Fausto, Faust: Eine deutsche Volkssage,
1926, F.W. Murnau
Tudo pela Pedra Azul, The Blue Lightning,
1986, Lee Philips
O Bandido Giuliano, Salvatore Giuliano,
1962, Francesco Rosi
Recordações, The Lost Moment, 1947, Martin
Gabel
Os Amores de Carmen, The Loves of Carmen,
1948, Charles Vidor
O Purgatório, Purgatory, 1999, Uli Edel
O Homem Elefante, The Elephant Man, 1980,
David Lynch
Nas Garras do Vício, Le beau Serge, 1958,
Claude Chabrol
Na Teia do Destino, The Reckless Moment,
1949, Max Ophüls
Janela Indiscreta, Rear Window, 1954,
Alfred Hitchcock
Homens em Fúria, Stone, 2010, John Curran
Envolto nas Sombras, The Dark Corner, 1946,
Henry Hathaway
Fogo Sagrado!, Holy Smoke, 1999, Jane
Campion
Em Carne Viva, In the Cut, 2003, Jane
Campion
Barbarosa, 1982, Fred Schepisi
As Aventuras de Robinson Crusoé, Robinson
Crusoe, 1954, Luis Buñuel
Amador, 2010, Fernando León de Aranoa
A Sombra de um Revolver, All'ombra di una
colt, 1965, Giovanni Grimaldi
A Pequena Loja na Rua Principal, Obchod na
korze, 1965, Ján Kadár & Elmar Klos
A Música de Gion, Gion bayashi, 1953, Kenji
Mizoguchi
Treta, Beef, Série de TV, 2023, Lee Sung
Jin
O 3º Homem, The Third Man, 1949, Carol Reed
A Grande Ilusão, La grande illusion, 1937,
Jean Renoir
O Grande Ditador, The Great Dictator, 1940,
Charles Chaplin
Oppenheimer, 2023, Christopher Nolan
18/6/23
Fausto, Faust: Eine deutsche Volkssage, 1926, F.W. Murnau
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Fausto 1926 por Eduardo Kaneco
F.W. Murnau leva para as telas a peça Fausto de Goethe, contando com um generoso orçamento, concedido pelo estúdio depois do seu sucesso A Última Gargalhada (1924). Como resultado, surgiu um filme com belos cenários de estúdio pintados com toques expressionistas e trucagens visuais que dão vida ao tema fantástico da estória.
Mefistófeles, o demônio aposta com Deus que ele consegue conquistar a alma do sábio Fausto. Se conseguir, a Terra será dele. Diante da epidemia da peste, Fausto se desespera porque não nem a fé nem a ciência conseguem evitar as mortes. Então, ele se torna vulnerável à proposta de Mefistófeles, que lhe promete conceder os desejos dele na Terra, em troca de servir ao demônio no Inferno. Então, Fausto se aproveita e, além de curar os doentes, goza dos prazeres de uma nova juventude. Porém, quando ele se apaixona por Gretchen, ele coloca em risco a vida da moça. Mas, nasce daí um amor verdadeiro que pode impedir o plano de Mefistófeles.
Cenas que parecem pinturas
A sequência inicial da conversa entre Deus e o demônio é assombrosa. Murnau constrói um cenário de fantasia que leva o espectador para um mundo totalmente diferente do que existe no plano terreno. A figura de Mefistófeles é assustadora, e ele desce para a Terra trazendo a peste como um ser gigantesco, o que funciona para comunicar a ideia de seus poderes. E, aqui, sua caracterização muda para um ser jocoso e astucioso. Com isso, Fausto parece uma vítima indefesa perante o perigoso Príncipe das Trevas.
Aliás, o diretor alemão comprova essa sua capacidade de transitar entre esses mundos fantásticos. Afinal, ele é conhecido por Nosferatu (1922), que traz um dos mais assustadores vampiros da história do cinema. Em grande parte, porque ele absorve as influências do expressionismo alemão, não só nos cenários tortuosos como na abordagem do interior do ser humano, em seu conflito existencial. Como resultado de sua visão, Fausto apresenta várias cenas que se assemelham a pinturas, com uma beleza plástica irretocável.
