Techs e a Guerra Total", que será lançado nesta quarta-feira (3)
O sociólogo e pesquisador de tecnologia e soberania digital Sérgio Amadeu esteve no Fórum Onze e Meia desta segunda-feira (1°) para falar sobre seu novo livro "As Big Techs e a Guerra Total: O Complexo Militar-Industrial-Dataficado", que será lançado nesta quarta-feira (3) na Livraria Travessa, em São Paulo (mais informações abaixo).
Durante entrevista, Amadeu explicou como chegou à criação do livro e contou que, enquanto pesquisava documentos em nuvens para estudos de redes digitais e tecnologia digital, chegou a um documento da Amazon assinado por uma diretora de defesa. O sociólogo relatou que estranhou a presença de uma diretora de defesa para a Amazon e foi através de entender como a questão de segurança se envolvia com essas empresas de tecnologia.
"Eu fui atrás e descobri o movimento de trabalhadores contra, principalmente, a Amazon e a Microsoft, utilizarem a inteligência artificial para, por exemplo, mapear palestinos na faixa de Gaza. Isso antes de 2023", revelou Amadeu. Ele contou que esses trabalhadores criaram um movimento chamado No Tech for Apartheid ("Nenhuma Tecnologia para o Apartheid"), pedindo o fim do uso da tecnologia pelo Estado de Israel para promover o regime do Apartheid em Gaza.
Nessa pesquisa, Amadeu descobriu relatos de trabalhadores dizendo que cientistas de dados, engenheiros que fizeram resistência a esse sistema, foram perseguidos e, alguns, demitidos. Diante disso, o pesquisador foi atrás dos contratos militares das Big Techs e descobriu uma mudança no complexo militar industrial mundial.
Como a inteligência artificial se tornou vital nas estratégias de guerra, as Forças Armadas começaram a levar as Big Techs para o coração das decisões estratégicas e táticas da guerra. "A guerra, é uma guerra de dados também. Então, as Big Tech ocupam esse lugar. Portanto, daí esse termo que você pode estranhar, "complexo militar-industrial-dataficado". Não é só mais um complexo industrial, não é só arma, tem também essas mega infraestruturas das Big Techs", afirmou Amadeu.
"Então, é por isso que ele [livro] tem esse título, que é um título que no primeiro momento estranha, mas não tem mais guerra sem Amazon. Esse é o problema", acrescentou o sociólogo.
Amadeu finalizou afirmando que fez o livro justamente para mostrar para as pessoas que essas empresas vão muito além das experiências tecnológicas que propiciam aos internautas, mas que elas não são neutras e agem também no meio militar.
O lançamento do livro acontece na quarta (3), às 19h, na Livraria Travessa, da Rua Pinheiros, nº 513, em São Paulo, e vai contar com um debate sobre essas alterações de guerra.
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17. A neo- revolução industrial e suas consequências
Amazon planeja substituir mais de 500 mil empregos por robôs
Documentos internos mostram que empresa planeja automatizar 75% de suas operações
Segunda maior empregadora dos EUA afirma que dados estão incompletos e não representam a estratégia geral de contratações
Karen Weise, fsp, 22.10.2025
The New York Times
Ao longo das últimas duas décadas, nenhuma empresa fez mais para moldar o mercado de trabalho americano do que a Amazon.
Em sua ascensão para se tornar a segunda maior empregadora dos Estados Unidos, a companhia contratou centenas de milhares de trabalhadores de centros de distribuição, criou um exército de motoristas terceirizados e foi pioneira no uso de tecnologia para contratar, monitorar e gerenciar funcionários.
Agora, entrevistas e um conjunto de documentos internos de estratégia revelam que executivos da Amazon acreditam que a empresa está à beira de sua próxima grande transformação no local de trabalho: substituir mais de meio milhão de empregos por robôs.
A força de trabalho da Amazon nos Estados Unidos mais do que triplicou desde 2018, chegando a quase 1,2 milhão de pessoas.
Mas a equipe de automação da empresa espera que ela consiga evitar a contratação de mais de 160 mil funcionários no país até 2027 —trabalhadores que, de outro modo, seriam necessários.
Executivos disseram ao conselho da Amazon no ano passado que esperam que a automação robótica permita à empresa continuar evitando ampliar sua força de trabalho nos Estados Unidos nos próximos anos, mesmo com a expectativa de vender o dobro de produtos até 2033.
Em instalações projetadas para entregas ultrarrápidas, a Amazon tenta criar armazéns que empreguem pouquíssimos humanos. E os documentos mostram que a equipe de robótica da companhia tem como meta final automatizar 75% de suas operações.
Os documentos sugerem evitar o uso de termos como "automação" e "inteligência artificial" ao discutir robótica, preferindo expressões como "tecnologia avançada" ou substituindo a palavra "robô" por "cobot" —uma forma de sugerir colaboração com humanos.
Desde a compra da fabricante de robôs Kiva, em 2012, a Amazon vem ampliando seu projeto de automação
Segundo Tye Brady, diretor de tecnologia da Amazon Robotics, todas as operações da empresa foram divididas em seis áreas: movimentação, manipulação, triagem, armazenamento, identificação e empacotamento.
"Queremos ter capacidade de ponta em cada uma delas", disse.
No centro de distribuição mais avançado da empresa, em Shreveport, Louisiana, os funcionários tocam nos produtos apenas em poucas etapas, como ao retirá-los das caixas e colocá-los nas bandejas. Depois disso, o braço robótico Sparrow escolhe um item e o transfere para outro recipiente.
O braço Robin coloca os pacotes em robôs Pegasus, que os encaminham para os dutos corretos conforme o destino. Abaixo, um robô maior, Cardinal, empilha as caixas com precisão "como num jogo de Tetris", disse Abhishek Gowrishankar, gerente da instalação.
Um robô chamado Proteus passa por baixo dos carrinhos e os leva até as docas de envio, desenhando um sorriso luminoso quando se aproxima de trabalhadores.
Nos últimos anos, a empresa reformulou seus principais centros de distribuição. A mudança mais importante foi no armazenamento e movimentação dos itens. Antes, produtos ficavam em torres de nichos de tecido, e os funcionários precisavam vasculhar para achar o item certo.
Agora, com o sistema Sequoia, os nichos foram substituídos por caixas plásticas que deslizam mecanicamente em estruturas, permitindo que câmeras identifiquem o conteúdo e braços robóticos o movimentem com ventosas.
"Essa mudança simplifica o trabalho e aumenta a eficiência e a segurança", disse Udit Madan, chefe de operações da Amazon.
"Ninguém tem o mesmo incentivo que a Amazon para encontrar uma maneira de automatizar", disse Daron Acemoglu, professor do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) que venceu o Prêmio Nobel de economia no ano passado.
Se os planos se concretizarem, "um dos maiores empregadores dos Estados Unidos se tornará um destruidor líquido de empregos, não um criador líquido", afirmou Acemoglu.
