sábado, 24 de junho de 2023

Mulheres na ciência

 O efeito-tesoura para mulheres na ciência

Amanda Gorziza e Renata Buono, piaui,19/06/2023

Pela primeira vez na história brasileira, mulheres comandam dois dos órgãos mais importantes para a ciência no país: Luciana Santos é a ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, e Mercedes Bustamante preside a Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior). A presença feminina na docência aumentou 13,5% em dezesseis anos. Apesar de todos os avanços, mulheres ainda estão sub-representadas nos postos mais elevados da pesquisa científica no país. Elas são 55% no mestrado  e 53% no doutorado – mas só 42% do corpo docente. Dados da Capes e do CNPq, analisados pelo Parent in Science e Grupo de Estudos Multidisciplinares da Ação Afirmativa (Gemaa/Iesp-Uerj), mostram a dificuldade de ascensão feminina. A análise do Gemaa foi feita com um software que atribui gênero a partir do nome, o que restringe a pesquisa ao gênero binário. A piauí contou a história de mães bolsistas e suas dificuldades para se manter na área acadêmica pela pressão da produtividade e a pouca flexibilização das instituições com a maternidade. O =igualdades desta semana faz um raio X nos dados de mulheres na ciência no Brasil.

Dos 20,9 mil bolsistas do CNPq em 2022, 65% são homens e 35% mulheres. Já no nível 1A, o mais alto, a discrepância de gênero é maior. Dos 1,4 mil bolsistas, 73% são homens e 27% são mulheres.

De 2004 a 2021, o CNPq investiu cerca de R$ 4,7 bilhões em bolsas de produtividade. Os homens levaram R$ 3,13 bilhões (66,5% do orçamento), enquanto as mulheres receberam R$ 1,6 bilhões – ou seja, eles receberam quase o dobro que elas. A discrepância de valores se deve ao fato de os homens receberem mais bolsas e de as mulheres estarem concentradas no nível 2, que tem um valor menor investido.

O efeito-tesoura é o corte de proporção do gênero feminino na medida em que a carreira acadêmica progride, ou seja, na redução da presença de mulheres na passagem do mestrado ao doutorado, ou do doutorado à ocupação de cargo docente estável. Segundo dados da Capes, elas representam 55% dos alunos no mestrado, reduzindo para 53% no doutorado, mas apenas 42% no corpo docente.

Apesar da discrepância atual, há duas décadas o cenário de mulheres na ciência era mais desigual. Em dezesseis anos, a presença feminina na docência aumentou 13,5%. De 2004 a 2020, também houve um crescimento geral da participação das mulheres no mestrado (4%) e no doutorado (6%).

Muitas áreas de conhecimento da Capes ainda não alcançaram a equidade de gênero na docência. Das 50, apenas 30% apresentam 50% ou mais na proporção de mulheres entre docentes da pós-graduação, são elas: arquitetura, urbanismo e design, ates, ciência de alimentos, ciências biológicas, comunicação e informação, educação, enfermagem, ensino, farmácia, linguística e literatura, nutrição, odontologia, psicologia, saúde coletiva e serviço social.

O efeito-tesoura afeta diversas áreas se comparados os dados de doutoras e docentes. A área de ciências agrárias tem a maior desigualdade dessa proporção, são 51% de doutoras, mas apenas 26% de professoras titulares. Já as ciências biológicas também têm a maioria das docentes do gênero feminino (65%), mas apenas 50% das docentes.

As oitos fichas de avaliação da Capes que fazem menção à maternidade são de ciências biológicas II, direito, administração pública e de empresas, ciências contábeis e turismo, economia, sociologia, antropologia/arqueologia e ensino interdisciplinar. A área de educação menciona licença, mas não especifica a maternidade. As outras quarenta áreas não especificam nenhuma ação relacionada à maternidade.

Fontes: Dados da Capes e do CNPq organizados pelo Parent in Science e Gemaa/Iesp-Uerj


 Amanda Gorziza (siga @amandalcgorziza no Twitter)

Renata Buono (siga @revistapiaui no Twitter)


Nenhum comentário:

Postar um comentário