Em tempo: Fausto de Goethe
19/6/23
Tudo pela Pedra Azul, The Blue Lightning, 1986, Lee Philips
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A luta desesperada de mercenários pela posse de um diamante azul, cujos poderes místicos atraem aventureiros de todas as partes do mundo.
21/6/23
O Bandido Giuliano, Salvatore Giuliano, 1962, Francesco Rosi
O Bandido Giuliano, por Sérgio Augusto
Premiado no Festival de Berlim de 1962 (“melhor direção”), Salvatore Giuliano forma, ao lado de I Nuovi Angeli, o pelotão de frente do melhor cinema italiano da atualidade. Constitui uma das empresas mais corajosas daquele cinema e uma valiosa contribuição ao conhecimento não só da Itália mas também, e principalmente, de suas mais graves questões: o problema do separatismo, movimento que comoveu a miserável Sicília no fim da Segunda Grande Guerra; o problema da incapacidade do Estado em impor o respeito à lei e seus apelos a métodos heterodoxos e alianças sombrias; o problema da rivalidade entre as várias forças representativas do Estado; o problema do poder subterrâneo da Máfia e suas ramificações entre os políticos. Em meio a esse complexo de problemas, começa e termina a trajetória de Giuliano, com suas aparentes contradições, sua obscuridade, seus ainda insolúveis mistérios.
Salvatore Giuliano foi um bandoleiro siciliano bastante célebre na Itália. Pouco depois do desembarque dos aliados, foi ele nomeado coronel pelos autonomistas desejosos por separar a ilha do continente. Após a destruição política desse movimento, suas sequelas ganharam as montanhas e lá permaneceram durante anos, com o apoio e ajuda de parte da população e da Máfia. Em circunstâncias por longo tempo obscuras, foi Giuliano delatado a alguns policiais italianos (rivais uns dos outros) por seu braço-direito Gaspare Pisciotta. Abateram-no e com seu cadáver organizaram uma macabra encenação. Depois de longo e dramático processo, seu denunciador foi envenenado na prisão.
A exemplo de I Nuovi Angeli (Anjos Modernos), Salvatore Giuliano visa a fornecer a ilusão da realidade bruta através da reconstituição quase completa dos fatos. Como bem reparou um crítico europeu, “estamos nos antípodas da concepção primordial do neorrealismo”. O citado crítico vai mais longe ao observar que a fita “é uma montagem de atualidades sem atualidades”. O resultado é revelador, isto é o que importa, independentemente de seu processo.
Segundo o realizador Francesco Rosi faz questão de frisar, “Salvatore Giuliano não é absolutamente um filme biográfico, mas um discurso sobre o cadáver de Júlio César”. Outro crítico europeu vai mais adiante chamando-o de “Cidadão Kane a serviço de uma maiêutica de esquerda”. Não se vê o herói senão morto, em um relato onde todo o cuidado é tomado para romper-se a cronologia a qualquer custo. Sem se preocupar com fusões, a ação passa de 1950 a 1954, ou de 1944 a 1948, evocando os acontecimentos outrora retumbantes de que o povo italiano ainda se recorda. O verdadeiro assunto do filme é um país infeliz, oprimido, desgarrado e revoltado. Não se exalta nem se deprecia Giuliano; antes, mostra-se o bandoleiro como um fruto de sua terra, das condições sociais e políticas dos anos 40.
A frieza documental das primeiras cenas a mostrarem as formalidades legais em face da presença do corpo do bandido (que a polícia acredita ter assassinado, mas que, na realidade, foi morto por seu lugar-tenente); a prolongada excitação da busca aos homens da cidade, a tumultuosa reconstituição do julgamento em Viterbo – tudo isso, desde os momentos mais intensos aos dominados pelo documentarismo puro e simples, é governado pelo mesmo espírito: a procura ao fato, o respeito ao valor moral da evidência. Estes fatos circulam em flashbacks cronológicos, mais ou menos como aqueles do Orson Welles de seus primeiros dias, por isso a designação de um crítico europeu que acima citamos. A narrativa em torno de Giuliano transforma-se em mosaico. A liberdade é agressiva, de uma construção desdramatizada, composta de uma série de flashes acerca da atividade, o processo e a morte de Giuliano.