A Amazon disse que os documentos vistos pelo Times estavam incompletos e não representam a estratégia geral de contratações da empresa. Kelly Nantel, porta-voz da Amazon, observou que a companhia planeja contratar 250 mil pessoas para a próxima temporada de festas.
"Ter eficiência em uma parte do negócio não conta toda a história sobre o impacto total que isso pode ter", disse Udit Madan, que lidera as operações globais da Amazon, "seja em uma comunidade específica ou para o país como um todo."
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18. Justiça absolve réus por incêndio no Ninho do Urubu, do Flamengo
Caso aconteceu em fevereiro de 2019 e provocou a morte de dez adolescentes
Ministério Público havia pedido a condenação dos sete réus, agora absolvidos
Cristina Camargo, fsp, 21.10.2025
O juiz Tiago Fernandes de Barros, da 36ª Vara Criminal do Rio de Janeiro, absolveu nesta terça-feira (21) sete pessoas acusadas pelo crime de incêndio culposo ocorrido no Ninho do Urubu, como é conhecido o Centro de Treinamento Presidente George Helal, que pertence ao Flamengo.
O incêndio, em fevereiro de 2019, provocou a morte de dez adolescentes e causou lesões corporais em outros três. Todos eram jovens atletas do clube.
A absolvição é baseada na "ausência de demonstração de culpa penalmente relevante e na impossibilidade de estabelecer um nexo causal seguro entre as condutas individuais e a ignição".
Foram absolvidos Márcio Garotti, diretor financeiro do Flamengo, Marcelo Maio de Sá, diretor adjunto de patrimônio, Claudia Pereira Rodrigues, responsável pela assinatura dos contratos, Danilo Duarte, engenheiro, Weslley Gimenes, engenheiro, Fábio Hilário da Silva, engenheiro, e Edson Colman, sócio da empresa responsável pela manutenção dos aparelhos de ar condicionado
O Ministério Público havia pedido a condenação dos sete réus após ouvir 40 testemunhas na longa instrução criminal, que durou quatro anos desde que o caso foi denunciado à Justiça, em janeiro de 2021.
Onze pessoas chegaram a ser denunciadas à Justiça, mas as denúncias contra dois dos acusados foram rejeitadas porque eles não estavam vinculados ao fato; outro foi absolvido sumariamente pelo entendimento de que suas ações não contribuíram para o crime e um quarto, o ex-presidente do Flamengo Eduardo Bandeira de Mello, atingiu a idade prevista no Código Penal que daria o direito à redução de sua pena, o que resultou na prescrição do caso.
Incêndio no Ninho do Urubu - fotos
Os réus absolvidos são pessoas que ocupavam cargos com ingerência no CT, eram responsáveis pelos contêineres destinados a alojar os adolescentes e também pela manutenção dos aparelhos de ar-condicionado.
Para o Ministério Público, a tragédia poderia ter sido evitada. O processo criminal apontou que o CT funcionava sem alvará devido à ausência de certificado de aprovação emitido pelo Corpo de Bombeiros. O local, segundo a promotoria, já havia sido interditado e autuado várias vezes.
Irregularidades elétricas e falta de manutenção preventiva nos aparelhos de ar-condicionado são algumas das falhas apontadas pela investigação. O incêndio, segundo o órgão, começou devido a curto-circuito no interior de um dos aparelhos de ar-condicionado.
Além disso, os contêineres que funcionavam como alojamentos tinham uma janela gradeada por quarto, portas de correr que emperraram durante o incêndio e uma única porta de saída descentralizada e distante do quarto 1, onde os dez jovens morreram. Tudo isso dificultou a fuga dos adolescentes.
Não havia um sistema de combate a incêndios e existiam no interior das chapas de aço material sem tratamento antichamas. Esse material, de alta inflamabilidade, causou o desenvolvimento rápido do incêndio, conforme mostrou a perícia técnica.
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19. Inteligência Artificial e o futuro do trabalho, com Atahualpa Blanchet - vídeo
Atahualpa Fidel Perez Blanchet Coelho
“O capitalismo nunca nos decepciona” @carjr1569
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20. Milhares saem às ruas nos EUA em protesto contra Trump
DW, 18/10/2025
Sob o lema "No Kings", organizadores esperam bater recorde de público dos protestos de junho, que reuniram 5 milhões. Cidades na Europa também tiveram atos.
Milhares de pessoas saíram às ruas nos Estados Unidos neste sábado (18/10) para protestar contra o que consideram uma escalada autoritária do presidente Donald Trump, no que promete ser o maior protesto contra o republicano desde o início de seu mandato, em janeiro.
Mais de 2,6 mil atos foram convocados por cerca de 200 organizações em todos os 50 estados do país, sob o lema "No Kings" ("Não queremos reis"). Uma rodada anterior de protestos, em 14 de junho, tinha 2,1 mil atos programados e reuniu cerca de cinco milhões de pessoas, segundo os organizadores.
Esta é a terceira mobilização em massa desde o retorno de Trump à Casa Branca e ocorre em meio a uma paralisação do governo que já entrou em sua terceira semana. A paralisação, além de fechar programas e serviços federais, testa o equilíbrio entre os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário e ameaça, segundo os organizadores, colocar o país na rota do autoritarismo.
O clima no país é de crescente tensão política também pela decisão de Trump de mobilizar militares em várias cidades governadas pela oposição democrata, sob o argumento de combater o crime e apoiar o trabalho dos agentes de imigração.
A pauta dos manifestantes é diversa. Eles se opõem às operações para prender imigrantes nas ruas, cortes na saúde, à presença de militares nas cidades e às modificações dos distritos eleitorais, feitas para tentar garantir uma vitória do Partido Republicano de Trump nas eleições de meio de mandato de 2026.
Protestos também na Europa
Entre os pontos mais emblemáticos de concentração dos manifestantes destacam-se a Times Square, em Nova York; o Capitólio, em Washington; e o centro de Chicago, onde nas últimas semanas foram registrados protestos contra operações para prender imigrantes irregulares.
Também foram convocados protestos em cidades como Atlanta, Boston, Honolulu, Houston, Nashville, Nova Orleans, San Diego e San Francisco. Houve ainda algumas concentrações de solidariedade em cidades europeias, como Berlim, Paris e Roma.
Trump passa o dia em sua mansão privada de Mar-a-Lago, na Flórida, sem agenda oficial, e deve retornar a Washington só no domingo.
Até a publicação deste texto, os protestos transcorriam pacificamente. No entanto, vários líderes republicanos advertiram para possíveis distúrbios e o governador do Texas, Gregg Abbott, aliado de Trump, ordenou a mobilização da Guarda Nacional em Austin para prevenir atos violentos.
O presidente da Câmara dos Representantes, o republicano Mike Johnson, disse que os protestos eram uma demonstração de "ódio contra os Estados Unidos", liderada, segundo ele, por simpatizantes do Hamas e membros do movimento antifascista (Antifa), declarado recentemente como grupo terrorista por Trump.
O nome do movimento "No Kings" alude à percepção de que o presidente age como um monarca e lembra que os Estados Unidos foram fundados em 1776 com base na rejeição ao poder absoluto de um soberano.
