terça-feira, 11 de abril de 2023

Pílulas 12

 


Clarice


Eu conheci razoavelmente bem Clarice Lispector. Ela era infelicíssima, Zézim. A primeira vez que conversamos eu chorei depois a noite inteira, porque ela inteirinha me doía, porque parecia se doer também, de tanta compreensão sangrada de tudo. Te falo nela porque Clarice, pra mim, é o que mais conheço de GRANDIOSO, literariamente falando. E morreu sozinha, sacaneada, desamada, incompreendida, com fama de "meio doida”. Porque se entregou completamente ao seu trabalho de criar. Mergulhou na sua própria trip e foi inventando caminhos, na maior solidão. Como Joyce. Como Kafka, louco e só lá em Praga. Como Van Gogh. Como Artaud. Ou Rimbaud.

Caio Fernando Abreu , Carta ao Zézim.

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O eu andarilho 10/03/23

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Cores da lua



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Elas provaram que mulheres (também) sobem pelas paredes 


Luiza Pastor, FSP, 9/3/2023

Ah, mas você vai publicar um texto sobre mulheres poderosas depois que o Dia das Mulheres passou?

Pois então: vou, sim. E sabe por quê? Porque todo dia deveria ser de pensarmo-nos como mulheres e podermos como tal, para começar. E não falo aqui daquelas que esperam um botãozinho de rosa murcho na mesa da firma, ou que ganharam um bombom embalado em papel cor-de-rosa com alguma mensagem edulcorada. Mas das mulheres que batalham a cada dia e ocupam todos os espaços, nem que seja a cotoveladas e purgantes no Campari dos machinhos sem noção. Vou falar de nós, as mulheres enxeridas, atrevidas e donas de nossos narizes, destinos e, por que não, mochilões. E segue o fio!

As escaladoras Lucy Smith e Pauline Ranken nas rochas de Salisbury Crags, na Escócia, em.1908 ( Foto: reprodução / acervo do Ladies' Scottish Climbing Club ) - Reprodução acervo do Ladies' Scottish Climbing Club

Vou homenagear mulheres que decidiram encarar as empreitadas até então exclusivas de homens, os eternos guerreiros das narrativas, e que fizeram história antes mesmo de conquistar o direito de voto. Mulheres como Marie Paradis, uma empregada doméstica da cidade francesa de Chamonix, que em julho de 1808 foi a pioneira a chegar aos 4.808 metros do Mont Blanc, nos Alpes, conquistando o apelido de "Marie de Mont Blanc". Embora ela tenha sido efetivamente a primeira a pôr as botinas no cume, reza a lenda que foi praticamente carregada para cima pelo grupo de homens que a acompanhou, depois que se sentiu mal pouco antes de chegar ao topo, sendo, inclusive, cegada pela neve.

Retrato de Marie Paradis (1778-1839), primeira mulher a pisar o cume do Mont Blanc, nos Alpes, em 1808 - Reprodução/Wikimedia

Então, a primeira mulher que efetivamente subiu ao Mont Blanc com as próprias pernas, e usando um modelito que pesava 7 quilos criado por ela mesma para a ocasião, foi Henriette D'Angeville, em 1838.

Henriette D'Angeville (1794-1871), primeira mulher a subir por conta própria ao Mont Blanc, em 1838, com roupas especialmente desenvolvidas por ela para a ocasião - J. Hébert/Wikimedia

A façanha, que atualmente parece banal para qualquer montanhista minimamente experiente, foi alcançada apesar não só da má vontade dos homens que apostavam quanto tempo ela levaria para desistir, mas, principalmente, pelo detalhe de que, em um mundo vitoriano, mulheres não usavam calças. Dá para imaginar o que é subir pedras geladas acima usando saião até os tornozelos, varrendo as pedras do percurso, portando espartilhos para tirar o ar já rarefeito das subidas e equilibrando toucas armadas na cabeça, enrolando-se apenas pela cintura nas cordas? Ah, claro, porque não lhes era permitido usar harness, a cadeirinha que liga as cordas ao corpo do escalador, e que se veste pelo meio das pernas. Mulheres decentes jamais se permitiriam usar tal coisa!