A decupagem de Rosi não procura explicar nada, fornece fatos, detendo-se mais sobre as consequências imediatas do acontecimento do que sobre a sua preparação ou sua realização. Recorre-se aos contornos da existência do personagem sem que essas fugas subtraiam a investigação dos fatos. Rosi chegou a dizer aos censores que sua obra não poderia ser cortada, pois apenas relatava aquilo que os jornais da época noticiaram e o que foi dito em tribunal. Desta forma, os métodos utilizados assemelham-se aos de Eisenstein de O Encouraçado Potemkin, reconstituindo, vinte anos depois, os eventos revolucionários de Odessa.
Os retornos da ação tornam um pouco difícil o relato. A primeira parte é de grande beleza e extrema violência. Um de seus clímaxes é a chegada das tropas que fazem reinar o terror na cidade, com mulheres desesperadas e homens indignados. Outra sequência impressionante: Giuliano e seus sequazes abrindo fogo contra centenas de camponeses, em Portella della Ginestra. Mulheres e crianças foram mortas. Os sobreviventes participaram da reconstituição. A segunda parte, centralizada no processo, desperta menos interesse, principalmente para a plateia estrangeira.
Giuliano é interpretado por um jovem mecânico de Palermo a quem outorgam uma dimensão quase mitológica. Seu rosto só nos é mostrado em detalhe quando ele já está morto. Rosi, porém, não idealiza o bandido. O filme, aliás, não existe exceto com relação ao espectador e para ele, utilizando todas as aprovações do mistério para destruí-lo, analisando-o e arrancando-lhe a verdade. Sob este ponto de vista, Salvatore Giuliano é um filme de libertação intelectual. A impressão deixada no final é de que o bandido era um ditador fascista em estado embrionário.
Não há atores profissionais, salvo os que interpretam o delator e o presidente do tribunal. Houve, contudo, uma preocupação em selecionar a dedo os tipos entre aqueles que viveram os episódios reconstituídos. Valeu-se o cineasta de antigas (e históricas) fotografias. O “cadáver” de Giuliano foi colocado exatamente no pátio onde foi encontrado há treze anos. A velha que chora sobre seu corpo não é sua mãe, mas uma mulher que teve dois de seus filhos assassinados no bando de Salvatore. Os carabineiros e policiais exercem este métier na vida real e muitos até participaram da repressão. Quanto aos habitantes da cidade natal, e último habitat de Salvatore, eles compartilharam das violências e das operações policiais de 1950 e as reviveram com indignada convicção.
Correio da Manhã (14 de março de 1963)
22/6/23
Recordações, The Lost Moment, 1947, Martin Gabel
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Escritor americano vai para a Itália, obcecado pela ideia de encontrar as cartas de amor, perdidas, de um grande poeta. Lá, se envolve com uma jovem e bela neurótica que põe sua vida em perigo.
Baseado em obra de Henry James.
23/6/23
Os Amores de Carmen, The Loves of Carmen, 1948, Charles Vidor
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Resenha
OS AMORES DE CARMEN
24/7/23
O Purgatório, Purgatory, 1999, Uli Edel
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Recém aceito na gangue do famoso Blackjack, o jovem e ingênuo Sonny, durante uma fuga com o bando, vai parar numa estranha cidade chamada Refúgio. Lá, o xerife não usa mais armas, e mesmo sendo duramente hostilizados pela gangue, os cidadãos não esboçam nenhuma reação. Sonny descobre que se trata de um lugar onde famosos ex bandidos tem que ficar durante dez anos sem cometer nenhum ato de violência, para que sejam perdoados e possam ir para o céu. Porém, a gangue está sedenta por sangue, e se os moradores não reagirem serão mortos. Se reagirem vão para o inferno!