"Dizem que me comporto como um rei. Não sou um rei", afirmou Trump em uma entrevista à emissora Fox News veiculada na sexta-feira.
Trump sugeriu ainda que os democratas atrasaram as negociações para destravar o orçamento do governo, paralisado desde 1º de outubro, para incitar os protestos.
Já os democratas dizem pressionar por mais recursos para a saúde e acusam Trump de violar a Primeira Emenda da Constituição, que protege a liberdade de expressão, por supostamente tentar calar vozes críticas ao seu governo – como quando a Casa Branca pressionou para cancelar o programa do comediante Jimmy Kimmel por zombar da reação republicana ao assassinato do ativista Charlie Kirk em setembro. O programa acabou voltando ao ar uma semana depois.
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21. Vento de proa na diplomacia
Vento de proa na diplomacia - 18/10/2025 - Muniz Sodré - Folha
Toda identidade é uma ilusão que produz efeitos reais, demarcatórios, com eventual papel político num contexto opressivo
Obsessão com marcadores (cor, religião, gênero) é autodefesa regressiva de vozes minoritárias
Para uma parcela atenta da comunidade afro-brasileira, foi auspiciosa a entrega das credenciais do diplomata Silvio Albuquerque como novo embaixador brasileiro ao rei Filipe da Bélgica. Em princípio, uma cerimônia protocolar.
Entretanto, reiteração histórica de meados do século 19, quando o baiano Francisco Jê Acaiaba Montezuma credenciou-se como ministro plenipotenciário (embaixador) junto ao Império Britânico. Um descompasso revelador: foram necessários dois séculos para que um homem negro voltasse a representar o Brasil num país europeu.
Nesse longo intervalo houve a nomeação de Raymundo Souza Dantas por Jânio Quadros (1961) para embaixador em Gana. Não era diplomata de carreira. A amargura pontua seu balanço do périplo africano: "Procuram criar toda espécie de obstáculos em meu caminho, dificultando ainda mais o desempenho de funções que já são difíceis por natureza (...) Sei que não conto com quem quer seja no Brasil, que no Itamarati não tenho cobertura, que o presidente da República nem se lembra de suas Missões em África, que ninguém nos atribui importância."
Isso é racismo: espelhamento social do sonho elitista de uma sociedade com povo uno e depurado da "mancha da escravidão" (expressão de Ruy Barbosa). Na tradição "estética" da seleção para a carreira diplomática, a regra interna era a imagem do Brasil como país de "belos homens brancos", palavras do Barão do Rio Branco, o patrono. A regra foi depois modulada por raça como obstáculo à visibilidade aceitável. Deslocou-se feiura para cor da pele.
Nenhum identitarismo nos dois episódios, em que agora o passado se projeta positivamente no presente. Francisco Jê era homem público de elevada formação acadêmica, pertencente à elite negra no Segundo Reinado. Sílvio Albuquerque, intelectual da nova geração, teve desempenho notável à frente da embaixada do Brasil no Quênia, a maior economia da África Oriental e Central. Não precisaram de legitimação identitária para o reconhecimento oficial de suas altas competências.
Isso suscita ponderação. Toda identidade é uma ilusão que produz efeitos reais, demarcatórios, com eventual papel político num contexto opressivo. Mas a obsessão com marcadores (cor, religião, gênero, nação) é autodefesa regressiva de vozes minoritárias, um bunker sem pontes. A fixação num único critério cultural paralisa o pensamento crítico. Detrás dessa ilusão, entretanto, podem agitar-se a realidade e o etos de uma justa luta civil, não subsumida à luta de classes, pois esse conceito não esgota o de relação racial. É quando identidade funciona como degrau tático.
Dessa movimentação emancipatória surgiram os compromissos assinados pelo Brasil na Terceira Conferência Mundial contra o Racismo, em Durban, na África do Sul, em 2001. Igualmente, políticas de ação afirmativa. É luta necessária porque a dimensão racista do poder se expande no mesmo passo da política de direita. Daí a relevância dos ventos de diversidade na visibilidade externa, quando o Brasil mostra a sua cara. Um tapa no pacto machista de branquitude em torno do STF: é a vez da mulher!
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22. Hora de descancelar Carlitos
Hora de descancelar Carlitos - 18/10/2025 - Ruy Castro - Folha
Mostra integral de Chaplin no CCBB de São Paulo não tem uma sessão perdível
Hollywood o enxotou como comunista; mas, se os críticos o esquecem, é mentira que cinema seja uma arte
Imagine um homem que, por metade do século 20, foi um dos três ou quatro gênios de seu tempo – os outros, Freud, Einstein, talvez Picasso — e, aos poucos, foi sendo esquecido até se tornar quase ignorado. O artista é Charles Chaplin, criador de Carlitos e de tantos momentos nos filmes que realizou, de 1914 até 1952, e que por si justificariam a invenção do cinema.
A enquete mundial da revista inglesa Sight & Sound sobre os maiores filmes da história, feita a cada dez anos, é significativa. Na primeira, em 1952, Chaplin teve dois filmes empatados em 2º lugar, "Luzes da Cidade" (1931) e "Em Busca do Ouro" (1925), e outros quatro nos 100 mais: "O Garoto" (1921), "Tempos Modernos" (1936), "O Grande Ditador" (1940) e "Monsieur Verdoux" (1947). Isso refletia sua importância para a arte e até para o entendimento do homem num mundo novo e hostil. Humanistas, marxistas, psicanalistas, poetas e teólogos o estudavam. Mas, nas enquetes seguintes, seus filmes foram perdendo terreno. Na última, de 2022, "Luzes da Cidade" estava em 36º lugar, Tempos Modernos", em 81º, e os outros se evaporaram.
Daí a importância da "Mostra Chaplin" que o CCBB está levando em São Paulo até 2 de novembro. Inclui todos os 83 filmes de Chaplin, com as obras-primas entre os curtas, como "À Uma da Madrugada" e "Casa de Penhores" (1916), "Rua da Paz" e "O Imigrante" (1917), "Os Clássicos Vadios" (1921), "Pastor de Almas" (1923) e muitos mais, como complemento dos imortais médias e longas. Não há sessão perdível na mostra.
Chaplin foi um pioneiro do cancelamento. Nos anos 1950, o macartismo o enxotou como comunista e porque, britânico de nascimento, nunca se tornara cidadão americano. Ele marchou para a Suíça e só voltou aos EUA 20 anos depois, para receber um Oscar honorário que não pedira. Mas os críticos já o haviam abandonado como criador. Por quê? Seus filmes tinham ficado superados?
Se não gostam de Chaplin, tudo bem. Mas, se Carlitos for cancelado, é mentira que o cinema seja uma arte.
