segunda-feira, 10 de fevereiro de 2025

Três filmes do Oscar 2025: Anora, A substância e Emilia Pérez

Até nesta data, assisti aos seguintes filmes do Oscar 2025: Anora, A substância, Emilia Pérez, Ainda estou aqui, A garota da agulha e Nosferatu

Sobre Anora, A substância, Nosferatu e A garota da agulha leia resenhas e críticas aqui . Ainda estou aqui idem aqui 

A seguir uns pitacos sobre três filmes que me impactaram por diversos detalhes relevantes. As ideias, os argumentos e as criações fílmicas.

Anora

Anora tem algo da screwball comedy, ou comédia “louca” de Preston Sturges (1898-1959).  Na primeira parte do filme. Na segunda um drama que tem uma temática classista tipo ‘os de cima sobe, os de baixo desce’. Tudo como dizer à Ani (personagem central do filme), não se meta a sonhar em estar como os “de cima”, sua pentelha, fique no seu lugar. A cena final do filme é de uma impactante clareza sobre.

Sean Baker fez coisa parecida em Projeto Flórida, The Florida Project, 2017. A cena final explica o filme.

No esquema de submissão de classes, a felicidade é magia e sonho aos marginalizados. Anora faz um comentário de classes a partir de uma das mais marginalizadas das profissões, um romance jovem que já nasce comprado pelo poder. Acreditar que ele persistiria isento de julgamentos e choques de realidade é o sonho que Ani pagou caro por sonhar. Caiu, de fato, em queda livre – ou melhor, foi lançada pelo sistema de volta ao seu lugar. O choro desconsolado de Anora não a restaura, não devolve tudo aquilo que a vemos perder. Pelo contrário, faz questionar ainda mais a (im)pertinência do humor quando ele deixa de ser bem-vindo, bem como a humanização de homens violentos e opressores. Natália Bocanera

A substância

Neste filme de Coraline Fargeat (direção e roteiro) diz para aquelas mulheres com o corpo no pós 50 anos: insatisfeitas, colegas? Então vou te dizer o que penso. E depois te jogarei no lixo. É um filme trash maravilhoso. Cirúrgico e metafórico.

(...) o longa de Fargeat subverte todas as apostas ao mergulhar fundo no cinema de gênero, mais especificamente no horror, no body horror e, por que não, no mais absoluto cinema trash, se afastando cada vez mais do dito “cinema de prestígio” em direção a uma abordagem formal que explicita a sátira mordaz a Hollywood, à televisão e aos padrões estéticos que esgarçam vidas e carreiras de mulheres há séculos. (...) “A Substância” é chocante, triste e irônico, às vezes ao mesmo tempo. Hollywood sempre esteve e ainda está pronta para seu close-up, mas o que vemos nunca foi tão monstruoso. Lucas Oliveira 

Emilia Pérez

Emilia Pérez é um daqueles filmes únicos, corajosos, surpreendentes e hipnotizantes que só aparecem muito de vez em quando na Sétima Arte, especialmente nos dias atuais de muito volume e qualidade mediana.
Diria até mesmo que a produção franco-belga comandada por Jacques Audiard em seu primeiro longa em espanhol que, em Cannes, levou tanto o Prêmio do Júri como a Palma de Ouro de Melhor Atriz pelo conjunto das quatro atrizes centrais, é uma joia tão rara que o espectador se beneficiaria mais se não procurasse saber nada, nem mesmo a sinopse, sobre ela para além do que escrevo neste parágrafo inicial. Não é que o desconhecimento sobre o filme seja condição para apreciá-lo, pois isso seria estupidez de minha parte, mas tenho para mim que obras como essa que se enquadram tão redondamente no conceito indefinível de Magia do Cinema, ganham uma camadinha extra de deslumbramento quando o espectador simplesmente mergulha nela na mais completa ignorância.(...)
Emilia Pérez é, portanto, uma experiência audiovisual inesquecível do começo ao fim que funciona sem engasgues como thriller de crime, como musical, como drama, como crítica social, como aprendizado e como plataforma para quatro atrizes se reinventarem. Jacques Audiard criou algo único e que renova aquela sensação de que o Cinema é para ser, no fundo, um instrumento disruptivo, tão destruidor quanto criador e que existe, acima de tudo, para fascinar. (...)

Mesmo assim, nada prepara o espectador para a proposta em si, que vem logo em seguida em um caminhão escuro que é o quartel-general móvel de Manitas, um homem corpulento, de voz espessa, todo tatuado, com barba desgrenhada e dentes prateados que é vivido assustadoramente bem por Karla Sofía Gascón, atriz espanhola abertamente trans que, para essa parte do longa, teve que passar por um muito convincente “processo de reversão” graças ao extenso uso de maquiagem e iluminação limitada, mas perfeitamente lógica dadas as circunstâncias, por parte do diretor de fotografia Paul Guilhaume. Ritter Fan 

NB1 – Karla Sofía Gascon, por esta interpretação, deveria ganhar o Oscar como melhor atriz. Chance? 1%. Um delírio: Karla ganhando e o discurso dela. Aí cabron (Trump), estamos aqui. Existe mulher e homem, além de transexuais, lésbicas, gays, bissexuais, queer, intersexuais, assexuais. LGBTQIA+ presente.

 NB2 - Emilia Pérez e a soberba intelectual da crítica de cinema 

A soberba, neste vídeo, fica um pouco pelas críticas favoráveis ao filme Emilia Pérez (logo após o Festival de Cannes - 2024) de Dalenogare e Paulo Vilaça 

Face a histeria em que se tornou conversar sobre o filme protagonizado por  Karla Sofía Gascon, uma atriz trans, resolvi dar uma olhada nos comentários do vídeo acima citado. Todos concordando com o youtuber de nome Hugo. Com uma exceção que transcrevo abaixo.

Resumo da ópera. Não tem como passar por esta polêmica sem mencionar uma escabrosa constatação. Tem muito e muito de transfobia.

@Hugo-xe8rn

Wue opiniãozinha besta, hein Hugo?! Levando em consideração a avaliação do público que ja não avalia o filme, mas sim a polêmica. E no caso dos brasileiros, a avaliação é totalmente passional! Pare de ser um populista! Os críticos estudaram pra fazer críticas! Vc está parecendo um negacionista científico! Ah, as o grande público não acredira em aquecimento global, mas

@Hugo-xe8rn

A crítica está falando do filme! É um bom filme, nota 7. A insatisfação dos mexicanos com o filme é outra coisa. O povo mistura as polêmicas e a falta de representatividade dos mexicanos com a avaliação do filme, mas uma coisa não tem nada a ver com outra. O filme é uma obra artística. Seu diretor tem o direito de definir livremente como será sua obra! O resto é choradeira e histeria desmiolada, inclusive a sua, Hugo! 


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