26/6/23
O Homem Elefante, The Elephant Man, 1980, David Lynch
Reflexões em torno do filme “o homem elefante” por Edélcio de Jesus Sardano
27/6/23
Nas Garras do Vício, Le beau Serge, 1958, Claude Chabrol
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Nas Garras do Vício de Claude Chabrol (le beau Serge, 1958) por Yves São Paulo
28/6/23
Na Teia do Destino, The Reckless Moment, 1949, Max Ophüls
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Na Teia do Destino / The Reckless Moment por Sérgio Vaz
29/6/23
Janela Indiscreta, Rear Window, 1954, Alfred Hitchcock
Janela indiscreta por Yuri Correa
30/7/23
Homens em Fúria, Stone, 2010, John Curran
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Stone (Edward Norton) foi condenado à prisão por doze anos e já cumpriu oito. Ele deseja obter liberdade condicional e deixar o cativeiro, mas antes precisa passar por Jack (Robert De Niro), um policial prestes a se aposentar que tem por função avaliar se ele ainda é um perigo para a sociedade
1/7/23
Envolto nas Sombras, The Dark Corner, 1946, Henry Hathaway
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Crítica por Sérgio Vaz
2/7/23
Fogo Sagrado!, Holy Smoke, 1999, Jane Campion
Holy Smoke - Fumo Sagrado (1999)
3/7/23
Em Carne Viva, In the Cut, 2003, Jane Campion
Crítica por Eduardo Kaneco
4/7/23
Barbarosa, 1982, Fred Schepisi
Karl Westover, um inexperiente garoto do campo, foge de seu lugar depois de acidentalmente matar um vizinho, de quem a família passa a persegui-lo por vingança. Em sua fuga ele encontra Barbarosa, um pistoleiro de proporções quase míticas, que se encontra ele próprio em perigo perseguido por seu sogro Don Bráulio, um bem sucedido rancheiro mexicano. Don Bráulio que ver Barbarosa morto por este ter casado com sua filha contra sua vontade. Relutante, Barbarosa toma Karl como parceiro, tão logo eles lutam para sobreviver contra as forças que alinham contra eles. Filmow
5/7/23
As Aventuras de Robinson Crusoé, Robinson Crusoe, 1954, Luis Buñuel
CRÍTICA | AS AVENTURAS DE ROBINSON CRUSOÉ
por RITTER FAN, 29 de maio de 2020
6/7/23
Amador, 2010, Fernando León de Aranoa
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Marcela, una joven con apuros económicos, durante el verano cuida de Amador, un anciano postrado en cama, en ausencia de su familia. Los dos no tardarán en confiarse sus respectivos secretos. Un suceso inesperado deja a la chica enfrentada a un difícil dilema moral. Pero Amador y Marcela han alcanzado ya, sin saberlo, un acuerdo. Al cumplirlo, van a demostrar que la muerte no siempre es capaz de detener a la vida. (FILMAFFINITY)
7/7/23
A Sombra de um Revolver, All'ombra di una colt, 1965, Giovanni Grimaldi
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À SOMBRA DE UM REVÓLVER (ALL’OMBRA DI UNA COLT) – ‘UMA BALA ENTRE OS OLHOS’
11/7/23
A Pequena Loja na Rua Principal, Obchod na korze, 1965, Ján Kadár & Elmar Klos
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CRÍTICA | A PEQUENA LOJA DA RUA PRINCIPAL
Por GUILHERME ALMEIDA, 8 de agosto de 2018
12/7/23
A Música de Gion, Gion bayashi, 1953, Kenji Mizoguchi
No iutubi aqui
Crítica por Eduardo Kaneco
14/7/23
Treta, Beef, Série de TV, 2023, Lee Sung Jin
Crítica por Bia Montenegro
16/7/23
O 3º Homem, The Third Man, 1949, Carol Reed
No iutubi aqui
CRÍTICA | O 3º HOMEM
Por MICHEL GUTWILEN, 27 de abril de 2020
...