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23. A escalada militar de Trump contra a Venezuela repete o modelo da Guerra do Iraque
Com cerco naval, bombardeiros e assassinatos, EUA reacendem a Doutrina Monroe e ameaçam repetir contra a Venezuela o desastre do Iraque
Manolo De Los Santos, Globetrotter, 16 de outubro de 2025
clima no Caribe torna-se cada vez mais tenso à medida que os Estados Unidos intensificam suas ameaças militares. Sob o manto ardiloso da “guerra contra as drogas”, os Estados Unidos estão executando ativamente um plano de intervenção militar na Venezuela, empregando força letal e projetando poder de uma maneira que as instituições jurídicas e os líderes regionais condenaram como uma profunda ameaça à ordem internacional. Essa agressão não é uma operação de execução da lei; é a negação da lei, um renascimento neocolonial da Doutrina Monroe, projetado para destruir a soberania da Venezuela, assumir o controle das maiores reservas de petróleo do mundo e instalar um regime complacente no país.
Licença para matar: o precedente do assassinato estatal
Uma assustadora adoção da violência extrajudicial marca a atual escalada contra a Venezuela. O governo Trump ordenou ataques militares unilaterais contra embarcações privadas perto da costa venezuelana, supostamente para impedir o tráfico de drogas. Para lançar esses ataques alarmantes, as Forças Armadas dos EUA posicionaram uma enorme força naval com navios de guerra, drones e forças de operações especiais.
Esses ataques resultaram na execução sumária de pelo menos 27 pessoas, segundo relatos recentes. O ataque letal mais recente no Caribe resultou na “eliminação” de mais 6 pessoas. Não se trata de aplicação da lei; é assassinato extrajudicial, e uma campanha que agora faz parte de um plano de guerra contra a Venezuela. O governo caracterizou as vítimas, sem provas confiáveis, como traficantes de drogas e “terroristas”, uma alegação que, mesmo que verdadeira, não dá autoridade legal ao presidente dos EUA para executar quem quer que ele decida.
Organizações jurídicas e de direitos humanos têm sido inequívocas em sua condenação a essa política profundamente perigosa, que substitui os procedimentos estabelecidos de aplicação da lei por força letal premeditada. A Ordem dos Advogados da Cidade de Nova York (NYCBA), uma voz importante na área da ética jurídica internacional, denunciou veementemente essas ações.
A NYCBA afirmou explicitamente que “como os recentes ataques a embarcações venezuelanas e suas tripulações não foram autorizados pela lei dos EUA e violaram o direito internacional vinculativo, foram execuções sumárias ilegais – assassinatos”. Argumentaram ainda que essas ações violam o princípio internacional fundamental de que “ninguém será arbitrariamente privado de sua vida”, nos termos do Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos.
O governo dos Estados Unidos possui ampla autoridade legal para que a Guarda Costeira intercepte e revista embarcações suspeitas de transportar narcóticos, seguidas de processo judicial nos tribunais dos Estados Unidos, de acordo com os requisitos do devido processo legal. No entanto, no caso das embarcações venezuelanas, a função policial da Guarda Costeira, autorizada pelo Congresso, foi ignorada; em vez disso, as tripulações foram simplesmente alvejadas e executadas por uma força militar avassaladora.
Líderes regionais, incluindo o presidente colombiano Gustavo Petro, condenaram as execuções extrajudiciais, ressaltando a profunda preocupação em toda a América Latina com o retorno às aç militar unilateral dos EUA sob o pretexto da política antinarcóticos.
Escalada: B-52s e a ameaça de guerra
Além dos ataques letais, o governo dos EUA se envolveu em uma manobra militar expressiva que representa um desafio direto à soberania venezuelana. O avistamento de bombardeiros B-52 dos EUA no espaço aéreo venezuelano, voando a curta distância, é uma escalada significativa. Tal belicismo não tem nada a ver com a “guerra às drogas”, mas tudo a ver com a mudança de regime para saquear o petróleo da Venezuela. Essa pressão imprudente em favor da guerra é um ato criminoso de agressão internacional.
Os ataques unilaterais com drones da administração Trump no Caribe, combinados com o encerramento de todas as negociações com a Venezuela pela Casa Branca, parecem ser um precursor de uma operação de mudança de regime em grande escala. Este é um momento crítico. Devemos soar o alarme: há o risco de um novo conflito catastrófico na região.
Os próprios funcionários do governo dos EUA continuam a agravar a crise com retórica e ações belicosas. O secretário de Estado Marco Rubio, um dos principais arquitetos dessa política de mudança de regime, tem se recusado consistentemente a descartar uma opção militar, afirmando que o regime de Maduro se tornou uma “ameaça para a região e até mesmo para os Estados Unidos”.
A resposta da Venezuela tem sido uma defesa, baseada em princípios, de sua soberania. Seu embaixador na ONU, Samuel Moncada, tem repetidamente soado o alarme no cenário global, argumentando que o posicionamento de tropas americanas no Caribe é uma operação de propaganda em grande escala que busca “desculpas para fabricar um conflito” a fim de se apoderar da riqueza petrolífera do país. Moncada afirmou que “os Estados Unidos acreditam que o Caribe lhes pertence porque vêm utilizando a expansionista Doutrina Monroe há mais de 100 anos, que nada mais é do que um resquício do colonialismo”.
O presidente Nicolás Maduro pediu a Washington que retome o diálogo, afirmando: “nossa diplomacia não é a diplomacia dos canhões, das ameaças, porque o mundo não pode ser o mundo de 100 anos atrás”, ao mesmo tempo em que mobilizou exercícios de defesa nacional para garantir que o país esteja preparado para qualquer ataque direto. A NYCBA alertou que os ataques contra embarcações venezuelanas e as ameaças relatadas contra o governo venezuelano violam as obrigações dos EUA nos termos da Carta das Nações Unidas, com o risco de escalar para hostilidades abertas.
Paralelos com a Guerra do Iraque: petróleo, ideologia e engano
A situação atual é assustadoramente semelhante ao período que antecedeu a invasão do Iraque em 2003.
Naquele caso, o governo Bush justificou a ação unilateral com base em “armas de destruição em massa”, mas isso foi um pretexto. Os verdadeiros objetivos não se limitavam ao petróleo, mas incluíam também atingir metas ideológicas e políticas profundas – derrubar um governo para remodelar a política do Oriente Médio e impor seu domínio.
Washington deve aprender com as lições da história. O governo Bush prometeu uma vitória rápida no Iraque. Em vez disso, as invasões e a ocupação ceifaram inúmeras vidas iraquianas, resultaram em dezenas de milhares de soldados americanos mortos ou feridos e desestabilizaram a região. A noção de que os EUA podem realizar invasões militares no coração da América Latina sem um grande impacto negativo é absurda.
No caso da Venezuela, a “guerra contra as drogas” e a rotulação do governo como uma “ameaça” servem como novos pretextos retóricos. O interesse dos EUA é multifacetado: envolve garantir as maiores reservas comprovadas de petróleo do mundo e alcançar o objetivo ideológico e político de derrubar um governo socialista para impor o seu domínio e remodelar a política latino-americana. Os EUA buscam desmantelar a Revolução Bolivariana e eliminar um importante centro de política anti-imperialista no hemisfério.