A primeira mulher a escalar usando calças acabaria sendo a americana Annie Smith Peck, em 1890. Pensa num escândalo? A repercussão foi tamanha que seus colegas homens chegaram a propor a proibição do esporte para mulheres. Não que tenha dado muito certo, claro. Até então, só havia um meio termo, criado com a fundação dos primeiros clubes de escalada exclusivamente femininos, como o Ladies' Scottish Climbing Club, de 1808, que recomendavam a suas associadas que começassem a subida com os saiões pudicos, tirando-os à medida que começavam a atrapalhar e ficando com calças abaixo dos joelhos, mas bem longe dos olhares masculinos.

As cholitas escaladoras

Se dá urticária só pensar naquelas damas vitorianas enfatiotadas montanhas acima, um time não menos peculiar foi notícia há apenas três anos, quando o grupo conhecido como "As cholitas escaladoras" resolveu subir o monte Aconcágua (6.962 metros de altitude), a montanha mais alta das Américas, usando as roupas tradicionais de seu povo —as saias armadas e coloridas com que são vistas em todo o planalto andino. Com orações à divindade maior Pachamama, ou Mãe Terra em aymará, decidiram mostrar ao mundo que elas tinham condições de subir aos cumes, como os seus maridos, guias que acompanhavam os turistas. Até então, a elas só era permitido carregar bagagens até parte das subidas, ganhando menos, obviamente, e o cume era só para os guias homens, mesmo que os grupos incluíssem mulheres não locais.

O Aconcágua, montanha mais alta do continente americano, foi o sexto cume conquistado pelas Cholitas escaladoras, que sobem usando as roupas tradicionais do planalto andino - Divulgação

A líder do grupo, a professora Ana Lía Gonzales, conhecida como Lilita, falou com a Folha logo após a façanha e resumiu assim sua conquista, ecoando as colegas: "Para mim, é importante porque lembra a minha avó. A saia é um símbolo de luta, de mãe, porque mulheres aqui são muito fortes, arrumam dinheiro onde for preciso para manter seus filhos. E, às vezes, um pouco rebeldes".

Porque é de rebeldia que se movimenta a roda do empoderamento, e ela não limita seus ciclos a calendário algum. Então, cada vez que encontrar com outra mulher pelas trilhas e montanhas da vida, lembre-se de homenagear essas pioneiras que viabilizaram nossos caminhos, combinado?

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O Filme surrealista que mudou o cinema| UM CÃO ANDALUZ

Um Cão Andaluz - 1929 o filme

Curta 'Um Cão Andaluz' traz parceira de Buñuel e Dalí

Crítica | Um Cão Andaluz

por Ritter Fan 22 de fevereiro de 2020

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Mia Couto

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Após dez anos de pesquisa, paulista adapta Bach para viola caipira

Vinícius Muniz combina músicas erudita e caipira em livro de partitura

Por Paula Bonelli, O Estado, 07/03/2023

Nascido em Santos, no litoral paulista, hoje radicado em Barcelona, Vinícius Muniz elaborou um livro inédito de partituras de Johann Sebastian Bach para viola caipira. O projeto é resultado de dez anos de estudos realizados pelo instrumentista e compositor.

Com arte de Kiko Farkas e prefácio do professor de viola USP Ivan Vilela, a obra traz onze peças musicais em 120 páginas de partituras e tablaturas. “O livro é a primeira oportunidade para os violeiros e violeiras ampliarem seus repertórios e técnicas a partir do contato com as obras de Bach”, conta Muniz, que usa a técnica das dez cordas.

Ao “traduzir” um dos maiores compositores da história da música ocidental, Muniz buscou preservar a complexidade e profundidade da música de Bach, bem como as sonoridades tradicionais da viola brasileira e da música caipira. “Tentei encontrar um equilíbrio de tal maneira que se possa ouvir os dois mundos musicais unidos, minimizando perdas de linguagem, sem caricaturas e superficialidades”, resume.

A pré-venda do livro “J.S.Bach | Viola Brasileira” começa nesta quinta-feira, 9, por meio do site vmlab.mus.br.

VINÍCIUS MUNIZ | J.S.BACH | VIOLA BRASILEIRA - Fuga 

INFINITAS JANELAS #4. | VINÍCIUS MUNIZ 

VINÍCIUS MUNIZ | J.S.BACH | VIOLA BRASILEIRA - Gavotte 

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