Sobre as guerras - 1ª guerra mundial (1914-1918): 17 milhões de mortos; 2ª guerra mundial (1939-1945): 60 milhões de mortos
18/7/23
A Grande Ilusão, La grande illusion, 1937, Jean Renoir
"Na apresentação do filme, em 1938, ao público americano, Renoir escreveu: 'Ouço Hitler vociferando no rádio, exigindo a divisão da Tchecoslováquia. Estamos a beira de outra 'Grande Ilusão'. Porque sou pacifista, realizei esse filme. Para mim, um verdadeiro pacifista é um francês, um americano, um alemão autêntico. Um dia virá em que os homens de boa vontade encontrarão um terreno de entendimento. Os cínicos dirão que atualmente minhas palavras revelam uma consciência pueril. Mas porque não?" E acrescentou em 1946: "Os franceses deste filme são bons franceses, os alemães bons alemães. Alemães de antes da guerra de 1939. Não me foi possível tomar partido por nenhum dos meus personagens." (Geoges Sadoul, Dicionário de filmes, p. 175, L&PM, 1993)
Crítica | A Grande Ilusão (1937) por Leonardo Campos, 6 de novembro de 2016
18/7/23
O Grande Ditador, The Great Dictator, 1940, Charles Chaplin
"O roteiro foi feito em 1938 e, apesar do segredo do segredo que o cercava, ficou-se sabendo da sua polêmica anti-hitlerista, que provocou protesto do embaixador alemão e cartas de ameaça enviadas por organizações pró-nazistas americanas. Depois de setembro de 1939, os isolacionistas e a Comiissão de Atividades Antiamericanas, por sua vez, passaram a atacar Chaplin. Ele aguentou firme e terminou a montagem na ocasião que as tropas hitleristas entravam em Paris. O Grande Ditador foi praticamente o único filme americano a combater o fascismo alemão antes de Pearl Harbour, e teve sucesso garantido nos Estados Unidos. Custou dois milhões de dolares (soma enorme na época). Apesar da hostilidade de todo um segmento da grande imprensa, Chaplin expressou seu credo no discurso aos homens, proferido de uma tribuna onde se lia a palavra 'Liberdade': A cobiça envolveu o mundo num círculo de ódio, faz-nos entrar a passo de ganso na miséria e no sangue. Não se desesperem. Os ditadores morrerão, e o poder que eles usurparam retornará aos povos. Por mais tempo que homens possam morrer, a liberdade não poderá desaparecer. Soldados, vocês não são máquinas nem gado. Vivam sem ódio. Lutem pela liberdade. Em nome da democracia, unamo-nos todos. Lutemos por um mundo novo, por um mundo adequado, de dê a cada homem a possibilidade de trabalhar." (Geoges Sadoul, Dicionário de filmes, p. 174, L&PM, 1993)
O discurso no filme
Sinto muito, mas não pretendo ser imperador. Não é esse o meu ofício.
Não pretendo governar ou conquistar. Gostaria de ajudar judeus, gentios, negros, brancos. Todos nós desejamos ajudar-nos uns aos outros. Viver para a felicidade do próximo e não para seu infortúnio. Não desejamos odiar ou desprezar. Há espaço para todos. A terra é rica e pode prover às nossas necessidades. O caminho da vida pode ser o da liberdade, porém perdemo-nos.
A cobiça envenenou as nossas almas, levantou muralhas de ódio, fez-nos chegar à miséria e aos morticínios. Criamos a velocidade, mas somos enclausurados dentro dela. A máquina tem-nos deixado na penúria. Os nossos conhecimentos fizeram-nos cépticos e cruéis. Pensamos em demasia e sentimos bem pouco. Mais do que máquinas, precisamos de humanidade. Mais do que inteligência, de afeição. Sem estas virtudes, a vida será feita de violência.
A aviação e o rádio aproximaram-nos. A natureza dessas coisas é um apelo à bondade, à fraternidade universal. Neste mesmo instante a minha voz chega a milhões de homens, de mulheres, de crianças desesperadas, vítimas de um sistema que tortura e encarcera inocentes.
Aos que me ouvem, eu digo: Não desespereis. A nossa desgraça é o produto da cobiça, da amargura de homens que temem o progresso humano. O ódio desaparecerá, os ditadores sucumbirão, e o poder arrebatado ao povo retornará ao povo. Enquanto morrem os homens, a liberdade nunca perecerá.