A escalada atual não se trata de aplicação da lei ou combate às drogas; trata-se de mudança de regime e pilhagem. Embora membros do Congresso dos partidos Democrata e Republicano, bem como vozes importantes da opinião pública, estejam cada vez mais se manifestando quanto à ilegalidade desses ataques e a ausência de informações confiáveis por parte do governo, essa situação requer muito mais urgência, pois, uma vez que a escalada for iniciada, pode não haver volta. A comunidade internacional deve reconhecer essa campanha agressiva pelo que ela realmente é: um ato criminoso de agressão internacional. O mundo deve se posicionar contra a ameaça de um novo conflito catastrófico.
O Globetrotter é um serviço independente de notícias e análises internacionais voltado aos povos do Sul Global.
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24. Lula fere a Palestina de morte
Ao dizer que Brasil tem problema com Netanyahu, e não com Israel, presidente comete três erros e um pecado
Contribui com a confusão, prejudicial aos judeus e instrumental para os sionistas, de que Israel e judaísmo são uma única e mesma coisa
Salem Nasser, fsp, 15.10.2025
Salem Nasser: Professor de direito internacional da FGV-SP; publica a Newsletter "Cegueira Seletiva" no Substack.com
É verdade que o presidente Lula foi um dos poucos governantes que chamaram o que acontecia na Faixa de Gaza pelo seu nome: genocídio. Penso que um país que se orienta pelo princípio da primazia dos direitos humanos deveria ter cortado relações com o Estado genocida. Ainda que o governo Lula não o tenha feito, o presidente e o Brasil continuaram a ser vistos como aliados da questão palestina e como vozes que se elevavam contra o sofrimento dos palestinos.
Mas, desde Roma, onde se encontrava com o papa, Lula desferiu contra os palestinos, de Gaza, da Cisjordânia e do resto do mundo, um golpe injusto.
Em Gaza, no mesmo momento, depois de dois anos de genocídio ininterrompido, os palestinos festejavam o cessar-fogo; caminhavam às centenas de milhares em direção às cidades e casas que já não existem; recepcionavam seus pais, filhos e irmãos liberados das prisões israelenses; e preparavam-se para procurar os corpos dos milhares de parentes soterrados sob os escombros.
Justamente nessa hora histórica, o ápice de uma resistência épica, os palestinos ouviram de Lula que ele não tem qualquer problema com Israel; que o problema dele era Binyamin Netanyahu; que antes tínhamos relações normais!
O contexto nos permite interpretar assim a fala: Lula tem um problema com o genocídio em Gaza, mas não responsabiliza Israel, o Estado, pela matança; joga toda a culpa sobre o primeiro-ministro e seu governo.
Reféns são recebidos em Israel, e prisioneiros palestinos, na Cisjordânia e Faixa de Gaza -fotos
Ao fazer isso, comete três erros e um pecado.
Primeiro, ao sugerir que a política de Netanyahu não tem o apoio da população de Israel e que essa mesma política não seria a do Estado como um todo, Lula comete um erro factual. Ignora as evidências e tudo o que se sabe sobre a opinião pública israelense.
Segundo, ao dizer que não tinha qualquer problema com Israel e logo complementar com a afirmação de que muitos judeus eram contra o que o Netanyahu estava fazendo, Lula contribui com a confusão, prejudicial aos judeus e instrumental para os sionistas, de que Israel e judaísmo são uma única e mesma coisa.
Terceiro, ao confinar seu problema a Netanyahu e ao genocídio presidido por ele, Lula parece esquecer muito da história. Na verdade, acaba contribuindo para a naturalização da ideia de que a história começou em 7 de outubro de 2023; de que, antes desta data, mesmo sendo governado por Netanyahu durante 16 dos últimos 31 anos, Israel era um país normal, com quem se podia ter relações normais. E da ideia de que tudo ia bem na Palestina.
Palestinos deslocados voltam para suas casas após cessar-fogo entre Israel e Hamas - fotos
Lula está dizendo, então, que não tem problema com o Israel que ocupa os territórios internacionalmente reconhecidos como sendo palestinos (o território daquele Estado da Palestina que o próprio Lula reconheceu em 2010). Que não tem problema com o Israel do apartheid que, depois de décadas de atraso, as organizações internacionais de direitos humanos hoje reconhecem em uníssono. Que não tem problema com o Israel da limpeza étnica da Palestina, um processo iniciado em 1948, que segue em curso até hoje e foi acelerado nos últimos dois anos. Que não tem problema com o Israel dos assentamentos ilegais e da substituição dos habitantes históricos, palestinos, por colonos judeus importados do mundo inteiro. Em suma, não tem problema com o projeto colonial extemporâneo e absurdo que é Israel.
Palestinos enfrentam fome severa em meio ao conflito em Gaza - fotos
Leia mais aqui
O pecado está em não ver, em não reconhecer, em fazer esquecer por que razão os palestinos suportaram, como teria feito o Cristo, esse grande palestino, a paixão que lhes foi imposta. Eles pagaram com o sangue e a carne de dezenas de milhares de seus filhos, suas crianças, suas mulheres, seus homens; passaram fome e sede; tiveram suas casas e vidas destruídas, seus hospitais e suas escolas obliteradas.
Ofereceram tudo isso para que o mundo, finalmente, começasse a enxergar, não só o genocídio atual, mas também a injustiça histórica: a ocupação, o apartheid, a limpeza étnica, a colonização, o caráter racista do projeto israelense.
Não, presidente Lula, não. A sua história pede, exige, que você tenha um problema com Israel
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25. Bundas-comodites
TARIFAÇO CONTRA A CHINA FORTALECEU O AGRO DO BRASIL - vídeo
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26. Nobel palestino, acordo de paz e o papel dos EUA na crise de Gaza - José Arbex - vídeo
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27. Inflação da energia elétrica residencial já está em mais de 10% | Clarice Ferraz - vídeo
Para evitar apagão, Brasil corta energia renovável e aciona termelétricas: entenda paradoxo do sistema elétrico
Cortes obrigam parques eólicos e solares a parar a geração e causam prejuízo bilionário aos setores. Tendência é que as interrupções aumentem antes de diminuir, diz Operador Nacional do Sistema Elétrico.
Por Paula Paiva Paulo, g1, 14/10/2025
O Brasil vive hoje um paradoxo em seu sistema elétrico: em alguns momentos de excesso precisa cortar a geração de energia renovável, e, em outros, aciona termelétricas, mais caras e poluentes.
🔌Os cortes na geração de energia — o chamado curtailment — estão cada vez mais frequentes e já geram prejuízos bilionários aos setores eólico e solar. E mais: segundo o Operador Nacional do Sistema Elétrico, a previsão é de que eles aumentem.
O g1 conversou com o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), representantes dos setores eólico e solar e especialistas do mercado para entender quais soluções estão sendo estudadas para diminuir os cortes.
🎯 A resposta é multifatorial — e depende de medidas a médio e longo prazo. O setor enxerga como principais saídas o investimento em baterias, o aumento do consumo e a implementação de tarifas dinâmicas. (entenda mais abaixo).
Mas por que isso está acontecendo?
💧O sistema elétrico brasileiro foi estruturado entre as décadas de 1960 e 1970, com as hidrelétricas como principal fonte. Na época, o Brasil tinha domínio da tecnologia e uma grande oferta de recursos hídricos. Era a fonte mais viável para garantir energia em grande escala.
Para levar a eletricidade das grandes usinas como Itaipu (PR) e Tucuruí (PA) para o resto do país, foi estruturado o sistema de transmissão. Ele é um grande conjunto de interconexões que liga as usinas geradoras às distribuidoras.
➡️ E há uma regra básica: só se pode gerar energia se houver consumo para absorvê-la. Ou seja, o sistema precisa estar sempre em equilíbrio.
FOTO transmissao2025aaa Sistema de transmissão brasileiro em 2025 — Foto: Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS)
Nas últimas décadas, novas fontes passaram a integrar a matriz elétrica brasileira: primeiro a eólica, no início dos anos 2000, e depois a solar. Hoje, o país tem uma matriz mais diversa e cerca de 90% renovável — uma referência mundial.
➡️No entanto, a geração de energia cresceu em um ritmo maior do que a demanda. Em certos momentos, como um feriado ensolarado, há pouca demanda e muita geração, o que pode causar sobrecarga.
💡O apagão mais tradicional acontece quando falta energia, mas o inverso — quando há excesso — também pode sobrecarregar o sistema e fazê-lo cair.
🔎Para manter o equilíbrio, quem acompanha em tempo real o que é gerado e consumido é o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). Quando há energia sobrando, ele precisa fazer os cortes de geração.
"A restrição de geração, curtailment, é um mecanismo de gestão de excedentes de energia que faz parte da operação. Não é uma escolha do ONS, mas uma medida necessária para preservar a segurança e a confiabilidade do Sistema Interligado Nacional (SIN)", afirmou o ONS em nota.
Quando isso acontece, os parques eólicos precisam parar as turbinas, assim como as grandes usinas de energia solar. Segundo a ABEEólica, o prejuízo acumulado desde 2023 chega a R$ 5 bilhões. Já a Absolar estima que a geração solar centralizada perdeu R$ 1,2 bilhão apenas este ano, até 20 de setembro. Para tentar recuperar parte das perdas, usinas dos dois setores recorreram à Justiça.
Desde 2022, os cortes têm sido cada vez maiores, e neste ano, tem ocorrido todos os dias.
De acordo com o Operador Nacional do Sistema Elétrico e a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), a tendência é que os cortes de geração de energia aumentem ainda mais.
"A tendência é o aumento das restrições de geração por razão energética (quando há mais geração do que demanda), principalmente no período diurno, entre 9h e 16h, quando a geração fotovoltaica é mais intensa", afirmou o ONS.
Em menor escala, os cortes também podem acontecer por falhas em equipamentos de transmissão ou em situações em que é preciso reduzir a geração para garantir a segurança do sistema.
Para buscar alternativas, em março o Ministério de Minas e Energia (MME) criou um grupo de trabalho com a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e o ONS. Ao g1, o MME informou que "entre as medidas já encaminhadas, estão a elaboração de diagnósticos técnicos sobre a natureza e a magnitude dos cortes, a proposição de soluções regulatórias e operacionais, além da priorização de obras de transmissão e da instalação de equipamentos que aumentem a confiabilidade da rede".
Esse não é um desafio exclusivo do Brasil. Países que também ampliaram a participação das fontes renováveis em suas matrizes elétricas, como Estados Unidos, China e Austrália, enfrentam o mesmo desafio, de redimensionar o equilíbrio entre geração e consumo.
Crescimento acelerado da ‘energia de telhado’
Especialistas do setor apontam outra causa importante para o curtailment: o avanço acelerado da Micro e Minigeração Distribuída (MMGD) - popularmente conhecida como “energia de telhado”. São os painéis solares instalados em residências e empresas, que se diferenciam da energia solar centralizada, produzida em grandes usinas.
☀️🏠A “energia de telhado” ganhou um marco legal em 2022 e, impulsionada por incentivos financeiros que garantem bom retorno aos consumidores, vem crescendo rapidamente nos últimos anos.
📈Esta modalidade já responde por 18,1% da capacidade instalada do país. E o ONS projeta que, até 2029, 24,2% da capacidade instalada do Brasil virá da geração distribuída.
Essa energia também é injetada na rede elétrica de distribuição, mas o Operador Nacional do Sistema não tem controle direto sobre ela, por isso não entra no cálculo do curtailment. Do ponto de vista regulatório, a MMGD está classificada mais como consumidora do que como geradora.
🔋 E como resolver?
A resposta número 1 para esse problema, apontada tanto pelo ONS quanto por especialistas do setor, é o armazenamento: estocar a energia gerada pelo sol e pelo vento. A tendência mundial tem sido o investimento em baterias capazes de reter eletricidade nos momentos de sobra.
"O ponto positivo é que o custo das baterias está caindo bastante, no mundo todo, muito puxado pelo mercado de veículos elétricos", explica Gustavo Ponte, superintendente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), empresa responsável por projetar e planejar o crescimento da energia no país nas próximas décadas.
Outra frente é o aumento do consumo para acompanhar a expansão da geração. Isso deve ocorrer, principalmente, por dois movimentos:
A chegada dos data centers de inteligência artificial, espaços que abrigam supercomputadores e consomem muita energia.
O avanço do hidrogênio verde, que utiliza energia limpa em sua produção.
Há também propostas de mudanças no sinal de preço, com a implementação de tarifas dinâmicas, com energia mais barata nos horários de maior geração, como entre 10h e 16h, e mais cara nos períodos de menor oferta.
Assim, o consumidor poderia economizar ao, por exemplo, ligar a máquina de lavar ou carregar o carro elétrico durante o dia.
"Um dos passos que o Brasil vai ter que enfrentar para o curtailment é uma educação do consumidor. Usar racionalmente energia é algo positivo. Não é um racionamento, esse termo ficou muito politicamente capturado. Mas deveria, como qualquer produto, ter alternativas no mercado, como essa questão do horário", disse Alexandre Viana, CEO da Envol, consultoria em energia.
A Empresa de Pesquisa Energética citou também o uso de hidrelétricas reversíveis. "É uma hidrelétrica com dois reservatórios, que bombeia a água para cima nos momentos em que está sobrando energia e turbina a água para baixo, nos momentos que você mais precisa dessa geração", explicou Gustavo Ponte.
O Operador Nacional do Sistema Elétrico estuda ainda a criação de Operadores do Sistema de Distribuição (DSO), que funcionariam como “controladores locais” do sistema elétrico, ajustando geração e consumo.
"Em paralelo, o Operador vem atuando junto com o MME, Aneel e EPE para avançar em aprimoramentos no marco regulatório e na revisão de regulamentos e de políticas públicas, para equilibrar responsabilidades, aprimorar a eficiência alocativa e garantir eficiência operacional", informou o ONS.