Soldados! Não vos entregueis a esses brutais que vos desprezam e escravizam, que ditam os vossos atos e as vossas ideias! Que vos utilizam como carne para canhão!
Não vos entregueis a esses desumanos com mentes e almas de máquina! Não sois máquinas! Homens é que sois! E com amor nas vossas almas! Não odieis! Só odeiam os desumanos. Não batalheis pela escravidão! Lutai pela liberdade!
São Lucas escreveu: "O Reino de Deus está dentro do homem. Não de um só homem, mas de todos os homens! Em vós! Vós, o povo, tendes o poder de criar máquinas, de criar felicidade! Tendes o poder de tornar esta vida livre e bela, de fazer dela uma aventura maravilhosa!
Em nome da democracia, usemos desse poder!
Unamo-nos! Lutemos por um mundo novo. Um mundo que assegure a todos o ensejo de trabalho, que dê futuro à mocidade e segurança à velhice. Com tais promessas, os desalmados subiram ao poder. Mas só mistificam. Não cumprem o que prometem!
Os ditadores liberam-se e escravizam o povo! Lutemos para cumprir estas promessas! Para libertar o mundo, abater as fronteiras nacionais, pôr fim à cobiça, ao ódio e à prepotência.
Lutemos por um mundo de razão, em que a ciência e o progresso conduzam à ventura de todos nós.
Soldados! Em nome da democracia, unamo-nos!
O Grande Ditador por Rodrigo de Oliveira
19/7/23
Oppenheimer, 2023, Christopher Nolan
'Oppenheimer' é filme estéril e arrastado pela direção viciada de Nolan
Longa é um dos poucos exemplos em Hollywood de cinema feito para adultos, mas se perde em seu enredo fragmentado
Inácio Araujo, FSP, 19/07/2023
Desde que deixou Batman de lado, Christopher Nolan tem se especializado em dar passos maiores que suas pernas, caso de "Dunkirk" e "Interestelar".
"Oppenheimer" era, portanto, a grande chance de se aproximar de um assunto de atualidade, nem tão batido quanto a resistência inglesa no início da Segunda Guerra, nem tão atrapalhado quanto o fim dos tempos. Sendo Oppenheimer "o pai da bomba atômica", traz consigo a sombra da guerra de destruição total que hoje nos ameaça e, ao mesmo tempo, de uma segunda guerra fria.
Nolan observa o jovem pesquisador em fase de crescimento, adquirindo uma reputação de físico genial; depois, como o cérebro principal do Projeto Manhattan, que levaria à criação da bomba A; por fim, como vítima da caça às bruxas protagonizada pelo senador Joseph McCarthy já no início da guerra fria.
A divisão faz sentido. A ideia de fragmentar essas partes, ao menos como foi realizada, bem menos. A fragmentação produz viagens para frente e para traz e do branco e preto ao colorido que não colaboram para o entendimento das coisas. Repete o problema de "Dunkirk": um tique, uma notação autoral, nada mais. Ela funciona em alguns momentos, como o encontro entre Oppenheimer e Einstein, que aparece no início e no final, mas é tudo.
Para assistir ao filme com algum sossego convém conhecer alguns dados da história dos EUA, como o fato de que a caça às bruxas do macarthismo visava menos aos comunistas do que aos adeptos da política de Franklin Roosevelt. Era entre esses que se poderia localizar Oppenheimer nos anos 1930.
O momento em que o filme melhor se sai é, em definitivo, aquele de menor ambiguidade do personagem. Oppenheimer parece convencido, durante seu trabalho em Los Alamos, de que a bomba atômica seria o fim de todas as guerras, e é nessa direção que orienta seu trabalho.
Além do mais, sendo judeu, acabar com os nazistas numa tacada só lhe parece algo moralmente aceitável. Mesmo ali, no entanto, uma sombra surge muito forte: a possibilidade de que uma explosão da bomba destrua o planeta não é descartável, embora seja remota.