Também está em pauta a modernização e a expansão do sistema de transmissão. "Você tem uma tecnologia nova, num sistema antigo, então enquanto você não adaptar o sistema para essa nova tecnologia você tem um desbalanço", disse Jonathan Colombo, engenheiro e professor do MBA em ESG de Mudanças Climáticas e Transição Energética da FGV.
Uma coisa é fato: a maior participação de renováveis impõe novos desafios, mas representa um avanço importante em direção à sustentabilidade.
Para os especialistas, o Brasil está no caminho do que é considerado ideal, a combinação de diferentes fontes de energia, em vez da dependência quase exclusiva das hidrelétricas que marcou o século passado.
"Hoje é uma combinação do que a gente chama de projetos híbridos, um projeto que vai combinar várias tecnologias. Como, por exemplo, eólico com solar, ou eólico com solar e bateria. O futuro está no que a gente chama na hibridização, a combinação de várias tecnologias", disse Colombo.
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28. NOVA DISTOPIA: IA, BIG TECHS E OS DADOS DO GOVERNO - vídeo
95% das empresas que investiram em IA não aumentaram receita, diz estudo do MIT
Alessandro Martins, 23/08/2025
O Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) divulgou um relatório mostrando que 95% das empresas que investiram em inteligência artificial (IA) neste ano não registraram retorno na receita. Os dados foram reunidos janeiro e junho de 2025, após entrevistas com mais de 150 líderes e executivos, incluindo CEOs e diretores de TI.
Segundo o estudo, as companhias consultadas investiram entre 30 e 40 bilhões de dólares em IA generativa, mas apenas 2 dos 9 setores analisados mostraram mudanças estruturais significativas: tecnologia e telecomunicações.
Alta adoção, baixa transformação
Apesar de 80% das organizações adotarem ferramentas básicas, o levantamento apontou que, na maioria dos casos, elas só se mostram úteis para aumentar o desempenho pessoal dos colaboradores, gerando zero impacto no demonstrativo de lucros.
A pesquisa afirma que o motivo da discrepância se dá por conta das limitações das ferramentas de IA generativa populares, como o ChatGPT e Gemini.
“As empresas ainda usam IA generativa de forma desorganizada e individual. Elas otimizam suas tarefas, mas isso não se traduz em impacto financeiro porque processos inteiros não foram repensados”, explica Vitor Elman, copresidente da Agência Cappuccino e membro do comitê de IA da IAB Brasil, à IstoÉ Dinheiro
Organizações que demonstram rentabilidade são as que desenvolvem sistemas flexíveis, que se integram ao fluxo de trabalho e aprendem com o feedback do usuário.
Dúvidas em Wall Street
As crescentes dúvidas sobre o boom da inteligência artificial tem afetado as ações das Big Techs.
Após a divulgação do relatório, as ações da NVidia chegaram a registrar queda de 0,33% na quinta-feira, 21. Outras empresas de semicondutores também seguiram pressionadas, como a Advanced Micro Devices e a Palantir, gigante de dados que cedeu 1,10%, após afundar 9,35% na quarta-feira, 20.
Até mesmo o CEO da OpenAI, Sam Altman, alertou investidores sobre uma possível ‘bolha da IA’ “Eu acredito que alguns investidores perderão muito dinheiro e eu não quero minimizar esse impacto. É uma droga”, disse ao Financial Times
Impacto no mercado de trabalho
A pesquisa do instituto também abordou uma das grandes preocupações do mundo corporativo moderno: o impacto na força de trabalho.
“Mais de 80% dos executivos ouvidos estão antecipando a redução do volume de contratações na área de tecnologia e mídia nos próximos 24 meses”, afirma o relatório.
Mas enquanto muitos se preocupam com demissões em massa, os dados mostram que o cenário mais provável envolve o deslocamento de funções, além da necessidade de proficiência em IA para ser contratado.
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29. Grande Sertão Veredas: Antônio Cândido sobre Guimarães Rosa - vídeo
Grande Sertão Veredas: Antônio Callado sobre Guimarães Rosa - vídeo
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30. O que é REALMENTE O SIONISMO? Saiba tudo com o EXPERT Breno Altman
Historiadora Arlene Clemesha é a convidada do Dando a Real com Leandro Demori Marxismo e judaismo: história de uma relação difícil, Arlene Clemesha Boitempo, 2025
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31. A GERAÇÃO DE ADOLESCENTES FORÇADA A TRABALHAR - vídeo
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32. Não naturalizemos Maria Corina Machado
NÃO HÁ COMO DISSOCIAR A PREMIAÇÃO da crescente ameaça militar desencadeada pela Casa Branca contra a Venezuela.
Por Gilberto Maringoni, 12/10/25
Não naturalizemos o fascismo, não naturalizemos Maria Corina Machado
O NOBEL NÃO É UM PRÊMIO concedido por uma comissão multilateral de notáveis, representativa da diversidade global. Apesar das indicações para o Nobel da Paz serem feitas por governos, instituições de sociedades de todos os países e personalidades várias, a decisão final é do Comitê Nobel Norueguês, composto por cinco membros escolhidos pelo parlamento local. Ou seja, o viés final é de um país do Norte global.
ASSIM, A DISTINÇÃO É TÃO UNIVERSAL como o Oscar e o concurso de Miss Universo, ambos concedidos respectivamente pela indústria cultural e pela indústria de beleza dos Estados Unidos. Por sorte, o de Miss Universo, certame de clara inspiração machista e caudatário de padrões de beleza estabelecidos pela estética do mundo branco, entrou em franca decadência nas últimas três décadas, graças, entre outras coisas, ao avanço da luta feminista.
EMBORA FIGURAS EXECRÁVEIS como Henry Kissinger e Teddy Roosevelt já tenham sido contemplados pelo Nobel da Paz, o prêmio dado a Maria Corina Machado – personalidade da extrema-direita global e signatária de manifestos com gente da estirpe de Javier Milei, Eduardo Bolsonaro, além de notórios extremistas e sionistas – mostra algo pior.
TRATA-SE DA NATURALIZAÇÃO DO FASCISMO num grau inédito, desde os anos 1930. Adolf Hitler e Benito Mussolini, antes da II Guerra Mundial, eram personalidades de prestígio no mundo político e empresarial do Ocidente. Figuras como Winston Churchill, Henry Ford e Charles Lindbergh chegaram a expressar simpatias pelo fascismo e empresas como Volkswagen, BMW e Mercedes, além da grife Hugo Boss, viram no regime alemão a oportunidade de crescerem de forma fulgurante, através do uso da mão de obra cativa dos campos de concentração.
A VISÃO DE MUSSOLINI COMO O HOMEM que trouxe prosperidade à Itália, deu eficiência aos serviços públicos e recuperou monumentos históricos espalhou-se não apenas pelo país, mas por italianos do mundo todo. Meu bisavô, que chegou ao Brasil em 1886, voltou encantado de um périplo por seu país natal, quarenta anos depois. A miséria que conhecera na juventude parecia ter sido eliminada, contou na volta, graças à operosidade do Duce.
A NATURALIZAÇÃO E ATÉ A EXALTAÇÃO da extrema-direita como padrão de eficiência e desenvolvimento foi fundamental para sua legitimação há quase um século. O mesmo movimento avança na atualidade com a cobertura distorcida da mídia ocidental do massacre em Gaza, da visão de que Javier Milei é um campeão do mercado e de que Donald Trump pode defender o “mundo livre” da selvageria chinesa e russa.
AGORA A NATURALIZAÇÃO DO FASCISMO chegou ao Comitê do Nobel, ao premiar a extremista venezuelana. Embora Donald Trump, pessoalmente, tenha se mostrado contrariado com a escolha, a indicação partiu de um proeminente membro de sua equipe.
NÃO HÁ COMO DISSOCIAR A PREMIAÇÃO da crescente ameaça militar desencadeada pela Casa Branca contra a Venezuela. O país sofreu cinco tentativas de golpe de Estado desde 2002. A todos Maria Corina apoiou ou ajudou a articular. A ação militar representa algo inédito na América do Sul: os EUA jamais invadiram país algum do subcontinente. O que fizeram foi estabelecer alianças internas com setores empresariais, militares, religiosos, de imprensa e mesmo sindicais para fomentar articulações de ruptura institucional.
NA AMÉRICA CENTRAL o panorama foi distinto. A partir da Guerra Mexicano-Americana (1846-48), os Estados Unidos invadiram todos os países da região, alguns mais de uma vez, para depor governos, colocar títeres em palácio e para proteger seus grandes e pequenos interesses.
A ESCOLHA DE Maria Corina Machado mostra a direção do Nobel juntando-se à esquadra imperial e cumprindo a vergonhosa missão de passar o pano para o fascismo internacional. Entram no pacote dirigentes da Europa Ocidental, como Ursula von der Leyen, presidenta da Comissão Europeia, António Costa, presidente do Conselho Europeu, Friedrich Merz, chanceler alemão, Emmanuel Macron, presidente de França e Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente de Portugal, entre outros. As decrépitas metrópoles se juntam ao Império para agir nas antigas colônias.
NÃO É POSSÍVEL HESITAR. A ofensiva contra a Venezuela não diz respeito apenas àquele país. É uma grande batalha contra a dominação externa, contra a supremacia do colonialismo high-tech e em defesa da soberania de toda a América Latina. Não importa neste momento a direção política do país atacado: o perigo se coloca diante de todos. Subestimar a agressão do Norte Global em suas múltiplas facetas não nos levará a bom termo.
Gilberto Maringoni de Oliveira é um jornalista, cartunista e professor universitário brasileiro. É professor de Relações Internacionais da Universidade Federal do ABC, tendo lecionado também na Faculdade Cásper Líbero e na Universidade Federal de São Paulo.
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33. Cessar-fogo em Gaza: palestinos reencontram familiares após deixarem prisões israelenses
A libertação faz parte do acordo entre o governo israelense e o grupo Hamas, mediado pelos Estados Unidos
Por Redação, O Estado, 13/10/2025
RAMALLAH - Os prisioneiros palestinos libertados por Israel nesta segunda-feira, 13, reencontraram com suas famílias, em meio a uma multidão que os recebeu tanto na Cisjordânia quanto na Faixa de Gaza após o início de uma nova trégua no conflito.
Os prisioneiros foram recebidos por uma multidão tão numerosa que tiveram dificuldade para descer do ônibus que os trouxe das prisões israelenses até a cidade de Ramallah, na Cisjordânia ocupada.
“É um sentimento indescritível, como renascer”, declarou um dos libertados, Mahdi Ramadan, cercado por seus pais, com quem disse que passaria sua primeira noite fora da prisão.
A poucos passos dali, familiares se abraçavam, jovens choravam e encostavam as testas uns nos outros. Alguns chegaram até a desmaiar de emoção ao rever seus entes queridos depois de anos — e, em alguns casos, décadas — de encarceramento.
A multidão também entoou, em sinal de celebração, “Allahu akbar”, ou “Deus é o maior”, em árabe.
Vários ônibus com detentos também chegaram à cidade de Khan Yunis, no sul da Faixa de Gaza, em meio a gritos de alegria, informou um jornalista da AFP.
A comitiva avançava lentamente, cercada por uma multidão compacta e eufórica.
Ao descer dos ônibus, alguns dos recém-libertados cambaleavam, outros olhavam radiantes ao redor ou se ajoelhavam para beijar o chão, chorando. Em seguida, a pé, em cadeiras de rodas ou assistidos por membros da Cruz Vermelha, dirigiram-se ao pátio do complexo hospitalar Nasser.
Em um terreno baldio e arenoso, cercado por galpões, centenas de pessoas esperavam desde a manhã o retorno de seus familiares. Lá, foram recebidos com bandeiras palestinas, mas também com as verdes do Hamas e as negras do braço armado da Jihad Islâmica.
Entre os palestinos libertados em virtude do acordo de trégua negociado pelos Estados Unidos estão 250 detidos por motivos de segurança, incluindo condenados por matar israelenses, assim como cerca de 1.700 palestinos presos pelo exército israelense em Gaza.
Israel concordou em libertá-los em troca da entrega dos reféns ainda vivos na Faixa de Gaza, no âmbito da primeira fase do plano para pôr fim à guerra.
A guerra em Gaza começou após o ataque do Hamas em outubro de 2023 em Israel, que resultou na morte de mais de 1.219 pessoas, segundo um levantamento da AFP com base em números oficiais israelenses.
Em Gaza, o Ministério da Saúde controlado pelo Hamas anunciou nesta segunda-feira um balanço de 67.869 mortos na ofensiva lançada por Israel no território em resposta ao ataque de outubro de 2023.
Reencontro aguardado por décadas
Para Nur Sufan, de 27 anos, a libertação significa ver pela primeira vez seu pai, Musa, que foi preso meses após seu nascimento.
Sufan chegou a Ramallah com outros familiares saídos da cidade de Nablus, mais ao norte, e passaram a noite em seu carro esperando a liberação dos presos. “Nunca vi meu pai (...) É um momento muito bonito”, disse Sufan.
Assim como ele, muitos vieram de todas as partes da Cisjordânia, apesar das restrições às viagens no território.
Os meios de comunicação palestinos reportaram no domingo que as autoridades israelenses tinham pedido aos familiares dos presos para se absterem de comemorações pela libertação. “Não são permitidas recepções, nem comemorações, nem reuniões”, disse Alaa Bani Odeh, que veio de Tammun, no norte da Cisjordânia, para buscar seu filho de 20 anos, preso há quatro.
A AFP falou com vários presos que descreveram os mesmos planos para suas primeiras horas fora da prisão: ir para casa e ficar com a família. “Os prisioneiros vivem da esperança (...) Voltar para casa, para nossa terra, vale todo o ouro do mundo”, disse um dos presos libertados, Samer al Halabiyeh.
“Se Deus quiser, a paz vai prevalecer e a guerra em Gaza vai terminar”, acrescentou. “Agora, só quero viver a minha vida”./ AFP




















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