O terceiro momento mistura o problema de consciência que o assola depois das detonações de Hiroshima e Nagasaki (afinal, Oppenheimer queria usar sua criação contra os rivais nazistas, não contra a população japonesa) e os ataques que começa a sofrer durante a caça às bruxas, em que, insidiosamente, misturam-se posições políticas antigas e ideias sobre física.
De certa forma, é nessa parte que o filme resolve o dilema de Oppenheimer, o nosso protagonista, não ter, até o pós-guerra, nenhum antagonista. Eis algo que o cinema de Hollywood não tolera.
É então que surgem dois antagonistas: Edward Teller, dito "o pai da bomba H". Mas no pós-guerra é que ele aprontará algumas ursadas contra o nosso amigo Oppenheimer.
O principal oponente, porém, é o almirante Lewis Strauss, figura central da comissão de energia atômica, isto é, de certa forma o empregador de Oppenheimer. Por trás dele, pode-se perceber o próprio Estado americano e seu belicismo.
"Oppenheimer" esteriliza esse aspecto delicado ao erigir Lewis Strauss em vilão e atribuir a ele tudo que infelicita o grande físico.
O filme é, em poucas palavras, uma história a desenrolar, levada por Nolan, que parece ter certo prazer em enrolar as coisas. Prazer? Ao obscurecer a trajetória do físico, ao deixar em segundo plano a angústia moral e mesmo o arrependimento por ter criado uma arma capaz de destruir a humanidade, Nolan obscurece a grande questão de atualidade de seu filme: a retomada da corrida armamentista entre Rússia e EUA, o aprofundamento do espírito bélico americano nos últimos anos, em suma: o perigo mesmo de destruição da humanidade como decorrência de uma guerra nuclear.
Com diálogos bem escritos e bons atores bem dirigidos e bem maquiados, "Oppenheimer" seria um posto privilegiado para observar a história dos EUA desde os anos 1930 até os 2020. Por que Christopher Nolan o esteriliza, ao mesmo tempo em que decora seu filme com periódicas e fotogênicas explosões atômicas?
Difícil dizer. Pode ter sido imposição dos distribuidores. Pode ter sido pressão do Departamento de Estado, do FBI ou de quem mais seja. Mas não é nada impossível que o gosto de Christopher Nolan por tornar obscuro o que em si já não é tão simples é que se tenha imposto aqui.
É em todo caso, um dos poucos exemplos que Hollywood e cercanias nos oferecem hoje de um cinema para mentalidades com mais de 12 anos, uma pena que se tenha transformado num mastodonte de três horas que navega pesadamente da Depressão à caça às bruxas para desembocar num filme de tribunal apenas enfadonho.
Em tempo
Bombardeamentos atômicos de Hiroshima e Nagasaki
A bomba atômica de urânio (Little Boy) foi lançada sobre Hiroshima em 6 de agosto de 1945, seguido por uma explosão de uma bomba nuclear de plutônio (Fat Man) sobre a cidade de Nagasaki em 9 de agosto. Dentro dos primeiros 2-4 meses após os ataques atômicos, os efeitos agudos das explosões mataram entre 90 mil e 166 mil pessoas em Hiroshima e entre 60 mil e 80 mil seres humanos em Nagasaki; cerca de metade das mortes em cada cidade ocorreu no primeiro dia. Durante os meses seguintes, vários morreram por causa do efeito de queimaduras, envenenamento radioativo e outras lesões, que foram agravadas pelos efeitos da radiação. Em ambas as cidades, a maioria dos mortos eram civis, embora Hiroshima tivesse muitos militares.
Quem foi o verdadeiro Robert Oppenheimer, criador da bomba atômica
'Em entrevistas concedidas nos anos 1960, Oppenheimer acrescentou ainda mais seriedade à sua reação. Ele afirmou que, nos momentos após a detonação, veio à sua mente um verso do Bhagavad Gita, o livro sagrado do hinduísmo: “Agora, eu me tornei a morte, o destruidor de mundos.”'
Debate sobre os bombardeamentos de Hiroshima e Nagasaki